sexta-feira, 26 de abril de 2013

7. 'Didaquê Espírita'


7
Didaquê Espírita

compilação e coordenação
  Carlos Lomba
Ed.FEB 1948

CAPÍTULO V       b/d


MORAL ESPÍRITA

  
141. Com que fim prodigalizou DEUS instintos de conservação a todos os seres?

            - Foi com o fim de poderem, indistintamente, concorrer para as Suas vistas providenciais e porque a vida é necessária ao aperfeiçoamento de todos, na Terra.

142. Tem todos os homens igualmente o direito de usar os bens da Terra?

            - Sem dúvida, pois esse direito é consequência da necessidade de viver. DEUS não pode impor um dever sem dar primeiramente os meios para cumpri-lo.

143. Que devemos pensar do homem que busca nos excessos de toda classe um requinte para seus prazeres?

            - Quem assim faz, torna-se inferior ao bruto, pois não sabe restringir-se à satisfação das suas necessidades reais. Quanto maiores forem os seus excessos, tanto mais império permite que a natureza animal tenha sobre a espiritual.

144. Que se deve pensar de quem amontoa bens materiais para conseguir o supérfluo, em prejuízo dos que carecem do necessário?

            - Esse egoísta desconhece a lei de DEUS e terá que responder pelas privações que fez sofrer.

145. É censurável o desejo que o homem tem de conseguir o seu bem-estar?

            - Não, pois é um desejo natural; o abuso é que constitui o mal.

146. Se a morte deve conduzir-nos a melhor vida, qual a razão por que o homem lhe tem um horror instintivo?

            - DEUS pôs no homem o instinto de conservação para que o sustivesse nas provas, e sem isso ele descuidaria da vida. O instinto de conservação faz que o homem prolongue a vida até cumprir a sua missão.

147. Que se deve pensar da destruição que excede os limites da necessidade, tal a que se faz pela caça e outros meios, cujo único fim é destruir sem utilidade ?

            - Toda destruição que excede os limites da necessidade é uma violação da lei divina. Torna-se ainda mais condenável a destruição que é feita com crueldade.

148. Qual o fim das grandes calamidades?

            - É para que a Humanidade se adiante com mais rapidez, pois resultando dessas calamidades a regeneração moral dos seres, eles adquirem em cada nova existência um grau mais elevado de progresso.

149. E será justo que nessas calamidades sucumba o homem bom ao mesmo tempo que o mau, sem distinção alguma?

            - Tanto faz morrer por uma calamidade como por outra coisa comum, desde que a hora é chegada. A única diferença que há, neste caso, é a de morrer maior número de pessoas; mas, poderíeis acaso saber se o que é hoje um homem de bem não teria sido o culpado de ontem?

150 . Qual a causa que induz o homem à guerra?

            - É o predomínio das paixões ou da natureza animal sobre a espiritual. Só entre os povos bárbaros é que não se conhece outro direito que  não seja o do mais forte.

151. A guerra desaparecerá algum dia da face da Terra?

            - Sim, quando os homens compreenderem o que é justiça e praticarem a lei de DEUS.  Então todos os povos se considerarão irmãos e reinará, no mundo, o legítimo sentimento da fraternidade.

152. Que se deve pensar dos que suscitam a guerra em seu próprio benefício?

            - Esses são verdadeiros culpados e grandes criminosos, e como tais terão que suportar muitas existências penosas, expiando os crimes que mandaram cometer para satisfação de suas orgulhosas ambições.

153 . É culpado o homem que pratica assassínios na guerra?

            - Não, se ele for coagido a isso; entretanto, torna-se culpado desde que pratique crueldades em satisfação dos seus maus desejos .

154 . O homicídio é crime?

            - Sim, e muito grande, pois quem tira a vida a outrem corta uma existência de expiação ou de missão, concedida por DEUS, e é nisto que consiste o mal, de penosa reparação.

155 . Pode considerar-se o duelo como sendo manifestação de legítima defesa?

            - Não; o duelo é um crime e um costume digno somente de povos bárbaros.

156. Como se deve considerar o a que em duelo chamam ponto de honra?

            - Orgulho e vaidade: dois grandes males da Humanidade.

157. Não haverá, porém, casos em que, por achar-se a honra realmente ofendida, pode ser considerado como covardia não se aceitar o duelo?
           
            - Isso depende dos usos e costumes, pois cada país e cada século têm um modo diverso de encarar as coisas. Quando os homens forem melhores e estiverem mais adiantados em moral, compreenderão, nobremente, que o verdadeiro ponto de honra está acima das paixões terrenas e que as coisas não se alteram pelo fato abominável de fazer-se uma morte. Em perdoar uma ofensa há muito mais valor do que em revidá-la. Há muito mais grandeza e verdadeira honra naquele que se confessa culpado, como há, também, maior dignidade e nobreza naquele que, tendo razão, sabe perdoar, ou, mesmo, sabe desprezar os insultos que o não podem alcançar.

