As Tradições dos
Fariseus
15,1 Alguns
fariseus e escribas de Jerusalém vieram um dia ter com Jesus e lhe disseram:
15,2 -Por que transgridem teus discípulos a
tradição dos antigos? Nem lavam as mãos antes de comer!
15,3 Jesus
respondeu-lhes: “-E vós?, Por que violais os preceitos de Deus, por causa de
vossa tradição?
15,4 Deus disse: Honra teu pai e tua mãe.
Aquele que amaldiçoar seu pai ou sua mãe, será castigado de morte (Ex 20,12;
21,17) 15,5 Mas, vós dizeis: Aquele que
disser a seu pai ou a sua mãe: Aquilo com que eu poderia
assistir, já ofereci
a Deus,
15,6 Esse
já não é obrigado a socorrer de outro modo a seus pais. Assim, por causa de
vossa tradição, anulais a palavra de Deus.
15,7 Hipócritas! É bem de vós que fala o
profeta Isaías:
15,8 “Este povo somente me honra com os lábios.
Seu coração, porém, está longe de mim.
15,9 Em
vão é o culto que prestam, porque
ensinam preceitos que vem só dos
homens!” (Isaías 29,13)
15,10 Depois, reuniu os
assistentes e disse-lhes:
15,11
Ouvi e compreendei: Não é aquilo que entra pela boca que mancha o homem, mas aquilo que sai dele.
Eis o que mancha o homem”
Para Mt (15,9),
-Em vão é o culto que
prestam..., encontramos a palavra de Emmanuel por Chico Xavier, no livro “Caminho, Verdade e Vida”:
“A atualidade do Cristianismo oferece-nos lições profundas,
relativamente à declaração acima mencionada.
Ninguém duvida do sopro cristão que
anima a civilização do Ocidente. Cumpre notar, contudo, que a essência cristã,
em seus institutos, não passou de sopro, sem renovações substanciais, porque,
logo após o ministério divino do Mestre, vieram os homens e lavraram ordenações
e decretos na presunção de honrar o Cristo, semeando, em verdade, separatismo e
destruição. Os últimos séculos estão cheios de figuras notáveis de reis, de
religiosos e políticos que se afirmaram defensores do Cristianismo e apóstolos
de suas luzes.
Todos eles escreveram ou ensinaram
em nome de Jesus.
Os príncipes expediram mandamentos
famosos, os clérigos publicaram bulas e compêndios, os administradores
organizaram leis celebres. No entanto, em vão procuraram honrar o Salvador,
ensinando doutrinas que são caprichos humanos, porquanto o mundo de agora ainda
é campo de batalha das ideias, qual no tempo em que Cristo veio pessoalmente a
nós, apenas com a diferença de que o Farisaísmo, o Templo, O Sinédrio, O
Pretório e a Corte de César possuem hoje outros nomes.
Importa
reconhecer, desse modo, que, sobre o esforço de tantos anos, é necessário
renovar a compreensão geral e servir ao Senhor, não segundo os homens, mas de
acordo com os Seus próprios ensinamentos.”
Para Mt (15,11) - O que sai da boca é que contamina o Homem... - leiamos Joanna de Ângelis por Divaldo Franco em “Lampadário
Espírita”:
Por enquanto, estamos todos doentes,
conduzindo conosco doenças aflitivas que nos apraz cultivar.
Doentes- porque, perseverando no
egoísmo, mantemos os germes destruidores que se chamam ira, vaidade, paixão...
Doentes- porque nos comprazemos,
quando feridos, em também ferir; angustiados, desferir dardos de mau humor;
aflitos, espalhar inquietações.
Doentes- porque clareados pela fé
nobre e pura, racional e dinâmica a espraiar-se da Doutrina Espírita., povoamos
a mente de sonhos ilusórios e esquecemos os deveres primaciais da sublimação
interior com o firme propósito de melhoria incessante.
Doentes- porque conservamos azedume,
cultivamos maledicências, atendemos apelos pouco dignificantes.
Doentes- porque não sabemos,
enfermos e ignorantes que somos, aproveitar o tempo de que dispomos,
valorizando as oportunidades que nos são oferecidas.
Portamos doenças, sim, de variada
nomenclatura, porque:
amando- impomos condições ao amor; amados- contaminamos de aflições quem
nos ama;
servindo- desejamos servir como nos
agrada; servidos- alegamos ineficiência do serviço;
alegres- esperamos que todos se
alegrem conosco; tristes- gostamos que os demais participem da nossa tristeza,
normalmente injustificável; e, nas
alegrias e tristezas de outrem, atribuímo-nos o direito de “viver a própria
vida”.
Somos espíritos doentes em
tratamento difícil, por agradar-nos a condição de infelicidade que nos é a
tônica favorita.
