segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Progredir, progredir sempre: esta é a Lei



Progredir,
progredir sempre:
esta é a lei


Indalício Mendes


Reformador (FEB) Novembro 1945

        
              A crítica construtiva é uma necessidade em qualquer setor da atividade humana. Devemos prezá-la, quando feita com evidente superioridade de ânimo, porque nos ajuda a tirar o argueiro do olho, a enxergar o que não vemos com os olhos abertos. O censurável, consoante os princípios evangélicos e a moral espírita, não é a crítica sã, impessoal, que objetiva mostrar o erro para facilitar sua correção, mas a crítica balofa, sem finalidade elevada, destrutiva, porque inspirada no malévolo desejo de indispor.

            O fato de a doutrina espírita haver sido codificada por Allan Kardec e constituir a estrutura do kardecismo - cujos ensinamentos morais são estupendos e ainda insubstituíveis - jamais devera ser motivo para excessivas restrições àqueles que não seguem o rumo kardeciano, pois é dever de todos imitar a tolerância dos cristãos em Cristo. Afinal, o Espiritismo é um só, mas já possui vários ramos. Para felicidade geral dos espíritas de todos os matizes, não se deve esquecer que todos esses ramos provêm dum tronco comum. Assim, é mister não renunciar, em nenhuma hipótese, aos fundamentos morais do Espiritismo e a melhor maneira de preserva-lo de nocivas influências está, na nossa desvaliosa opinião, no respeito geral aos preceitos doutrinários.

            O Espiritismo não tem cerimônias litúrgicas, não se engalana com aparatosos rituais, nem escraviza o homem a dogmas absurdos. Sua característica é o livre exame, o uso da razão.  Os tempos da fé cega e do perinde ac cadaver  (Tal qual um cadáver.”;  “Maneira por que os jesuítas, segundo as Constituições de Santo Inácio de Loiola, devem obedecer a seus superiores) vão longe... Allan Kardec recebeu dos Espíritos, e codificou-as, as normas pelas quais os homens devem guiar-se no Espiritismo. Frisou o caráter "não dogmático" dos preceitos doutrinários, porque o fundamental é que o homem seja livre para pensar e agir, de vez que, segundo a lei do Pai, todos respondemos pelos nossos atos e pensamentos. na proporção exata do bem e do mal que fazemos. Não obstante, há elementos, talvez pouco enfronhados nas obras kardecianas, que são mais kardecistas que
o próprio Kardec, porque, ao contrário deste, querem dogmatizar, esquecidos de que nunca será dita a última palavra e que as revelações são progressivas.

            Infelizmente, a falta de estudo da doutrina leva a muitos erros. Tudo precisa passar pelo crivo do raciocínio e somente se deve aceitar um ponto doutrinário depois que ele tenha sido examinado atentamente em todos os seus aspectos. Só assim será possível adquirir-se a segurança no conhecimento da doutrina. Substituir-se sístematícamente o magister dixit por "Kardec disse", não está conforme à época em que vivemos e muito menos de acordo com o espírito evolucionista do kardecismo. Allan Kardec foi humano, como também o somos, e a obra que deixou, se o torna uma figura ímpar no Espiritismo, não o isenta da imperfectibilidade que é apanágio dos terrícolas. Os anos passam, os séculos vão sucedendo aos séculos, e, por força da lei do progresso, as ideias que parecem indestrutíveis numa época, são substituídas por outras, mais adiantadas, mais de conformidade com o desenvolvimento espiritual do homem.

            Portanto, dogmatizar "à outrance" (Sem tréguas; a qualquer preço.) significa estacionar e o estacionamento não foi, não é, nem será jamais o traço predominante do Espiritismo, consoante mesmo o que se pode depreender dos ensinos de Kardec.

            Qualquer limitação infundada à obra missionária de Allan Kardec será afrontosa, porque, na realidade, se ele foi o escolhido para codificar a doutrina, é porque reunia todas as qualidades morais e espirituais indispensáveis ao êxito da empresa. Foi um missionário, na legítima acepção do vocábulo. Todavia, sujeito às contingências da vida humana, não possuía, como ninguém o possui, o miraculoso dom da infalibilidade. Cumpriu sua tarefa num dado momento da vida terrena. Desobrigou-se magistralmente de sua missão. Daí não se infira, porém, que, depois dele, outro missionário não tenha sido enviado aos espíritas, ou não o seja ainda - nunca para destruir lhe a obra, que é indestrutível, mas para completá-la, ampliá-la, ajustá-la, enfim, de modo que a Humanidade, cuja evolução é constante, possa ter sempre, na doutrina espírita, igualmente progressiva, onde dessedentar-se, bebendo a água fresca dos ensinamentos que do Alto nos são enviados.

            O Mestre Jesus deixou claro, conforme registam os Evangelhos, que muito ainda poderia dizer, mas não era tempo, porque os contemporâneos de sua vinda ao planeta não o compreenderiam. Se o Cristo, que é o nosso Guia Supremo, apontou-nos, através dessas palavras, as revelações que achou prematuro fazer naquela época, porque haveremos de pensar que, no Espiritismo, chegamos ao fim?

            Estudemos a doutrina e defendamo-la com carinhoso interesse, sem, contudo, aceitarmos como absolutamente definitivo tudo quanto já nos foi revelado...






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