158 . A pena de morte desaparecerá algum dia da legislação humana?

            - Sem dúvida, e em sua supressão assinalará a Humanidade um grande progresso.

159. Que se deve pensar da pena de morte imposta em nome de DEUS?

            - Os que assim obram estão muito longe de compreender a DEUS e cometem um crime monstruoso.

160. A vida social é uma lei natural?

            - Sem dúvida, pois que todos os homens devem concorrer para o progresso, ajudando-se
mutuamente.

161. O progresso moral segue o intelectual?

            - É a sua consequência, porém nem sempre o segue imediatamente.

162. Como é que o progresso intelectual pode conduzir ao moral 'I

            - Desde que o homem compreenda o bem e o mal, pode então escolher. O desenvolvimento
do livre arbítrio segue o da inteligência e aumenta a responsabilidade das nossas ações.

163 . Pode o homem deter a marcha do progresso?

            - Não, mas pode estorvá-lo às vezes, assim incidindo em grave falta.

164. Não parece, às vezes, que o homem retrocede em vez de adiantar pelo menos sob o ponto de vista moral?           

            - O homem progride, pois cada dia ele compreende melhor o mal e a todo o instante reforma as suas leis. É essa compreensão que lhe mostra a necessidade do bem e das reformas.

165. Todos os homens são iguais perante DEUS?

            - Sim, pois todos têm um mesmo princípio e um mesmo destino. As leis divinas são iguais para todos.

166. Porque DEUS não deu as mesmas aptidões a todos os homens?

            - DEUS deu iguais aptidões a todos os Espíritos, porém cada um deles tem vivido mais ou menos tempo. A diferença provém, pois, do grau de experiência e da vontade resultante do livre arbítrio de cada um. Por isso os mais adiantados tem maiores aptidões do que os outros.

167. Será possível estabelecer a igualdade absoluta das riquezas?

            - Não; a diversidade das faculdades e dos caracteres opõe-se a isso.

168. Que se deve pensar daqueles que creem ser esse o remédio aos males da sociedade?

            - Esses não compreendem que logo depois tal igualdade seria destruída pela força das circunstâncias. Combata-se o egoísmo social e não se busquem quimeras.

169. O homem e a mulher são iguais perante DEUS e têm os mesmos direitos?

            - Sem dúvida, pois DEUS deu a ambos inteligência para distinguir o bem do mal e a faculdade de progredir.

170. Qual a razão da inferioridade moral da mulher em certos povos?

            - O império injusto e cruel que o homem exerce sobre ela, e que resulta das instituições sociais ou do abuso dos fortes sobre os fracos.

171. Com que fim a mulher, em geral, é mais débil fisicamente que o homem?

            - É para que ela possa exercer outra espécie de trabalhos. Bem compreendida a posição da mulher na sociedade, devemos admitir que ela só é inferior ao homem no limite das possibilidades físicas; a ele se iguala intelectualmente e o excede no terreno moral, pelo seu instinto recatado e superior sensibilidade. Ao homem, porém, e de um modo geral, compete os trabalhos rudes e intelectuais, e às mulheres, os trabalhos leves e delicados.

172 . A debilidade física da mulher não a coloca, naturalmente, sob a dependência do homem?

            - Sim, mas se a Natureza dotou o homem com mais força é para que ele proteja a mulher como mais fraca, e não para que a escravize.

173. As funções a que está destinada a mulher, para com seus filhos, tem tanta importância como as que estão reservadas ao homem?

            - São muito mais importantes, pois a mulher é quem dá aos filhos as primeiras noções da vida.

174. Uma legislação, para ser justa, deve consagrar igualdade de direitos à mulher e ao homem?

            - De direitos, sim; de funções, não. É preciso que cada qual tenha as ocupações que lhe são próprias e segundo as suas aptidões. A emancipação da mulher assinala o progresso social; a sua escravização denuncia atraso.

175. Donde nasce o desejo de perpetuar com monumentos fúnebres a memória dos seres que abandonaram a Terra?

            - Último ato de orgulho...

176. Mas não se deve atribuir mais frequentemente a suntuosidade dos monumentos fúnebres aos parentes do finado, antes que ao próprio finado?

            - Nesse caso é o orgulho dos parentes que se querem glorificar a si mesmos. Nem sempre, é certo, se fazem tais demonstrações por consideração ao morto; elas também se dão por amor-próprio e alarde das riquezas das pessoas que ficam. Poderão esses belos monumentos salvar do olvido aqueles que foram inúteis na Terra?

177. Deve-se, então, de um modo absoluto reprovar a pompa dos funerais?

            - Não, pois isso se torna justo e exemplar desde que é feito em memória de um homem de bem.




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