Um
líder no conceito
de
Emmanuel
por Kleber Halfeld
Reformador
(FEB) ...... 1997
Eles
tiveram lugar de destaque nas coletividades.
Foram
respeitados pelo que disseram ou realizaram.
Os
que alcançaram patamares elevados de espiritualidade, dentro de um sistema
evolutivo, buscaram nortear aqueles que os cercavam, para cometimentos nobres
tendo por divisa: Verdade e Perfeição.
Os
que permaneceram presos em angustiantes labirintos criados pela própria incúria
não hesitaram levar o próximo a tortuosos caminhos.
Eram
líderes.
O
mundo os tem conhecido em todos os tempos.
Impressionaram
gerações e entraram para as páginas da História.
Receberam
nomes como Catarina a Grande, Chu-En-Lai, Napoleão Bonaparte, Golda Meir, De
Gaule, Adolpho Hitler, Simon Bolivar, Washington, Gandhi.
E
outros.
*
Quando
a Nova Cultural lançou a série "Os Grandes Líderes", no tomo que
enfoca a figura de Gandhi, o leitor teve ensejo de ler estas pressões,
impressas na capa de fundo:
"Mohandas Karamchand Gandhi, arquiteto da
independência da índia, foi a combinação única de um político extremamente
hábil e de um humanista cuja dedicação estava próxima da santidade. Depois de
sentir na própria pele o racismo e as injustiças do colonialismo britânico na
África do Sul, Gandhi retomou à índia determinado a ajudar na luta de seus compatriotas
pela independência do país. Perseguiu esse objetivo sem jamais se desviar
daquilo que constituía o princípio fundamental de suas concepções éticas,
políticas e filosóficas: o princípio da não-violência. Amado e admirado por
milhões de pessoas, o Mahatma foi para seus contemporâneos e para todos aqueles
que viram nele uma fonte de inspiração a consciência do seu país e do mundo."
A
responsabilidade do volume sobre a vida e a obra de um dos maiores vultos que a
Índia conheceu foi entregue pela Editora a Catherine Bush, bacharel em
Literatura Comparada pela Universidade de Yale, Estados Unidos, e autora de
textos de ficção e de estudos críticos de literatura que através de expressões
de apreciada simplicidade, mas concomitantemente de bem redigidos textos, soube
transmitir ao leitor os conflitos e sofrimentos pelos quais passou Gandhi,
objetivando libertar o povo indiano do domínio inglês.
Há
que considerar de início uma expressão desse respeitável vulto. Constituirá ele
uma legenda em torno da qual serão desenvolvidas algumas apreciações, ao mesmo
tempo que, claramente, sintetizará o pensamento do grande líder diante da
tarefa de que estava investido. Missão, aliás, quem sabe, contraída mesmo antes
de reencarnar no grande país asiático do Ganges, do Sutley e do Jumma; da terra
que acolheu Viasa, Krishna e Buda; da pátria dos marajás e dos párias.
É
de Gandhi o texto a seguir:
"Minha convicção pessoal é absolutamente
clara. Não tenho o direito de magoar nenhum ser vivo, muito menos seres humanos
como eu, ainda que eles possam causar grandes males a mim e aos meus. Por isso
ao mesmo tempo que considerando o domínio britânico uma calamidade, não
pretendo causar danos a um único cidadão inglês, ou a qualquer interesse
legítimo que ele possa ter na índia. Sei que, empenhando-me pela não-violência,
estarei correndo o que poderia ser chamado de um grande risco, mas as vitórias
da verdade jamais foram alcançadas sem riscos! E transformar uma nação que,
consciente ou inconscientemente, foi opressora de outra, mais numerosa, mais
antiga e não menos civilizada que ela própria, merece correr qualquer risco."
Lendo
semelhante trecho, ficamos a meditar quão diferente daqueles divulgados, por
exemplo, por algumas figuras políticas da Alemanha das décadas de 30 e 40, cujo
sonho de conquista custou a vida de milhares de soldados ingleses, franceses e
americanos, de 20 milhões de soviéticos e de mais de 6 milhões de judeus, a
maioria morta nos campos de concentração de Bergen-Belsen, Auschwitz,
Treblinka, Buchenwald e outros.
