Como nascem,
crescem,
vivem
e morrem as religiões
Lincóia Araucano /(Ismael Gomes Braga)
Reformador (FEB) Dezembro 1961
Com este artigo desejamos lembrar um
assunto que merece tratado em um livro de autor mais competente e que disponha
de melhor biblioteca do que nós. Parece-nos do máximo interesse para a
Humanidade escrever-se tal livro, de modo a deixar demonstrado que a Religião
tem unidade e é invencível, a despeito de todas as lutas do Materialismo ateu.
A fonte é sempre a mesma em todos os
tempos e lugares: - a manifestação de seres do mundo espiritual ao homem. O
canal é sempre o mesmo: - a mediunidade. Só as palavras mudam através dos
tempos: - os seres espirituais são chamados deuses e deusas, bons e maus,
demônios, anjos, espíritos; os intermediários, conhecidos por videntes,
profetas, médiuns. Para simplificar, vamos empregar somente as palavras mais
novas, "Espíritos" e "médiuns".
Um Espírito aparece ao médium Moisés
e lhe dá a missão de retirar do Egito os escravos israelitas. Moisés cumpre
essa missão, funda uma nação e recebe o Decálogo e outros ensinamentos
provisórios, nem sempre muito elevados. De tempos a tempos vão surgindo naquela
nação outros médiuns - os profetas de Israel - e o Judaísmo cresce e vive até
os nossos dias.
Passados séculos, um Espírito
aparece a Zacarias e anuncia o nascimento de João Batista; aparece a Maria de
Nazaré e anuncia o nascimento de Jesus. Ambas as predições se realizam. Jesus
se mantém sempre em relações com os Espíritos das mais altas esferas. Em certo
momento, produz a materialização de dois grandes vultos da raça, mortos séculos
antes: Moisés e Elias. Depois de sua morte, reaparece muitas vezes
materializado em forma de homem e dá instruções aos seus discípulos. Aparece em
toda a sua glória ofuscante a Saulo, na estrada de Damasco, dá instruções e
força a Saulo para uma grande missão mediúnica. Assim surgiu o Cristianismo
dentro do Judaísmo, mas o Judaísmo já não é o primeiro movimento religioso da
Humanidade, como vemos do livro de Louis Jacolliot - "A Bíblia na
índia" -, porque pelo mesmo processo já haviam aparecido as velhas crenças
da Índia. As diversas formas antigas de Politeísmo na Índia e no mundo nasceram
e viveram pelas comunicações mediúnicas e morreram quando desprezaram essa
fonte de vida e consagraram-se somente às coisas materiais.
Saltando uns milênios, chegamos ao
século 18 e vemos um médium sueco, Emmanuel Swedenborg, nascido em Estocolmo a
29 de Janeiro de 1688, fundar uma nova religião no século seguinte ao seu
nascimento. Mais um século à frente e vemos aparecerem médiuns por toda a parte
na América e na Europa, e surge o Espiritismo de nossos dias. A mediunidade
renasce em todos os meios.
Numa aldeia do Japão, uma camponesa
analfabeta, a Sra. Nao Deguêi, muito contra sua vontade e em estado de pânico,
é tomada por um Espírito, escreve vários livros notáveis e assim apareceu a
nova religião Oomoto que está espalhando-se pelo mundo.
Na Dinamarca, um homem simples,
nascido sem pai conhecido, chamado Martinus, tem uma grandiosa visão de
Jesus-Cristo, escreve uma obra notável em vários volumes com o título "O
Livro da Vida", funda o Instituto de Ciência Espiritual, em Copenhague, e
aparece uma nova religião, cristã e reencarnacionista.
Em Budapeste, Jesus aparece em toda
a sua glória a um judeu chamado José, muito avesso ao Cristianismo, e lhe dá
uma grandiosa missão mediúnica que ele cumpre com todo o respeito, tornando-se
fervoroso cristão para o resto da vida.
