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’Guia Prático
do Espírita’
por Miguel Vives y Vives
3ª Edição
Livraria Editora da Federação
Espírita Brasileira
1926
PREFACIO
Não sou
escritor, mas sou médium; pelo que nunca poderei ter a pretensão de haver feito
alguma coisa de bom por mim só; pelo contrario, se alguma coisa sair da minha
pena que mereça a aprovação de meus
irmãos, será e é dos bons Espíritos que me assistem; tudo quanto se note ou se
tenha notado de deficiente no que haja escrito e escreva, é obra da minha
inteligência; espero, porém, que os meus irmãos espiritas, que tão indulgentes
têm sido comigo, continuarão a sê-lo como até agora, sabendo compreender o bom,
que se deve aos espíritos e o insuficiente, que é meu.
Assentes
estes princípios, não hesito em entregar-me à inspiração, depois de havê-lo
pedido muito ao Pai ao Senhor e Mestre e aos bons Espíritos, a fim de poder
escrever um Guia Pratico, para que os espiritas tenham no primeiro ensejo que
se lhes ofereça e, sem grande trabalho, onde consultar nas diferentes situações
da vida.
Todos
nós sabemos que no muito que há escrito sobre o Espiritismo, e principalmente nas obras fundamentais de Allan Kardec, se encontra
o suficiente para achar a regra de conduta que nós os espiritas devemos seguir;
pelo muito que há a ler, porém, são muito poucos os espiritas que se dão ao trabalho de
estudá-la, talvez por falta de tempo, ou por outras circunstâncias de que a
vida está cheia.
Assim,
pois, neste Guia Prático do Espírita encontrarão meus irmãos alguns conselhos que lhes podem ser úteis seguir para achar a paz na
presente vida e alcançar uma boa posição no espaço.
Já
disse que sou médium e o tenho provado de tal maneira, que nenhum dos meus irmãos de Tarrasa (x) e de fora, que me tenham ouvido falar alguma vez, o duvidarão.
(x) Do Blog – Para saber mais sobre Tarrasa leiam “Memórias do Padre Germano” Edição FEB.
Meu
Deus! Que era eu antes de ser espírita? Um ente verdadeiramente esquecido por todos e incapaz de tudo; criatura tal, que me
achava sumido na mais critica e obscura situação em que um homem, nos dias mais
formosos da sua juventude, se pode encontrar. Tinha perdido a saúde; haviam-se
separado de mim todos os meus amigos; não tinha forças para trabalhar, tendo
estado cinco anos sem poder sair de casa; que tal maneira que a não ser a proteção dos pais de minha primeira esposa,
aos quais nunca serei bastante agradecido, teria que refugiar-me num hospital.
Havia cinco anos que esta situação durava, quando uns cunhados meus se mudaram
de Sabadell, em cuja povoação tinha vivido desde a minha infância, para
Tarrasa, e por misericórdia, mais que por outra causa, me levaram, a ver se a
minha saúde mudaria.
Era
no ano de 71 do século passado (1871) ; ao cabo de meio ano de viver em Tarrasa; fui um dia a Sabadell, onde meu irmão carnal me
falou de Espiritismo. No momento pareceu-me aquilo causa muito extraordinária;
mas, como meu irmão me falou tão formalmente e eu sabia quanto ele era sério e reto em todas as
circunstâncias de sua vida, compreendi logo que algo havia de verdade no que me dizia;
pedi-lhe algumas explicações e ele por única resposta mandou-me as obras de
Allan Kardec. Ler as primeiras páginas e compreender que aquilo era grande,
sublime, imenso, foi obra de um momento. Meu Deus, exclamei, que se passa em
mim?
Eu,
que tudo havia renunciado, acho agora que tudo é vida, que tudo é progresso,
que tudo é infinito; caí prostrado e admirado diante de
tanta grandeza e tomei a deliberação de ser espirita, de verdade, e de estudar o
Espiritismo e empregar todas as minhas forças em propagar uma doutrina que me havia dado, de novo, a
vida, e me havia ensinado, de maneira tão clara, a grandeza de Deus.
Comecei
a estudar e a propagar o Espiritismo; com alguns irmãos fundamos o Centro Espírita de Tarrasa “Fraternidade Humana”. Como
durante minha enfermidade me havia dedicado ao estudo de medicina, nos poucos
momentos que os meus sofrimentos me permitiam, comecei a curar enfermos, e foi tal a
proteção -que me foi concedida que muitas vezes os meus doentes ficavam curados antes de
tomar remédios, podendo citar alguns casos de curas surpreendentes nestas condições.
Como
a minha propaganda espírita produzia os seus efeitos, adquiria cada dia novas adesões, e começavam a manifestar-se ódios implacáveis;
no entretanto, a minha cabeça era um vulcão de ideias. Antes de ser espirita era incapaz
de pronunciar uma pequena oração ante uma dezena de pessoas; depois de ser espírita
cobrei valor e serenidade tais que nada me impressionava nem me impressiona.
Para
demonstrar o poder da mediunidade direi que fui dez anos médium falante semi inconsciente; durante esses dez anos não estive
numa só festa em que não recebesse e desse comunicação, gozando durante todo esse tempo
de saude muito regular.
