segunda-feira, 21 de abril de 2014

Contra sensos


Contra sensos

Emmanuel
por Chico Xavier
Reformador (FEB) Jan 1961

            Quando a gota se viu semelhante a uma gema valiosa, na folhagem da primavera, insultou o rio em que se formara: Sai da frente, monstro do chão.

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            Quando o tronco se agigantou diante do firmamento, blasfemou contra a própria raiz: Não me sujes os pés.

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            Quando o vaso passou pela cerâmica em que nascera, gritou, revoltado: Não suporto essa lama.

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            Quando o ouro se ajustou ao palácio, indagou da terra que o produzira: Que fazes aí, barro escuro?

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            Quando a seda brilhou, na pompa da festa, disse à lagarta que lhe dera a existência: Não te conheço, larva mesquinha.

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            Quando a pérola fulgiu, soberana, exigiu da ostra em que se criara: Não te abeires de mim.
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            Quando o arco-íris se reconheceu admirado pelo pintor, acusou o Sol de que se fizera. "Não me roubes a luz.

* * *

            Copiando esses contra sensos figurados da Natureza, o homem insensato, quando erguido ao pedestal do orgulho pelos abusos da inteligência, costuma escarnecer de si próprio, afirmando jactancioso: A vida é poeira e nada, e Deus é ilusão.


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