Mais
atual?
Impossível!
Do
Blog.
Século Agonizante
Indalício Mendes
Reformador (FEB) Outubro 1961
Cada ano que se completa assinala
mais um ciclo da vitoriosa evolução do Espiritismo no Brasil e, naturalmente, o
pensamento de todos os espíritas se volta para o Codificador Allan Kardec,
missionário do Cristo que veio ao mundo com a tarefa sobre-humana de lançar as
sementes da ressurreição do Cristianismo, desaparecido entre as pompas e as
preocupações políticas de igrejas espiritualmente declinantes.
Outubro é, para os espíritas, não
apenas um mês de recordação da figura extraordinária de Kardec, mas,
principalmente, um mês em que todos devemos realizar um exame íntimo de
consciência, a fim de nos certificarmos dos erros cometidos, das omissões
perpetradas, cotejando-os com os acertos do nosso trabalho de todos os dias.
Mais do que nunca, a Doutrina se
torna a tábua de salvação dos náufragos da vida terrena, a luz salvadora
daqueles que, desiludidos e descrentes de outras religiões, correm para o
Espiritismo como sua derradeira esperança. Felizmente, este cresce,
desenvolve-se, fortalece-se, consolida-se, ampliando o seu raio de ação, pois
realiza objetivamente o Cristianismo do Cristo, nada mais sendo do que uma alta
expressão da obra legitimamente cristã.
Nas condições anômalas em que se
acha o mundo, enfraquecido, sobressaltado, iludido e desesperado pelo
materialismo, que recorre a todos os processos para não se deixar substituir
pelo reinado do Espírito, não é inoportuno repetir as palavras do Mestre:
"Orai e vigiai!" A Terra está convulsionada, a Humanidade se contorce
em ânsias indomináveis, presa do medo, vítima do ateísmo que subverte a razão e
o sentimento. Enquanto
se procurar combater o mal com o mal, nenhum progresso real será alcançado. E a
prova, temo-la nas guerras que se sucederam e na guerra terrível que a todos
ameaça.
As comunicações que aludem ao
Terceiro Milênio e à hora de debulhar, de limpar o grão da casca suja e
imprestável que, em vez de o proteger, lhe rouba o benefício da luz, estão
sendo inexoravelmente cumpridas. O homem mau, o homem tíbio, aparentemente bom,
que não luta contra o mal, e o homem indiferente, que cuida de si, pouco se
importando do que sucede com os seus semelhantes, esses, todos eles, estão
marcados para a dolorosa transição do século. E, então, o que está apenas
começando adquirirá cores
mais vivas na desgraça, tons muito mais negros nas horas incertas da divisão
esperada.
Não temos vocação para Cassandra,
mas é fato que a realidade da vida atual exige dos crentes, sinceramente bons,
claramente tolerantes, positivamente decididos a enfrentar com coragem os ônus
do bem, na luta contra os disseminadores da inveja, da intriga, do egoísmo, da
calúnia, do orgulho, do ódio e da mentira, uma soma de sacrifícios bem maiores
de quantos já suportaram. Foram feitas duas tremendas guerras mundiais em nome
do "mundo livre", da "liberdade", "dos direitos
humanos", do respeito à Humanidade. De ambas a Humanidade saiu mais ferida
e mais aflita, mais pobre e mais infeliz,
mais sacrificada e menos liberta.
E assim sucederá enquanto os homens
que dirigem as nações e aqueles que os acompanham não se convencerem de que o
único programa de trabalho, ordem, paz e felicidade é aquele que se subordinar
ao espírito do Evangelho do Cristo, sem preconceitos religiosos, sem prevenções
dogmáticas nem restrições inumanas. Novos países têm surgido, na luta entre o
nativismo e o colonialismo. Infelizmente, porém, todos trazem a marca original
da inquietude, porque se apoiam em ideologias desfraternas e as defendem com ódio,
sangue e dores.
A Humanidade não será salva enquanto
o Direito das gentes se escorar nas armas que matam, sem levar na devida conta
o Amor Universal pregado e exemplificado por grandiosos missionários do Bem,
dos quais sobressai a figura ímpar de Jesus. A inteligência pouco ajudará a
Humanidade, sem o sentimento. Religiões seculares são religiões sem vida,
porque perderam a alma quando se distanciaram das coisas do espírito. Falam em
Cristo, em Buda, em Moisés, em Maomé, mas não os sentem no coração.
A indisciplina, o desregramento, o
despudor, o desrespeito, a desordem e a desorientação que lavra no mundo, desde
a juventude abandonada, sem guia nem rumo certo, são frutos do materialismo
consorciado a religiões falidas em sua nobre e elevada missão educativa. O
Espiritismo, lutando com todos os obstáculos imagináveis, está, porém,
cumprindo a sua missão cristã, coerente consigo mesmo, identificado com o
Mestre dos mestres, levando aos lares a orientação retificadora, espalhando por
toda a parte os benefícios do Evangelho, que, à luz da Doutrina Espírita, é a
palavra de ordem e salvação, nesta hora angustiosa para a Humanidade entregue à
mais dura provação.
Ao relembrarmos o mês de Kardec,
reafirmamos a confiança que todos temos no futuro do Espiritismo, como norma de
recuperação do homem, perdido na confusão do século que agoniza.
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