Depois
desse período tive que deixar a mediunidade, por causa de uma enfermidade que me impediu de assistir a reuniões espiritas,
cerca de quatro meses, único período de tempo em que deixei de assistir a elas
durante os trinta e dois anos que conto como espirita, ora como médium, ora como presidente de sessões; e
ainda hoje a minha inspiração é tão potente e tão clara que basta estar numa sessão
espirita para que me sinta inspirado para falar todo o tempo que quero.
Para
dar uma prova do que afirmo, vou contar o que se deu comigo pelo Natal do ano passado.
Fazia
vinte e cinco anos que eu recebera uma comunicação muito extensa e muito
expressiva sobre um dos pastores que foram adorar o Messias no estábulo de Belém.
Aquela
comunicação deixou muito impressionados os irmãos que se reuniram no Centro de
Tarrasa naquela época. Dias antes do Natal, um dos irmãos que ainda se
recordava daquela comunicação trouxe-a à lembrança; vieram-me, pois, desejos de possuí-la;
logo que me senti impulsionado, pus-me a escreve-la, e
em duas horas escrevia tão perfeito, que os que a tinham ouvido naquela época,
exclamaram admirados: é igual; não falta nem um conceito, nem um detalhe! Digo
isto para provar a força da minha mediunidade. Oh!, meu Deus! Quão grato vos
devo ser! Quão grandes são vossos desígnios! foi quiçá necessário que eu
passasse por uma grande e prolongada aflição antes que me viesse a luz do
Espiritismo! se tivesse gozado boa saúde, ter-me-ia engolfado nas distrações do
mundo, e distraído e preocupado com as coisas da Terra, não teria feito caso
daquilo que hoje tanto amo e tanto me tem servido e me há de servir no futuro.
Graças, meu Deus; meu Onipotente, meu Soberano! Hoje reconheço vossa grandeza,
vosso amor, vossa previsão, e reconheço que a vossa providência chega a todos e
que sempre dais a todos e a todas as coisas, o melhor, e o mais justo. Eu vos
amo, vos aplaudo, vos adoro com toda a minha alma, e o meu reconhecimento para
convosco é tamanho que não tem limites; vejo a vossa grandeza em toda a parte e
em tudo vos admiro, vos amo e vos adoro; e sobretudo onde vejo mais sublime a
vossa grandeza é na lei de humildade que estabelecestes para que nós os homens
cheguemos a nos amar como verdadeiros irmãos.
Quando
medito sobre o drama do Calvário e vejo o Ser maior que veio a encarnar-se
neste mundo, submetido a tanto sofrimento e a tanta dor, exclamo:
- Se
Aquele que era e é mais de que todos que habitamos neste mundo, não veio para cingir uma coroa e empunhar um cetro, mas para ser
o mais humilde, o servo de todos, o que curou as doenças da humanidade, o que sofreu
todas as impertinências, todos os suplícios e deu tão grande exemplo de paciência,
humildade e perdão, e que é Pai, oh! Vós, Senhor, não admitis categorias nem
grandezas humanas, nem ostentação, mas virtude, amor, pureza, sacrifício,
caridade; e a vossa lei exalça o abatido, consola o aflito, e o mais humilde é
o maior se é virtuoso e bom.
Então,
busco a lei proclamada pelo Humilde dos humildes, o Bom dos bons, o Pacífico
dos pacíficos, o que por sua elevada conduta é o Rei de todos os corações
justos, o que dirige todas as consciências puras, o que encaminha todos os que
queremos ir a Vós; por isso eu o admiro na lei proclamada, nos exemplos dados,
e me inspiro nas palavras que pronunciou; e como ele disse que devemos perdoar,
perdoo todas as ofensas; e como ele disse que devemos amar, amo a todos os meus
irmãos; e como ele disse que o que quisesse segui-lo devia carregar a sua cruz,
eu a carrego sem me queixar e a sua figura me parece tão grande, que, depois de
Vós, meu Pai, é Ele o meu amor, a minha esperança, o meu bem, o meu consolo!
Senhor! Seguindo-vos, acharemos a nossa felicidade, o nosso gozo, a nossa vida
eterna; seguindo-vos, sentiremos paz na alma, porque seremos pacíficos e
humildes; seguindo-vos, teremos nosso espírito cheio de esperança; por isso vos
sigo, como o criado segue o amo, como o inocente segue sua mãe, e quando me
acabrunhem os sofrimentos, olho-vos cravado na cruz e sigo firme até o Calvário
da minha vida, não afastando de mim a recordação do grande exemplo que nos destes
e levando em meu coração a gratidão e o respeito de que sois credor por tão
sublimes virtudes praticadas por Vós, para nos ensinar o caminho que conduz à
felicidade eterna.
Peço
indulgência ao leitor por haver-me alongado nas considerações anteriores;
consideraria, porém, falta de gratidão e de respeito ao que tudo pode, se antes
de entrar no assunto do Guia Prático do Espirita não desse testemunho de amor e
de adoração ao Pai e de gratidão e submissão ao Senhor e Mestre.
Miguel Vives
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