16a
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Bonifácio V, papa
O médium vê um homem
velho, vestido de túnica escura, com a tiara da cabeça.
O seu rosto é claro
e longo, a altura e o corpo regulares, os cabelos e a barba também branca.
Caminha meio curvado
para a frente e está circulando de luz roxa clara com reflexos prateados.
_______________
Aqui está o espírito de Bonifácio V,
que perante este tribunal implora a misericórdia dos cristãos para as suas
culpas.
Compareço perante o mundo para
proclamar-me culpado, confessar-me criminoso de erros e crimes que muito me
envergonham e humilham perante vós, neste momento.
Estou diante dos meus irmãos para
lhes dizer a verdade, embora de um modo cruel e impiedoso, ainda mesmo lançado
sobre o meu nome maior estigma, as mais infamantes culpas, as mais desonrosas
acusações.
Venho ainda sob a impressão dos
sofrimentos, das torturas por que passou o meu espírito na eternidade, onde
ficou perturbado, aflito e desesperado; onde gemeu e padeceu longo tempo,
acusado pela sua própria consciência, que se tornou para ele inferno, abismo
insondável, onde estive afundado revendo os meus crimes, invocando o meu
passado tenebroso, cheio de atos abomináveis, de ações indignas que me apontam
como o mais criminoso dos papas.
Vem Bonifácio V a presença dos
cristãos para narrar a sua vida de papa e de espírito desencarnado e, assim,
mostrar aos homens o perigo a que se expõem, confiando nos falsos e absurdos
ensinamentos que lhes são dados diariamente pelos que nada sabem da verdade
pura e, por isso, procuram viver, gozar, satisfazer as suas ambições e vaidades
à sombra da ignorância e ingenuidade das criaturas.
Venho contar-vos o que comigo se
passou na vida material, também o que me conduziu às torturas do inferno e o
que me levou às doçuras do paraíso, donde hoje saio para vir aos vosso
encontro.
Estive à frente da Cristandade e
nunca me preocupei com a sorte e o destino do que fora entregue à minha
vigilância, confiado à minha guarda, para que eu defendesse e amparasse,
livrando dos golpes e assaltos a que sempre estiveram expostos os princípios da
doutrina de Jesus.
Fui papa, mas não me convenci de que
elevada e grandiosa era a missão que tomara sobre os ombros e enormes as
responsabilidades que assumira aos sentar-me na cadeira pontifical.
Não me convenci de que elevada e
grandiosa era a missão que tomara sobre os ombros e enorme as responsabilidades
que assumira ao sentar-me na cadeira pontifical.
Não me conformei com as leis impostas
por Deus a todo aquele que tem nas mãos as rédeas de um governo sagrado,
desobedeci aos decretos da Infinita Sabedoria, que ordenava me conservasse fiel
a minha missão, que jamais falseasse à verdade, mentisse à minha própria
consciência ou desvirtuasse os ensinamentos recebidos de Jesus.
Não me coloquei à altura da
extraordinária missão que me fora confiada; não me mostrei digno, capaz de
realizar tudo quanto, ao subir os degraus do torno pontifício, eu prometera
fazer em prol da religião, pela consolidação dos princípios básicos da sagrada
doutrina do Mártir dos Mártires.
Esqueci-me, logo após ter empenhado o
cetro papal, dos deveres que tinha que cumprir, dos compromissos assumidos
perante Deus e a minha consciência.
Olvidei tudo quanto recomendara o
Mestre aos seus discípulos, o que estava escrito nos sagrados livros que eu
compulsava por mero diletantismo, sem o mínimo desejo de por em prática o que
ali estava escrito.
Tudo desprezei por amor das coisas
terrenas, tudo sacrifiquei aos interesses egoísticos e às ambições pessoais,
levando o descaso pelas coisas sagradas ao ponto de permitir que fossem
introduzidas na religião de Jesus Cristo modificações, reformas que atentavam
contra a pureza imaculada da santa e gloriosa doutrina.
