Contra sensos
Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Jan 1961
Quando a gota se viu semelhante a
uma gema valiosa, na folhagem da primavera, insultou o rio em que se formara:
Sai da frente, monstro do chão.
*
Quando o tronco se agigantou diante
do firmamento, blasfemou contra a própria raiz: Não me sujes os pés.
*
Quando o vaso passou pela cerâmica
em que nascera, gritou, revoltado: Não suporto essa lama.
*
Quando o ouro se ajustou ao palácio,
indagou da terra que o produzira: Que fazes aí, barro escuro?
*
Quando a seda brilhou, na pompa da
festa, disse à lagarta que lhe dera a existência: Não te conheço, larva
mesquinha.
*
Quando a pérola fulgiu, soberana,
exigiu da ostra em que se criara: Não te abeires de mim.
*
Quando o arco-íris se reconheceu
admirado pelo pintor, acusou o Sol de que se fizera. "Não me roubes a luz.
* * *
Copiando esses contra sensos
figurados da Natureza, o homem insensato, quando erguido ao pedestal do orgulho
pelos abusos da inteligência, costuma escarnecer de si próprio, afirmando
jactancioso: A vida é poeira e nada, e Deus é ilusão.
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