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Vimos precedentemente que, ao
despojar-se do envoltório físico, um prazo mais ou menos longo decorre para o espírito,
antes que possa este, vencida a fase de perturbação que geralmente acompanha o
fenômeno da morte, se integrar na plenitude da consciência individual e, conseguintemente, das aquisições
anteriores que lhe correspondem.
Franqueado esse passo, isto é,
dissipada aquela espécie de letargia, que o mantivera inconsciente na fronteira
dos dois mundos, é que começa verdadeiramente para o espírito a existência
espiritual, em cujos elevados, dignificadores e transcendentes misteres vai
novamente ser iniciado.
Em que irão daí em diante consistir
as suas ocupações? - Tal foi a pergunta que, muito atrás deixamos formulada,
mas que a necessidade de outros desenvolvimentos, reclamados pela conexão dos
assuntos que se foram logicamente sucedendo, nos induziu a deixar até agora
sem resposta.
Desembaraçado das pesadas roupagens
da matéria e, portanto, da constrangedora limitação dos sentidos corporais, que
lhe não permitiam mais que uma superficial e por isso mesmo ilusória apreciação
do mundo exterior; transferido assim do plano dos efeitos, que é o nosso, ao
das causas, em que não somente se preparam os sucessos que aqui se realizam,
mas a vida ostenta os esplendores de sua gênese remota; restituído, numa
palavra, a sua fonte originária, em que pode consistir a ocupação do espírito
senão em se instruir?
E essa instrução não se entende
unicamente dos espíritos cuja mentalidade, volvida desde a Terra para a cogitação
dos torturantes problemas da ciência e da filosofia, encontra no invisível, com
um maravilhoso e ilimitado campo de pesquisas, as mais seguras possibilidades de
certeza, senão que é igualmente acessível aos mais vulgares e modestos, aos que
apenas decifram as primeiras singelas estrofes do poema sem fim da evolução. A
uns o estudo
das leis que regulam o variadíssimo e eterno ritmo da vida e, sobretudo , o conhecimento
da Vontade que as mantém e de que a sua maior felicidade consistirá em se fazerem
executores e instrumentos, como teremos ocasião de mais desenvolvidamente examinar em capítulo adiante; a outros o
subalterno encargo de servir as formas inferiores da atividade humana, em tudo o
que tem de pessoal e transitório.
E assim, distribuídos pelas diferentes
esferas fluídicas dicas, ou etéreas, de que falávamos há pouco, umas às outras
se interpenetrando, haverá para todas as categorias de
espíritos ocupações apropriadas às suas aptidões, ao grau de moralidade e
inteligência em que se encontrem. Podendo, sem ser vistos, misturar-se com os
homens, imiscuir-se em seus atos e deliberações e com tanta facilidade se mover
na atmosfera, como penetrar no seio da terra
e na profundeza das águas, sem serem afetados por esses elementos, graças à
permeabilidade do corpo etéreo que os reveste, compreende-se assim que múltipla
atividade se acham em condições de desenvolver os espíritos, constituindo
sempre, qualquer que seja a categoria a que pertençam, um campo de aprendizado
e de progresso o meio em que operam.
Nem sempre de progresso – retifiquemos.
Porque, no que se refere à ação oculta sobre os homens, não é proveitosa ao
adiantamento dos seres invisíveis que a exercem senão a que se inspira na
grande lei do Amor e, conseguintemente, nos sentimentos de fraternidade e de
solidariedade encaminhada ao bem.
Acontece, entretanto, que, atraídos
pelas paixões grosseiras que ainda em tão larga escala infelicitam a humanidade,
comprazendo-se, portanto, em permanecer na atmosfera que imediatamente a
envolve, saturada dos pesados eflúvios que de tais paixões constantemente
emanam, a ação dos espíritos terra a terra antes se faz sentir no sentido de as
reforçar, estimulando-as, com isso participando das responsabilidades dos que
se constituem seus escravos, que no de as neutralizar e combater. Por fortuna,
essa atividade malfazeja é contrabalançada pela dos bons espíritos, empenhados
infatigavelmente em atrair os
homens à consciência dos deveres e à pratica do bem, ou - para empregarmos a
consagrada formula - ao caminho da regeneração.
