terça-feira, 13 de agosto de 2013

'Conduta Espírita e Reencarnação'


Conduta Espírita
e Reencarnação

Boanerges Rocha (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Fevereiro 1961

            A ideia da reencarnação vai conquistando o mundo ocidental, apesar das dificuldades criadas por aqueles que, infelizmente, não querem usar suas faculdades intelectuais para melhor estudarem tão importante assunto. Não é de estranhar que tal suceda, porquanto vemos a guerra tremenda que ainda hoje se faz ao Espiritismo, cuja pureza doutrinária não convém aos interesses eclesiásticos nem a quantos preferem, na vida terrena, o superficial ao profundo.

            A ciência oficial, cujos compromissos com o preconceito são grandes e difíceis de remover, recusa a ideia espírita ab initio, esquecida de que a sua sabedoria jamais poderá abarcar a Ciência Divina, isto é, a Ciência que trata da vida e da morte, da reencarnação e das provas, que traça, através da Lei de Causa e Efeito, o programa de cada um, sem se desviar da verdadeira justiça. Não importa, evidentemente, que os sábios terrenos, em sua maioria, desdenhem do Espiritismo, porque, apesar de tudo isso, a Realidade Espírita permanece entre os homens e cada vez mais é demonstrada de modo positivo. Como a Luz não chega a todos ao mesmo tempo nem com igual intensidade, não há outro remédio senão dar tempo ao tempo, porque só o Tempo resolverá todas essas dúvidas e irá provando, a pouco e pouco, que a Verdade não se importa com as atitudes que contra ela possam tomar os homens, pois, cedo ou tarde, ela será reconhecida por todos.

            Em outros tempos, nem sequer era possível admitir-se a ideia da influência dos Espíritos na vida humana. A História está cheia de relatos pavorosos, de crimes hediondos praticados contra a liberdade de pensar, contra os supostos "demônios", contra todos aqueles que, usando da inteligência e do discernimento que a criatura humana possui, procuravam desvendar um pouco o mistério criado pelo fanatismo ultramontano e a intolerância religiosa. Mas nem mesmo as fogueiras conseguiram por muito tempo emudecer a Humanidade. O sacrifício de milhares de vítimas não foi em vão. As ideias foram ganhando terreno e a liberdade de pensar e dizer foi sendo ampliada, não raro à custa de muito sangue. Hoje, apesar de tudo, cada qual pode externar suas opiniões, principalmente nos grandes centros, sem tantos riscos. As fogueiras foram extintas, o demônio perdeu o crédito e o Inferno, coitado, não mais assusta a ninguém que saiba refletir um pouco.

            Os cientificistas, por seu turno, preferem manter suas comodidades materiais e suas posições no mundo social e na política, a dar a atenção devida a tudo quanto se refira ao Espiritismo. Criam nomes complicados, denominações difíceis, para dizerem o que os espíritas dizem com a maior simplicidade; torcem o rumo das coisas, para fugirem o mais possível da explicação espírita, e engendram teorias complexas, em que se perdem irremediavelmente. Misturam fenômenos espíritas com telepatia, hipnotismo, etc., para, no fim, construírem edifícios instáveis, condenados a fatal ruína.

            A reencarnação também tem encontrado entraves, principalmente na Inglaterra e nos Estados Unidos. Não obstante, continua progredindo. Um pouco aqui, um pouco ali. A verdade não tem pressa de chegar, mas sempre chega a seu destino.

            A teoria da reencarnação, ou melhor, a Doutrina da Reencarnação", isto é, doutrina da pluralidade das existências, concilia o homem com o sentido da Justiça, explica a razão de muitas das aparentes injustiças da vida. Nenhuma criatura humana está isenta da lei de Causa e Efeito, também conhecida por "lei do Retorno". O nosso futuro, consequentemente, se acha condicionado à nossa conduta na Terra, bem como também ao nosso procedimento no mundo espiritual, após a desencarnação. Eis porque consideramos de grande oportunidade o magnífico livrinho ditado pelo esclarecido Espírito André Luiz ao médium Waldo Vieira - "Conduta Espírita".

            De que adiantaria estarmos nós a escrever estas coisas ou a falar sobre elas de uma tribuna, se não tivéssemos a preocupação do exemplo? Não há dúvida alguma de que fazemos parte da legião dos maus discípulos, que muito leem, muito ouvem e pouco aprendem. No entanto, continuamos a lutar contra as nossas enormes deficiências, na esperança de virmos, um dia, com a ajuda generosa dos nossos amigos espirituais, a aprender um pouco mais através da exemplificação diária.

            André Luiz chama a atenção para esse ponto, nesse grande livrinho, ao dirigir a "Mensagem ao Leitor":

            "Sabemos que a liberdade espiritual é o mais precioso característico de nosso movimento. Entretanto, se somos independentes para ver a luz e interpretá-la, não podemos esquecer que o exemplo digno é a base para a nossa verdadeira união em qualquer realização respeitável. Da conduta dos indivíduos depende o destino das organizações."

            Trata-se, pois, de certo modo, de um roteiro para melhorarmos o nosso carma. Sentimos em cada página de "Conduta Espírita" uma reprimenda à nossa invigilância, um sinal do quanto nos encontramos atrasados, uma prova de que é difícil, realmente, ser espírita legítimo, a menos que nos disponhamos à renúncia de hábitos negativos e nos entreguemos resolutamente à tarefa de arrancar de dentro de nós o "homem velho", que nos prende à rotina moral deficitária e débil, impedindo-nos de alcançar a libertação pelo Evangelho.

            Deixemos o passado e cuidemos do presente, com vistas ao futuro. Prefiramos abandonar a estrada fácil em que até agora seguimos, em demanda da Espiritualidade, e sigamos a estrada estreita, pedregosa, íngreme e áspera, porque as dificuldades existem dentro de nós mesmos. Se vencermos na luta que travarmos contra o nosso "eu", veremos, depois, que a estrada se tornará larga e suave.


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