domingo, 23 de junho de 2013

9. 'Rimas do Além Túmulo' - A Francisco de Assis


9
‘Rimas do Além Túmulo’
Versos Mediúnicos de
 Guerra Junqueiro

Grupo Espírita Roustaing
Belém do Pará 1929

Casa Editora Guajarina


À Francisco de  Assis

No rijo vendaval da vida da Matéria,
mesmo curvado, assim, ao peso da miséria
que oprime o encarnado em dura provação,
eu pude lobrigar, Assis, este clarão
que irradia de ti, bondade excelsa, um dia
em que não sei dizer, a meditar, sentia
no meu peito um desejo inexplicável, puro,
de te ver baixar neste meu ambiente escuro,
neste globo terráqueo- vale abençoado
onde os culpados vêm resgatar o passado.
E pedi, e roguei a Deus Onipotente
que permitisse ver-te, anjo resplendente.
De súbito, sentindo indescritível gozo,
após uma oração na hora do repouso,
pude em sonhos te ver, gênio da Perfeição,
com teu aura de paz, altaneira visão!
E, desde então, chamei-te estrela do meu lar,
Guia do meu viver, anjo que a esvoaçar
sobre mim derramaste o bálsamo eteral
que me fez despertar na vida espiritual
completamente calmo. E eu não, não merecia
gozar tão grande bem, tão plácida alegria...

Quantas vezes, Assis, nos embates da Vida,
eu julgava escutar uma voz calma, ungida,
que dizia de longe: Ao Porvir, filho meu!
Não recua na luta, o Porvir será teu.

E eu, prostrado, deixava o pranto livremente
banhar o rosto meu como um dilúvio ardente...
No meio dos humanos não fui compreendido;
uns chamavam-me ateu, outros - ser pervertido.

E o ódio crescia, e a Igreja, lançando
sobre a minha cabeça excomunhões em bando,
gritava p'ra os cristãos: Fugi desse assassino!
ele espalha no mundo o micróbio ferino
da Descrença! p'ra baixo esse verme maldito
que quer desrespeitar- o Deus lá do Infinito!

E alguns entes fugiam com medo de mim...
Que horrível sacrilégio! Uma heresia, assim,
bradava aos céus, matava de repente!
E todo homem de bem, todo sincero crente
que, saindo da igreja, após a confissão,
encontrasse na rua, acaso, o «tal ladrão»,
o bardo-satanás, devia se benzer,
-do contrario, ficava em risco de perder
a alma,- isso, porque ninguém imaginava
que esse poeta sorria, esse poeta chorava
em face da Natura, adivinhando o Autor
de toda essa beleza, em todo esse esplendor...
É que ele se abismava ao ver as estrelinhas,
pois bem sentia que o bom Deus na Natureza
habita, vive, mora, em sideral grandeza!
Assis, eu te bendigo, eu te venero,
e, mesmo aqui, no Espaço, humildemente espero
a tua proteção. Envolve-me na esteira
da Luz que te circunda, inspiração fagueira...
Na fonte luminosa, oh, deixa-me beber
as luzes da Bondade, as luzes do Saber;
me ajuda a progredir, ajuda a caminhar.
O pobre pecador já quer se alevantar
e seguir novo rumo e trilhar nova estrada,
a fim de resgatar, da existência passada,
as faltas cometidas, pois esta a maneira
para um Ser alcançar perfeição verdadeira.
Servo de Deus ampara os pecadores,
sobre os homens derrama as castíssimas flores
da tua proteção e da tua assistência,
e vai distribuindo esta santa influência
até que a Humanidade, enfim regenerada,
já compreenda melhor a doutrina sagrada
que irmana os corações, unindo-os brandamente

num círculo de Amor, divino e refulgente!

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