Cristo
Vencerá
Hernany T. Sant’Anna
"As
mágoas do mundo vão tomar vulto impiedoso."
Emmanuel
("Reformador", Fevereiro, 1948.)
"E a
condenação é esta: que a Luz veio ao mundo,
e os homens
amaram mais as trevas que a Luz,
porque as
suas obras eram más." João, 3:19.
Os bafos sufocantes da borrasca
acaloram a atmosfera do mundo e a dor lacera sem
piedade as almas transidas de pavor. Do pélago abissal da miséria humana sobem gemidos
abafados e angustiosos. O medo domina os corações ensombrecidos das criaturas.
Algo de terrível se prenuncia e se teme. Catástrofes pavorosas se preparam para
dias não longínquos. Paira no ar uma incerteza profunda.
Há
um arrepio de maus presságios varando o
misterioso arcano do futuro.
Durante séculos a fio a humanidade
acumulou montanhas de ódios, e já a emanação sedimentosa dos pensamentos
sombrios e ferozes se aglomera sobre a Terra, em espessas camadas superpostas e
ameaçadoras, que lembram cirros virulentos e invisíveis...
O monstro da destruição, por ela
alimentado com tanta solicitude, rosna sanhudo à sua face, qual áspide
principescamente criada para o assassínio traiçoeiro do seu dono!
O vendaval não tarda a desencadear
sobre as valas torturadas do orbe a procela furiosa
que se alimenta de sangue e que se banha nas lágrimas!
Relegado o Evangelho do Cristo,
olvidados os seus divinos ensinamentos, ergastulado no cárcere dos dogmas o
espírito sublimado da sua Doutrina de Amor que outra coisa poderia suceder à
humanidade desvairada, senão a completa bancarrota dos seus princípios
superiores esmagados perante o esquife da justiça, apunhalada pelo egoísmo feroz,
nos delírios da vaidade e da rapina?
Na orgulhosa presunção da sua
trágica cegueira, o homem rejeitou a direção de Jesus chafurdando-se no mar das
experiências dolorosas do desvario e dos crimes. Agora, num crepúsculo agoniado
de jornada, treme assustadiço ante os densos novelos de fumaça que sobem do
monturo letal dos próprios erros!
Armados até os dentes, espreitam-se
os povos, numa estranha dança de malabarismos fatídicos, temendo pela própria
sorte! As máquinas de obstrução criadas pelo homem ameaçam-lhe a própria
subsistência e a dura necessidade de paz não consegue suplantar a fantástica
miragem da luta de extermínio!
Eis o salário da rebeldia humana!
Eis o altíssimo preço da ambição!
A tormenta desabará. A Justiça
Divina que dá a cada qual segundo as suas obras, não
susterá o automatismo da lei de causa e efeito que o Espiritismo tão bem define
e prega. A sementeira de maldades e ignomínias rebentará num oceano de frutos amargurosos
de prantos e de dores, e o homem aprenderá, por fim, que o Evangelho do Senhor
não é um conto de fadas, mas uma Lei de Vida que ninguém pode violar sem
funestas consequências.
Então, raiará para a Terra um Novo
Dia. As lições maravilhosas de Jesus, vivificadas e restabelecidas em sua
pureza original pela 3ª Revelação, regerão as manifestações do sentimento
enobrecido nas forjas da amargura. Uma Nova Aurora despontará, fecunda, para
este orbe triste e malsinado, e a aleluia de há dois mil anos ressoará mais
vívida e mais clara, nas quebradas dos nossos alcantis.
O Espírito do Bem reinará na alma
dos homens!
Cristo
vencerá!
Reformador (FEB) Novembro 1948
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