Verdades
Amargas
Túlio Tupinambá ( Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Jan 1961
O
Espiritismo, além da influência benéfica que vem exercendo sobre os homens,
mercê da sua característica eminentemente cristã, porque indiscutivelmente
legítima, vem também reeducando a Igreja, dando-lhe exemplos que estão sendo
por ela imitados. Todos sabemos o temor dos bonzos católicos pelo progresso da
doutrina kardequista. De quando em quando surgem arremetidas mais ou menos
furiosas contra o Espiritismo, sustentadas pelo sofisma, pela falsidade e pelo
engodo. Já estamos habituados a isso e, naturalmente, não costumamos dar muita
importância aos ataques, pois sua fragilidade está na razão direta dos
argumentos capciosos e inverídicos utilizados pelo clero, que alcança
conclusões logicamente irreais.
Há
sacerdotes que, por curiosidade ou outro qualquer motivo, leem livros
espíritas, de Emmanuel, André Luiz e outros. Alguns até se valem
desses livros para as suas pregações, apenas mudando os pontos que divergem do ensino
católico, mas aproveitando as lições intrinsecamente cristãs que se encontram
nessas obras.
Agora,
a Igreja, através dos seus corifeus, está adotando outra velha prática
espírita, concernente ao culto cristão no lar. Aconselham os adeptos do
Catolicismo a fazerem reuniões em casa, lendo e comentando livros, tal como há
longos anos foi iniciado entre os espíritas. Um deputado-professor católico,
por exemplo, aconselha pelo rádio aos católicos que adquiram certo livro de um
frade, onde há uma “salada” destinada a dar aos que desconhecem a verdade sobre
o Espiritismo uma noção deturpada da nossa crença, da nossa Doutrina, das
nossas práticas. Diz ele que devem fazer reuniões domésticas, lendo e
comentando cada trecho dessa congérie de tolices, cuja finalidade é apenas
apresentar o Espiritismo de acordo com os interesses subalternos da Igreja.
Evidentemente, não poderíamos esperar outra coisa, porque os processos
católicos são muito conhecidos e, por serem muito conhecidos, são também muito desmoralizados.
Antes,
a maior ofensiva do clero católico era contra os protestantes de todos os
matizes. Com o advento do Espiritismo e seu estonteante progresso em todo o
mundo, principalmente no Brasil, a Igreja dividiu suas tarefas de combate,
devotando maior atenção, em nosso País, à “destruição” do credo espírita. Nada
tem conseguido e nada conseguirá. Em outros tempos, quando podia torturar e
queimar vivos os “hereges”, sua ação era mais ampla. Mesmo assim, deixou de
prevalecer à medida que a Humanidade se foi esclarecendo e compreendendo que a
Verdade não era a que consta no anedotário católico, com os seus milagres e os
seus arranjos teatrais, hoje irremediavelmente desmascarados. Compreendendo a
Igreja a necessidade de amparar-se, procura realizar congressos ecumênicos, com
a participação dos protestantes e ortodoxos. Não há dúvida de que o ideal seria
a unificação religiosa, o congraçamento de todos os credos ditos cristãos. Como
podem, porém, protestantes e ortodoxos confiar na sinceridade da
Igreja Católica, se ela, traindo o próprio pensamento do Cristo, ataca e procura destruir
outras religiões, outros ramos do Cristianismo, para tentar restabelecer - coisa impossível, hoje em
dia - a sua dominação ditatorial, férrea e intolerante?
Uma
religião cristã só o é quando permanece fiel a todos os princípios do Evangelho
de Jesus. Desde que não os respeite ou somente os
acate segundo conveniências ditadas por interesses sectários, não tem
autoridade alguma para pretender liderar o mundo cristão. Além disso, de tal sorte a Igreja falhou em sua missão
no mundo, que o materialismo está fortalecido, principalmente nos países que
mais se dizem cristãos. Ela, que se ensanguentou em negregadas campanhas a
outras crenças, que moveu guerra “religiosa” a vários povos, que não trepidou
em empapar de sangue a Terra e de escurecer os céus com o fumo de incontáveis
fogueiras inquisitoriais, não tem nenhum direito e muito menos autoridade para
se impor à confiança de outros ramos do credo cristão.
Repete,
apesar da astúcia de seus “capitães”, as anedotas em que a raposa ladina busca tirar partido da inocência, da boa-fé e da
credulidade alheias...
O
Espiritismo não teme a Igreja nem os processos anti evangélicos de que ela
continua a se utilizar. A crença espírita não é obra humana:
veio do Alto, foi estabelecida através de instruções de nobres Espíritos. Nada pode temer e
nada teme, portanto. Como força cristã, o Catolicismo é uma caricatura. Seu poder, hoje,
não decorre da ideologia do Cristo, mas das barganhas políticas com o Estado.
E, na realidade, o Estado sai sempre perdendo. Não faz muitos dias, ouvimos uma
informação pelo Rádio, segundo a qual era solicitada uma verba ao Governo, a
fim de atender a despesas decorrentes da primeira reunião de bispos no
Nordeste... Quem se dispuser a uma
observação menos superficial acerca do crescimento do poder político da Igreja
em nosso País, verificará que ele reconquistou a posição - posição política,
bem entendido - que tinha ao tempo da Monarquia. A primeira República firmara o
preceito de separação da Igreja, até então grudada ao Estado, mas,
infelizmente, interesses outros permitiram viesse ela a reconquistar a praça.
Não há um ato político ou governamental que não tenha a presença de um
representante do clero, que “está em todas”, inclusive até em programas
vulgares no Rádio e na Televisão. No entanto, estamos precisando de uma polícia
de costumes, de retorno à respeitabilidade em lugares públicos e de ação
moralizadora em muitos setores da vida nacional. E o povo continua esperando
por isso, como em Portugal, décadas e décadas depois do desastre de Alcácer
Quibir, havia quem esperasse a volta de D. Sebastião...
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