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Fenômenos
de Materialização
por Manoel Quintão
Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira
1942
Mas,
senhores, fechemos este longo parêntese. Como vos dizia, a entidade invisível
escrevera e assinara - João. Para o fazer na face do papel
assente no solo, teria de o virar. Isto não se deu; o caderno almaço estava no
mesmo lugar e posição em que o colocáramos, mantendo sobre uma das bordas a sola
do sapato. Desta, da sua pressão, podereis ver aqui os vestígios. Aqui temos,
pois o fenômeno da "escrita direta", porquanto o "médium"
mantinha, à vista de todos, as mãos sobre a mesa e nem ele, nem ninguém poderia
praticar uma intervenção direta.
Em
seguida, "João", pela voz do médium, pediu-nos - a mim e ao Dr.
Pereira de Barros, assentado defronte de mim, que conservássemos na
palma da mão um lenço e levássemos a mão para baixo da mesa. Assim praticando,
não tardou sentíssemos um leve contato de mão, subindo do pé direito, puxando a
calça, tamborilando no joelho e, por fim, arrecadando sutilmente o lenço.
Foi-se-me
o lenço, disse, olhando para o Dr. Pereira Barros. O meu ainda aqui está, respondeu
ele. É preciso esperar, obtemperou o "médium". Decorridos minutos, o doutor acusa a retirada
do seu lenço e quase simultaneamente acusamos a restituição do nosso. Antes de
qualquer consideração, antes mesmo de retirarmos a mão de sob a mesa, o lenço
do doutor cai à frente dele, projetado como do teto: e do ângulo da sala, que
ficava atrás de nós. Os lenços estavam (o nosso ides vê-lo) artisticamente
enovelados, semelhando uma flor ou uma fruta, como queiram, mas, de qualquer
forma, inteligentemente manipulados.
Se
quisermos atribuir estes fenômenos de transporte e efeitos ditos físicos, a forças
desconhecidas, ao subliminal e quejandas (similares) hipóteses mais ou menos abstrusas e rebarbativas, teremos de infirmar
as próprias leis da física, segundo as quais força alguma atua que não seja em
linha reta. Ora, neste caso, forçoso é convir que essa força não atuou em linha
reta, antes, no mecanismo do fenômeno, operou de modo complexo, descreveu
muitas figuras geométricas. Apreendendo um lenço aqui, outro ali, depois de os
amarrar inteligente, artisticamente, devolve-os quase de jato, um por
debaixo da mesa, com requintes de delicadeza, outro de cima, bruscamente
projetado!
Retirada,
em seguida, a mesa, foram trazidos dois baldes comuns contendo: um cera de
carnaúba quente, e outro água fria. Em torno desses baldes fechamos um círculo,
ou antes uma elipse de cadeiras. De propósito citamos a cera derretida,
liquefeita, porque a sua temperatura, qual a tomamos, tateando o vasilhame, não
a suportaria impunemente a nossa epiderme (1).
(1)
Calculamos 70 ou 80 centigrados.
No
Pará, contaram-nos que, para responder a uns tantos censores e conjecturistas (que dão opiniões sem fundamento) do fenômeno, o
maestro Bosio expôs um modelo de pé e reptou os incréus a produzirem coisa
igual, mediante premio de 5:000$000. Sempre houve, ao que parece, uns três
simplórios que o tentaram, queimando-se inutilmente e mais gravemente um deles,
que sofria de eczema ou varizes, se bem nos lembramos do relato. Mas, ainda
assim, admitida a possibilidade de moldagem, graças à aplicação de qualquer
substância refratária ao calor, sobre a epiderme, nem por isso estaria removido
o maior óbice - a retirada do pé ou da mão sem quebra do molde (2).
(2) E dizer-se que o
inefável Dubois atribui tais fenômenos ao concurso de tubos fosforescentes!
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