O Pai Nosso
Inaldo Lacerda Lima
Reformador (FEB) Abril 1997
O
Pai Nosso afigura-se-nos o ponto culminante do Sermão da Montanha, que foi
iniciado com as bem-aventuranças, das quais se infere que as atenções de Deus,
nosso Pai, estão sempre voltadas sobretudo para os que
sofrem, para os mansos, para os limpos de coração, para os que forem injuriados
e perseguidos por causa do Cristo, seu plenipotenciário entre os homens.
São
nove as bem-aventuranças, numa demonstração de que o Pai, em sua infinita
misericórdia, está sempre atento em amparar os carentes de Paz, de Luz e de
Amor.
Ora,
hoje, que já somos detentores de uma visão realista da Vida Eterna e do
Espírito, sabemos que todos os que se fizerem incluir nas bem-aventuranças
mencionadas por Jesus são almas que um dia faliram e foram condenadas a mundos
de expiações e provas, por cujos destinos o Pai nunca deixou de se interessar.
Meditemos nessas palavras do Espírito Santo Agostinho, contidas no capítulo III,
item 16, de "O Evangelho segundo o Espiritismo", que aqui destacamos:
"Já
se vos há falado de mundos onde a alma recém-nascida é colocada, quando ainda
ignorante do bem e do mal, mas com a possibilidade de caminhar para Deus,
senhora de si mesma, na posse do livre-arbítrio. Já também se vos revelou de
que amplas faculdades é dotada a alma para praticar o bem. Mas, ah! há as que
sucumbem, e Deus, que não as quer aniquiladas, lhes permite irem para esses
mundos onde, de encarnação em encarnação, elas se depuram, regeneram e voltam
dignas da glória que lhes fora destinada"
Vê-se,
aí, a função dos mundos como o nosso, onde somos almas que, um dia, falimos e,
hoje, depurando-nos, regenerando-nos, buscando alcançar as bem-aventuranças de
que trata o Mestre, esperamos chegar, dignos da glória a que nos fora
destinada, à presença do Pai celestial .
Depois
de advertir-nos de que não veio destruir a lei e os profetas, mas cumpri-los,
previne-nos contra os perigos do mal, colocando bem alto o dever da
fraternidade, os preceitos da caridade, a importância do perdão e a necessidade
da oração.
E
ensina-nos o segredo da oração, como deve ser ela simples e sincera, nunca
recheada de vãs repetições, de longos fraseados de efeito. E elucida-nos que os
gentios é que assim se portam quando oram. Pois, em verdade, o Pai conhece as
nossas necessidades antes mesmo que lhas peçamos. Oferece-nos, então, o exemplo
do "Pai Nosso", todo ele em apenas cinco versículos do capítulo VI
do evangelista Mateus:
"Pai nosso que estás no Céu, santificado
seja o teu nome.
Venha o teu reino; faça-se a tua
vontade, assim na Terra como no Céu;
Dá-nos o pão de cada dia;
Perdoa as nossas dividas, como
perdoamos aos nossos devedores;
Não nos deixes entregues à tentação,
mas livra-nos do mal.
Assim seja."
Meditemos,
profundamente, sobre cada uma das luminosas sentenças dessa prece que fluiu do
coração daquele Mestre incomparável que se fez manifestar perante o mundo, na
condição de plenipotenciário divino.
Temos
ouvido, aqui, ali e alhures, deste país continental, no seio das comunidades
espíritas, alguns exemplos de "Pai Nosso" entremeados de frases de
adorno, como se condição tivéssemos de acrescentar alguma coisa a esse
verdadeiro hino de luz!...
Nunca
ousamos criticar os nossos companheiros que, de boa-fé, fazem acréscimos
verbalísticos às palavras do Senhor nesses cinco versículos (9 a 13). Porém, se
atentarmos bem em seu conteúdo, verificaremos que eles estão completos e
perfeitíssimos.
*
Vamos
refletir, não de modo místico mas filosófico, sobre cada uma das luminosas
frases do Pai Nosso, tentando desvendar-lhes o espírito e a sabedoria.
O Pai criador de todos nós está no Céu,
administrando, infinitamente bem, todo o Universo, que é a Sua Casa, com seus
bilhões de galáxias - como a nossa Via Látea - cujo número de moradas
(estrelas, planetas, satélites e cometas) é infinito, porquanto é um reino sem
fronteiras que não pode ser quantitativamente avaliado, na simplicidade do
versículo 2 do capítulo XIV do Evangelho segundo João.
