quarta-feira, 24 de julho de 2013

A Regra Áurea



A Regra Áurea
por Rodolfo Calligaris
Reformador (FEB) Fev 1961


            “Tudo o que vós quereis que vos façam os homens, fazei-o também vós a eles, porque esta é a lei e os profetas” - assim ensinou Jesus à multidão que o fora ouvir na encosta da montanha situada nas proximidades do lago de Genesaré.

            Conhecedor profundo da alma humana, sabia o Mestre que a preocupação constante dos homens de seu tempo (como ainda dos de hoje) consistia em receber do meio social, a que pertenciam, o máximo possível em gozo e em posse, sinal característico do forte egoísmo que os dominava.

            Tomando, pois, esse amor de cada um a si mesmo, como padrão dos nossos deveres para com o próximo, estabeleceu ele o meio mais fácil e mais seguro pelo qual haveremos de compreender o que e quanto devemos dar, em obediência à lei do amor universal que nos cumpre desenvolver, a fim de que se estabeleça em nosso mundo o reinado de Deus.

            Em nossas múltiplas relações com os outros, coloquemo-nos em seu lugar: identifiquemo-nos com os seus sentimentos, sintamos lhes as dificuldades, conheçamos-lhes os anseios, e, depois, façamos-lhes como, invertendo-se os papéis, desejaríamos que eles procedessem conosco.

            Não há estalão melhor com que aferir a nossa honestidade, nem expressão mais legítima do “amor ao próximo como a nós mesmos.”

            Esta regra áurea, se praticada por todos, faria com que se modificassem completamente as condições de vida de nosso Planeta. Extinguir-se-iam, uma a uma, todas as causas de sofrimento da Humanidade; desobstruir-se-ia o caminho, dos pedrouços que lhe embaraçam o progresso moral, e ao cabo de algum tempo a felicidade seria geral, porque já então, morto o egoísmo em todas as suas formas: o egoísmo pessoal, de família, de casta e de nacionalidade, veríamos implantado entre os terrícolas o primado da abnegação, da caridade, do desprendimento, da justiça, da paciência, da tolerância, da solidariedade, da paz, etc., porque as grandes e nobres virtudes, sem exceção, são filhas todas do Amor.

            Dizendo-nos que “esta é a lei e os profetas”, quis Jesus significar que esta regra de proceder resume toda a lei divina e tudo quanto fora ensinado pelos profetas da antiguidade.

            O “fazei aos outros o que quereis que os outros vos façam” contém a mesma verdade deste outro ensinamento doutrinado algures no Sermão da Montanha: “com a medida com que medirdes, também sereis medidos”. É a lei da causalidade" A toda causa corresponde um efeito, o qual será sempre da mesma natureza da causa que o originou.

            Aquilo que fizermos aos outros, seja bem ou seja mal, terá, certamente, sua reação sobre nós, em bênçãos ou em sofrimento. Tudo quanto dermos, havemos de receber de volta. Os benefícios que fizermos ao próximo, são-nos retribuídos em dobro, aqui mesmo na Terra, em tempos de necessidade, ou no Além, na moeda do Reino, em alegrias espirituais. Da mesma sorte, o mal praticado a dano de outrem, volve também. Todos os atos maléficos dão origem a sofrimentos para quem os cometeu, o qual, neste ou em futuras encarnações, será levado a passar pelas amarguras por que fez outros passarem; sentirá aquilo que eles sofreram.

            E isto, que a alguns pode parecer uma negação do amor de Deus para conosco, é, ao contrário, a mais solene afirmação do Seu amor paternal, pois Ele quer que todas as criaturas progridam, combatam a dureza de coração e se transformem em templos vivos, para aí fazer sentir Sua augusta presença.

            Os sofrimentos que decorrem das transgressões às leis divinas servem-nos de advertência; fazem-nos sentir a diferença entre o bem e o mal e dão-nos a experiência de que colheremos segundo o que plantarmos. Se semearmos o bem, colheremos o bem; se espalharmos o mal, teremos de arcar-lhe com as funestas consequências.

            Assim não fora e, confiantes na impunidade, retardaríamos nosso avanço, retardando, consequentemente, nossa felicidade futura na santa comunhão com Deus.

            A regra áurea é a única e verdadeira norma do Cristianismo. Assim, uma religião que nos leve a negligenciar as obras de misericórdia em favor dos necessitados, dos aflitos e dos sofredores, ensinando ser suficiente “crer” deste ou daquele modo para fazermos jus aos gozos celestiais; que nos induza a considerar réprobos desprezíveis todos quantos divirjam de nossa “fé”; que advogue a discriminação racial ou qualquer outra forma de desunião entre os homens, exaltando uns e menosprezando outros, quando Cristo avaliou a TODOS em tão alto valor que por eles se deu em sacrifício na cruz, está defraudando a doutrina cristã, é espúria e blasfema, pois pretende impingir concepções e preconceitos humanos como sendo ordenações de Deus.


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