17a
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
Abraão,
o patriarca
O médium vê apenas a
silhueta do espírito que se destaca no meio dos esplendores celestes,
circundado de
belíssima luz branca e verde, brilhante, ofuscando a vista da vidente.
______________
Venho, meus filhos e companheiros
amados, por ordem superior, afirmar aqui as verdades eternas que Deus está
mandando proclamar entre os homens pelos espíritos. Venho aqui trazer-vos um
consolo, uma esperança, dando-vos, assim, uma lição, um ensinamento para
confortar-vos, fortalecer a vossa fé e robustecer a vossa crença. Venho
dizer-vos muitas verdades, espargir muita luz a humanidade terrena.
Deus, meus amigos e filhos muito
queridos, não vos podia abandonar no meio das grandes provações por que passais
neste momento, pois, se a Divina e Infinita Sabedoria se mostrasse indiferente
à vossa dor, surda ao vosso apelo, negaria, ela mesma, a infinita bondade e a
infinita misericórdia de Deus, que vos não podia esquecer nesta hora
tormentosa, difícil e angustiosa que atravessa a humanidade terrena. Jesus - o
filho amado, o cordeiro imaculado, o salvador do mundo - não vos podia também
deixar a sós no meio de tantas aflições e tantos desesperos. Jesus não podia
abandonar os homens, muito embora se tenham eles esquecido dos seus deveres
para com o Mestre. Jesus não podia desamparar a humanidade no momento mais
grave, no transe mais doloroso da sua vida.
É porque nem Deus nem Jesus se
esqueceram de vós que me apresento na Terra, onde vivi há milhares de anos, no
início da vida humana deste planeta, para tomar parte no grande acontecimento
da transformação regeneradora que se vai operar dentro em breve.
Do lugar onde vivo hoje descortino os
movimentos da humanidade que habita este mundo: de muito longe, tenho
acompanhado com vivo interesse o caminhar desordenado e incerto dos homens; de
lá, dessas paragens longínquas, tenho saído algumas vezes para vir auxiliar o
aperfeiçoamento do mundo para o qual estou escrevendo neste momento. Da
eternidade, onde habito, tenho partilhado das dores e dos martírios que têm
afligido a humanidade terrena, tenho me regozijado com as suas alegrias e os
seus triunfos, alegrando-me com as suas conquistas, rejubilando-me com as suas
vitórias. Tenho sempre chorado as desgraças, lamentado o atraso e padecido por
ver a desorientação, o atropelo, os desvario, os erros e os crimes em que tem
caído os homens deste mundo, que fora criado por Deus para ser o berço de uma
civilização mais de acordo com as Suas leis, mais de conformidade com os
ensinos que Ele deu aos homens pela boca do Seu Filho, quando o enviou à Terra
para salvar o mundo e implantar o reinado da paz, da justiça, da fraternidade,
da igualdade e do amor.
No sistema a que pertenceis, quero
dizer, na cadeia dos planetas que giram em torno desse sol que vos alumia,
devia ser a Terra um dos primeiros mundos a evoluir, era esta humanidade a que
estava destinada a ser chefe do movimento evolucionista planetário, seguindo-se
a ela outro planeta mais afastado, tendo, porém, como a Terra, as condições
físicas capazes de comportar uma ordem moral e um progresso espiritual mais
elevado e uma humanidade mais consciente de sua existência no concerto
harmônico do Universo. Esse planeta de que vos falo caminhou, adiantou-se, quer
na ordem material, quer na ordem moral e espiritual, evoluiu e, hoje, a sua
humanidade conseguiu já libertar-se das agruras da vida material a que esteve
condenada até há pouco. A Terra, que é irmã gêmea desse mundo de que venho
tratando, pois são idênticas as condições de ambos os planetas, estacionou,
retardou a sua marcha, atrasou o seu advento espiritual, deixando arrastar-se
para o abismo do materialismo, entregando-se apaixonadamente ao ceticismo
anarquizador da ordem moral, atrofiador do progresso espiritual, ficando na
retaguarda do legítimo progresso, já empreendido com vantagem por outros mundos
que a cercam.