Todavia, Jesus é o Médico Divino e a Sua Doutrina é o medicamento eficaz de que
nos podemos utilizar com resultados imediatos.
Se, entretanto, no tumulto em que
nos afligimos, houvermos perdido os
ouvidos para escutá-Lo ou o paladar para o pão dos seus ensinos, busquemos um rochedo solitário, longe das
atribulações, no centro de uma ilha,
e façamo-nos receptivos.
Tal rochedo e tal ilha são a prece e
a meditação ao alcance de todos.
Lá, o Esculápio Celeste dir-nos-á
outra vez, com a mesma segurança de outrora:
“Seja o
que for que peçais na prece, crede que o obtereis e concedido vos será o que
pedirdes (Marcos 11,24).”
As Tradições dos
Fariseus (continuação)
15,12
Então se aproximaram dele seus discípulos e disseram-lhe: -Sabes que os
fariseus se escandalizaram destas palavras que ouviram?
15,13
Jesus respondeu: “- Toda planta que Meu Pai celeste não plantou, será
arrancada pela raiz.
15,14
Deixai-os. São cegos e guias de cegos. Ora, se um cego conduz a outro, tombarão
ambos na mesma vala.”
15,15
Tomando então a palavra, Pedro disse: -Explica-nos esta parábola.
15,16
Jesus respondeu:“ -Sois também de tão pouca compreensão?
15,17 Não compreendeis que tudo o que entra
pela boca vai ao ventre e depois é lançado numa fossa.
15,18 Ao
contrário, aquilo que sai da boca, provém do coração, e é isso que mancha o
homem.
15,19 Porque é do coração que provém os maus
pensamentos, os homicídios, os adultérios, os furtos, os falsos testemunhos, as
calúnias...
15,20
Eis o que mancha o homem. Comer, sem ter lavado as mãos, isso não mancha
o homem.”
Para Mt (15,1-20), temos a palavra de Kardec, no Cap. VIII de “O Evangelho...”:
“Os judeus
haviam negligenciado os verdadeiros mandamentos de Deus, para se apegarem à
prática dos regulamentos estabelecidos pelos homens e dos quais os observadores
rígidos faziam casos de consciência; o fundo, muito simples, acabara por
desaparecer sob a complicação da forma.”
“Ocorreu o mesmo com a doutrina moral do Cristo, que acabou por
ser colocada em segundo plano, o que fez muitos cristãos crerem, a exemplo dos
antigos judeus, sua salvação assegurada pelas práticas exteriores que pelas da
moral.”
“Não
basta, pois, ter as aparências da pureza, é preciso, antes de tudo, ter a
pureza do coração.”
Para Mt (15,13)
-Toda planta que meu
Pai não plantou será arrancada
- tomamos o
texto de Kardec, em “A Gênese”, Cap. XVII:
“As palavras de Jesus não passarão, porque serão verdadeiras em
todos os tempos. Será eterno o seu código de moral, porque consagra as
condições do bem que conduz o homem ao seu destino eterno. Mas, terão as suas
palavras chegado até nós puras de toda ganga e de falsas interpretações? Apreenderam
lhes o espírito todas as seitas cristãs? Nenhuma as terá desviado do verdadeiro
sentido, em consequência dos preconceitos e da ignorância das leis da
Natureza? Nenhuma as transformou em instrumento
de dominação, para servir às suas ambições e aos seus interesses materiais, em
degrau, não para se elevar ao Céu, mas para elevar-se na Terra? Terão todas
adotado como regra de proceder a prática das virtudes, prática da qual fez
Jesus condição expressa de salvação? Estarão
todas isentas das apóstrofes que ele dirigiu aos fariseus de seu tempo?
Todas, finalmente, serão, assim em teoria, como na prática, expressão pura da
sua doutrina?
Sendo uma só, e única, a verdade não
pode achar-se contida em afirmações contrárias e Jesus não pretendeu imprimir
duplo sentido às suas palavras. Se, pois, as diferentes seitas se contradizem;
se umas consideram verdadeiro o que outras condenam como heresias, impossível é
que todas estejam com a verdade. Se todas houvessem apreendido o sentido
verdadeiro do ensino evangélico, todas se teriam encontrado no mesmo terreno e
não existiriam seitas.
O que não passará é o
verdadeiro sentido das palavras de Jesus; o que passará é o que os homens
construíram sobre o sentido falso que deram a essas mesmas palavras.
Tendo por missão transmitir aos
homens o pensamento de Deus, somente a sua doutrina, em toda a sua pureza, pode exprimir esse pensamento. Por isso foi
que ele disse:
“Toda
planta que meu Pai Celestial não plantou será arrancada.”
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