Num convento da França, um Espírito
sofredor entra em contato com uma irmã de caridade e lhe aparece diariamente,
ditando-lhe, muito contra seu desejo, um livro que finalmente é publicado, com
aprovação das autoridades religiosas católicas, que julgam interessante
divulgar os ensinos recebidos de uma freira morta aos 36 anos de idade, e que
se acha em grandes sofrimentos, recebidos por uma médium igualmente freira. E
assim surgiu o livro "Manuscrito do Purgatório", que já esgotou duas
edições no Brasil, em excelente tradução de Monsenhor Ascânio Brandão.
José Smith, nascido em 23 de
Dezembro de 1805, nos Estados Unidos, é subjugado por uma força espiritual;
depois, aparecem-lhe dois Espíritos gloriosos, no ar, junto dele, dão-lhe
instruções, ele cria uma nova religião cristã, mas é perseguido pelo fanatismo
religioso, preso e assassinado na prisão, em 27 de Junho de 1844; no entanto,
sua seita viveu e tem missões por toda a parte. No Brasil tem ela uns vinte
centros de divulgação espalhados pelo País. José Smith não é o primeiro médium
martirizado pelo fanatismo religioso. A História está cheia desses crimes: -
Sócrates conversava com um Espírito que o orientava e foi preso e condenado à
morte; Isaías recebia belas instruções espirituais e foi preso e sacrificado
com morte cruel; Jesus de Nazaré foi condenado ao suplício da cruz; Paulo de
Tarso foi decapitado; Joana d'Arc recebia instruções de grandes Espírítos e foi queimada
viva, muito solenemente, pela Inquisição. A História da Igreja Católica Romana
está repleta desses crimes contra médiuns, mas não pode impedir o surto sempre crescente
da mediunidade; o que ela tristemente conseguiu, em sua cegueira, foi espalhar
a descrença, o ateísmo materialista.
Em Buenos Aires, explode
inesperadamente a mediunidade numa jovem senhora católica que funda o centro
religioso com o nome de "Missão de Jesus" e já tem grande número de
missionários. A iniciadora, Sra. Madu Jess, publicou um livro – “O que me foi
revelado”.
Um obscuro jovem, comerciário, numa
pequena cidade mineira, torna-se médium de grandes faculdades e superior
moralidade, já escreveu muitas dezenas de livros muito preciosos que têm
agitado todo o Brasil e continua sua gloriosa tarefa de restauração do
Cristianismo. É Francisco Cândido Xavier.
Ao lado desse médium desabrocha a
mediunidade em um jovem médico, rapaz de altas virtudes, chamado Waldo Vieira,
que vem produzindo obras excelentes, em prosa e verso.
E assim por toda a parte.
Alguém com tempo e competência
deverá um dia reunir dados históricos mundiais e escrever um livro demonstrando
que todas as religiões, antigas e modernas, nasceram e viveram do mesmo modo,
pelas comunicações de Espíritos através de médiuns. Portanto, quando uma igreja
condena a mediunidade, decai para o materialismo ateu e perde toda a força
espiritual renovadora. Perde a fé religiosa e morre. Só pode conservar uma
aparência político-econômica de vida, dependente da força material do Estado,
mas sem poder moral e espiritual.
Quando tudo isso ficar bem exposto,
bem compreendido, as igrejas passarão a cultivar a mediunidade e seus dogmas
negativos irão tornando-se obsoletos e caindo com o tempo; seus ensinos
passarão a abranger os vastos horizontes da reencarnação e seu vigor renascerá
para novos serviços à Humanidade, com ou sem o mesmo nome anterior. Haverá mais
uniformidade nos ensinos básicos da Religião.
O mundo não deve continuar sempre
dividido em seitas religiosas que se hostilizam e reciprocamente se
enfraquecem, quando tudo ruma para a unidade, como se vê nas ciências naturais,
nas indústrias, nos transportes, na política, na economia, na cultura e até na
linguagem, que, através da interpenetração dos idiomas, já criou um vocabulário
internacional de que se serve o Esperanto para estabelecer a língua mundial.
Tudo caminha para a unidade, pelo
menos em suas linhas gerais.
Um livro nesse sentido prestaria
relevantes serviços ao mundo.
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