Irreversibilidade
do
Tempo
por Inaldo Lacerda Lima
in Reformador (FEB) Jan 1994
O
tempo é irreversível. O minuto que passou não mais retomará, nem aqui nem
alhures. Talvez, por isso mesmo, nos mundos felizes ou no espaço absoluto o
tempo seja inexistente, e os seres inteligentes vivam o eterno presente.
Dizemos
espaço absoluto a fim de tentar um conceito de tempo sem relatividade ou
sucessão das coisas que nos liguem à eternidade. É que dentro da eternidade as
coisas não se sucedem. Elas são ou estão. Isso é tudo.
O
tempo diz respeito a quem está em marcha e percebe que as coisas não são fixas
ou permanentes. Eis por que no ser inteligente há ânsia; há busca; há desejo de
renovações e estabelecem-se dúvidas ou incertezas. Vive-se ao sabor das
surpresas do caminho.
É
o caso da felicidade. Somos felizes ou infelizes, até o instante em que
percebemos a insatisfação ou por ela somos surpreendidos, ou despertados para a
realidade do que efetivamente somos. Julgamos então haver descoberto o nosso
equívoco quanto à felicidade que pensávamos haver alcançado, ou concluído que
não éramos tão infelizes quanto supúnhamos. E, nesse sentido, quanto mais
imperfeito é o indivíduo, maior é a soma de suas insatisfações e menos estável
a sua felicidade.
Jesus,
o sábio dos sábios, falando com absoluto conhecimento de causa, afirmou perante
Pilatos: "O meu reino não é deste mundo." Mas Pilatos, que o sabia
inocente, conhecia o veneno do sacerdotalismo organizado
de seu tempo, não quis pôr em risco o seu insignificante "reinado", a
sua equivocada felicidade, deixando o inocente entregue à sanha dos maus.
Jó,
no Antigo Testamento, percebendo o estado miserável em que caiu, exclamou,
desolado: "Sobrevieram-me pavores; como vento perseguem a minha honra e
como nuvem passou a minha felicidade" (Jó, 30: 15).
Com
esse introito, desejamos refletir, com os companheiros que nos lerem, a
respeito da irreversibilidade do tempo e os vaníssimos propósitos de
retardamento da nossa marcha em favor de qualquer presunção de felicidade
material, neste mundo-escola em que vivemos graças à misericórdia do Pai...
Somos
espírita e, por enquanto, aqui, só para espíritas falamos. Falamos
principalmente àqueles que, como nós, um dia se sentiram frustrados diante da
pretensa felicidade. O que, na verdade, contribuiu para a formação da convicção
de que felicidade é algo que construímos dentro de nós e que nada tem a ver com
supostos bens materiais e passageiros.
A
bem da verdade, o que intitulamos de felicidade não passa de algum conforto ou bem-estar muito relativo a que não devemos
dispensar exagerado apego.
Logo,
não compensa retardarmos nossa marcha na direção da eternidade em função da
valorização excessiva dos bens materiais deste mundo, diante dos quais nosso
papel não deixa de ser de meros administradores. Retardar é perder tempo.
O
tempo é irreversível, dissemos. A perfeição que buscamos alcançar pela
exercitação diuturna do Evangelho, enquanto acertamos as nossas contas com a
justiça divina, conduz-nos direta e ininterruptamente ao gozo dos bens eternos
e inconspurcáveis do Espírito. Perder tempo é, pois, obstaculizar
a caminhada no roteiro da Luz.
Deus
nos outorgou, como espécie de instrumental de alertamento contra possíveis
tendências a qualquer descontinuidade na marcha evolutiva, a possibilidade de
acompanhar e sentir o espetáculo dramático das dores do mundo, onde, por vezes,
somos constrangidos a identificar-nos com algum de
seus personagens. Acentua-se-nos, então, a convicção de que o homem é o construtor de seu
próprio destino.
Se
as dores do mundo são consequência da ignorância moral e espiritual da
Humanidade como um todo, surge, em nós, no âmago da consciência, interessante
indagação: como ajudar os homens no reconhecimento de sua responsabilidade na
mudança de cenário tão desolador?
E
se nós espíritas, depositários, pela bondade divina, da Terceira Revelação -
instrumento de agilização do processo regenerador do Orbe, deixando-nos
influenciar pela aparente presença de "alguns bancos com
sombra na estrada do progresso", resolvermos interromper a marcha, a
título de descanso oportuno? Quem o fizesse cometeria tão grave equívoco que dificilmente se perdoaria perante
o tribunal da consciência.
É
preciso retirar o Planeta do caos do materialismo e, para isso, o seu
Governador conta com a colaboração, hoje, daqueles que, ontem, fomos, também,
instrumentos de erros e destruição. Despertos, agora, do sonambulismo
obliterador da consciência, eis-nos convocados para trabalhadores da vinha do
Senhor na seara bendita.
Portanto,
não nos sentimos à vontade para "fugir" do trabalho ou produzi-lo com
menos devotamento, embora possamos fazê-lo, no exercício errôneo do
livre-arbítrio. Ele existe e nos pertence como outorga divina, mas sob a
condição de respondermos pelo modo como o utilizarmos.
Abrimos
o livro "Obras Póstumas", em sua Segunda Parte, e encontramos, na
página 299 da 13ª edição FEB, a Comunicação intitulada Minha Volta, que revela
ter sido o Codificador informado pelo Espírito de Verdade quanto ao seu retomo
ao mundo físico, tempos depois de sua desencarnação: "Não permanecerás
longo tempo entre nós. Terás que volver à Terra para concluir a tua missão, que
não podes terminar nesta existência" E, desse diálogo, guardamos uma frase
que muito nos tem ajudado como alertamento em benefício de nossos próprios
passos na condição de espírita, neste mundo. Eis a frase, que colocamos em
desta que:
"SE
FOSSE POSSÍVEL, ABSOLUTAMENTE NÃO SAIRIAS DAÍ; MAS É PRECISO QUE SE CUMPRA A LEI DA NATUREZA."
Reflitamos:
"Se fosse possível, absolutamente não sairias daí." Que isso quer
dizer? Significa que o Governo deste Orbe tem pressa!
Não fora a necessidade de cumprir-se a lei da Natureza, Kardec não teria
desencarnado. Todavia, para fazer face ao interregno forçado voltaria em
condições que lhe permitiriam trabalhar desde cedo, isto é, desde a juventude.
O
que nos chama a atenção em tudo isso, já o expressamos: o Cristo tem pressa.
Ele, mais do que ninguém, conhece, como Governador da Terra, a
irreversibilidade do tempo. Ninguém deve perdê-lo em vão, mormente quando se é
reconhecido à amorabilidade divina.
Efetivamente,
o tempo urge. Sempre o temos afirmado em muitos de nossos escritos.
Desde
o instante de nossa estreia nas fileiras da Doutrina-Luz, temos notado os
espíritas acenarem, impressionados, para a aurora do Terceiro Milênio. E o
Terceiro Milênio aí está a apenas seis anos, na curva ininterrupta do tempo. E,
apesar disso, há muitos trabalhadores, dentre os convocados para a Vinha,
estacionados à margem do tempo. E o tempo é irreversível...
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