Quando
em 1939, ano do início da Segunda Grande Guerra Mundial, foi lançada pela
Federação Espírita Brasileira a obra "A Caminho da Luz", de autoria
do Espírito Emmanuel, através de Francisco Cândido Xavier, estava Gandhi com 70
anos e ainda com vigor entregava-se na Índia à luta pela independência do País
através daquilo que chamou de "não-violência". Uma luta que teria sua
recompensa anos mais tarde, ou seja, em 15 de agosto de 1947, quando a índia se tomou uma
República Federal dentro da Comunidade Britânica, oportunidade em que proclamou
Jawaharlal Nehru seu primeiro-ministro.
O
livro de Emmanuel - "uma história da civilização à luz do
Espiritismo" - em seu capítulo V (A Índia) contém gravada curiosa
afirmativa do autor. Depois de referir-se às disparidades sociais existentes no
país do Ganges, escreve ele:
"Ainda hoje, o Espírito iluminado de Gandhi;
que é obrigado a agir na esfera da mais atenciosa psicologia dos seus irmãos de
raça, não conseguiu eliminar esses absurdos do seio do grande povo de iniciados
e profetas." (Grifei.)
A
afirmativa conduz minha lembrança ao sempre querido e lembrado irmão de
Doutrina, Newton Boechat.
Há
alguns anos, após uma palestra em um Centro Espírita de Juiz de Fora, tive
ensejo de, no recesso de meu lar, dele ouvir este esclarecimento:
-
Em meus diálogos com nosso amoroso Chico, afirmou-me ele que Emmanuel é uma
Entidade Espiritual que nunca fez referência elogiosa, de público, a uma pessoa
encarnada, exceção feita a Gandhi!
E
ante minha surpresa, informou:
-
Leia no capítulo V de "A Caminho da Luz".
Ainda
complementou:
-
O Chico afirma que André Luiz, que todos julgam um Espírito muito severo,
circunspecto, é muito aberto e ameno nos diálogos; o Emmanuel, sim, é muito
rígido no raciocínio. Entretanto, não pode furtar-se em dar elogioso adjetivo a
Gandhi.
Após
tais considerações passa-se a refletir:
-
Um elogio solto a esmo por Emmanuel?
De
forma alguma. Era, a afirmativa, o resultado de longa observação do Plano Espiritual
à figura simples de quem fizera da existência na Índia uma luta contínua em
benefício de sua população. Do homem que, através de suas palavras e conduta,
identificava-se com os conceitos apregoados
pelo Espiritismo, há um século!
Buscando
demonstrar o que acaba de ser dito, vejamos algumas de suas expressões:
1.
"Não sou um santo que se tomou político. Sou um político que está tentando
ser santo."
Observa-se
no enunciado o esforço de um líder para melhorar suas tendências. O que nos
recorda a expressão de Kardec, contida na obra "O Evangelho segundo o
Espiritismo", no capítulo XVII:
"Reconhece-se
o verdadeiro espírita pela sua transformação moral e pelos esforços que emprega
para domar suas inclinações más".
Observação
- Sem nos ligar a esta ou àquela ideia particularizada, poderíamos dizer que
semelhante expressão do líder indiano deveria ser o escopo de qualquer
Espírito, encarnado ou não, fosse qual fosse o campo religioso em que estivesse
militando.
2.
Os dois princípios seguintes Gandhi os absorveu de John Ruskin, filósofo e ensaísta britânico do século XIX, cujas ideias
sobre o trabalho exerceram marcada e decidida influência no pensamento do líder
indiano, os quais estão em perfeita consonância com o que apregoam em todos os
tempos os Mentores Espirituais:
a)
"Que o bem do indivíduo está contido no bem comum."
b)
"Que o trabalho do advogado tem o mesmo valor que o do barbeiro, na medida em que todos têm o mesmo direito de ganhar sua
sobrevivência graças ao trabalho."
