quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

7. 'As Vidas Sucessivas'



7

‘As Vidas
Sucessivas’

por  Adauto de Oliveira Serra

 Livraria Editora da Federação Espírita Brasileira

1943



LEIS MORAIS


            A ínfantilíssima lenda da queda de Adão não explica a origem do mal na Terra e não resolve a desigualdade social da humanidade. Seria o mesmo que um juiz condenar um homem qualquer, só porque um de seus antepassados, de muitos anos, houvesse cometido um crime! E, se assim procedendo, esse juiz praticaria clamorosa injustiça. Deus, em ser Bom e Justo, menos poderia responsabilizar-nos por faltas que não cometemos.

            É mais lógico, mais racional, supor a alma simples e ignorante em sua origem, com todas as possibilidades de evolução e gozando de plena liberdade em seus atos. A lei do progresso não admite estacionamentos: tudo tende a evoluir. E nós nos encontramos sujeitos, mais que ninguém a essas mesmas leis.

            Da liberdade que gozamos decorre a responsabilidade de nossos atos. O mal realizado só será redimido quando expiado e reparado, mais cedo ou mais tarde, pela própria pessoa infratora das leis divinas. Ninguém poderá furtar-se à responsabilidade moral do ato que realizou. Sendo o ato bom, a reação benéfica, dele decorrente, será a sua recompensa; sendo mau, terá sua reação maléfica, que irá constituir a punição para quem o praticou.

            O que sofremos hoje é consequência do que fizemos no passado; e o que fazemos agora, será causa para nossa vida futura.

            Só assim poderemos admitir um Deus Justo e Bom, permitindo o nascimento de aleijados e cegos de nascença, que ainda não pecaram na atual existência.

            As leis de Deus são eternas e imutáveis e Ele nunca as derrogou para produzir um milagre, favorecendo este ou aquele filho, só porque pertence a esta ou aquela religião e reza desta ou daquela forma. A verdadeira religião - a Moral Evangélica, é universal e não comporta sectarismos. O homem não tem necessidade de religião para salvar-se, uma vez que a sua evolução se processará de acordo com os seus atos.

            O erro que cometemos será resgatado à custa de um arrependimento sincero; da expiação que constitui as suas consequências, e da reparação do agravo feito às leis que regem o mundo.

            Nós aprenderemos a nossa própria custa, com esforço pessoal, como a criança que pela primeira vez vê e toca uma brasa. Ela queimou-se porque ignorava que a combustão podia molesta-la. Não foi castigada, foi ensinada.

            Soframos, pois, com resignação e paciência as consequências de nossos erros pretéritos e envidemos esforços em preparar melhor o futuro. Não acreditemos que só um milagre nos poderá salvar. O milagre não existe.

            Ernest Renan, em "Vida de Jesus", no apêndice, pág. L e LI, diz: "Só se operam milagres em tempos e em países em que se crê em milagres, na presença de pessoas que estão dispostas a lhes dar crédito".

            Creiamos, sobretudo, que céu e inferno são estados de consciência, que atuam em nosso modo de pensar, sentir e agir porque dizem os Evangelhos: "O reino de Deus está dentro de vós".












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