quarta-feira, 1 de agosto de 2012

6. Bilhetes


6.   Bilhetes
           

                        Apesar da enorme diferença existente entre metempsicose e reencarnação, os nossos antagonistas não se cansam de repetir que admitimos a primeira, quando bem sabem que só aceitamos a segunda. Quase diríamos que agem de má fé, de caso pensado, esperançosos de que da confusão lhes resulte algum proveito.

            Não há mais, porém, meios e processos que evitem o desenvolvimento, a difusão do Espiritismo. O bicho papão - o demônio - já não faz tremer sequer as beatas das sacristias e as crianças de hoje já não acreditam naquele colaborador precioso de que tanto usaram e abusaram os teólogos. Também já não produz qualquer efeito a velha ameaça de que o Espiritismo ocasiona a loucura, visto que essa enfermidade deu ultimamente para preferir as criaturas que frequentam as igrejas e até mesmo freiras e padres vêm sendo vítimas dessa loucura, da qual, nós, os espíritas, conhecemos a causa.

            Não lhes restando mais qualquer arma, mesmo porque todas lhes têm voltado em ricochete, procuram, então, novos meios de lançar a confusão e nos apresentam como adeptos da metempsicose.        

            No entanto, se não fora o interesse material desses nossos antagonistas, receosos de verem sair-lhes das mãos a riqueza que acumularam e o domínio que ainda exercem sobre a massa ignorante, e sobre uma outra classe que sempre viveu ao lado dos materialmente mais fortes, certamente eles confessariam a verdade e diriam como Santo Agostinho (pág. 2B, tomo I de Confissões).

            "Não teria minha infância atual sucedido a uma outra idade antes dela extinta?... Antes mesmo desse tempo, teria eu estado em algum lugar? Seria alguém?"

            É possível que ainda exista a dúvida nos padres menos cultos, porque seus cérebros pequenos e inteligências curtas não lhes permitiriam ir além do que lhes ensinaram no seminário, porém, na classe intelectual do clero, e essa é a que domina, não há sequer a dúvida manifestada então pelo grande Padre da Igreja, há certeza absoluta da realidade das existências múltiplas e progressivas.

            Antes mesmo de existir o Espiritismo codificado, na época em que os gênios eram excomungados ou levados às torturas, Mazzini escreveu, no seu livro Dai Concilio a Dio, trechos como este:

            "Cremos numa série indefinida de reencarnações da alma, de vida em vida, de mundo em mundo, constituindo um progresso em relação à vida precedente. Podemos recomeçar o estádio percorrido quando merecemos passar a um grau superior; mas, não podemos retrogradar nem perecer espiritualmente."

            Inúmeras seriam as citações que poderíamos apresentar, desde Homero até os homens mais cultos da atualidade, pertencentes ou não ao clero, que afirmaram ou deixaram transparecer a sua crença na reencarnação.

            Inúteis, porém, seriam essas transcrições. Inúteis, porque eles as conhecem tão bem ou melhor do que nós, e inúteis, ainda, porque eles não desejam senão criar e alimentar a confusão de que se têm servido até aqui.

            Há um limite, porém. E esse limite parece-nos já estar muito próximo. Assim como os poderosíssimos sacerdotes do Sinédrio perderam aquele domínio que exerciam, também já se aproxima a época da queda dessa outra classe sacerdotal, que vive a atirar-nos as maiores afrontas e a criar-nos uma série de empecilhos para que nos seja cerceado o direito de seguir a Jesus Cristo, não pela letra que matou a fé inata dos povos, mas pelo espírito dos seus ensinos, pela humildade dos seus exemplos, pelas lições que nos deixou no Cal vário .

            Os tempos são chegados.



assina     G. Mirim
(Antônio Wantuil de Freitas)
in ‘Reformador’ (FEB) em  Dezembro  1945





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