quarta-feira, 5 de setembro de 2012

17. "Amor à Verdade"


17
“Amor à Verdade”
por Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927



 Alvorada


            Açulando a nossa ingênita curiosidade, o evolucionar dos povos leva-nos a pesquisar a razão de ser das coisas, as quais, todavia, nem sempre sabemos bem interpretar.

            Entre outras, nota-se a desigualdade das condições, dos sentimentos e das raças, do que tudo resulta, aliás, um equilíbrio para a vida terrena.

            Não raro vemos, por exemplo, a gente negra, já de seu natural humilde, feita alvo do menosprezo de seus semelhantes; e mais: do ódio que lhe votam, de séculos, insanamente, certos povos. Quem não ouviu aí a frase insensata: “Negro não é gente!” Não, não devemos assim amesquinhar a obra do Criador, que só poderia tê-la organizado sabiamente.

            A razão de ser de quantas aparências nos concitam à critica - irrisória crítica, não há dúvida - está na evolução, na vida pretérita de indivíduos e nações. Almas que faliram quando ricas - hoje lutam, expiando, com a pobreza; almas orgulhosas, que humilharam - hoje são humilhadas, conduzidas a escamar-se em baixa classe e servir a quem já lhes serviu, digerindo assim as consequências de suas anteriores faltas.

            Principalmente de certa data para cá, acentuadas e sucessivas modificações tem-se operado nas ideias e costumes dos homens, apesar do orgulho e da ambição, causas ainda de reiteradas pelejas, tremendas guerras, por sua vez seguidas da dor, da fome e da miséria.

            Assim é porque os homens são maus; porém Deus consola os aflitos e substitui pouco a pouco a população de irrefletidos, que só às duras se regeneram, por almas que também foram viciosas, mas que tangidas pela divina mão, toparam a felicidade, aprendendo a bem dizer a dor. Cheias de gratidão ao Pai, que lhes concedeu, como infalível medicina, para seu mais rápido voo, a visita do sofrimento; amando já os infelizes que atuaram como instrumento dele, correm agora a ajudá-los para que de sua parte também se elevem.

            A obra do Criador é incessante; e os progressos morais que devemos alcançar tem como fatores máximos a dor e o amor.

            Sublimemo-nos portanto em nossos conceitos, e busquemos ver no pobre, no maltrapilho, no preto, uma alma que expia e, por conseguinte, se aproxima da luz - ou um espírito já de certo mérito, que toma a vida rasteira para mais se exalçar.

            Melhor, muito melhor,  acerca de tudo isto nos instrui, conforme segue, o nosso desvelado Guia.

            “Paz de Maria seja contigo.

            “A luz sublime, que irradiando do Mestre vem iluminar a Terra com o esplendor que lhe é peculiar, torna-se irresistível ao mais endurecido espírito que de longo viva na maior ignorância da lei e do amor.

            “À seara tem-se de dia em dia enriquecido com  a conversão metódica e segura que vimos fazendo em diversos pontos onde se nos oferecem elementos.

            “No espaço, mais do que nunca, agita-se a alma em busca da luz, do amor e da verdade.

            “Os trabalhos multiplicam-se cada vez mais; e se Deus permitir, entre os homens baixarão enviados que, pelo saber e pela moral, despertem para as coisas superiores os habitantes da terra.

            “Disse Jesus que a seu tempo mandaria o Espírito da Verdade; pois aproxima-se o momento:  entre alegrias dos grandes do espaço e júbilo dos pequenos da terra, brilhará o farol que deve orientar a humanidade.

            “Enorme tem sido a cegueira dos homens, assim o egoísmo entre irmãos, que, amparando-se mutuamente, o que deviam é convergirem para a luz e a verdade.

            “Outrora, quando Jesus falava ao povo, lutava por vencer as dificuldades naturais devidas ao atraso da população; hoje, a maior parte fez relativo progresso, o bastante para compreender que Deus existe e ama a todos os seus filhos, esperando-os de braços abertos.

            “Abençoado seja pelo Altíssimo o que sofre por amor do bem; porque a esse lhe será dada muita felicidade, paz e sabedoria: infeliz, porém, do que persegue; porque, assim fazendo, retarda o abrir do dia que tem de aclarar a estrada do futuro.

            “Breve teremos novos lumes pairando, sobre os médiuns de boa vontade, visto como as suas preces são ouvidas, o seu amor sentido, o seu trabalho favoneado (favorecido).

