domingo, 26 de janeiro de 2014

Século agonizante



Mais atual?
Impossível!
Do Blog.
Século Agonizante

Indalício Mendes
Reformador (FEB) Outubro 1961

            Cada ano que se completa assinala mais um ciclo da vitoriosa evolução do Espiritismo no Brasil e, naturalmente, o pensamento de todos os espíritas se volta para o Codificador Allan Kardec, missionário do Cristo que veio ao mundo com a tarefa sobre-humana de lançar as sementes da ressurreição do Cristianismo, desaparecido entre as pompas e as preocupações políticas de igrejas espiritualmente declinantes.

            Outubro é, para os espíritas, não apenas um mês de recordação da figura extraordinária de Kardec, mas, principalmente, um mês em que todos devemos realizar um exame íntimo de consciência, a fim de nos certificarmos dos erros cometidos, das omissões perpetradas, cotejando-os com os acertos do nosso trabalho de todos os dias.

            Mais do que nunca, a Doutrina se torna a tábua de salvação dos náufragos da vida terrena, a luz salvadora daqueles que, desiludidos e descrentes de outras religiões, correm para o Espiritismo como sua derradeira esperança. Felizmente, este cresce, desenvolve-se, fortalece-se, consolida-se, ampliando o seu raio de ação, pois realiza objetivamente o Cristianismo do Cristo, nada mais sendo do que uma alta expressão da obra legitimamente cristã.

            Nas condições anômalas em que se acha o mundo, enfraquecido, sobressaltado, iludido e desesperado pelo materialismo, que recorre a todos os processos para não se deixar substituir pelo reinado do Espírito, não é inoportuno repetir as palavras do Mestre: "Orai e vigiai!" A Terra está convulsionada, a Humanidade se contorce em ânsias indomináveis, presa do medo, vítima do ateísmo que subverte a razão e o sentimento. Enquanto se procurar combater o mal com o mal, nenhum progresso real será alcançado. E a prova, temo-la nas guerras que se sucederam e na guerra terrível que a todos ameaça.

            As comunicações que aludem ao Terceiro Milênio e à hora de debulhar, de limpar o grão da casca suja e imprestável que, em vez de o proteger, lhe rouba o benefício da luz, estão sendo inexoravelmente cumpridas. O homem mau, o homem tíbio, aparentemente bom, que não luta contra o mal, e o homem indiferente, que cuida de si, pouco se importando do que sucede com os seus semelhantes, esses, todos eles, estão marcados para a dolorosa transição do século. E, então, o que está apenas começando adquirirá cores mais vivas na desgraça, tons muito mais negros nas horas incertas da divisão esperada.

            Não temos vocação para Cassandra, mas é fato que a realidade da vida atual exige dos crentes, sinceramente bons, claramente tolerantes, positivamente decididos a enfrentar com coragem os ônus do bem, na luta contra os disseminadores da inveja, da intriga, do egoísmo, da calúnia, do orgulho, do ódio e da mentira, uma soma de sacrifícios bem maiores de quantos já suportaram. Foram feitas duas tremendas guerras mundiais em nome do "mundo livre", da "liberdade", "dos direitos humanos", do respeito à Humanidade. De ambas a Humanidade saiu mais ferida e mais aflita, mais pobre e mais infeliz, mais sacrificada e menos liberta.

            E assim sucederá enquanto os homens que dirigem as nações e aqueles que os acompanham não se convencerem de que o único programa de trabalho, ordem, paz e felicidade é aquele que se subordinar ao espírito do Evangelho do Cristo, sem preconceitos religiosos, sem prevenções dogmáticas nem restrições inumanas. Novos países têm surgido, na luta entre o nativismo e o colonialismo. Infelizmente, porém, todos trazem a marca original da inquietude, porque se apoiam em ideologias desfraternas e as defendem com ódio, sangue e dores.

            A Humanidade não será salva enquanto o Direito das gentes se escorar nas armas que matam, sem levar na devida conta o Amor Universal pregado e exemplificado por grandiosos missionários do Bem, dos quais sobressai a figura ímpar de Jesus. A inteligência pouco ajudará a Humanidade, sem o sentimento. Religiões seculares são religiões sem vida, porque perderam a alma quando se distanciaram das coisas do espírito. Falam em Cristo, em Buda, em Moisés, em Maomé, mas não os sentem no coração.

            A indisciplina, o desregramento, o despudor, o desrespeito, a desordem e a desorientação que lavra no mundo, desde a juventude abandonada, sem guia nem rumo certo, são frutos do materialismo consorciado a religiões falidas em sua nobre e elevada missão educativa. O Espiritismo, lutando com todos os obstáculos imagináveis, está, porém, cumprindo a sua missão cristã, coerente consigo mesmo, identificado com o Mestre dos mestres, levando aos lares a orientação retificadora, espalhando por toda a parte os benefícios do Evangelho, que, à luz da Doutrina Espírita, é a palavra de ordem e salvação, nesta hora angustiosa para a Humanidade entregue à mais dura provação.


            Ao relembrarmos o mês de Kardec, reafirmamos a confiança que todos temos no futuro do Espiritismo, como norma de recuperação do homem, perdido na confusão do século que agoniza.

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