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‘Rimas do
Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
Guerra Junqueiro
Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929
Casa Editora Guajarina
À
Francisco de Assis
No rijo vendaval da
vida da Matéria,
mesmo curvado,
assim, ao peso da miséria
que oprime o encarnado
em dura provação,
eu pude lobrigar,
Assis, este clarão
que irradia de ti,
bondade excelsa, um dia
em que não sei
dizer, a meditar, sentia
no meu peito um
desejo inexplicável, puro,
de te ver baixar
neste meu ambiente escuro,
neste globo terráqueo-
vale abençoado
onde os culpados
vêm resgatar o passado.
E pedi, e roguei a
Deus Onipotente
que permitisse
ver-te, anjo resplendente.
De súbito, sentindo
indescritível gozo,
após uma oração na
hora do repouso,
pude em sonhos te
ver, gênio da Perfeição,
com teu aura de
paz, altaneira visão!
E, desde então,
chamei-te estrela do meu lar,
Guia do meu viver,
anjo que a esvoaçar
sobre mim
derramaste o bálsamo eteral
que me fez
despertar na vida espiritual
completamente
calmo. E eu não, não merecia
gozar tão grande
bem, tão plácida alegria...
Quantas vezes,
Assis, nos embates da Vida,
eu julgava escutar
uma voz calma, ungida,
que dizia de longe:
Ao Porvir, filho meu!
Não recua na luta,
o Porvir será teu.
E eu, prostrado,
deixava o pranto livremente
banhar o rosto meu
como um dilúvio ardente...
No meio dos humanos
não fui compreendido;
uns chamavam-me
ateu, outros - ser pervertido.
E o ódio crescia, e
a Igreja, lançando
sobre a minha
cabeça excomunhões em bando,
gritava p'ra os cristãos:
Fugi desse assassino!
ele espalha no
mundo o micróbio ferino
da Descrença! p'ra
baixo esse verme maldito
que quer
desrespeitar- o Deus lá do Infinito!
E alguns entes
fugiam com medo de mim...
Que horrível sacrilégio!
Uma heresia, assim,
bradava aos céus,
matava de repente!
E todo homem de
bem, todo sincero crente
que, saindo da
igreja, após a confissão,
encontrasse na rua,
acaso, o «tal ladrão»,
o bardo-satanás,
devia se benzer,
-do contrario,
ficava em risco de perder
a alma,- isso,
porque ninguém imaginava
que esse poeta
sorria, esse poeta chorava
em face da Natura,
adivinhando o Autor
de toda essa
beleza, em todo esse esplendor...
É que ele se abismava
ao ver as estrelinhas,
pois bem sentia que
o bom Deus na Natureza
habita, vive, mora,
em sideral grandeza!
Assis, eu te bendigo,
eu te venero,
e, mesmo aqui, no
Espaço, humildemente espero
a tua proteção.
Envolve-me na esteira
da Luz que te circunda,
inspiração fagueira...
Na fonte luminosa,
oh, deixa-me beber
as luzes da
Bondade, as luzes do Saber;
me ajuda a
progredir, ajuda a caminhar.
O pobre pecador já
quer se alevantar
e seguir novo rumo
e trilhar nova estrada,
a fim de resgatar,
da existência passada,
as faltas
cometidas, pois esta a maneira
para um Ser
alcançar perfeição verdadeira.
Servo de Deus
ampara os pecadores,
sobre os homens
derrama as castíssimas flores
da tua proteção e
da tua assistência,
e vai distribuindo
esta santa influência
até que a
Humanidade, enfim regenerada,
já compreenda
melhor a doutrina sagrada
que irmana os
corações, unindo-os brandamente
num círculo de
Amor, divino e refulgente!
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