Apesar
da enorme diferença existente entre metempsicose e reencarnação, os nossos
antagonistas não se cansam de repetir que admitimos a primeira, quando bem
sabem que só aceitamos a segunda. Quase diríamos que agem de má fé, de caso
pensado, esperançosos de que da confusão lhes resulte algum proveito.
Não há mais, porém, meios e
processos que evitem o desenvolvimento, a difusão do Espiritismo. O bicho papão
- o demônio - já não faz tremer sequer as beatas das sacristias e as
crianças de hoje já não acreditam naquele colaborador precioso de que tanto
usaram e abusaram
os teólogos. Também já não produz qualquer efeito a velha ameaça de que o
Espiritismo ocasiona a loucura, visto que essa enfermidade deu ultimamente para
preferir as criaturas que frequentam as igrejas e até mesmo freiras e padres
vêm sendo vítimas dessa loucura, da qual, nós, os espíritas, conhecemos a
causa.
Não lhes restando mais qualquer
arma, mesmo porque todas lhes têm voltado em ricochete, procuram, então, novos meios
de lançar a confusão e nos apresentam como adeptos da metempsicose.
No entanto, se não fora o interesse
material desses nossos antagonistas, receosos de verem
sair-lhes das mãos a riqueza que acumularam e o domínio que ainda exercem sobre
a massa
ignorante, e sobre uma outra classe que sempre viveu ao lado dos materialmente
mais fortes,
certamente eles confessariam a verdade e diriam como Santo Agostinho (pág. 2B,
tomo I de Confissões).
"Não
teria minha infância atual sucedido a uma outra idade antes dela extinta?...
Antes mesmo desse tempo, teria eu estado em algum lugar? Seria alguém?"
É possível que ainda exista a dúvida
nos padres menos cultos, porque seus cérebros pequenos e inteligências curtas
não lhes permitiriam ir além do que lhes ensinaram no seminário, porém, na
classe intelectual do clero, e essa é a que domina, não há sequer a dúvida
manifestada então pelo grande Padre da Igreja, há certeza absoluta da realidade
das existências múltiplas e progressivas.
Antes mesmo de existir o Espiritismo
codificado, na época em que os gênios eram excomungados ou levados às torturas,
Mazzini escreveu, no seu livro Dai
Concilio a Dio, trechos como este:
"Cremos numa série indefinida
de reencarnações da alma, de vida em vida, de mundo em
mundo, constituindo um progresso em relação à vida precedente. Podemos
recomeçar o estádio
percorrido quando merecemos passar a um grau superior; mas, não podemos
retrogradar nem perecer espiritualmente."
Inúmeras seriam as citações que
poderíamos apresentar, desde Homero até os homens mais
cultos da atualidade, pertencentes ou não ao clero, que afirmaram ou deixaram
transparecer a sua crença na reencarnação.
Inúteis, porém, seriam essas
transcrições. Inúteis, porque eles as conhecem tão bem ou melhor
do que nós, e inúteis, ainda, porque eles não desejam senão criar e alimentar a
confusão de que se têm servido até aqui.
Há um limite, porém. E esse limite
parece-nos já estar muito próximo. Assim como os poderosíssimos
sacerdotes do Sinédrio perderam aquele domínio que exerciam, também já se aproxima
a época da queda dessa outra classe sacerdotal, que vive a atirar-nos as
maiores afrontas
e a criar-nos uma série de empecilhos para que nos seja cerceado o direito de
seguir a
Jesus Cristo, não pela letra que matou a fé inata dos povos, mas pelo espírito
dos seus ensinos, pela humildade dos seus exemplos, pelas lições que nos deixou
no Cal vário .
Os tempos são chegados.
assina G.
Mirim
(Antônio Wantuil de Freitas)
in ‘Reformador’ (FEB)
em Dezembro 1945
Nenhum comentário:
Postar um comentário