35a
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Inácio de Loiola
O Médium vê o espírito, que é de um padre, moço,
trazendo chapéu preto de abas grandes, ligeiramente levantando dos
lados.
Está circundando de luz branca, contornada de roxo desmaiado e
guarnecido de verdes.
________________________
Está presente Inácio de Loiola, que vem revelar-vos algumas verdades,
entre as quais a da sua vida próxima reencarnação.
Sua
vida na Terra foi assinalada por atos de humildade e, ao mesmo tempo, por
grandes fraquezas, desvios, transviamento no caminho de Deus.
Fui um crente sincero, discípulo e fiel servo do meu querido e amado
Mestre - o incomparável Jesus! Fui homem dotado de energia e força moral,
autoridade e prestigio, não só entre os da sua grei, como perante os que se
diziam grandes e poderosos, mas, apesar disso, eram também crentes e humildes
perante Deus.
Pratiquei atos de justiça, fiz da minha fé uma couraça onde me abriguei
dos golpes atirados contra o meu peito, visando ferir-me de morte, ou
aniquilar-me para sempre.
O
começo da minha vida, todo consagrado ao culto de Deus e do Seu filho amado,
foi uma série de martírios e sofrimentos, de angustias e dores. Sofri as
maiores humilhações, suportei os mais duros e cruéis tormentos; fui flagelado,
espancado, golpeado no corpo e na alma, ofendido em minha honra e pudor,
afrontado, insultado, oprimindo, apedrejado e vergastado, e mais de uma vez o
meu sangue jorrou das chagas abertas no corpo onde sangraram copiosamente.
Fui um mártir e embora humilde, ainda assim fui sacrificado, combatido,
e atacado por inimigos audazes e perigosos. Tive, porém, muita resignação e
paciência, muita tolerância, calma, e firmeza para perdoar injurias, desprezar
insultos, esquecer ofensas, desdenhar a calúnia, voltar às costas ao que era
baixo e soez.
No seio de minha pátria, a Espanha, suportei acerbos desgostos, ali
feriram-me as setas do mal e os dardos da inveja, a lama da calúnia e da
infâmia salpicou-me as faces, lá perdi todas as ilusões mundanas que trouxera
do berço e me afagaram a alma durante a vida profana. Na minha própria terra
descobri, várias vezes, a mão criminosa, o braço armado do sicário procurando
atingir-me, prostrar-me no túmulo.
Não logrei a ventura de poder viver como sonhara, sempre no seio da
minha terra; fui forçado a abandonar os entes que amava, a quem dedicava todo o
meu afeto, e para os quais tinha imensas ternuras.
Achei-me na contingência de caminhar, peregrinar, de porta em porta,
implorar a caridade dos corações bem formados, em países estranhos, onde tantas
e tão grandes humilhações suportei! Andei, também por terras para mim
desconhecidas, onde, com surpresa, ouvia pronunciar com carinho e amor o meu
modesto e humilde nome, sentindo sempre essa dor que a saudade lança nos nossos
corações, quando nos achamos longe dos que amamos.
Chorava às vezes lágrimas de amor e saudades dos entes queridos que
deixara na terra amada. Passava horas inteiras a orar, a pedir a Deus desse a
esses entes a paz, o sossego e o conforto espirituais que o Pai de misericórdia
dispensava aquele que se achava prostrado na Sua presença.
Todos os pensamentos voavam para junto da minha velha mãe, que então
vivia ainda. Eram horas de intérminos enlevos essas passadas a remirar pequenos
objetos pertencentes à autora dos meus dias na Terra. Era a minha segunda
religião, o meu culto particular esse que eu rendia constantemente à lembrança
da minha mãe.
Prossegui nas minhas peregrinações, nas jornadas, nas marchas através
das cidades, vilas e aldeias, espalhando sempre o conforto espiritual,
repartindo com os meus irmãos os dons e as graças que diariamente recebia de
Deus e de Jesus. Ia por todas as casas distribuindo as bênçãos que recebia do
céu, o bálsamo e o consolo da fé que alimentava a minha alma e robustecia e
avigorava o meu corpo, dando-lhe a energia necessária para suportar as
vicissitudes da vida nômade que abraçara.