Tudo fiz para comprometer o
Cristianismo e acarretar para ele o descrédito e a desonra que ainda hoje
perturbam, manchando a pureza da sublime e imaculada doutrina.
Não me comportei, como devia, dentro
dos limites da fé; exorbitei, ultrapassei as fronteiras das conveniências
morais, para ir atirar-me no caminho da cobiça e das ambições pessoais.
O papa Bonifácio V tinha sede de ouro
e ambição de mando e domínio; tinha o pontífice romano, cujo espírito está
neste momento na vossa presença, a mais insaciável volúpia de possuir tesouros,
auferir lucros, acumular riquezas efêmeras da Terra, esquecendo-se de que só as
riquezas e os bens do Céu dão a felicidade e a glória.
Era o papa Bonifácio V um ambicioso
vulgar, pois de tudo lançava mão para apodera-se do ouro pertencente a outros,
aos quais procurava lesar com a sua ambição desmedida.
Foi assim que sacrificou interesses
do Vaticano aos seus, conduzindo mal as questões e pendências que eram a cada
instante submetidas à sua apreciação.
O papa usou sempre de parcialidade
quando se tratava de interesses da Igreja, procurando obter lucros em todas as
transações realizadas no seio da Cúria, onde a sua vontade era absoluta,
podendo dispor a seu bel prazer de tudo quanto pertencia ao papado.
Tudo fez o papa com o fim de
apodera-se do que lhe não pertencia.
Todos os meios hábeis, processos e
ardis mentirosos e todos os planos tenebrosos para enriquecer-se a si e aos
seus, tirando sempre proventos da religião, transformando a Igreja no mais
abjeto balcão, sem consciência nem fé, sem critério nem dignidade pessoal.
O papa Bonifácio V usurpou bens de
inimigos seus, confiscando-os a título de indenizar os prejuízos que os seus
possuidores haviam ocasionado à Cúria.
Não trepidou o papa em aceitar a
cumplicidade em vários delitos de lesa-instituição, praticados por amigos seus
e também instrumentos de que se servia para as suas vinganças e perseguições.
Compartilhou o papa Bonifácio V da
sorte dos que eram acusados como dilapidadores das riquezas do Vaticano, sendo
também atingido pelo mesmo labéu infamante.
Teve falta de decoro e pudor o papa que ora
vos visita para dizer-vos a verdade, que ficaria para sempre ocultada se não
viesse o Espiritismo para restabelecê-la, mostrando aos homens quanto são
iludidos pelos que se dizem, no mundo, os seus guias, os seus pastores
espirituais.
O papa Bonifácio V é um dos maiores
culpados, por ter feito tudo quanto há de mais criminoso, grave e comprometedor
para o seu nome e o da Igreja, a fim de apoderar-se do que não era seu.
É criminoso o papa Bonifácio V por se
ter deixado subornar por ocasião de ser decidida melindrosa questão entre um
poderoso estado político e o Vaticano, favorecendo o papa o interesse do
referido estado, com grande prejuízo para a tiara, que foi lesada numa copiosa
soma, da qual ele e os seus apaniguados participaram, recebendo todos o seu
quinhão por se terem mostrado fracos e venais na defesa dos interesses da
Igreja, sempre prejudicada, vilipendiada por maus e falsos representantes, que
tanto comprometeram o seu nome e a sua honra, sacrificando-lhe os mais caros e
santos interesses.
Sou ainda culpado por ter abusado da
minha força e poder para dominar pelo terror adversários que, indignados com a
minha conduta protestavam contra os meus desmandos e desregramento. Abusei do
meu poder, decretando a sua expulsão do seio da Cúria, impedindo-os de exercer
por longo tempo o sagrado ministério.
Fui violento e déspota para os que
não me lisonjeavam o orgulho e a vaidade, não se dispondo a satisfazer a minha
cobiça e os meus apetites insaciáveis.
