VI
‘Apreciando a Paulo’
comentários em torno
das Epístolas de S. Paulo
por Ernani Cabral
Tipografia Kardec - 1958
Ora o Senhor encaminhe os vossos
corações
na caridade de Deus e na paciência
de Cristo.
Mando-vos, porém, Irmãos, em nome de
nosso Senhor Jesus Cristo,
que vos aparteis de todo irmão que
andar desordenadamente,
e não segundo a tradição que de nós
recebeu,
Porque vós mesmos sabeis como convém
imitar-nos,
pois que, não nos houvemos
desordenadamente entre vós,
Nem de graça comemos o pão de homem
algum,
mas com trabalho e fadiga, trabalhando noite e
dia
para não sermos pesados a nenhum de vós.
Não porque não tivéssemos
autoridade,
mas para vos dar em nós mesmo
exemplo, para nos imitardes.
Porque quando ainda estávamos
convosco,
vos mandamos isto que, se alguém não
quiser trabalhar, não coma também.
.:Porquanto ouvimos que alguns entre
vós andam
desordenadamente, não trabalhando,
antes fazendo coisas vãs.
A esses tais, porém. mandamos e
exortamos por' nosso Senhor,
Jesus-Cristo que, trabalhando com
sossego, comam o seu próprio pão.
E vós, irmãos, não vos canseis de
fazer bem.”
2ª Epístola aos Tessalonicenses,
3-5 a 13.
“Dize-me
com quem andas e eu te direi quem és”, reza a sabedoria popular.
O apóstolo dos gentios recomenda “que
vos aparteis de todo irmão que andar desordenadamente”, e não segundo os bons
costumes.
Esta lição é sobretudo para os
moços. As boas companhias servem de estímulo e de exemplo. Enquanto que os
maus, os irreverentes, os que não cumprem os seus deveres e andam por caminhos
escusos, prejudicam e corrompem os caracteres em formação. A faculdade
imitativa é peculiar aos jovens, mesmo que de tal não se apercebam.
Assim como o estilo é, geralmente, o
fruto da assimilação, decorrente das leituras feitas, o caráter também sofre
influências, muitas vezes decisivas, das companhias que a pessoa tenha ou com
as quais conviva.
Os fatores mesológicos, isto é, as
persuasões, excitações e exemplos do meio ambiente, comunicam-se e são
naturalmente seguidos.
As concepções de vida, os gostos e
as ideias de um grupo tem profunda influência em todos os seus componentes. Daí
porque Paulo, com a sabedoria que lhe foi incutida pelo Espírito Santo,
recomendou aos cristãos, como norma de conduta, afastarem-se dos que andam, por
maus caminhos, isto é, dos que não procedem bem.
As leituras possuem também
influência preponderante na formação do caráter. Os livros incutem ideias, dão
juízos especiais sobre as coisas e despertam inclinações ou pendores.
Portanto, devemos tratar da higiene
mental, procurando ler, d epreferência, aquilo que possa servir para nossa
edificação moral.
Quanto ao trabalho, Paulo o
aconselha e o abençoa. Nós, espíritas, bem sabemos que “o trabalho é uma prece”.
Estimula faculdades, serve de distração e é proveitoso a quem o exercita. A
inércia ou a preguiça, ao contrário, gera a indolência e é fonte de outros
pecados ou de várias imperfeições.
A sabedoria antiga dizia que “a mulher deve viver de mãos ocupadas”.
As que nada querem fazer acabam por se interessar somente com a sua vaidade,
com o luxo e com as coisas fúteis. Por outro lado, o homem ocioso é um inútil,
um peso morto para a sociedade. Por isto, Paulo foi categórico e rigoroso: “Se alguém não quiser trabalhar, não coma
também.” E acrescentou: “Porquanto
ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando; antes
fazendo coisas vãs. A esses tais,
porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com
sossego, comam o seu próprio pão.”
