Maravilhas
do Evangelho
Sylvio Brito Soares
Reformador (FEB) Janeiro 1962
O homem, ou melhor, nós que nos
encontramos na Terra, para lutar contra nossos próprios pendores e sentimentos,
impeditivos, por sua natureza, do nosso progresso espiritual, quase sempre nos
deixamos embair pelas exterioridades, e, através dessa simples e superficial
observação, firmamos conceitos relativamente às coisas e às pessoas
que nos cercam.
Essa maneira de proceder leva-nos
muitas vezes, a quedas dolorosas, decepções amargurantes e a situações
delicadíssimas.
Paulo, o grande apóstolo dos
gentios, já advertia sobre esse erro de observação, ao escrever, em sua II
Epístola aos Coríntios (10-7): Olhais as coisas segundo a aparência.
E no entanto estas palavras do
extraordinário apóstolo eram, "mutatis mutandis", as registradas por
Samuel, em seu 1º Livro, (16-7), em que diz: "Olhas para o que está diante
dos olhos, mas Jeová olha para o coração.”
Desde que procuremos, neste mundo em
que prolifera tanta miséria moral e tantas indignidades, ler nos corações
humanos, verificaremos, jubilosos, que nem tudo está perdido, pois que existem
muitas criaturas, embora humildes e de vida simples, que são verdadeiras fontes
de amor, desse amor que perfuma espíritos, encantando-os pelas suas maravilhosas
fragrâncias!
Manuel Bernardes, exaltando a
necessidade de não nos deixarmos seduzir pelas falsas aparências, contou-nos um
episódio, cuja citação vem muito a propósito. Em síntese, é o seguinte:
Certo Rei, em passeio com o faustoso
acompanhamento de sua Corte, encontrou dois homens, vestidos mui desprezivelmente.
Saltando da viatura, abraçou os com
visíveis demonstrações de afeição muito sincera. Escandalizaram-se
os cortesãos, fazendo sentir ao Rei que, com esse proceder, envilecia sua real
pessoa, mas o Rei permaneceu em silêncio e prosseguiu a jornada. Mais adiante,
porém, mandou ele confeccionar quatro cofres de madeira; dois deles mui
ricamente forrados com pregaria, fechaduras, e chapeados de ouro e prata; e
dois, tão toscos, que foram breados com pez e betume. Dentro de uns e outros
meteu o que julgou aconselhável. De regresso a palácio, determinou que fossem à
sua presença aqueles cortesãos que se haviam escandalizado com a sua maneira de
proceder. Mostrou-lhes os cofres, ordenando ao mesmo tempo que dissessem quais
deles estimavam mais.
Responderam; todos, que os dois
dourados deviam ter, em seu bojo, joias e tesouros reais, que os outros breados
nem para ver eram dignos quanto mais para serem colocados na sala real.
Bem sabia qual seria o vosso
julgamento, obtemperou o Rei, porque facilmente vos deixais impressionar pelas
aparências exteriores.
Abertos os cofres dourados, deles
exalou-se um fétido intolerável, pois estavam cheios de ossos de defuntos.
Esses, disse-lhes o Rei, são os que se portem ao estilo do mundo: por fora,
pompa e fausto; por dentro, vícios e misérias. E, a seguir, ordenou que
abrissem os dois outros cofres indignos, como alegaram, da sala palacial.
Abertos, e com surpresa geral, deles
saiu uma fragrância suavíssima, e isto porque, além de muito ouro, prata e
pedras preciosas, continham espécies aromáticas de alto preço.
Estes são os que vivem desprezados
pelo mundo, porque, renunciando às suas grandezas falíveis procuram encher-se
de virtudes, que são os tesouros imperecíveis.
Magnífica lição, e que ela nos seja
proveitosa, porque o homem simples, humilde e virtuoso passa, geralmente,
despercebido pelos caminhos do mundo, em razão de sentirmos, infelizmente,
certo atrativo e sedução por tudo aquilo que não tem curso nem valor na pátria
espiritual, olhamos as coisas segundo as aparências, sempre enganadoras e
falíveis!
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