quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Como nascem, crescem, vivem e morrem as religiões


Como nascem,
crescem,
vivem
e morrem as religiões

Lincóia Araucano /(Ismael Gomes Braga)



Reformador (FEB) Dezembro 1961

            Com este artigo desejamos lembrar um assunto que merece tratado em um livro de autor mais competente e que disponha de melhor biblioteca do que nós. Parece-nos do máximo interesse para a Humanidade escrever-se tal livro, de modo a deixar demonstrado que a Religião tem unidade e é invencível, a despeito de todas as lutas do Materialismo ateu.

            A fonte é sempre a mesma em todos os tempos e lugares: - a manifestação de seres do mundo espiritual ao homem. O canal é sempre o mesmo: - a mediunidade. Só as palavras mudam através dos tempos: - os seres espirituais são chamados deuses e deusas, bons e maus, demônios, anjos, espíritos; os intermediários, conhecidos por videntes, profetas, médiuns. Para simplificar, vamos empregar somente as palavras mais novas, "Espíritos" e "médiuns".

            Um Espírito aparece ao médium Moisés e lhe dá a missão de retirar do Egito os escravos israelitas. Moisés cumpre essa missão, funda uma nação e recebe o Decálogo e outros ensinamentos provisórios, nem sempre muito elevados. De tempos a tempos vão surgindo naquela nação outros médiuns - os profetas de Israel - e o Judaísmo cresce e vive até os nossos dias.

            Passados séculos, um Espírito aparece a Zacarias e anuncia o nascimento de João Batista; aparece a Maria de Nazaré e anuncia o nascimento de Jesus. Ambas as predições se realizam. Jesus se mantém sempre em relações com os Espíritos das mais altas esferas. Em certo momento, produz a materialização de dois grandes vultos da raça, mortos séculos antes: Moisés e Elias. Depois de sua morte, reaparece muitas vezes materializado em forma de homem e dá instruções aos seus discípulos. Aparece em toda a sua glória ofuscante a Saulo, na estrada de Damasco, dá instruções e força a Saulo para uma grande missão mediúnica. Assim surgiu o Cristianismo dentro do Judaísmo, mas o Judaísmo já não é o primeiro movimento religioso da Humanidade, como vemos do livro de Louis Jacolliot - "A Bíblia na índia" -, porque pelo mesmo processo já haviam aparecido as velhas crenças da Índia. As diversas formas antigas de Politeísmo na Índia e no mundo nasceram e viveram pelas comunicações mediúnicas e morreram quando desprezaram essa fonte de vida e consagraram-se somente às coisas materiais.

            Saltando uns milênios, chegamos ao século 18 e vemos um médium sueco, Emmanuel Swedenborg, nascido em Estocolmo a 29 de Janeiro de 1688, fundar uma nova religião no século seguinte ao seu nascimento. Mais um século à frente e vemos aparecerem médiuns por toda a parte na América e na Europa, e surge o Espiritismo de nossos dias. A mediunidade renasce em todos os meios.

            Numa aldeia do Japão, uma camponesa analfabeta, a Sra. Nao Deguêi, muito contra sua vontade e em estado de pânico, é tomada por um Espírito, escreve vários livros notáveis e assim apareceu a nova religião Oomoto que está espalhando-se pelo mundo. 

            Na Dinamarca, um homem simples, nascido sem pai conhecido, chamado Martinus, tem uma grandiosa visão de Jesus-Cristo, escreve uma obra notável em vários volumes com o título "O Livro da Vida", funda o Instituto de Ciência Espiritual, em Copenhague, e aparece uma nova religião, cristã e reencarnacionista.

            Em Budapeste, Jesus aparece em toda a sua glória a um judeu chamado José, muito avesso ao Cristianismo, e lhe dá uma grandiosa missão mediúnica que ele cumpre com todo o respeito, tornando-se fervoroso cristão para o resto da vida.