3.
"Para atingir a autonomia, os indivíduos devem cultivar o servir, a
renúncia, a verdade, a não-violência, o autodomínio e a paciência."
Raciocinamos:
Não é o que vamos ler nas obras espíritas de autores encarnados ou
desencarnados?
4.
"Meu esforço nunca deve ser o de diminuir a fé do outro, mas tomá-lo um
melhor seguidor de sua própria fé."
É
sempre oportuno repetir que a Doutrina Espírita não tem como escopo fazer
proselitismo, o que obviamente deixa entendido que respeita o livre-arbítrio de
cada um que moureja em outros campos religiosos. Aliás, em "Conduta
Espírita", de André Luiz, capítulo 23, lemos:
"Estimar
e reverenciar os irmãos de outros credos religiosos.
O
sarcasmo não edifica.
Sistematicamente,
não impor ou forçar a transformação religiosa dos irmãos alheios à fé que lhe
consola o coração.
Toda
imposição, em matéria religiosa, revela fanatismo. "
5.
"Acredito ser possível introduzir a verdade e a honestidade
descompromissada na vida política do país... Tentarei tudo para tornar a
Verdade e a Não-Violência aceitas em todas as nossas atividades
nacionais."
Se
abrirmos a obra "Fonte Viva", de Emmanuel, no capítulo 173, leremos:
"Só
existe verdadeira liberdade na submissão ao dever fielmente cumprido.
Conhecer,
portanto, a verdade é perceber o sentido da vida.
E
perceber o sentido da vida é crescer em serviço e burilamento constantes."
6.
"O controle dos sentidos permite ficar absolutamente livre da paixão e
colocar-se acima dos fluxos do amor e do ódio, do afeto e da aversão."
Daí
a advertência registrada na obra "Falando à Terra", que a Federação
Espírita Brasileira editou em 1951. No capítulo Saúde, trabalho assinado pelo
Espírito Joaquim Murtinho, elucida ele:
"O
homem comumente apenas registra efeitos, sem consignar as causas profundas.
E
que dizer das paixões insopitadas, das enormes crises de ódio e de ciúme, dos
martírios ocultos do remorso, que rasgam feridas e semeiam padecimentos
inomináveis na delicada constituição da alma?"
Esses
mesmos enunciados procurou o líder indiano colocar em evidência em todo e
qualquer lugar em que estivesse presente: na intimidade do lar ou diante de
altos dignitários estrangeiros, na tribuna modesta de uma sala na Índia ou
perante as multidões das praças públicas.
7.
"A tendência da civilização indiana é elevar o ser moral."
Gandhi
acreditava na evolução contínua do ser humano.
Por
sua vez a Doutrina Espírita esclarece que a criatura não reencarna predestinada
para o mal. As distorções são responsabilidade de cada um. O líder indiano
guardava dentro de si a certeza do progresso de seus irmãos. Era otimista
quanto ao futuro de seu país.
Pensava
o melhor para a Índia, cujos habitantes no passado seriam "um dos ramos da
massa de proscritos da Capela, exilados no planeta"; "o país dos
Vedas e dos Upanishads, as primeiras vozes da filosofia e da religião no mundo
terrestre".
*
Do
Plano Espiritual extravasou Emmanuel sua simpatia à figura ímpar de Gandhi,
conceituando-o " espírito iluminado".
Na índia, como em diversificados países, não
têm faltado, da mesma forma, expressões de apoio a esse respeitado vulto.
Anotemos
algumas dessas expressões:
-
Mahatma - título que se agregou ao seu nome, traduz "Grande Alma".
-
Os ashramitas chamavam-lhe de "Bapu ", que significa "pai".
-
O General George C. Marshall, Secretário de Estado norte-americano, afirmou que
o "Mahatma Gandhi foi o porta-voz da consciência de toda a
Humanidade" .
