Progredir,
progredir
sempre:
esta é
a lei
Indalício
Mendes
Reformador (FEB) Novembro 1945
A
crítica construtiva é uma necessidade em qualquer setor da atividade humana.
Devemos prezá-la, quando feita com evidente superioridade de ânimo, porque nos
ajuda a tirar o argueiro do olho, a enxergar o que não vemos com os olhos
abertos. O censurável, consoante os princípios evangélicos e a moral espírita,
não é a crítica sã, impessoal, que objetiva mostrar o erro para facilitar sua
correção, mas a crítica balofa, sem finalidade elevada, destrutiva, porque
inspirada no malévolo desejo de indispor.
O
fato de a doutrina espírita haver sido codificada por Allan Kardec e constituir
a estrutura do kardecismo - cujos ensinamentos morais são estupendos e ainda
insubstituíveis - jamais devera ser motivo para excessivas restrições
àqueles que não seguem o rumo kardeciano, pois é dever de todos imitar a
tolerância dos cristãos em Cristo. Afinal, o Espiritismo é um só, mas já possui
vários ramos. Para felicidade geral dos espíritas de todos os matizes, não se
deve esquecer que todos esses ramos provêm dum tronco comum. Assim, é mister não
renunciar, em nenhuma hipótese, aos fundamentos morais do Espiritismo e a
melhor maneira de preserva-lo de nocivas influências está, na nossa desvaliosa
opinião, no respeito geral aos preceitos doutrinários.
O
Espiritismo não tem cerimônias litúrgicas, não se engalana com aparatosos
rituais, nem escraviza o homem a dogmas absurdos. Sua característica
é o livre exame, o uso da razão. Os
tempos da fé cega e do perinde ac cadaver (Tal qual um
cadáver.”; “Maneira por que os jesuítas,
segundo as Constituições de Santo Inácio de Loiola, devem obedecer a seus
superiores) vão longe... Allan Kardec recebeu dos Espíritos,
e codificou-as, as normas pelas quais os homens devem guiar-se no Espiritismo.
Frisou o caráter "não dogmático" dos preceitos doutrinários, porque o
fundamental é que o homem seja livre para pensar e agir, de vez que, segundo a
lei do Pai, todos respondemos pelos nossos atos e pensamentos. na proporção exata
do bem e do mal que fazemos. Não obstante, há elementos, talvez pouco
enfronhados nas obras kardecianas, que são mais kardecistas que
o próprio Kardec, porque, ao contrário deste, querem
dogmatizar, esquecidos de que nunca será dita a última palavra e que as revelações são
progressivas.
Infelizmente,
a falta de estudo da doutrina leva a muitos erros. Tudo precisa passar pelo crivo do raciocínio e somente se deve aceitar um
ponto doutrinário depois que ele tenha sido examinado atentamente em todos os seus aspectos.
Só assim será possível adquirir-se a segurança no conhecimento da doutrina. Substituir-se
sístematícamente o magister dixit por "Kardec disse", não está conforme à
época em que vivemos e muito menos de acordo com o espírito evolucionista do kardecismo. Allan Kardec
foi humano, como também o somos, e a obra que deixou, se o torna uma figura
ímpar no Espiritismo, não o isenta da imperfectibilidade que é apanágio dos
terrícolas. Os anos passam, os séculos vão sucedendo aos séculos, e, por força
da lei do progresso, as ideias que parecem indestrutíveis numa época, são
substituídas por outras, mais adiantadas, mais de conformidade com o
desenvolvimento espiritual do homem.
Portanto,
dogmatizar "à outrance" (Sem tréguas; a
qualquer preço.) significa estacionar e o estacionamento não
foi, não é, nem será jamais o traço predominante do Espiritismo, consoante
mesmo o que se pode depreender dos ensinos de Kardec.
Qualquer
limitação infundada à obra missionária de Allan Kardec será afrontosa, porque, na
realidade, se ele foi o escolhido para codificar a doutrina, é porque reunia todas
as qualidades morais e espirituais indispensáveis ao êxito da empresa. Foi um
missionário, na legítima acepção do vocábulo. Todavia, sujeito às contingências
da vida humana, não possuía, como ninguém o possui, o miraculoso dom da
infalibilidade. Cumpriu sua tarefa num dado momento da vida terrena.
Desobrigou-se magistralmente de sua missão. Daí não se infira, porém, que, depois
dele, outro missionário não tenha sido enviado aos espíritas, ou não o seja
ainda - nunca para destruir lhe a obra, que é indestrutível, mas para completá-la,
ampliá-la, ajustá-la, enfim, de modo que a Humanidade, cuja evolução é
constante, possa ter sempre, na doutrina espírita, igualmente progressiva, onde
dessedentar-se, bebendo a água fresca dos ensinamentos que do Alto nos são
enviados.
O
Mestre Jesus deixou claro, conforme registam os Evangelhos, que muito ainda
poderia dizer, mas não era tempo, porque os contemporâneos de sua vinda ao planeta
não o compreenderiam. Se o Cristo, que é o nosso Guia Supremo, apontou-nos,
através dessas palavras, as revelações que achou prematuro fazer naquela época,
porque haveremos de pensar que, no Espiritismo, chegamos ao fim?
Estudemos
a doutrina e defendamo-la com carinhoso interesse, sem, contudo, aceitarmos como
absolutamente definitivo tudo quanto já nos foi revelado...
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