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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
Alvorada
Açulando
a nossa ingênita curiosidade, o evolucionar dos povos leva-nos a pesquisar a
razão de ser das coisas, as quais, todavia, nem sempre sabemos bem interpretar.
Entre outras, nota-se a desigualdade
das condições, dos sentimentos e das raças, do que tudo resulta, aliás, um
equilíbrio para a vida terrena.
Não raro vemos, por exemplo, a gente
negra, já de seu natural humilde, feita alvo do menosprezo de seus semelhantes;
e mais: do ódio que lhe votam, de séculos, insanamente, certos povos. Quem não
ouviu aí a frase insensata: “Negro não é gente!” Não, não devemos assim
amesquinhar a obra do Criador, que só poderia tê-la organizado sabiamente.
A razão de ser de quantas aparências
nos concitam à critica - irrisória crítica, não há dúvida - está na evolução,
na vida pretérita de indivíduos e nações. Almas que faliram quando ricas - hoje
lutam, expiando, com a pobreza; almas orgulhosas, que humilharam - hoje são
humilhadas, conduzidas a escamar-se em baixa classe e servir a quem já lhes serviu,
digerindo assim as consequências de suas anteriores faltas.
Principalmente de certa data para
cá, acentuadas e sucessivas modificações tem-se operado nas ideias e costumes
dos homens, apesar do orgulho e da ambição, causas ainda de reiteradas pelejas,
tremendas guerras, por sua vez seguidas da dor, da fome e da miséria.
Assim é porque os homens são maus;
porém Deus consola os aflitos e substitui pouco a pouco a população de
irrefletidos, que só às duras se regeneram, por almas que também foram
viciosas, mas que tangidas pela divina mão, toparam a felicidade, aprendendo a
bem dizer a dor. Cheias de gratidão ao Pai, que lhes concedeu, como infalível
medicina, para seu mais rápido voo, a visita do sofrimento; amando já os
infelizes que atuaram como instrumento dele, correm agora a ajudá-los para que
de sua parte também se elevem.
A obra do Criador é incessante; e os
progressos morais que devemos alcançar tem como fatores máximos a dor e o amor.
Sublimemo-nos portanto em nossos
conceitos, e busquemos ver no pobre, no maltrapilho, no preto, uma alma que
expia e, por conseguinte, se aproxima da luz - ou um espírito já de certo
mérito, que toma a vida rasteira para mais se exalçar.
Melhor, muito melhor, acerca de tudo isto nos instrui, conforme
segue, o nosso desvelado Guia.
“Paz de Maria seja contigo.
“A luz sublime, que irradiando do
Mestre vem iluminar a Terra com o esplendor que lhe é peculiar, torna-se
irresistível ao mais endurecido espírito que de longo viva na maior ignorância
da lei e do amor.
“À seara tem-se de dia em dia enriquecido
com a conversão metódica e segura que
vimos fazendo em diversos pontos onde se nos oferecem elementos.
“No espaço, mais do que nunca,
agita-se a alma em busca da luz, do amor e da verdade.
“Os trabalhos multiplicam-se cada
vez mais; e se Deus permitir, entre os homens baixarão enviados que, pelo saber
e pela moral, despertem para as coisas superiores os habitantes da terra.
“Disse Jesus que a seu tempo
mandaria o Espírito da Verdade; pois aproxima-se o momento: entre alegrias dos grandes do espaço e júbilo
dos pequenos da terra, brilhará o farol que deve orientar a humanidade.
“Enorme tem sido a cegueira dos
homens, assim o egoísmo entre irmãos, que, amparando-se mutuamente, o que
deviam é convergirem para a luz e a verdade.
“Outrora, quando Jesus falava ao
povo, lutava por vencer as dificuldades naturais devidas ao atraso da
população; hoje, a maior parte fez relativo progresso, o bastante para compreender
que Deus existe e ama a todos os seus filhos, esperando-os de braços abertos.
“Abençoado seja pelo Altíssimo o que
sofre por amor do bem; porque a esse lhe será dada muita felicidade, paz e
sabedoria: infeliz, porém, do que persegue; porque, assim fazendo, retarda o
abrir do dia que tem de aclarar a estrada do futuro.
“Breve teremos novos lumes pairando,
sobre os médiuns de boa vontade, visto como as suas preces são ouvidas, o seu
amor sentido, o seu trabalho favoneado (favorecido).