A Terra foi destinada a ser o berço
de uma sociedade florescente, generosa, humilde e crente, cumprindo
fervorosamente a lei de Deus, seguindo a risca os ensinamentos do Seu Messias,
e, assim, caminhar progressivamente até sair do estado material, grosseiro, em
que até hoje, viveu, para entrar, como vai acontecer, na ordem dos mundos
superiores, de provações e missões elevadas, cujos filhos são chamados a cada
instante para ir ativar o progresso de outros mundos inferiores. O homem
terreno conservou-se inativo, indiferente perante as grandes e infinitas
belezas morais, apaixonou-se pela beleza e encanto da vida material a que se
dedicou, esquecendo-se de que só a beleza moral é eterna, que só o belo
espiritual é imperecível, que só o progresso da alma é legitimo, porque o
espírito, por ser eterno, jamais retrocede no caminho do aperfeiçoamento.
Esqueceu-se a criatura terrena de que
a vida imoral, a verdadeira vida, portanto, é a espiritual. Olvidou-se o homem
de que a matéria tem vida efêmera, pois está sujeita a transformações sucessivas
até o infinito, não podendo por isso ser consciente de si mesma, à vista dos
múltiplos estados que atravessa, do número infinito de formas que reveste, sem
fixar eternamente uma forma definitiva, e, assim, conservar recordações da sua
trajetória desde o estado de simples elemento - matéria inicial etérea,
imperecível até mesmo para os espíritos elevados, para os quais ela se conserva
inapreciável - até os delicados agregados que são só os formosos corpos dos
espíritos eleitos e bem-aventurados. Esqueceu-se a criatura de que a Terra não
é o único centro de vida, o único foco de onde irradia o pensamento humano, a
única humanidade que pensa, vive, sofre, goza e ama!
Não compreendeu o homem que Deus lhe
deu a inteligência e a liberdade para investigar, buscar a verdade, entrar no
conhecimento do seu eu e de tudo o que o cerca, unicamente para que, ao chegar às
culminâncias espirituais, fosse ele produto de si mesmo, resultante dos seus
esforços. Não percebeu também que essa liberdade e esse livre arbítrio lhe
foram dados para torná-lo responsável pelos erros e faltas que porventura
cometesse durante a vida terrena. Interpretou mal o pensamento da Divina
Sabedoria concedendo lhe essas liberdade, cujo fim era deixá-lo entregue a si
próprio para agir livremente, podendo preferir o bem ou o mal, possuindo em si
todos os elementos para realizar o progresso moral e material, o que
constituiria a verdadeira perfeição.
Não compreendeu o homem que a
liberdade a ele concedida na Terra tinha como principal escopo aumentar o seu
mérito e a sua capacidade moral. Dar-lhe consciência perfeita dos seus atos e
das ações boas ou más que praticasse. Para que não ficasse perdido no caminho
da vida, preferindo sempre o mal ao bem, enviou Deus à Terra os Seus
missionários - espíritos esclarecidos - para mostrarem à criatura que, por ser
livre e autônoma na vida terrena, deveria, por isso mesmo, preferir o bem ao
mal, visto que só aquele nos conduz à felicidade eterna, aproximando o homem do
seu Criador.
Deus avisou sempre aos que tem
habitado esse planeta que lhes dava a liberdade de ação, de pensamento e de
exame, mas também os preveniu que - se fizessem mau uso dessa liberdade, se
exorbitassem e ultrapassassem os limites demarcados pelas leis naturais, se
violassem essas mesmas leis, desrespeitando os ensinamentos enviados à Terra
pelos grandes vultos que ilustraram e instruíram o homem com as suas virtudes e
o seu saber - teriam que responder pelos abusos e violações cometidas.
Fez saber ao homem, pela boca dos
espíritos superiores que em todos os tempos apareceram na Terra, que a vida
terrena era apenas transitória e passageira, ligeira estadia onde a alma vinha
suportar os revezes impostos por Deus como provações pelos erros cometidos em
existências anteriores, no mesmo mundo ou em outro onde o espírito já tivesse
vivido e praticado as faltas pelas quais respondia então.
