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‘As
Vidas
Sucessivas’
por Adauto de Oliveira Serra
Livraria Editora da Federação Espírita
Brasileira
1943
LEIS MORAIS
A
ínfantilíssima lenda da queda de Adão não explica a origem do mal na Terra e
não resolve a desigualdade social da humanidade. Seria o mesmo que um juiz condenar
um homem qualquer, só porque um de seus antepassados, de muitos anos, houvesse
cometido um crime! E, se assim procedendo, esse juiz praticaria clamorosa
injustiça. Deus, em ser Bom e Justo, menos poderia responsabilizar-nos por
faltas que não cometemos.
É
mais lógico, mais racional, supor a alma simples e ignorante em sua origem, com
todas as possibilidades de evolução e gozando de plena liberdade em seus atos.
A lei do progresso não admite estacionamentos: tudo tende a evoluir. E nós nos
encontramos sujeitos, mais que ninguém a essas mesmas leis.
Da
liberdade que gozamos decorre a responsabilidade de nossos atos. O mal
realizado só será redimido quando expiado e reparado, mais cedo ou mais tarde,
pela própria pessoa infratora das leis divinas. Ninguém poderá furtar-se à
responsabilidade moral do ato que realizou. Sendo o ato bom, a reação benéfica,
dele decorrente, será a sua recompensa; sendo mau, terá sua reação maléfica,
que irá constituir a punição para quem o praticou.
O
que sofremos hoje é consequência do que fizemos no passado; e o que fazemos
agora, será causa para nossa vida futura.
Só
assim poderemos admitir um Deus Justo e Bom, permitindo o nascimento de
aleijados e cegos de nascença, que ainda não pecaram na atual existência.
As
leis de Deus são eternas e imutáveis e Ele nunca as derrogou para produzir um
milagre, favorecendo este ou aquele filho, só porque pertence a esta ou aquela
religião e reza desta ou daquela forma. A verdadeira religião - a Moral
Evangélica, é universal e não comporta sectarismos. O homem não tem necessidade
de religião para salvar-se, uma vez que a sua evolução se processará de acordo
com os seus atos.
O erro
que cometemos será resgatado à custa de um arrependimento sincero; da expiação
que constitui as suas consequências, e da reparação do agravo feito às leis que
regem o mundo.
Nós
aprenderemos a nossa própria custa, com esforço pessoal, como a criança que
pela primeira vez vê e toca uma brasa. Ela queimou-se porque ignorava que a
combustão podia molesta-la. Não foi castigada, foi ensinada.
Soframos,
pois, com resignação e paciência as consequências de nossos erros pretéritos e
envidemos esforços em preparar melhor o futuro. Não acreditemos que só um
milagre nos poderá salvar. O milagre não existe.
Ernest
Renan, em "Vida de Jesus", no apêndice, pág. L e LI, diz: "Só se operam milagres em tempos e em países
em que se crê em milagres, na presença de pessoas que estão dispostas a lhes
dar crédito".
Creiamos,
sobretudo, que céu e inferno são estados de consciência, que atuam em nosso
modo de pensar, sentir e agir porque dizem os Evangelhos: "O reino de Deus
está dentro de vós".
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