-
Entre parênteses, é bom lembrar que o piso do edifício que serviu de quartel-general
em Bombaim entre 1919 e 1934 tem estampado o retrato de Gandhi, juntamente com
as figuras de Buda e ainda a cruz cristã. Naturalmente para demonstrar à posteridade o quanto o líder indiano estava
identificado em seu trabalho com a figura do meigo Jesus e com o célebre
filósofo indiano conhecido também pela denominação de Sakyamuni - o sábio
sáquia.
*
Baseado
na obra de Catherine Bush, transcrevo agora alguns trechos que da mesma forma
justificarão a afirmativa de Emmanuel quanto à figura missionária que a Índia
conheceu durante quase oito décadas, eis que nasceu Gandhi em Porbandar (1869),
desencarnando em Delhi (1948).
Algumas
expressões estarão sublinhadas para maior realce!
1.
"É o dia 6 de abril de 1930. Um velho magro e baixo, de aspecto frágil,
vestido com uma espécie de tanga camponesa de tecido rústico, caminha em
direção ao mar. ( ... ) Usa pequenos óculos metálicos de armação arredondada,
um relógio de algibeira e se apoia em um cajado. É a pouca riqueza que possui.
"
2.
"Venerado como santo, Gandhi lutou até o fim pela independência por meios
não-violentos."
3.
"Finalmente, conseguiu localizar um restaurante vegetariano na capital
britânica ( ... ) o vegetarianismo agora se tornava para ele uma escolha
consciente, não mais uma obrigação."
4.
Gandhi leu a obra "Bhagavad-Gítã" - "canto do
Bem-aventurado" - considerada a expressão máxima da literatura da Índia
antiga. Baseado nela apontou para o leitor os três caminhos da libertação do
ciclo das reencarnações: o caminho da devoção pessoal, o caminho do
conhecimento e o caminho das obras. Neste livro o líder indiano iria encontrar
também "o princípio que abrange ao mesmo tempo a renúncia, a doçura, a
generosidade e a ausência da mentira".
Preceitos
que ele colocou em prática durante toda a sua vida.
5.
Leu os Evangelhos, ficando deveras impressionado com os trechos referentes ao
"Sermão da Montanha".
6.
"Tomava-se cada vez mais radical em suas posições e um homem cada vez mais
dedicado ao seu semelhante. Uma vida totalmente dedicada à abnegação, julgava
ele, exigia uma total renúncia aos bens materiais. "
7.
''Tagore, detentor do Prêmio Nobel de Literatura em 1913, descreveu-o como a
grande alma vestida de camponês".
8.
"Na verdade, Gandhi queria a eliminação total do sistema de castas. "
9.
"Em 20 de janeiro de 1948, uma bomba explodiu no local em que Gandhi
mantinha os grupos de orações ( ... ) 'Se eu for a vítima de uma bala
assassina', disse, 'não deverá haver ódio dentro de mim. Deus deverá estar em
meu coração e em meus lábios'."
10.
“Poucas horas após a morte de Gandhi, Nehru falou pela rádio: ‘E a luz se
apagou.. não mais veremos como o vimos todos esses anos.’”
*
Catherine
Bush, que biografou Gandhi para a Nova Cultural, encerra seu trabalho com estas
expressões:
“Passados
os anos, tudo indica que Gandhi jamais será esquecido. Na época que vivemos,
com a raça humana tendo a capacidade de destruir a vida neste planeta, o
exemplo de confiança, tolerância e protesto por meios ‘não violentos’ dado por
Gandhi pode ser decisivo para nossa sobrevivência. Enquanto houver esperança
para a Humanidade, a luz do Mahatma não se apagará.”
O
que mais podemos acrescentar a essas palavras tão comoventes quanto sensatas?
Somente aspirar a que a vida e obra do líder que recebeu do Plano Maio elogiosa
expressão tenha-se tornado um roteiro não apenas para o país em que nasceu,
mas, afinal, para todas as nações de nosso Planeta!
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