Fui desumano e cruel com os que
ousaram manifestar, ainda que delicadamente, o seu desgosto diante dos abusos e
afrontas à moral aos decoro da religião de Jesus Cristo.
Amordacei todos aqueles que se
mostraram dignos e altivos, protestando contra os crimes e infâmias praticados
no meu pontificado.
Fui impiedoso com os que se
conservaram fiéis aos princípios da moral cristã, os que não prevaricavam, os
que não queriam mergulhar as mãos no ouro, receosos de que este as manchasse,
pois desejavam conservá-las limpas e asseadas, como as suas próprias
consciências e as suas almas puras e imaculadas.
Persegui os dignos, os nobres, os
puros e os honestos; amparei os indignos, os maus, os perversos, os criminosos
e os devassos.
Conduzi pela rua da amargura os que
tiveram a hombridade e dignidade necessárias para se mostrarem superiores aos
interesses mesquinhos, subalternos, preferindo morrer pobres, humildes e
ignorados a se locupletarem com o que lhes não pertencia. Foi contra esses
dignos e leiais companheiros que se desencadeou a minha cólera, que voltaram as
minhas iras e os meus ódios; foi, pois, contra a honradez e a virtude que me
revoltei e exasperei, foi contra o que era serio e honesto que desfechei os
meus golpes, lancei anátemas e maldições.
Não tive compaixão dos fracos, dos
que não podiam medir força com o papa Bonifácio V, poderoso, senhor absoluto,
dispondo da força e dos elementos materiais suficientes para abater e aniquilar
os seus inimigos e adversários.
Não teve o papa Bonifácio V piedade
dos que não tinham para quem apelar no momento angustioso, na hora das aflições
e dos desesperos, tendo somente como único recurso submeterem-se resignadamente
à sua vontade despótica e absoluta.
Jamais perdoou os seus adversários,
jamais se condoeu da sua sorte e miséria; o seu coração nunca se confrangeu ao
ver os inimigos humilhados, abatidos e prostrados diante do seu trono, do alto
do qual jamais o papa Bonifácio V teve um gesto caridoso e compassivo que
levasse o conforto às almas combalidas dos seus antagonistas, que ali
suplicavam, entre lágrimas, o perdão para os seus crimes - se crime pode
chamar-se o protesto contra devassidão e abusos desregrados.
Esqueceu-se o papa Bonifácio V da
recomendação de Jesus: “Perdoa, se queres ser perdoado também”.
Afastou-se o papa Bonifácio V da
doutrina de Jesus, quer prevaricando e praticando atos desonestos, quer
perseguindo e exercendo vinganças contra aqueles que justamente se revoltam
contra os crimes do Pontífices. Errou gravemente o papa que neste momento se
comunica convosco, praticando todos esses atos que comprometeram o seu nome
perante a história e o mundo, e o seu espírito perante Deus e a sua própria
consciência.
-continua-
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‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
-continuação-
Bonifácio V, papa
Os seus dias na eternidade foram
amargurados, tristíssimos, cheios de trevas, dores, lágrimas, ânsias e
desesperos, tendo ali sofrido as maiores decepções e vergonhas, quando o seu
espírito foi desmascarado perante o grande tribunal dos eleitos, que se reúne
para julgar os que chegam da grande e perigosa jornada da vida terrena.
Foram horríveis para o meu espírito
essas horas, esses momentos em que vacilante, tímido, envergonhado, se
apresentou perante o tribunal que tinha de julgá-lo diante do qual não pode
negar, mentir e dissimular, como fizera perante os homens, ocultando-lhes a
consciência criminosa, enegrecida pelos crimes hediondos que praticou na Terra,
como homem e na qualidade de papa e chefe supremo do governo espiritual que lhe
fora confiado e que não soubera honrar.
Bonifácio V teve que confessar,
perante Deus e os espíritos eleitos que o interrogaram, todos os seus crimes e,
ao mesmo tempo, ouvir a sentença que dos lábios de um espírito puríssimo partia
fulminando-o, estigmatizando-o, marcando lhe a fronte com o ferrete ignominioso
da maldição!
