Morte e
Crucificação
16,21
Desde então, Jesus começou a manifestar a seus discípulos que precisava ir a
Jerusalém e sofrer muito da parte dos anciãos, dos sacerdotes e dos escribas; seria morto e
ressuscitado ao terceiro dia.
16,22 Pedro, então, começou a interpelá-lo e
protestar nestes termos: -Que Deus não permita isto, Senhor! Isto não Te
acontecerá!
16,23 Mas, Jesus,
voltando-se para ele, disse-lhe: “ -Afasta-te de Pedro, espírito trevoso! Você
está sendo uma pedra no meu caminho, porque seu modo de pensar não é o de Deus,
mas o dos homens!
Para Mt (16,21-23) -1º Anúncio da Crucificação - lemos, de Antônio Luiz Sayão, em
“Elucidações Evangélicas”(FEB), o texto que se segue:
“Tendo Jesus descido à Terra para dar aos
homens a maior prova, o maior exemplo de amor e de abnegação que eles podiam
receber, cumpria-lhe preparar seus discípulos para aquele ato importantíssimo
da sua missão, a fim de que, aos olhos de todos, na época, como no futuro,
ficasse demonstrado que sua “morte” e “crucificação” estavam previstas, não
foram acontecimentos puramente humanos.
Servindo-se das expressões ser morto, ressuscitar, o Cristo usava
de uma linguagem que os homens pudessem compreender. Apresentando o seu corpo
a aparência da corporeidade humana,
importava-lhe passar pela metamorfose da morte. Depois, deixando no
esquecimento o corpo de carne que parecia revestido, cumpria-lhe mostrar-se aos
homens, para que ficasse comprovada a sua identidade. Era, portanto, preciso
que os homens fossem prevenidos do acontecimento que sobreviria, a fim de lhe
apreenderem a razão, porquanto os próprios discípulos não teriam compreendido o
fato do reaparecimento do Mestre, se o não houvessem considerado do ponto de
vista da ressurreição, no sentido que davam a este termo.
Para os hebreus, a ressurreição
consistia na volta da alma a um corpo de carne, a um corpo material, sem
indagarem se se tratava sempre do mesmo corpo, sem inquirirem da origem, nem do
fim de tal corpo. Essa a razão por que Ele permitiu a Tomé que pusesse a mão
nas chagas que os cravos lhe abriram nas mãos e nos pés, retomando, para esse
efeito, o seu corpo que, como sabemos, era fluídico, de natureza perispirítica,
com a tangibilidade, a consistência, a aparência de um corpo humano.
Conseguintemente, sendo tal a
natureza do corpo de Jesus, não houve, com relação a Ele, nem morte, nem ressurreição, no sentido que então era dado a estas expressões.
Houve apenas aparência de uma e outra
coisa.
Foram
todos morais os sofrimentos que o Mestre suportou na cruz. O que das chagas
lhe saía era uma combinação puramente fluídica, com a aparência de sangue.
Sem dúvida, estas revelações são de
molde a alarmar, como de fato têm alarmado, muitas criaturas aferradas às
torturas físicas do grande modelo que nos foi enviado. Porém, forçoso é vejamos
em Jesus somente um Espírito, Espírito superior a todos os outros que
concorreram para a formação do nosso planeta e cujos sofrimentos, portanto,
foram todos morais, decorrentes do amor que consagrava e consagra a seus
protegidos, por vê-los tão endurecidos. Dizemos - seus protegidos - porque Ele é o nosso protetor, o governador do
nosso planeta. Nessa qualidade, experimentava o sofrimento que causa a uma mãe
terna e carinhosa o ter que punir o filho bem-amado.
Nos
últimos momentos de seu sacrifício na cruz, limitou-se a dizer em voz alta: Tudo está consumado, eis-Me aqui,
Senhor, para mostrar aos homens,
por meio de um exemplo prático, a resignação, a obediência e a submissão com
que se devem eles comportar, diante das vontades do soberano Senhor. O brado que soltou do cimo do madeiro
não foi tampouco um brado de sofrimento. Deixando-o escapar no momento de
“render a alma” (está claro que apenas no entender dos homens), fê-lo com o
intuito de lhes chamar a atenção para aquele instante supremo e lhes fazer
compreender, por uma expansão de alegria e não de angústia, a felicidade do
Espírito que se desprende do seu grosseiro invólucro, para se elevar ao seu Criador.
Não faltarão os que digam: “Que
mérito era o dele em se submeter a tais torturas, se não experimentava os
sofrimentos físicos, uma vez que apenas aparente era o seu corpo.” Não
compreendem os que assim falam, que os
sofrimentos morais são de intensidade infinitamente maior do que os sofrimentos
físicos; que o sofrimento, na essência espiritual, é mais forte e mais vivo do
que o possam ser, para os nossos corpos, quaisquer sofrimentos humanos, ainda
mais agudos. Todos conhecemos desgostos, mágoas e torturas morais
superiores a qualquer dor física, tanto que de bom grado os trocaríamos por
dores desta natureza.
Jesus
sofreu, sim, sofreu cruelmente, não na sua “carne”, mas em seu “espírito”.
Cada pancada do martelo dos cravos que lhe traspassavam as mãos e os pés
fluídicos, mas tangíveis, lhe ia ferir a sensibilidade delicadíssima e lhe
fazia correr da alma o sangue mais precioso: o do amor e do devotamento, que
nos consagra. O divino modelo, que por
nós subiu ao Calvário, que padeceu por nós, sofreu e sofreu muito...”.
“As palavra que Pedro dirigiu a
Jesus - Tal não aconteça Senhor, nada
disso te acontecerá, ao acabar este de predizer os seus sofrimentos,
“morte” e “ressurreição” e também a resposta do Mestre àquele apóstolo, se
explicam da maneira seguinte: Do mesmo modo que os médiuns atuais, Pedro nem
sempre estava debaixo de uma influência estranha e, desde que isso se
verificava, seu Espírito agia livremente. Foi, pois, como homem que ele se viu
presa do temor de perder o seu Mestre querido. Não era possível que estivesse
privado sempre do seu livre-arbítrio. Poder-se-á, porventura, admitir, ou
supor, sequer, haja sido a inspiração dos bons Espíritos que o levou a negar o
Mestre?
Quanto a severidade da resposta de
Jesus, nada tem de extranhável, quando se sabe que todo Espírito encarnado é
fraco e falível, pelo só fato de ser encarnado, e que o Mestre não podia deixar
de querer se mantivesse Pedro constantemente em guarda contra as fraquezas
humanas, que sempre tornam a criatura incapaz de sentir o gosto das coisas de
Deus e só ter o das coisas do mundo. A expressão Satanás, de que usou com
relação àquele apóstolo em sentido puramente figurado, significa a má
influência, a má inspiração. Eram elas que faziam procurasse ele desviar o
Mestre do cumprimento do seu dever.”
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