Não quis o homem terreno atender aos
constantes e reiterados apelos feitos pela Divina Sabedoria, chamando-o ao
arrependimento, para o caminho da razão, da lógica, da verdade e de Deus. Foi
surdo à voz dos espíritos que tantas vezes tem baixado à Terra para orientá-lo,
livrá-lo do mal, pondo-o no caminho da ordem da justiça, da moral e da luz.
Jamais quis a humanidade terrena escutar as palavras sinceras e sábias dos
grandes reveladores que vieram à Terra, em nome do Pai, para acordá-la do sono
criminoso em que se engolfara.
Aboliu o homem tudo quanto o passado
legara ao presente, rasgou os códigos, violou as leis, destruiu as tradições
religiosas dos primeiros povos, dilacerou as sagradas letras, desrespeitou os
sublimes ensinamentos dos profetas inspirados por Deus, que os enviou à Terra
para falar lhe em Seu nome, repeliu todos os princípios sacrossantos - base de
toda a organização humana, esteio da ordem social, apoio de todas as aspirações
que se aninhavam no coração da criatura. Demoliu tudo quanto fora construído no
passado, tudo quanto fora argamassado com o sangue das primeiras gerações que
habitaram a Terra e nela lançaram a semente, os germes de uma organização
social mais perfeita e consentânea com a lei de Deus.
Transviou-se a humanidade do caminho
que devia ter seguido, enveredou no erro, deixou-se dominar pela vaidade, pelo
orgulho, pela ambição, repelindo o próprio Deus, esquecendo-se de Jesus, para
inaugurar uma ordem social apoiada nos interesses egoísticos, que, tendo como
principal alicerce o materialismo brutal, a ambição sórdida e criminosa,
transformou a lei em instrumento de vingança dos grandes contra os pequenos, desorganizou
a família, enfraqueceu a moral, subordinou o amor conjugal aos interesses
grosseiros de ocasião, violou os sagrados e incontestados direitos dos povos,
escravizando-se, enfim, aos preconceitos e prejuízos da sociedade falsa,
hipócrita, sem honra e sem Deus. Fez do poder, da arte de governar os povos,
privilégios de indivíduos pertencentes a certas e determinadas castas, fazendo
prevalecer, como principal virtude para merecer a honra de dirigir os homens,
as qualidades especiais do sangue, os característicos de certas raças chamadas
privilegiadas e seletas. Transformou a justiça em balcão onde, a troco de vil
moeda, se absolvem criminosos e perversos e se condenam inocentes.
Esqueceu-se o homem de tudo quanto
foi ensinado pelo Mestre, de tudo quanto foi recomendado por Jesus, do seu
sacrifício por amor dos homens, do seu martírio por amor do bem e da verdade
que ele veio pregar e pela qual se deixou imolar, morrendo pregado a uma cruz!
O homem terreno fugiu, divorciou-se
da fé, proclamando seu Deus a matéria vil e destrutível e a inutilidade da
existência desse Deus; mandou ensinar nas suas escolas as doutrinas inventadas
pelos ímpios e incréus, lançando no coração da juventude a descrença, o ódio a
tudo que é santo e honesto! Decretou que somente na ciência devem acreditar as
criaturas e só no visível e no palpável devem confiar; combateu Jesus, guerreou
contra Deus, perseguiu os crentes, massacrou os ingênuos, os fieis à sua crença
e ao seu Criador. Matou, enforcou, trucidou, fuzilou, estrangulou, incendiou,
erigiu cadafalso, acendeu fogueiras, encarcerou, fuzilou, carbonizou os
abnegados defensores da fé, os batalhadores do Cristianismo; esmagou as legiões
abrasadas de fé, despedaçou os corpos dos grandes arautos das verdades eternas!
