quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

11. 'As Vidas Sucessivas'



11

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943



MAIS FATOS

            O fato que se segue foi relatado por Oliver Lodge e transladado para a pág. 128-9, de "A Morte", de Maeterlinck:

            "Lodge entrega à senhora Piper, em transe, um relógio de ouro que acaba de lhe ser enviado por um dos seus tios, e que pertencera a outro tio falecido havia mais de vinte anos. Pegando no relógio, a senhora Piper, ou aliás Phinuit, um dos Espíritos seus familiares, revela, ao cabo de algum tempo, uma infinidade de minudências relativas à infância daquele último tio, que remontavam a mais de setenta anos e eram naturalmente ignorados de Sir Oliver Lodge. Pouco depois, o tio sobrevivente, que não mora na mesma cidade, confirma por carta a exatidão da maior parte daquelas minudências, de que ele se havia esquecido completamente, e que só lhe voltaram à memória por meio das revelações do médium; e aquelas, de que se não lembra absolutamente, são posteriormente declaradas conforme à verdade por um terceiro tio, velho capitão de marinha mercante, que residia em Cornualha, e que ignorava a razão por que lhe faziam perguntas tão extraordinárias."

            "Esse fato, como outros atrás mencionados", termina Maeterlinck, "indica, com muita exatidão, os pontos extremos, até onde, graças à intervenção dos Espíritos, se tem até hoje, penetrado no desconhecido."

            Como vemos, o Espiritismo por suas bases fundamentais, é a mais velha filosofia do mundo. Os Evangelhos de Jesus lhe servem de base moral. E todos os fatos que vimos transcrevendo o demonstram, sem ser preciso recorrer a Kardec. Este não inventou os fundamentos espiritas e nem tampouco fundou religião alguma.

            Kardec, numa visão esclarecida de missionário, apenas codificou o Espiritismo dentro das bases morais científicas e filosóficas que já existiam.

            Mais adiante, Maeterlinck ainda esclarece o fato acima relatado:

             "Na história do relógio de Sir Oliver Lodge, por exemplo, que é uma das mais características e mais adiantadas, é preciso atribuir ao médium faculdades, que já não tem nada de humano. Seja por visão à distância. seja por transmissão de pensamento, de subconsciente a subconsciente, ou seja por clarividência subliminal, deve o médium pôr-se em relação com os dois irmãos sobreviventes do falecido, possuidor do relógio; e no inconsciente daqueles dois irmãos distantes, que ninguém preveniu, cumpre ver uma infinidade de circunstâncias esquecidas por eles próprios, e em que se acumulou o pó e as trevas de setenta anos."

            Ao leitor consciente e de boa vontade, aconselhamos a leitura de "No limiar do Etéreo", de A. Findlay, onde encontrará explicações claras e convincentes da fenomenologia espírita, que é fecunda em fatos de materializações, vozes e escrita direta, xenoglossia, tiptologia, psicografia, etc.

            E quanto aos fatos espíritas, vamos ver o próprio Maetelinck relatá-los, pois que eles se passaram entre Maeterlinck e uns amigos:

            "Uma noite, na abadia de Saint-Wandrille, onde costumo passar o verão, uns hóspedes, que tinham chegado recentemente, divertiam-se em fazer girar uma mesa de pé de galo. Eu fumava tranquilamente a um canto do salão, bastante longe da pequenina mesa, não tomando interesse nenhum pelo que se passava em volta dela e pensando em qualquer coisa. Depois de se ter feito rogar, como é de uso, a mesa respondeu que ocultava o Espirito de um monge do século XVII, enterrado na galeria oriental do claustro, debaixo de uma laje que tinha a data de 1693, Depois da partida do monge, que, de repente, sem razão aparente, recusou prosseguir na conversa, tivemos a ideia de ir, com um candeeiro na mão, à procura do túmulo, Acabamos por descobrir, ao cabo da galeria oriental, uma pedra funerária, em muito mal estado, partida, na qual se podia decifrar com custo, examinando de muito perto, a seguinte inscrição: A. D. 1693. Ora, no momento da resposta do monge, só estavam no salão os meus hóspedes e eu. Nenhum deles conhecia a abadia, tinham chegado naquela mesma tarde, alguns minutos antes do jantar, e depois da refeição, como anoitecera completamente, tinham adiado para o dia seguinte a visita ao claustro e às ruinas. A revelação, a não acreditarmos nos teólogos, só podia, pois, provir de mim. Eu julgava; contudo, ignorar absolutamente a existência daquela pedra tumular, uma das menos legíveis, entre umas vinte, todas do século XVII, que pavimentavam aquela parte do claustro",

            Vê-se, pois, que Maeterlinck afasta a hipótese telepática, tão do agrado dos céticos e materialistas, bem como a da sugestão.

            O ensino que as comunicações nos trazem, esclarece o outro lado da vida, que os teólogos dogmáticos procuram ocultar insidiosamente.

            Nenhum dos comunicantes se queixa dos tormentos infernais e nenhum deles se jacta de estar gozando as delicias paradisíacas. A vida no outro mundo prossegue sem solução de continuidade, a mesma vida espiritual. Reencarnação e comunicação dos Espíritos se relacionam entre si para formar a mais bela das filosofias: aquela que é capaz de desvendar todos os mistérios e mostrar o porquê da nossa existência material .

            O Espiritismo é a ponte colocada entre os dois mundos: o espiritual e o material, por sobre o abismo que os teólogos cavaram; é a força que vence a muralha erguida pela ciência, procurando interceptar o conhecimento da vida do Espírito. Com Maeterlinck, "exploremos o mistério da nossa vida, antes de renunciar a isso em favor do mistério da nossa morte". Só a reencarnação, com a doutrina das expiações e das purificações sucessivas, dá conta de todas as desigualdades físicas e intelectuais, de todas as iniquidades sociais, de todas as injustiças inevitáveis do destino.




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