Fui crente, tive fé ardentíssima e a minha alma viveu sempre abrasada
dessa fé, meu coração sempre aberto, transformado em nicho perfumado, onde
Jesus habitava e de onde me fazia ouvir constantemente a sua voz. Fui um humilde,
um fraco, materialmente falando; jamais tive no meu coração sentimentos
inferiores, indignos de um discípulo apaixonado de Jesus.
Apesar dessa fé e desse amor ao meu Jesus a quem sonhei oferecer a
chefia de uma instituição que teria por fim propagar a sua doutrina e divulgar
os seus ensinamentos, a sua moral e a sua justiça, não deixei, entretanto, de
cometer atos de fraqueza e de praticar abusos e excessos, pois fui muita vez
levado pelo ardor da minha fé à prática de atos de rigor contra os meus
semelhantes; mas tudo isso tinha sempre um único móvel - a fé sincera e
ardente.
-continua-
35b
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
-continuação-
Inácio de Loiola
Pensava então, que servir a Deus era impor as Suas leis e os
ensinamentos de Jesus, à força e violentamente. Supunha, por me faltar a luz
que hoje ilumina o meu espírito e esclarece a minha razão que todo aquele que
negasse o nome de Deus e de Jesus devia ser castigado e que isto - acreditava
piamente - aumentaria a glória do Senhor. Errei, segui um falso rumo, enveredei
por um caminho perigosíssimo, esse do “Crê ou morrer”; trilhei rumo oposto ao
que devia ter seguido: a tolerância, a brandura, a moderação, o caminho e o
amor. E confesso hoje aqui, diante dos homens, as minhas fraquezas e os meus crimes;
não nego um só dos meus atos maus, não fujo à maior das responsabilidades que
assumi perante Deus e Jesus, pelos atos de fraqueza que pratiquei.
Não venho ao mundo para apontar-me a mim mesmo como santo, espírito
inocente e puro. Não, meus amigos! Inácio de Loiola - o fundador da Companhia
de Jesus aqui no vosso mundo - não baixou à Terra para mentir, mesmo porque não
poderia faze-lo, pois seria imediatamente retirado da vossa presença; vem ao
mundo dizer a verdade pura, brilhante como o sol que vos ilumina.
Contudo, não posso silenciar aqui a dor que me conturba a alma, quando
da eternidade ouço injustas acusações, feitas a quem vos dá esta comunicação.
Errar é próprio dos homens, como consequência lógica desse estado
material em que se vive no vosso meio, onde o espírito se mantém escravizado,
detido pelas cadeias da matéria que o subjuga e, impedindo-lhe os voos,
tolhendo-lhe a ascensão para a luz eterna, limitando-lhe a visão das coisas
extra materiais, restringindo-lhe o horizonte; - enclausurado no corpo, onde o
vigor das faculdades da alma ficam reduzidas de uma grande percentagem; - presa
da matéria, onde a alma mal pode perceber e conceber a sua existência separada
do corpo, no qual as contingências da mesma matéria fazem brotar no coração
humano todos esses sentimentos inferiores, baixos, até vis e criminosos -
matéria essa que limita todas as coisas, que não nos deixa ver o absoluto
dessas mesmas coisas mas só a sua relatividade - acorrentando a essa carne, que
é o túmulo onde o espírito fica sepultado durante a vida terrena e de onde
apenas entrevê por uma ligeira fenda, o que se passa além.
É
cheia de ilusões a vida na Terra - onde o homem dificilmente pode julgar os
seus atos, onde o bem e o mal se confundem, se misturam, sem que possamos
definir o começo de um e o termo do outro;
- esse mundo embusteiro e enganador, com todo o seu cortejo de
exigências, com as suas tentações, com as suas seduções e o seu apelo
constantemente vibrando nos ouvidos da criatura, chamando-a para os prazeres,
para as grandezas, para o gozo e a felicidade efêmeros e fugazes; - planeta,
onde homem tem constantemente diante de si exemplos pouco edificantes, onde o
mal campeia por toda a parte, onde tudo arrasta, convida, predispõe o homem
para as prevaricações e violações das leis de Deus e dar desobediência aos seus
decretos; - mundo, onde se põe em dúvida o que é digno, santo e honesto, e se
proclama e se afirma, sem exame, sem análise, o que é mal, criminoso e
desonesto!