Sacrificou tudo à sua cobiça e à sua
pretensiosa ignorância, ao terrível e descomedido orgulho. Teve a pretensão de
eliminar o próprio Deus, de estrangular a divindade, sufocando todos os
impulsos generosos dos corações dos crentes!
-continua-
17b
‘Revelação dos Papas’
(Obra Mediúnica)
- Comunicações d’Além Túmulo -
Publicada sob os auspícios da
União Espírita Suburbana
Rua Dias da Cruz 177, Méier
Officinas Graphicas d’A
Noite
Rua
do Carmo, 29
1918
-continuação-
Abraão,
o patriarca
Hoje
a situação da Terra é dolorosa, aflitiva, insuportável; soou para ela a hora tremenda
do julgamento das suas culpas, chegou o momento em que a humanidade terrena
perante o Tribunal Supremo curva a fronte para ouvir a sentença fatal, proferida
pela sua própria consciência, que vai acusá-la na presença de Deus e de Jesus.
Começou já o ajuste final de contas, soou a hora bendita do arrependimento de
tantas culpas, de tantos erros, de tantos crimes praticados friamente aos olhos
de Deus, de tantas crueldades cometidas em nome das leis, dos costumes e da
civilização que tanto infelicitou o planeta e tanto contribui para o
retardamento do progresso deste mundo, que, a estas horas, devia já ter entrado
na ordem espiritual, à qual passará, entretanto, à custas de dores, lágrimas,
sacrifícios e martírios comoventes, à custa de milhões de vidas, jorros e
catadupas de sangue, desse sangue que o homem tanto amou e cultivou, de que se
orgulhavam os poderosos, os nobres e os senhores que em todos os tempos
venderam por alto preço esse líquido, na sua opinião precioso e raro.
Deus, nessa hora, compadece-se da
miséria humana e permite a vinda até à Terra dos espíritos lúcidos para
esclarecerem e orientarem os homens, consolando-os no meio das aflições em que
se debatem neste grandioso momento da vida da humanidade. DEUS, apesar dos
erros praticados pelos homens, da sua impiedade e desamor ao seu Criador, não
se esquece da Terra, e a ela envia esses espíritos para os ajudarem no transe
aflitivo por que está passando o planeta que os viu nascer.
Terra! eu me despeço de ti! Digo-te
daqui o meu adeus, saúdo-te como um filho dileto saúda aquela que um dia lhe
deu o ser! Eu te saúdo e proclamo no teu seio o advento da verdade, do
Espiritismo, dos puros ensinamentos de Jesus, que nesta hora dirige os
espíritos incumbidos de realizar a transformação que, dentro em breve, se vai
operar aí na tua superfície, Terra amada!
Deus te ajude, Jesus te proteja e
inspire os teus filhos para que, arrependidos dos desvios, fraquezas e crimes
que cometeram, se orientem no caminho da vida, buscando no Evangelho de Jesus,
no puro Espiritismo, o consolo e o balsamo para as enormes chagas que os
vícios, os desregramentos, as disposições e os abusos produziram na alma da
humanidade eterna.
Que Deus te dê a paz e a luz do
Espiritismo, Terra querida! Adeus!
Abraão, o patriarca
Março de 1916
Informações complementares
Abrahão foi o fundador da
nação judaica. Um dos fatos culminantes
da sua vida foi a prova de fé absoluta demonstrada na sua disposição de
sacrificar seu filho Isaac, a fim de cumprir a ordem que houvera recebido de um enviado de Deus.
No momento justo em que ele ia matar Isaac,
já amarrado para o holocausto, eis que um anjo do Senhor lhe deu aviso para
suspender tal sacrifício, que lhe fora sugerido como prova que ele teria de
dar, a respeito da sua fé absoluta e incondicional, ao seu Deus.
Abrahão
é tido como o símbolo supremo da fé. Jesus mesmo refere-se a ele, dizendo:- "o vosso pai Abrahão exultou por ver o meu dia." (João 8-56).
página 45 do livro ‘Emissários da Luz e da Verdade’
1ª Edição 1959 Ed. Divino Mestre
- R RJ
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