            “Reprimir uma pessoa a voz da razão, quando lhe diz que não conhece a verdade, que está fora e longe dela, é procurar não só a ruína do seu próximo, senão ainda a infelicidade própria, de que só muito tarde se poderá desimpedir.

            De todos os tempos, Deus, em sua infinita misericórdia, tem enviado mensageiros para ativarem o progresso, sendo eles sempre perseguidos e odiados, vítimas, na Terra, das ingratidões daqueles mesmos por quem veem pugnar.

            Agora, porém, fulgirá o mundo com a multidão de enviados que vão baixar; sujeitos às leis dos homens e da matéria, devem receber a luz e coá-la  nas trevas, até que sejam estas inteiramente dissipadas.

            “Milhares de espíritos convertidos principiam, pela reencarnação, a tomar parte no renovamento dos povos. Almas que pela primeira vez revestem corpo em provas escolhidas e estudadas para o seu adiantamento, são pequenas e fracas, e tudo quase tem ainda que fazer mas tem fé; confiam; e Deus, que conhece todos os pensamentos, até os mais ocultos, mandará também seus filhos diletos, a fim de que, ao lado daquelas, possam confortá-las nas diferentes provas, ensinando-lhes a abençoar a dor e perdoar as ofensas. Dias terão, certo é, de angustias; estas, porém, ser-lhes-ão quais meros acidentes, sem força  já de as conturbarem, por fortes agora em Deus.

            “Dos iluminados um será maior e só virá quando tenham preparado a regeneração dos infelizes do espaço, para que sua obra seja proveitosa à coletividade.

            “Sim, tudo isso dar-se-á; e a substituição dos habitantes da terra já foi iniciada, não podendo, entretanto, deixar de ser gradativa, pois muitas lutas ainda surgirão entre os homens, que precisam de expiar, e só com a dor se emendam.

            “Deus, meu carinhoso filho, permitiu para breve a luta entre povos que se hostilizam por ódio e orgulho, tendo como pretexto a disparidade das raças. Eterna cegueira da espécie humana, que só busca as exterioridades, o que faz até no culto a Deus. A guerra que se prepara e rebentará ainda em teus dias de vida, obedece a um ensino que deve ser dado à humanidade, convém saber: os orgulhosos serão humilhados.

            “Nascer, crescer, evoluir sempre - eis o dever do homem; odiar, perseguir, humilhar - eis a desobediência aos ensinos. Infelizes obcecados pelas grandezas terrenas, sem compreenderem que assim a pobreza como a fortuna são provas para o progresso e  que a raça tanto como a inteligência são meios de contrabalançar os povos, para que, com a lei da equidade, possa a harmonia permanecer entre eles, vem, tais infelizes, em seu irmão um inferior, porque é preto, ou porque é pobre, não se lembrando de que o preto de hoje foi o branco de ontem, do mesmo modo que o será novamente amanhã.

            “Os de pele tisnada merecem ser tratados com carinho, atento que, entre eles, não só se encontram espíritos que sofrem as duas provas, como entes queridos que, para alcançarem maior avanço, procuram humildar-se, resgatando, ao mesmo tempo, certas dívidas com o servir a outros a quem no passado prejudicaram.

            “Raça inferior, dizem muitos, sem desconfiarem sequer que no seio deles se contam iluminados espíritos, aos quais os graúdos da Terra terão que se curvar envergonhados de serem tão menores; almas simples, que sofrem pesadas humilhações e com elas ensinam a orgulhosos e maus, que tem por expiar crimes bem mais tenebrosos do que as cores que tão vãmente desprezam, insensatos e pueris desconhecedores da solicitude do Criador e da luta para o engrandecimento.

            “Espíritas! agora mais do que nunca, abri o coração à dor e, sem temê-la, cumpri vosso dever. Deus vos fez depositários de um tesouro tal, que quanto mais dele derdes, tanto mais tereis.

            “Mãos à obra, pois; e ajudai, como trabalhadores da seara, que sois, a rasgar o aceiro por onde virão os portadores da luz que deverá resplandecer sobre as vossas cabeças, guiando-vos na interpresa.?

            Deus espera o concurso de cada um na grande obra da regeneração. Mas ai dos de vós que vos tornardes maus depositários dos ensinos, desvirtuando-os pelo interesse e vãs paixões: caro vos custará!”



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