Deus, porém, tendo notado o meu
desejo sincero de arrepender-me e também de reparar as faltas cometidas, fez
cessar o meu martírio, concedendo-me voltar em novas encarnações para expurgar
o meu espírito, sofrendo o que fiz sofrer os outros, submetendo-me a duríssimas
provações que, se não fossem a Misericórdia e o Amor Infinitos, que jamais me
abandonaram, certamente o meu espírito teria sucumbido em meio do caminho.
Mas, graças a essa proteção e amparo
divinos, venci essas dificuldades, merecendo a graça de viver na luz, podendo
hoje apresentar-me diante de vós cercado dessa mesma luz, para dizer-vos em
nome de Deus:
Meus amigos, sede sempre honestos,
jamais abuseis do que não é vosso. Não vos apodereis do alheio; não arrasteis
os vossos irmãos para o caminho do crime, tornando-os cúmplices nos vossos
erros e faltas; não abuseis da confiança que em vós outros depositarem amigos e
companheiros; fugi sempre das ambições desmedidas; contentai-vos com o que
tiverdes; jamais procureis enriquecer por meios ilícitos, lembrando-vos de que as riquezas da Terra são efêmeras,
desaparecem com a morte, não valendo, portanto, a pena qualquer sacrifício
vosso ou do vosso irmão e semelhante para possuí-la.
Deveis ambicionar as riquezas morais;
estas são eternas, nunca se extinguem e acompanham o espírito por toda a
eternidade.
É por essa riqueza que deveis fazer
todos os sacrifícios, envidar todos os esforços; só esse tesouro é digno de
sofrimentos e dedicações. Tudo mais é efêmero, meus amigos e irmãos, tudo é
falso e enganador.
Quem vos fala, quem vos aconselha,
sofreu os maiores martírios, perdeu os mais cruéis tormentos por se ter
apoderado do que lhe não pertencia; por isso, hoje corre pressuroso a
avisar-vos para não cairdes no mesmo abismo em que se afundou a sua alma depois
da morte, para que a vossa consciência não se transforme no inferno em que se
tornou a consciência do papa Bonifácio V, que hoje vos visita alegre e
satisfeito, por já ter pago tudo quanto devia a Deus e a Jesus, em sete
existências aflitivas que cumpriu aqui no vosso planeta.
Assim, pois, vos recomendo o maior
respeito aos ensinamentos de Jesus, cuja doutrina não deveis abandonar jamais,
tendo sempre em mente as sabias palavras do Mestre:
“Perdoai até o infinito, para que
também infinitamente se vos perdoe.”
“Amai-vos uns aos outros.”
“Não façais a outrem o que não
desejeis que vos façam.”
“Não mateis.”
“Não furteis.”
Se cumprirdes à risca estes
ensinamentos, sereis felizes um dia na vida eterna, para onde parte neste
instante o vosso irmão Bonifácio V, para pedir a Deus que vos assista com a luz
da Sua graça e da Sua infinita misericórdia.
Adeus.
Bonifácio V, papa
Novembro de 1916
Bonifácio
V
68º papa - 23/12/619
a 25/10/625
Informações complementares
Em 619, toda a Terra Santa já se
encontrava sob o domínio dos persas que só foram expulsos em 627. Maomé e o
Islamismo varreram o mundo árabe desde 620. O inimigo externo aproximou os
reinos europeus e a igreja de Roma mas desfez o mar mediterrâneo como ‘lago
cristão’.
Bonifácio V , na tentativa de
estender seu poder ao mundo civil, determinou que todo celerado poderia se
asilar numa igreja e de lá não poderia ser retirado, qualquer que fosse o crime
a ele atribuído.
Fontes: ‘Santos e Pecadores’ por
Eamon Duffy (Ed. Cosac & Naify – 1998)
et ‘Os Crimes dos Papas’ por Maurice
Lachatre (Ed. Madras 2005)
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