O
mestre Kardec, ao indagar se o espaço universal é infinito ou limitado, na
questão 35 de "O Livro dos Espíritos", teve como resposta as
seguintes palavras: "Infinito. Supõe-no limitado: que haverá para lá de
seus limites?" Meditemos, então, sobre a nossa responsabilidade de espiritistas ao proferir
estas palavras: "Pai nosso que estás no Céu."
Santificado
seja o teu nome. É uma saudação, na qual reconhecemos a santificação de
Seu nome. Ele próprio nos adverte no Decálogo: "Não pronunciareis em vão o
nome do Senhor, vosso Deus." É dever de todos nós amá-LO e respeitã-LO,
pois d’Ele somos filhos. É imperioso dever de todos nós compreender que nos
falece qualquer condição ou capacidade de atingi-LO com as nossas ofensas.
Assim, quando Lhe desobedecemos ou agimos contrariamente à Sua vontade, somos
nós que nos machucamos atingidos pela nossa desobediência e desrespeito. Quem
quer que se manifeste contra o Pai celestial, desconhecendo-O, melhor fora ter
nascido privado de consciência.
Venha
o teu reino. O reino do Pai é de paz e de venturas inimagináveis
destinado a todos os que se fizerem eleitos ao gozo de Sua presença. Portanto,
quando o amado Mestre nos ensina a dizer: "Venha o teu reino" é que
por Ele foi autorizado a assim expressar-se, assegurando-nos que o Pai nos quer
perfeitos e puros.
Faça-se
a tua vontade, assim na Terra como no Céu. Com esta frase quis o Senhor
alertar-nos da necessidade de sermos também humildes, de sabermos pedir e o que
pedir. É que nem sempre pedimos a Deus aquilo que nos convém. Quase sempre
somos exagerados em nossas solicitações, e as coisas
que nos julgamos no direito de reivindicar far-nos-iam mais mal do que bem.
Ele, o Pai, é a sabedoria infinita, cuja vontade é lei. Basta-nos, para a
efetiva intensidade de nossa fé, a conscientização de que dEle somos filhos, o que já nos torna venturosos.
Recordemos a oração de Jesus, no horto: "Se possível, Pai, passa de mim esse cálice; contudo, cumpra-se a tua vontade e não
a minha."
É
pena, leitor amigo, que a ventura de sermos filhos de Deus não seja, ainda,
reconhecida por todos os homens deste orbe. Tal reconhecimento já seria
suficiente para tornar ditosos os que não o são.
Dá-nos
o pão de cada dia, através da saúde que nos torne fortes e aptos para o
trabalho honesto que nos garanta o salário justo. E pelo trabalho digno que
conquistamos o alimento necessário à manutenção da vida no templo de nosso
Espírito, que é o corpo. No entanto, que o alimento conquistado não sirva
apenas ao corpo, mas à alma também...
O
Consolador, que o Pai nos enviou no tempo certo, tem-nos ensinado que não basta
nutrir o corpo; é imprescindível, também, manter alimentado o Espírito, cujos
nutrientes se chamam bondade, exercício da caridade, higienização da mente,
estudo, abnegação, boa vontade para com os outros, renúncia e amor. Sustentados
por esses nutrientes, prosseguiremos em marcha para Deus,
eternizando no imo do ser o bem, a esperança e a luz.
Perdoa
as nossas dívidas, como perdoamos aos nossos devedores. Realmente, como
esperar do Pai-Criador perdão para as nossas faltas, nossos gravíssimos erros,
se não nos predispormos a perdoar aqueles que errarem contra nós? Qual o pai
imperfeito, neste mundo de paixões, que se agrade de perceber manifestação de
ódio entre seus filhos? Ora, Deus é o Pai perfeito que nos ama a todos.
Logo, não Lhe pode agradar a ausência de fraternidade entre os homens. Ausência
esta marcada de ódios, de maldades infamantes, de crimes hediondos, tudo isso
sob o império absoluto do egoísmo avassalador e cruel.