O Apóstolo realça ainda, sua conduta
e sua operosidade, “trabalhando noite e
dia para não serem pesados” aos demais. Frisa que o fazia para que servisse
de exemplo a todos os cristãos achando que, só se deve ganhar remuneração através
do trabalho honesto e perseverante. Ele era apóstolo mas não quis viver à custa
de dízimos, nem da benemerência alheia... Este foi o seu exemplo!
Está no começo da transcrição que acima
fizemos:
“O
Senhor encaminhe os vossos corações na caridade de Deus e na paciência do
Cristo.”
Tudo, verdadeiramente, se resume na caridade,
vale dizer, no amor.
O mandamento é “ama a Deus sobre todas as coisas e o próximo como a ti mesmo. Nisto se
resumem as leis e os profetas.” (Mateus, 22:37 a 40)
Assim, o Divino Mestre prescreveu
amar ao próximo, tanto quanto a nós mesmos.
Ora, quem não procura as boas
companhias, quem não trabalha ou estuda e não se esforça em prol do bem, deixa
de ter amor para consigo mesmo, porque resvalará pelo mau caminho, tornando-se
improdutivo e viciado.
Por isto, Paulo deseja que o Senhor
encaminhe nossos corações “para a
caridade de Deus e a paciência de Jesus”. Aliás, esta grande virtude, a
paciência, é uma das características do cristão, devendo ser exercitada tanto
no lar como na sociedade.
Quem não tem paciência não é
caridoso, nem generoso, nem humilde, já que precisamos saber suportar e tolerar
as imperfeições de nossos irmãos.
Se todos tivessem o mesmo nível
mental, se todos possuíssem o mesmo entendimento e os mesmos gostos, não
haveria oportunidade de as virtudes serem postas à prova.
Somos diamantes brutos que nos
lapidamos pelo rostir recíproco, pelo atrito de nossas ideias, de nossos atos e
de nossos pontos de vista. Nesse burilamento, é mister que nos portemos como
cristãos, isto é, com tolerância, humildade e paciência, já que nem todos podem
compreender as coisas do mesmo modo, e precisamos respeitar as concepções
alheias, pois não devemos querer escravizar os outros às nossas ideias, por
mais acertadas que sejam. Convém respeitemos o livre arbítrio de nosso
semelhante, assim como Deus respeita o nosso! Destarte, os próprios filhos,
encaminhemo-los na vida, porém sem lhes impor nossos pontos de vista com
exigências descabidas ou com impertinências, mas ensinando-os com amor.
A caridade de Deus, a que o apóstolo
se refere, assim no lo exige. Por outro lado, também não é acertado fugir do
mundo, mas tão somente das más companhias ou das más leituras, porque elas são
capazes de perverter.
Meditemos nos ensinamentos de Paulo.
Leiamos suas epístolas, que se abeberaram na mesma fonte de água viva, que
dessedenta os espíritos, tranquilizando os corações, e que é Jesus, “o Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo”, na frase expressiva de João Batista. .
´”E vós, irmãos, não vos canseis de
fazer o bem.”
É pela bondade que se conhece o
espírita, vale dizer, o cristão, ou aquele que adora a Deus “em espírito e
verdade”. Este é um regenerado e procura fazer o bem, toda a vez que se lhe
oferece oportunidade. Porque o Cristo de Deus quer de nós somente isto: que
melhoremos nossos corações para sermos felizes!
O caminho está em seus ensinamentos,
a cujos princípios Paulo sempre se refere, dando-lhes o testemunho da fé viva e
profunda, que foi demonstrada através de seu exemplo dignificante, vale dizer,
por suas obras sinceras e generosas, jamais desmentidas, desde que se encontrou
com o Senhor Jesus na estrada de Damasco.
Paulo comentou as lições do Divino
Mestre, que perdurarão por toda a eternidade, chamando ao aprisco as ovelhas
desgarradas e traçando o roteiro de luz ao seu rebanho.
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