sexta-feira, 26 de outubro de 2012

Examinai Tudo...






Examinai Tudo

            As Igrejas reformadas proclamaram o direito e o dever de cada crente examinar livremente as Escrituras, em vez de deixar ao Clero essa tarefa. Foi um grande bem, porque nos diferentes graus de evolução de cada Espírito encarnado, as Escrituras não interessam do mesmo modo e por igual à todos, e não podem ser interpretadas unilateralmente para a coletividade. Cada crente, realmente, fará nelas as descobertas que lhe são mais necessárias no momento e não poderia confiar a outrem essa tarefa.

            Apoiando esse dever de livre exame, citam a cada instante as seguintes palavras de Paulo, em sua Primeira Epístola aos Tessalonicenses, cap. 5, versículo 19 a 21:

              "Não extingais o Espírito; não desprezeis as profecias, mas ponde tudo à     prova, retende o que é bom."

            Por vezes abreviam em forma de máxima: "Examinai tudo e aceitai o que é bom", o que não prejudica o pensamento de Paulo, do grande Inspirado. Mas, precisamos examinar o sentido que tinham essas palavras ao tempo de Paulo, e para isso basta folhearmos o Livro de Atos dos Apóstolos, onde leremos:           .

             2: 1/4: ”Ao cumprir-se o dia de Pentecostes, estavam todos reunidos no mesmo lugar; de repente veio do céu um ruído, como de um vento tempestuoso, que encheu toda a casa onde estavam sentados e lhes apareceram umas como línguas de fogo, as quais se distribuíram, para repousar sobre cada um deles. Todos ficaram cheios do Espírito Santo e começaram a falar em outras línguas, conforme o Espírito lhes concedia que falassem."

            5: 16: “Também das cidades circunvizinhas de Jerusalém afluía uma multidão trazendo enfermos e atormentados de espíritos imundos, os quais eram todos curados."

           6:9/10:  " ...disputavam com Estevão; e não podiam resistir à sabedoria e ao Espírito pelo qual ele falava."

          8: 7: "Pois os espíritos imundos de muitos possessos saíam, clamando em alta
voz!' 

         8 29: “Disse o Espírito a Felipe: Aproxima-te e ajunta-te a este carro."

        10:19/20: "Enquanto Pedro estava meditando sobre a visão, disse-lhe o Espírito: Eis que dois homens te procuram; levanta-te, pois, desce e vai com eles, nada duvidando; porque eu os enviei!'

        11: 12: (Fala Pedro): “O Espírito disse que eu fosse sem escrúpulo com eles."

        15: 32: "Judas e Silas, que eram também profetas ... "

        16: 16/18: "Enquanto íamos ao lugar de oração, veio-nos ao encontro uma moça que tinha um espírito adivinhador, a qual com as suas adivinhações dava muito lucro aos amos. Ela, seguindo a Paulo e a nós, clamava: Estes homens que vos anunciam o caminho da salvação, são servos de Deus Altíssimo. E fazia isso por muitos dias. Mas Paulo, enfadado, virou-se para ela e disse ao Espírito: Eu te ordeno em nome de Jesus Cristo que saias dela; e na mesma hora saiu."

         19: 12:  "... e deles saíam os espíritos malignos."    

         21: 4: "... e eles pelo Espírito diziam a Paulo que não entrasse em Jerusalém!'

         23: 9: "... e quem sabe se lhe falou algum espírito ou anjo?"

         Como se vê dessas citações, os Discípulos de Jesus, ao tempo de Paulo, achavam-se em constantes relações com Espíritos bons e maus, e os que, como Judas e Silas, possuíam faculdades mediúnicas, eram chamados Profetas. Regressando aos tempos de Paulo pelo estudo do Novo Testamento, vemos que só há diferenças de palavras: chamavam possessos aos obsidiados, profetas aos médiuns e profecias às comunicações de Espíritos superiores, mas os fenômenos eram os mesmos de hoje e de todos os tempos. Portanto, as palavras de Paulo, postas em linguagem moderna, seriam assim traduzidas:

            "Não impeçais ao Espírito comunicar-se; não desprezeis as comunicações, mas examinai-as bem e só retende as boas."        

            Isso mesmo recomendam Kardec e todos os espíritas esclarecidos e prudentes. Logo, os versículos citados tão frequentemente pelos nossos irmãos das Igrejas reformadas, não significam - como eles supõem - que o livre exame deve limitar-se às Escrituras e que a Revelação terminou em Apocalipse. Muito ao contrário, refere-se Paulo precipuamente às comunicações dos Espíritos, ao que modernamente chamamos Espiritismo.

            Na forma abreviada, poderíamos redigir assim: "Examinai tudo o que dizem os Espíritos e aceitai o que for bom".

            Como o materialismo que invadiu as Igrejas, quase todos os ensinos da Bíblia se tornaram incompreensíveis ou até ridículos para o homem moderno; mas a Verdade eterna nunca será sepultada. Quem haja lido a moderna literatura espírita, volte a reler a Bíblia e lá encontrará os mesmos fenômenos de todos os tempos. Em vez de destruir as Escrituras, o Espiritismo lhes projeta nova luz, é chave para muitos mistérios, resolve muitas obscuridades.

            O Cristo e os primeiros cristãos curavam os enfermos, afastavam os obsessores, mas as Igrejas perderam a fé e abandonaram as práticas cristãs que só agora ressurgem com o Espiritismo. Quanto às instruções que os Discípulos de Jesus recebiam diretamente dos Espíritos, as Igrejas as classificam hoje em duas categorias: "embuste ou diabolismo", e não percebem que estão destruindo seus próprios alicerces, porque foram fundadas sobre essas mesmas comunicações. - Perderam a fé e, como Pedro, estão afundando.

            Entendamos, pois, as palavras de Paulo, referindo-se às Escrituras existentes em seu tempo, cujo estudo era livre aos leigos, mas mui especialmente às comunicações que amiúde seus contemporâneos recebiam dos Espíritos, e, assim, sigamos lhe o inspirado conselho: Examinemos todas as comunicações, e retenhamos as que são boas.

            Em luta contra a Igreja Católica Romana, que não permite aos leigos o exame das Escrituras, os nossos irmãos protestantes interpretam as palavras do Apóstolo dos Gentios como referentes à Bíblia, sem se lembrarem de que em tal sentido as palavras seriam intempestivas, porque nenhuma Igreja, ao tempo de Paulo, era contrária ao livre exame. Só três ou quatro séculos mais tarde o livre exame sofreu contestação eclesiástica. No entanto, prestaram os protestantes grande serviço inconsciente, porque nós repetiremos com Paulo e no mesmo sentido: "Não frustreis o Espírito: examinai tudo e aceitai o que é bom".

Redação
Reformador Agosto 1946


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