Mudar para melhor

Mudar para Melhor

Pensai nas coisas que são de cima, e não nas que são da Terra. - Paulo. COL., 3:2.

            Em milênios de experiências reencarnatórias, que se renovam periodicamente, temos colocado as coisas do mundo por centro de nossas mais agradáveis cogitações.

            Nas inumeráveis idas e vindas que têm assinalado o nosso roteiro evolutivo, o apego às coisas terrenas tem sido a tônica de nossa romagem, no corpo e fora dele.

            Acumulação, de bens transitórios.

            Cultivo da vaidade e do egoísmo.

            Exercício da prepotência.

            Amor próprio e orgulho dirigindo nosso coração.

            Regozijo nos caprichos satisfeitos.

            Interesse, exacerbado, pelas gratificações fisiológicas.

*

            Embora esteja o Evangelho do Senhor no mundo há dois milênios - e o Espiritismo há mais de um século - projetando claridade na alma humana, apenas em breves Iampejos de inspiração e responsabilidade temos, na verdade, cuidado das coisas do Céu.

            Luta contra a presunção doentia.

            Fraternidade com todos, sem discriminação de raça ou cor, posição social ou crença religiosa, idade ou sexo.

            Esforço na humildade sincera.

            Resignação na subalternidade digna.

            Autoridade fundamentada na justiça e na benignidade.

            Atividade incessante no Bem, para que o Bem se expanda e se irradie no bem de todos.

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            Do confronto, honesto, entre "o que somos" e "o que devemos ser", ressalta, sem dúvida, o imperativo de mudar para melhor.

            A advertência de Paulo, orientando os colossenses, surge, em nosso caminho, por lembrete amigo e oportuno, para que, neste conflito de sentimentos e aspirações antagônicas que atormentam o espírito humano, possamos, sempre, agir em função das coisas "que são de cima", reduzindo ou eliminando, quanto possível, o gosto pelas coisas "que são da Terra".

            A luta aprimoratória é difícil, penosa, porque íngreme é a ladeira conducente aos píncaros da glória espiritual; mas, nem por isso, o desânimo deve ter acesso em nosso coração.

            O Espiritismo, revivendo o Cristianismo em sua dinâmica de renovação mental, tem-nos ensinado que nenhuma vitória será obtida pelas vias do menor esforço, mas, pela trilha enobrecedora do trabalho, na base da constância.

            Para os companheiros de jornada - compreensão e tolerância, orientação e ajuda, incentivo e carinho.

            Para nós, rigor - muito rigor, mesmo.

            Eis o programa, eficaz, infalível, para que possamos atingir, vitoriosamente, a meta de nossa ascensão para o Mais Alto.

            Sufocando o egoísmo e a vaidade, a prepotência e o orgulho, estaremos, aqui e em qual quer parte, construindo, silenciosamente, mas com segurança, o baluarte interior das grandes e magníficas realizações do futuro.

            Exterminando a revolta, na subalternidade, realizaremos a difícil virtude da humildade.

            Destruindo os impulsos de crueldade ou desamor, na administração, seremos os artífices de nosso crescimento com Jesus e para Deus.

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            Pensemos, pois, diuturnamente, nas coisas "que são de cima" e esqueçamos, ou limitemos as coisas "que são da Terra", consoante a judiciosa observação do apóstolo.  

            Se as coisas "da Terra" retêm-nos escravizados ao erro, que é do mundo, as coisas que são "de cima" oferecem-nos abundantes recursos para que, nas vigorosas asas do Bem e da Pureza, alcemos voo no rumo da perfeição.

            Referindo-se ao seu programa pessoal de integração com o Cristo, escreve o apóstolo tarsense, ainda, aos cristãos de Colossos: "E para isto também trabalho, combatendo segundo a sua eficácia, que obra em mim poderosamente."

            Quando criamos condições internas para que a influência de Jesus opere em nós, da maneira realmente eficaz, dificuldades e limitações são superadas.

            Aclaram-se dúvidas e solucionam-se problemas.

            Corrigem-se enganos e encaminham-se situações.

            Os meios para o nosso crescimento espiritual procedem, originariamente, do Céu, onde se elaboram, se organizam e se distribuem, para o mundo, os bens celestes - as coisas "que são de cima".

            A ilusão e a fantasia, milenárias criações da mente humana, prendem-nos ao mundo - são as coisas "que são da Terra".

            A palavra inspirada do ex discípulo de Gamaliel é facho de luz na sombra do nosso entendimento, onde, pela bênção da Doutrina Espírita, já se abrem fendas, pelas quais a claridade avança.

            Somente o Bem e o Trabalho, a Fraternidade e o Amor, a Boa Vontade e o Conhecimento aplicado aos quadros da vida humana, são capazes de "pôr ordem" onde nós "estabelecemos a desordem."

            Alguns dias de conhecimento evangélico ou espírita - asseguram os Instrutores Espirituais dão-nos meios para discernir as coisas "que são de cima" das "que são da Terra", facilitando-nos, assim, o redentor processo de separação do joio, que ainda reside em nós, como herança do mundo, do trigo, que desponta em nós, como patrimônio e dádiva do Céu.

            O lembrete do notável amigo da gentilidade é de real importância no programa de renovação espiritual, que cada um de nós - encarnado ou desencarnado - deve realizar no "dia-a-dia" que se renova todas as manhãs.

Martins Peralva

Reformador (FEB) Março 1964