Não
nos deixes entregues à tentação, mormente nos dias atuais quando, na
condição de espiritistas, propõe-nos o Espírito de Verdade a aceitação da
tarefa misericordiosa de trabalhadores da última hora. Na época em que o Pai
Nosso nos foi ensinado tinha o Senhor e Mestre os olhos no futuro, porquanto já
foi dito que o Evangelho é lei de paraíso. E, consoante o que nos vem revelando
a Espiritualidade Superior, estamos vivendo os últimos instantes da era sombria
e triste assinalada por este Segundo Milênio que se escoa na esteira do tempo.
Na
verdade, o Pai sempre nos procurou preservar das tentações, até mesmo colocando
ao alcance de nossa consciência um Espírito-guia. Com essa frase, Jesus
simplesmente nos advertia da necessidade de
administrarmos bem o nosso livre-arbítrio. Se alguém ainda tem dúvida atente
para esse manancial de luzes que desce
ininterruptamente dos Céus através da
mediunidade, desde os primeiros momentos de vida, na história deste planeta!
Livra-nos
do mal, dando-nos toda a assistência dos bons Espíritos, nossos guias e
guardiães, para, seguros, permanecermos na estrada da perfeição. Saibamos todos
aproveitar o Seu Amor, sem desperdiçarmos a coragem, a inteligência e as
energias vitais na prática dos vícios que nos acenam, aqui e ali, nas margens
do caminho. Não sejamos nós novos Ulisses fascinados com os cantos
enfeitiçantes das sereias, diante das seduções materialistas deste mundo, cujos
ilusórios encantos a tantos têm perdido.
Assim
seja.
Deixemos,
por enquanto, que os nossos olhos súplices se derramem por toda a extensão
deste maravilhoso orbe repleto de cores, de flores, de paisagens virentes, de
ricos oceanos, mares e rios abençoados, cujas nuanças escuras que lhe afeiam o
cenário social são resultados das ações iníquas dos homens que a si mesmos se
ignoram como criaturas de Deus.
A
dor, a tristeza, o dissabor, as lágrimas, toda a dramaticidade do infortúnio
têm sido frutos amargos de nossas ações infelizes. Compete-nos, agora, a nós e
não a Ele, o exercício da limpeza e purificação desta pequena morada de apenas
510 milhões de metros quadrados de superfície, dos quais somente um terço de
terra firme.
*
Deus,
nosso Pai, fez-nos a todos perfectíveis. Concedeu-nos a bênção da inteligência
associada à capacidade de encontrarmos os roteiros seguros do bem-estar e da
felicidade, mesmo quando subordinados à ação dolorosa da expiação e das provas.
No entanto, utilizando mal o livre-arbítrio, incidimos em novos erros,
dificultando a ação da amorabilidade divina.
Feliz,
portanto, aquele que se faz consciente dessa graça, porquanto disporá de todos
os meios para acertar mais e errar menos. No terceiro e no quinto trabalho
desta série, oferecemos didaticamente aos nossos leitores algumas técnicas que
nos permitem, se bem utilizadas, a conquista de nosso aperfeiçoamento através
da disciplinação de nossos hábitos, reforçando os bons e não dando reforço
algum àqueles que nos possam retardar o progresso.
Bastará,
para isso, manter em estado de alerta a consciência, que não deverá dormir,
ainda mesmo quando em repouso o templo somático da alma. Para isso, nunca
olvidarmos o significativo sentido destas palavras: "Pai nosso, que estás no Céu..."
Eis
que nos exercitando no conhecimento e na vivência do Evangelho dispomos de
todos os meios e recursos para manter dentro de nós, na arca do coração, toda a
vibração amorável do Pai, vindo a fazer morada no Seu Reino. É o que nos
afiançam estas palavras do Mestre registradas pelo evangelista João (14:23):
"Se alguém me ama, guardará a minha
palavra, e meu Pai o amará, e viremos para ele, e faremos nele morada."
E
mais adiante, no mesmo evangelista João (15:10 e 12):
"Se guardardes os meus mandamentos,
permanecereis no meu amor; do mesmo modo que eu tenho guardado os mandamentos
de meu Pai, e permaneço no seu amor. O meu mandamento é este: Que vos ameis uns
aos outros, assim como eu vos amei."
Seja,
pois, o espírito do Pai Nosso a nossa sustentação de todas as horas, de todos
os momentos, integrando-nos no Bem, alicerçando-nos a Fé, e mantendo--nos
unificados nos princípios da Doutrina que nos irmana e na unificação de nossas
almas na Vinha do Senhor!..
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