Terra, onde a virtude é sempre sacrificada ao erro, à perversidade e ao
crime; onde muita vez a criatura pratica o mal,
convicta de que somente no bem, na verdade, na razão e na justiça são
inspirados os seus atos; que até hoje é planeta de expiação inferior, para onde
imigram, na sua quase totalidade, espíritos inferiores, atrasados, ou não
evoluídos, que para aí vão justamente em busca das provações necessárias,
indispensáveis ao seu progresso e aperfeiçoamento; onde - digo eu ainda - é
difícil alcançar a alma luz completa, adquirir o espírito lucidez absoluta para
julgar os seus atos!
Tudo, porém, tem razão de ser... Foi e é necessário que ainda assim seja
a Terra, para que os homens se esforcem a fim de alcançar um mundo melhor.
Portanto, meus irmãos, se errei, fui
levado pelas contingências materiais a que estive sujeito durante a existência
terrena. Nada fiz, entretanto, que não fosse com intenção de acertar, tendo
sempre em vista o bem, a verdade e a justiça, e com o santo e puro intuito de
agradar a Deus, de contribuir para o aumento da sua glória, para a grandeza e
esplendor da doutrina de Jesus, Nosso Senhor. Não pratiquei o mal pelo prazer
de ser mau, mas em vista o bem; os atos eram maus, mas a intenção sempre pura e
honesta.
Jamais dilapidei fortunas ou desonrei a fé; jamais me constitui
instrumento de ambições alheias, nunca trabalhei para dar força aos déspotas e
tiranos, nem me subordinei a interesses políticos; jamais tramei nas trevas,
nem persegui, torturei ou menti; jamais fui algoz da humanidade, verdugo, ou
abutre para despojar os meus irmãos dos seus bens e dos seus haveres. Nunca me
preocupei com a minha pessoa; jamais ostentei, jamais massacrei, ou decretei
morticínios e hecatombes. Nunca disputei o governo, pois, apesar do meu atraso
naquele tempo, sabia já interpretar as sábias palavras do Mestre - “O meu reino
não é deste mundo”. Nunca me preocupei com as formas de governo, por saber que
tudo era transitório no mundo, sujeito, portanto, a transformações sucessivas.
Tive sempre certeza de que um só governo existe, uma só justiça existe também -
o governo de Deus e a Sua sublime justiça; assim como um só reinado há e um só
rei existe, existiu e existirá para sempre - Jesus.
Não fui, como vedes, bárbaro nem cruel, perverso nem desumano; fui
apenas um fraco; fui homem, fui matéria, fui carne! Pequei convencido de que
servia a Deus e ao meu Jesus, e que prestava serviços ao mundo e aumentava a
glória do Senhor.
Fui, portanto, fraco; sou um espírito culpado! Já respondi pelo que fiz,
e Deus - que julga com infinita justiça
e sabedoria - depois de pesar as minhas culpas e de mandar-me à Terra em outras
existências humildes, após aquela em que me chamei Ignácio de Loyola, resolveu
na Sua infinita bondade e sabedoria premiar-me com esta luz que o médium vos
descreveu e que é a prova irrecusável de que não fui um simples e frio
criminoso.
Sofri no espaço, logo após a minha desencarnação, isso porque a justiça
de Deus é sabia e perfeita e, assim, perante ela o mal é sempre o mal, embora
Deus julgue as nossas intenções e atenue o sofrimento do espírito, quando vê
que ele apenas teve força para resistir e lhe faltaram luzes para guiá-lo no
caminho do bem e da razão. Deus me perdoou, impondo-me novas encarnações,
existências humildes, obscuras, nas quais sofri o que fiz sofrer aos outros e a
minha fé e resignação granjearam, para o meu espírito, esta luz que me
circunda.
Nada mais posso dizer além do que fica exposto, acrescentando apenas,
para concluir esta humilde e despretensiosa mensagem, que novamente me
encarnarei agora e que, desta vez, o meu espírito não mais se perturbará na
matéria, como outrora. Poderei, melhor
que naquele sombrio tempo, cumprir a missão que me vai ser confiada onde
trabalharei pelo progresso, resgate e salvação do vosso mundo, que será
transformado e remodelado, e para onde parte agora formosa legião de luminosos
e sábios espíritos, e com eles, ocupando lugar modestíssimo e obscuro, o que vos
fala nesta mensagem.
A
Terra, isto é, os homens como que estacionaram, descuidando-se do progresso
moral, deixaram-se ficar apáticos, indolentes, dominados pelo orgulho e
vaidade, praticando toda a sorte de crimes e atentados contra Deus e as Suas
leis e contra Jesus, cuja doutrina abandonaram e profanaram, cujos ensinamentos
violaram, cujo Evangelho rasgaram.