“Reprimir uma pessoa a voz da razão,
quando lhe diz que não conhece a verdade, que está fora e longe dela, é
procurar não só a ruína do seu próximo, senão ainda a infelicidade própria, de
que só muito tarde se poderá desimpedir.
De todos os tempos, Deus, em sua
infinita misericórdia, tem enviado mensageiros para ativarem o progresso, sendo
eles sempre perseguidos e odiados, vítimas, na Terra, das ingratidões daqueles
mesmos por quem veem pugnar.
Agora, porém, fulgirá o mundo com a
multidão de enviados que vão baixar; sujeitos às leis dos homens e da matéria,
devem receber a luz e coá-la nas trevas,
até que sejam estas inteiramente dissipadas.
“Milhares de espíritos convertidos
principiam, pela reencarnação, a tomar parte no renovamento dos povos. Almas
que pela primeira vez revestem corpo em provas escolhidas e estudadas para o
seu adiantamento, são pequenas e fracas, e tudo quase tem ainda que
fazer mas tem fé; confiam; e Deus,
que conhece todos os pensamentos, até os mais ocultos, mandará também seus
filhos diletos, a fim de que, ao lado daquelas, possam confortá-las nas
diferentes provas, ensinando-lhes a abençoar a dor e perdoar as ofensas. Dias
terão, certo é, de angustias; estas, porém, ser-lhes-ão quais meros acidentes,
sem força
já de as conturbarem, por fortes agora
em Deus.
“Dos iluminados um será maior e só
virá quando tenham preparado a regeneração dos infelizes do espaço, para que
sua obra seja proveitosa à coletividade.
“Sim, tudo isso dar-se-á; e a
substituição dos habitantes da terra já foi iniciada, não podendo, entretanto,
deixar de ser gradativa, pois muitas lutas ainda surgirão entre os homens, que
precisam de expiar, e só com a dor se emendam.
“Deus, meu carinhoso filho, permitiu
para breve a luta entre povos que se hostilizam por ódio e orgulho, tendo como
pretexto a disparidade das raças. Eterna cegueira da espécie humana, que só
busca as exterioridades, o que faz até no culto a Deus. A guerra que se prepara
e rebentará ainda em teus dias de vida, obedece a um ensino que deve ser
dado à humanidade, convém saber: os orgulhosos serão humilhados.
“Nascer, crescer, evoluir sempre -
eis o dever do homem; odiar, perseguir, humilhar - eis a desobediência aos
ensinos. Infelizes obcecados pelas grandezas terrenas, sem compreenderem que
assim a pobreza como a fortuna são provas para o progresso e que
a raça tanto como a inteligência são meios de contrabalançar os povos, para
que, com a lei da equidade, possa a harmonia permanecer entre eles, vem, tais
infelizes, em seu irmão um inferior, porque é preto, ou porque é pobre, não se
lembrando de que o preto de hoje foi o branco de ontem, do mesmo modo que o
será novamente amanhã.
“Os de pele tisnada merecem ser tratados
com carinho, atento que, entre eles, não só se encontram espíritos que sofrem as
duas provas, como entes queridos que, para alcançarem maior avanço, procuram
humildar-se, resgatando, ao mesmo tempo, certas dívidas com o servir a outros a
quem no passado prejudicaram.
“Raça inferior, dizem muitos, sem
desconfiarem sequer que no seio deles se contam iluminados espíritos, aos quais
os graúdos da Terra terão que se curvar envergonhados de serem tão menores;
almas simples, que sofrem pesadas humilhações e com elas ensinam a orgulhosos e
maus, que tem por expiar crimes bem mais tenebrosos do que as cores que tão
vãmente desprezam, insensatos e pueris desconhecedores da solicitude do Criador
e da luta para o engrandecimento.
“Espíritas! agora mais do que nunca,
abri o coração à dor e, sem temê-la, cumpri vosso dever. Deus vos fez depositários
de um tesouro tal, que quanto mais dele derdes, tanto mais tereis.
“Mãos à obra, pois; e ajudai, como
trabalhadores da seara, que sois, a rasgar o aceiro por onde virão os portadores
da luz que deverá resplandecer sobre as vossas cabeças, guiando-vos na
interpresa.?
Deus espera o concurso de cada um na
grande obra da regeneração. Mas ai dos de vós que vos tornardes maus depositários
dos ensinos, desvirtuando-os pelo interesse e vãs paixões: caro vos custará!”
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