As
ressureições
na guerra
por Carlos Imbassahy (pai)
in
Reformador (FEB) Setembro 1945
Um
amigo nosso, de Ribeirão Preto, teve a gentileza de enviar-nos um bem lançado
artigo, da autoria do Sr. Raul de Polillo, publicado na "Folha da
Manhã", em julho findo.
Refere-se
o escritor a indivíduos que morreram na guerra, com ferimentos no coração, e foram ressuscitados por hábeis operadores,
especializados na matéria.
Os
casos de ressurreição começaram, há pouco, no Laboratório de Fisiologia Experimental
do Instituto da União Soviética.
As
experiências principiaram em cães, que ficavam mortos durante 6 a 15 minutos, e
depois reviviam por meio de transfusões de sangue e do emprego do promultor.
Já
se registraram 51 ressurreições completas, sendo que 39 dos ressurgidos
morreram de novo.
O
autor lembra que foram inúteis todos os esforços, no sentido de fazer com que eles,
que realizaram a última viagem, se recordassem de alguma coisa que existe ou
possa existir no outro mundo. Julga, diante disto, que é tremendo o alcance
filosófico e religioso a que conduz esta circunstância.
Notou
ainda o autor, como coisa de muito reparo, que os mortos voltavam à vida com as
mesmas características mentais, intelectuais, morais e de hábitos, que tinham
antes da morte; que não se recordavam do inferno, do purgatório, do paraíso, do
nirvana ...
O
escritor perde-se em várias interrogações de ordem filosófica; - como? A alma
não vai a lugar nenhum, não se apresenta a alguma
entidade julgadora?...
Termina,
ponderando que tais fatos terão imensa repercussão na esfera do pensamento e
das religiões, devendo muita coisa ser modificada nesse âmbito.
*
O
nosso amigo riopretense pede comentários; sentimo-nos, pois, no dever de
corresponder com eles à sua delicadeza.
Não
temos procuração das demais religiões, para tratar do assunto que diz com elas;
seus crentes poderiam, porém, responder ao escritor que os moradores do
purgatório só saem dali para mansões melhores que não as da Terra, os moradores
do paraíso não voltariam mais, que não eram tolos, e os do inferno, ainda que o
quisessem, não podiam voltar: lasciate
ogni speranza. Os candidatos ao
Nirvana provavelmente não morreriam no fragor das batalhas.
Para
essas religiões, ainda, a ressurreição não seria novidade nenhuma, haja vista a
ressurreição de Lázaro, que eles admitem tenha morrido como os operados do
laboratório soviético, "na mais ampla expressão da Ciência e da lei".
Mesmo
fora das religiões, há casos, e não são poucos, são inúmeros, em que o
indivíduo é dado por morto, ou vai para o cemitério com
aquela ampla expressão, e depois torna a si.
Há
vários compêndios e trabalhos históricos sobre o que denominam "morte
aparente", em que o cidadão marcha para o outro mundo, com
todos os sacramentos religiosos, todos os requisitos legais e todos os atestados científicos,
e voltam à vida, muitas vezes, infelizmente, quando já se acham na solidão da sepultura.
Onde,
porém, o fenômeno não causa a menor alteração é em Espiritismo, porque é tese pacífica, é ensino dos Espíritos que a morte do
corpo não implica separação imediata da Alma.
Esta
se acha ligada ao organismo por uma espécie de cordão umbilical, denominada
perispírito; quanto mais atrasado é o ser mais custa ele a desprender-se do
corpo; já este deixou de funcionar, não durante minutos, mas durante horas, e o
infeliz, no Espaço, continua a ter sensações terrenas, a participar ainda,
senão da vida do corpo, pelo menos da vida da Terra, pois o perispírito ainda o
vai fisgar ao órgão inerte, e até deteriorado.
Por
este lado, pois, nenhuma alteração em nossos pontos doutrinários.
O
fato de não se lembrar o Espírito do que se passou com ele, nos curtos momentos
de vida extracorpórea, só pode justificar os nossos postulados.
O
que ensina o código espiritual é que os mortos ficam em estado de perturbação,
durante a passagem de uma vida a outra, perturbação que será tanto maior quanto
mais atrasado é o ser e mais violento o gênero de morte, indo até à mais
completa obnubilação; o Espírito que se manifesta nestas condições, se acha
inteiramente inconsciente, desmemoriado, abúlico.
Nos
sonhos, é sabido, o ser visita paragens várias, fala com diversos entes e, ao
voltar ao corpo, de nada se recorda, na maioria das vezes.
É
que a passagem de um campo a outro, com a intensa modificação vibratória,
altera ou apaga completamente a recordação, mormente se há
um forte traumatismo, como na morte em plena batalha.
Isto
é princípio velho, que os novos processos cirúrgicos nada vêm alterar.
Mas,
em compensação, conhecem-se muitos casos, e a Ciência já os regista, em que não
se dá o esquecimento, e estes casos provam o outro plano da vida.
Histórias
longas...
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