E não é somente no domínio da moral
- assinalemos de passagem - que se faz sentir sobre os humanos a ação dos seres
invisíveis. Todos os que se aplicam aos trabalhos intelectuais - pensadores, literatos,
filósofos, artistas - ou se encaminhem as suas faculdades à penetração
dos segredos da natureza, como os inventores e os sábios, ou a exprimir a
Verdade e o Belo em lapidares formas, contribuindo com suas obras para o patrimônio
comum da civilização, todos os que; numa palavra, se constituem apóstolos ou,
pelo menos, servidores do progresso humano em qualquer de suas variadíssimas
modalidades, são sempre assistidos por espíritos que, simpatizando com suas
aptidões, lhes transmitem, como uma sorte
de estímulo e de premio ao seu labor, o que se chama inspiração" (1).
(1) Pretende o Dr. Gustave Geley (ver L'ÊTRE
SUBCONSCIENT, págs , 107) que a Inspiração "nos homens de gênio ou de talento
e pura e simplesmente o resultado da sugestão do Ser subconsciente."
Sem desconhecermos, nem ainda menos
contestarmos a parte que, nas produções do gênio, deva ser atribuída às aquisições
anteriores do espírito, latentes nas profundezas da subconsciência, reivindicamos
todavia para os espíritos prepostos à evolução da humanidade a intervenção que
logicamente lhes deve caber no mecanismo da inspiração.
Dá-se assim da parte dos seres desencarnados
e em todas as manifestações da atividade humana uma sistemática e generalizada
colaboração, de que o homem vulgar não faz a mais ligeira ideia e em que,
todavia, reside a explicação da marcha ascensional, posto que jamais uniforme e
não poucas vezes acidentada de perturbações e de recuos, pelo menos na aparência,
que vem através os séculos realizando a humanidade e que se traduz como a emersão da nossa espécie dos ínfimos graus de embrutecida barbaria aos píncaros
de uma civilização, que embora represente ainda um ideal distante, há de um dia
ter na Terra a sua plenitude.
É porque esse imenso rebanho, que
nós somos, não se move ao acaso, senão que obedece a uma diretriz suprema em
cujo rumo se encarregam de nos orientar desde as mais altas entidades espirituais,
propostas à execução das divinas volições, até as que mais de perto nos
assistem, inspiram e estimulem, que já foi possível acrescentar à ciência ,
como um novo ramo, a sociologia, e as suas leis puderam ser deduzidas com uma
inflexibilidade aproximada ou semelhante, na ordem moral, à das que regem os fenômenos
do universo físico.
Há, pois, um plano traçado à existência
e ao caminhar da humanidade, e esse plano se chama evolução. Mas a evolução não
se limita nem se poderia limitar a ser uma espécie de imperativo convite a
nossa espécie no sentido de um crescimento, moral pela aquisição e aumento de
virtudes, e intelectual pela incessante dilatação da órbita dos conhecimentos; abrange, e tem que
forçosamente abranger, todas as formas e todas as manifestações da vida,
o que importa dizer que não somente a totalidade dos seres, dos mais elevados
aos mais ínfimos, que povoam o nosso mundo e constituem a sua denominada
natureza viva, mas o próprio mundo, em sua estrutura física e nos elementos
ditos inanimados que o integram, está sujeito a essa mesma lei.
Tudo progride, se transforma e
aperfeiçoa, a impulsos de uma vontade soberana, invisível em sua fonte, servida
em todos os graus da hierarquia espiritual e planetária por inteligências
a essa mesma lei.
De que veículo se servem tais
inteligências para levar à execução o plano evolutivo? - De uma prodigiosa
força, impalpável em sua essência, incalculável em suas consequências e
efeitos, força que por desventura nossa não aprendemos ainda a utilizar
convenientemente: o pensamento.
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