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‘Apreciando a Paulo’
comentários em torno
das Epístolas de S. Paulo
por Ernani Cabral
Tipografia Kardec - 1958
Por vezes enfrento com ardor o
problema dos dogmas e outros como o da mercantilização das coisas religiosas,
fato que reputo assaz condenável. Mas não me tomem por iconoclasta, que tenha o
prazer de desrespeitar as crenças alheias. Por mais irreverente que
pareça - pois a verdade precisa ser dita corajosamente e sem rebuços - respeito
muito o ponto de vista ou a religião de meu semelhante, porque sei que tudo
está condicionado ao grau de percepção ou de entendimento de cada um. Ademais,
o espírita considera a todos – católicos, protestantes, budistas, judeus,
maometanos e até ateus - como seus irmãos, certo de que, quando Jesus disse
"amai-vos uns aos outros",
não excluiu a ninguém desse amor, que se deve aprender a dispensar a todos,
indistintamente, Assim, nós espíritas, a ninguém anatematizamos, convictos de
que não é a religião que salva mas a conduta. E temos ainda o bom costume de
orar, em nossas reuniões, por toda a Humanidade, sem preferência de crença, de
raça ou de pátria.
Assim, confesso e reconheço que
qualquer religião de moral elevada (e quase todas são assim), desde que
praticada com sinceridade, poderá levar à salvação, pois o principal é o amor.
Mas permitam-me examinar o que seja
o amor, do ponto de vista evangélico ou qual a sua exata extensão. Seja este o
término do presente prefácio, que vai longo e que pretendo encerrar com uma
prece ao Pai Celestial, a Quem tudo devo.
A procura da verdade é manifestação
do amor que daremos a nós mesmos; assim como a transformação moral é caridade
que fazemos a nosso Espírito.
O processo de elucidação ou de
esclarecimento próprio é tão importante que Emmanuel põe na boca de Paulo as
seguintes palavras:
"Poderemos atender a muitos doentes, ofertar um leito de repouso aos
mais infelizes; mas sempre houve e haverá corpos enfermos e cansados, na Terra.
Na tarefa cristã, semelhante esforço não poderá ser esquecido, mas a iluminação
do Espírito deve estar em primeiro lugar". (Paulo e Estevão",
pág. 238).
Muito irmão pensa que basta fazer
caridade aos necessitados, pois que isto é suficiente à salvação; mas se
esquece do amor que deve a si mesmo, uma vez que o mandamento é: "Amarás o teu próximo como a ti mesmo".
(Mateus, 22:39).
Desta forma, acompanhar qualquer
linha onde se faz caridade aos outros, mas onde se deturpa a doutrina espírita,
é contribuir para a confusão ou para o erro, em nome de um amor bastante
imperfeito, que quase sempre é praticado com alarde, fora do Evangelho, uma vez
que a lição de Jesus é esta:
"Guardai-vos de fazer a esmola diante dos homens, para serdes vistos por
eles; aliás não tereis galardão junto de vosso Pai, que está nos céus.
Quando pois deres esmola, não faças
tocar trombeta diante de ti, como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas,
para serem glorificados pelos homens. Em verdade vos digo que já receberam o
seu galardão.
"MAS, QUANDO TU DERES ESMOLA,
NÃO SAIBA A TUA ESQUERDA O QUE FAZ A TUA DIREITA;
Para que a esmola seja ocultamente;
e teu Pai, que vê em segredo, te recompensará publicamente. (Mateus, 6:1 a 4).”
Deste modo, que as palavras acima
transcritas, de Nosso Senhor Jesus Cristo, sejam ponderadas por pessoas que
pensam ser suficiente fazer a caridade com todo alarde, para que os outros
admirem as obras que eles estão conseguindo realizar, mas divulgando um
Espiritismo “eclético”, que eles mesmos inventaram... Não estou julgando, mas
apenas apontando o Evangelho, a respeito mesmo da caridade.
Vale ainda recordar a palavra sábia
do Divino Mestre:
"Nem
todo o que diz: Senhor, Senhor! entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a
vontade do Pai, que está nos céus.” (Idem, 7 :21).
E a vontade do Pai é que amemos o
próximo, mas que também manifestemos amor a nós mesmos, procurando a verdade,
lutando por ela e buscando ainda nossa própria transformação moral.
Mas o Cristo de Deus prosseguiu no
ensinamento:
"Senhor, Senhor, não profetizamos nós em teu nome? e em teu nome não
expulsamos demônio? e em teu nome não fizemos muitas maravilhas?
E então lhes direi abertamente:
Nunca vos conheci; apartai-vos de mim vós que praticais a iniquidade" (Mateus 7:22
e 23).
Por conseguinte, é necessário, é mesmo
imprescindível, que o espírita examine, sinceramente, sua conduta pessoal e ainda,
o meio que frequenta, para ver se, em nome de uma caridade mal compreendida ou
mal praticada; ele não estará contribuindo para o erro ou para a iniquidade.
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‘Apreciando a Paulo’
comentários em torno
das Epístolas de S. Paulo
por Ernani Cabral
Tipografia Kardec - 1958
A verdadeira rota é o Espiritismo
cristão, codificado por Allan Kardec. Fora daí também há salvação; mas onde
existe o erro é mais fácil o desvio... ou a inobservância dos ensinamentos de
Jesus.
