quinta-feira, 11 de julho de 2013

18. 'Rimas do Além Túmulo' - Triste Realidade


18
‘Rimas do Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
 Guerra Junqueiro

Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929

Casa Editora Guajarina

Triste Realidade

Ó almas que viveis no lodo sepultadas,
sem vos poder erguer da lama das estradas
desta vida que passa,
que e é vossa existência ante a Eternidade?
Extingue-se depressa, na fragilidade
de ligeira fumaça...
Enquanto os breves dias se escoam na Terra,
os homens sanguinários trucidam-se em guerra,
desvairados leões;
e em vez da paz serena baixar sobre o mundo,
vejo a Humanidade em grito moribundo,
contemplando canhões!

Dos lares, onde outrora cantavam ridentes
os bandos infantis das almas inocentes
num enlevo de amor,
a fúria das revoltas roubou a alegria;
nesses lares só resta atroz melancolia
em espasmos de dor...
A fome e o flagelo empurram a pobreza
às negras pestilências da dissolução,
e vão as ímpias almas, sujas de impureza,
pouco a pouco, cair no lamaçal do chão...
o vulto da Saudade paira sobre os ares,
envolve toda a Terra um manto de negror,
e se unem fortemente, aniquilando os lares,
o pranto da orfandade aos gritos de estertor!
E enquanto mães, esposas clamam loucamente
pelas vidas, arrimos do seu lar,
a fina burguesia encara indiferente
e pária sofredor com riso singular...
Mas ai também daqueles que, pelas alturas
dos tronos, não se lembram do pobre a esmolar;
enorme é o flagelo, atrozes desventuras
em próxima existência terão que amargar.
Lamentemos, por isso, a vida desses entes,
filhos da perdição, vencidos pela orgia;
por paz eles terão as lagrimas ardentes,
o espectro do Remorso na hora da agonia.
A luta é sanguinosa, mas uma esperança
levanta-se altaneira àqueles que já têm,
no meio das procelas, raio de bonança:
eu vos saúdo, ó almas que fazeis o Bem!
Que importa, meus irmãos, que em meio a escuridão
dos erros os humanos vão, cegos cair,
se as vozes d' Além vos afirmam que um clarão
se levanta altaneiro às bandas do Porvir?
Que é esse clarão, impávido, invencível,
    que calca aos pés a lama do ateísmo?        
Esse clarão, irmãos, no mundo está visível:

no Evangelho buscai - a luz do Espiritismo! 

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