Hoje, a situação do mundo é aflitíssima, a vida da humanidade penosa e
quase insuportável, as condições morais as mais críticas possíveis; nada mais
existe de puro e santo, nada mais se vê aí do que devia existir sempre, do que
jamais devia desaparecer: a paz, a justiça, a fé, a verdade, a moral e o amor
fraternal - base principal do progresso espiritual de todos os mundos que
povoam o Universo e rolam na imensidade, onde a Terra gravita ao lado de outros
planetas mais evoluídos, florescentes, habitados por humanidades mais
adiantadas, mais conscientes da sua existência e do seu papel no conjunto
universal.
Tudo vai transformar-se, modificar-se, tomar novo aspecto, caminhar para
o seu destino - a perfeição.
Assim, anuncio-vos grandes acontecimentos, grandes lutas, grandes
sacrifícios, revoluções, transformações, a derrocada de todas as coisas nocivas
às criaturas, a destruição completa do que embaraça o progredir humano, a
marcha da humanidade terrena para Deus e para a verdade.
A
Igreja sofrerá um grande revés e a sua vida ficará perigando até a hora em que
outra doutrina — mais de acordo com o progresso do planeta — vier restabelecer
a ordem, garantir a paz, orientar os homens, conduzir a Terra para a verdadeira
felicidade — o reinado do Espiritismo, que será a vitória completa, absoluta do
Evangelho de Jesus e a implantação definitiva dos seus ensinamentos na
superfície deste planeta.
Até breve, pois não tardará o dia em que Ignácio de Loyola despertará na
Terra para a luta, para o bem, para a dor, para o sacrifício.
Adeus.
Inácio de Loiola
Maio de 1916
(UES - 1934)
Do
Blog:
O Google trás inúmeras
informações sobre a vida e a obra de Inácio de Loiola. Resumidamente,
registramos:
No dia 15 de Agosto de 1534,
Inácio de Loiola, estudante da Universidade de Paris, fez voto de pobreza, de
castidade e de dedicação à causa da Igreja Católica.
Em
1539 decidiu criar uma Ordem religiosa e começou a escrever as Constituições
que só ficaram prontas 16 anos mais tarde.
Em 27 de Setembro de 1540, a
constituição da nova Ordem é aprovada e denominada Companhia de Jesus, então
contando apenas 10 membros. A Companhia de Jesus (daí o nome ‘jesuítas’) surge
com o objetivo de espalhar a fé cristã, não estando então previsto que fosse
uma ordem religiosa especialmente consagrada ao ensino.
Logo, os jesuítas colocaram foco
na educação das crianças buscando ‘renovar’ o mundo. Algo como ‘é de pequeno
que se torce o pepino...’ Os marquetólogos da atualidade chamariam isso de
‘fidelização’ às verdades católicas e submissão plena à vontade do papa.
Com a expansão dos impérios
espanhol e português, os jesuítas dirão ‘- Presente!’ nos mundos novos desde o
início da colonização. Francisco Xavier percorre a Índia, a Indonésia, o Japão
e chega às portas da China. Manoel da Nóbrega e José de Anchieta ajudam a
fundar as primeiras cidades do Brasil (Salvador, São Paulo, Rio de Janeiro).
Em 1759, o Marquês de Pombal, com o pretexto
de um atentado contra o rei D. José, expulsou os jesuítas de Portugal e das
colónias. A Companhia de Jesus foi também expulsa de França em 1764 e da
Espanha e das suas colónias em 1767. A pressão das monarquias destes países
foi-se intensificando e o Papa Clemente XIV dissolveu a Companhia de Jesus no
ano de 1773 em todo o mundo, com exceção da Prússia e da Rússia Branca. Vale um estudo mais aprofundado sobre as
relações dos governos com a Companhia de Jesus.
Em 1814 o Papa Pio VII, restaurou
a Companhia de Jesus. Durante todo
século XIX, a vida da Companhia foi muito atribulada. Quando os governos eram
conservadores, os jesuítas eram chamados e exaltados, quando os governos eram
liberais, os jesuítas eram perseguidos e expulsos.
O texto acima apresenta colagens
de um original de Olga Pombo: opombo@fc.ul.pt publicado no Google.
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