            Num convento da França, um Espírito sofredor entra em contato com uma irmã de caridade e lhe aparece diariamente, ditando-lhe, muito contra seu desejo, um livro que finalmente é publicado, com aprovação das autoridades religiosas católicas, que julgam interessante divulgar os ensinos recebidos de uma freira morta aos 36 anos de idade, e que se acha em grandes sofrimentos, recebidos por uma médium igualmente freira. E assim surgiu o livro "Manuscrito do Purgatório", que já esgotou duas edições no Brasil, em excelente tradução de Monsenhor Ascânio Brandão.

            José Smith, nascido em 23 de Dezembro de 1805, nos Estados Unidos, é subjugado por uma força espiritual; depois, aparecem-lhe dois Espíritos gloriosos, no ar, junto dele, dão-lhe instruções, ele cria uma nova religião cristã, mas é perseguido pelo fanatismo religioso, preso e assassinado na prisão, em 27 de Junho de 1844; no entanto, sua seita viveu e tem missões por toda a parte. No Brasil tem ela uns vinte centros de divulgação espalhados pelo País. José Smith não é o primeiro médium martirizado pelo fanatismo religioso. A História está cheia desses crimes: - Sócrates conversava com um Espírito que o orientava e foi preso e condenado à morte; Isaías recebia belas instruções espirituais e foi preso e sacrificado com morte cruel; Jesus de Nazaré foi condenado ao suplício da cruz; Paulo de Tarso foi decapitado; Joana d'Arc recebia instruções de grandes Espírítos e foi queimada viva, muito solenemente, pela Inquisição. A História da Igreja Católica Romana está repleta desses crimes contra médiuns, mas não pode impedir o surto sempre crescente da mediunidade; o que ela tristemente conseguiu, em sua cegueira, foi espalhar a descrença, o ateísmo materialista.

            Em Buenos Aires, explode inesperadamente a mediunidade numa jovem senhora católica que funda o centro religioso com o nome de "Missão de Jesus" e já tem grande número de missionários. A iniciadora, Sra. Madu Jess, publicou um livro – “O que me foi revelado”.

            Um obscuro jovem, comerciário, numa pequena cidade mineira, torna-se médium de grandes faculdades e superior moralidade, já escreveu muitas dezenas de livros muito preciosos que têm agitado todo o Brasil e continua sua gloriosa tarefa de restauração do Cristianismo. É Francisco Cândido Xavier.

            Ao lado desse médium desabrocha a mediunidade em um jovem médico, rapaz de altas virtudes, chamado Waldo Vieira, que vem produzindo obras excelentes, em prosa e verso.

            E assim por toda a parte.

            Alguém com tempo e competência deverá um dia reunir dados históricos mundiais e escrever um livro demonstrando que todas as religiões, antigas e modernas, nasceram e viveram do mesmo modo, pelas comunicações de Espíritos através de médiuns. Portanto, quando uma igreja condena a mediunidade, decai para o materialismo ateu e perde toda a força espiritual renovadora. Perde a fé religiosa e morre. Só pode conservar uma aparência político-econômica de vida, dependente da força material do Estado, mas sem poder moral e espiritual.

            Quando tudo isso ficar bem exposto, bem compreendido, as igrejas passarão a cultivar a mediunidade e seus dogmas negativos irão tornando-se obsoletos e caindo com o tempo; seus ensinos passarão a abranger os vastos horizontes da reencarnação e seu vigor renascerá para novos serviços à Humanidade, com ou sem o mesmo nome anterior. Haverá mais uniformidade nos ensinos básicos da Religião.

            O mundo não deve continuar sempre dividido em seitas religiosas que se hostilizam e reciprocamente se enfraquecem, quando tudo ruma para a unidade, como se vê nas ciências naturais, nas indústrias, nos transportes, na política, na economia, na cultura e até na linguagem, que, através da interpenetração dos idiomas, já criou um vocabulário internacional de que se serve o Esperanto para estabelecer a língua mundial.

            Tudo caminha para a unidade, pelo menos em suas linhas gerais.


            Um livro nesse sentido prestaria relevantes serviços ao mundo.

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