Kardec foi o Espírito missionário
encarregado pelo Cristo para colher as lições do Espírito Santo e oferece-las
como farol ou como rumo. Não sou eu quem diz, mas Emmanuel, Bezerra de Menezes,
André Luís, Humberto de Campos e todos os verdadeiros Mensageiros do Senhor,
que se comunicam com os homens de boa vontade. É a "Federação Espírita
Brasileira" que o afirma e todas as Federações dos Estados a ela filiadas.
Nunca é demais que se
repita isto para evitar que alguns irmãos se desviem da prática legítima do
Espiritismo.
Mas Allan Kardec nada inventou, pois
se limitou a consignar em suas obras as respostas que os Espíritos Superiores
deram às inteligentes perguntas que formulou. Seu mérito foi apenas o do
investigador honesto, que procurou e encontrou a verdade, na expressão maior de
seu tempo.
Negar valor à obra construtiva e orientadora
do Codificador, é ser cismático, contribuindo ainda para a confusão que os
"falsos profetas" estão espalhando nestes últimos tempos, às vezes
como lobos vestidos de ovelhas.
E foi Jesus mesmo quem advertiu:
"Acautelai-vos, porém, dos falsos profetas, que vêm até vós vestidos
como ovelhas, mas interiormente são lobos devoradores". (Mateus 7:15).
Mas nós precisamos ter pontos
doutrinários de referência, não podemos crer em qualquer Espírito, conforme
disse ainda São João (I João 4:1). E esses pontos doutrinários que nos devem
servir de referências ou de bússola, são as palavras de Jesus e de seus
apóstolos e ainda, as interpretações dadas ao Novo Testamento pelo Espírito
Santo, de quem Allan Kardec foi arauto, nos tempos prescritos.
Como ensina Allan Kardec, a prática
do Espiritismo é coisa muito delicada, compara-se a experiências químicas, que
o homem não deve procurar sem certos conhecimentos e sem a devida cautela. Todavia,
aquela prática é muito útil, quando bem orientada.
O Espiritismo é essencialmente
dinâmico ou evolutivo, não parou em Kardec, como ele mesmo previu. Mas Kardec
continua sendo e será sempre, na Terra, o Codificador da doutrina espírita, de
maneira que, qualquer expressão evolutiva do Espiritismo, de hoje ou de amanhã,
terá de se alicerçar em Jesus e em Kardec. Fora daí, há mediunismo, mas não
Espiritismo cristão.
Reconhecemos que há muita gente de
boa fé e até mesmo alguns espíritos bons metidos em certas linhas. Nada
condenamos e não temos o direito de fazê-lo, pois os degraus são muitos. Mas
cada um responderá pelos seus atos e ainda pelos erros a que conduzir os seus
irmãos, mesmo porque o fanatismo, que algumas linhas gera, é muito prejudicial
a todos. Mas
aí estão os Evangelhos e a literatura espírita para esclarecer e encaminhar os
homens. Para isso é preciso o estudo e reflexão. Podemos ser amigos de alguém,
porém devemos ser mais amigos da verdade. Assim, não devemos transigir com o erro
de quem quer que seja, mesmo que nos mereça o melhor apreço pessoal. Já
examinei certas linhas, já as estudei bastante e tenho amigos e confrades
queridos nelas todas. Mas não tenho o menor receio de escrever o que estou
escrevendo, porque precisava afirmar tudo isto em nome de Jesus ou da Verdade,
a que procuro servir com a maior sinceridade de meu coração.
A literatura espírita é escrita,
geralmente, em linguagem encantadora, sobretudo as obras de Léon Denis e as
psicografadas pelo grande médium brasileiro Francisco Cândido Xavier. Sua
argumentação é tão impressionante e tão clara, que alguns religiosos
intolerantes proíbem sua leitura, negando validade ao salutar ensinamento de
Paulo, inserto na Primeira Epístola aos Tessalonicenses, 5:19 a 21:
“Não
extingais o Espírito.
Não desprezeis as profecias.
EXAMINAI TUDO. Retende o bem".
Se São Paulo recomenda aos cristãos
que examinem tudo e que escolham o que for bom, nenhuma igreja ou agremiação
religiosa cristã tem o direito de negar cumprimento a tão sábio conselho de um
apóstolo do Senhor.
A liberdade de pensamento, como a
liberdade da palavra, escrita ou falada, são aquisições do Espírito humano,
asseguradas até pelas Constituições dos países democráticos, como verdadeiras
conquistas da própria civilização!
Ninguém deve amordaçar as
consciências, nem querer se impor pelo pavor ou por imposições descabidas. O
livre exame das coisas é direito sagrado do homem e foi o próprio Paulo de Tarso
quem disse que ONDE ESTA O ESPÍRITO DO SENHOR AÍ HÁ LIBERDADE (lI Cor., 3:17).
Portanto, errarão quaisquer igrejas
que, dizendo-se cristãs, neguem autoridade e cumprimento às palavras santas de
São Paulo.
Mas, se estou inteiramente convicto,
através do raciocínio, do estudo acurado sobre as diversas religiões e em face
das inúmeras provas que - mercê de Deus - tenho tido, de que o Espiritismo é a
terceira revelação celestial, sinto-me no imperioso e indeclinável dever de
difundir seus ensinamentos, agradecendo a Jesus e a Paulo, como ao Espírito
Santo, o haverem incutido em minh'alma tão sólida e inabalável certeza.
Agradeço ainda à "Federação
Espírita do Rio Grande do Sul" a generosidade para com meu pobre Espírito,
paraninfando a publicação desta obra, fruto de minhas meditações e de meus
minguados conhecimentos doutrinários.
Permita o Pai Celestial que agora, com
o Espírito de joelhos, Lhe ofereça este livro, dizendo:
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