quinta-feira, 9 de agosto de 2012

51. 'Doutrina e Prática do Espiritismo'




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            Diante de tais eloquentes, multiplicados testemunhos, que constituem outros tantos indícios, senão provas documentais da grande lei que, de vida em vida, vai conduzindo o homem à realização de seus destinos, será licito concluir por outro modo que não pela  realidade das reencarnações?

            O negativismo sistemático e o dogmatismo interesseiro poderão decerto obstinar-se em recusa-la, mas nem por isso hão de impedir que a verdade abra caminho através de todas as inteligências emancipadas do preconceito e da rotina, ansiosas de penetrar os augustos mistérios em que, para o nosso obscurecido entendimento, tem permanecido envolto o problema da vida e do destino humanos.

            À luz do Espiritismo esses mistérios se vão gradualmente desvendando, substituídos por um conhecimento tanto mais claro e positivo do que somos, donde vimos e para onde vamos, quanto os elementos de certeza em que se apoia são fornecidos simultaneamente pela observação dos fatos e o consenso da razão, e - porque o não havemos também de acrescentar? - sancionados pelos mais veementes reclamos do nosso próprio espírito.

            Assim, no que se refere à pluralidade de existências, quem haverá que, ao avizinhar-se o termo de uma jornada mais ou menos longa neste mundo, considerando os desacertos, leviandades e imprudências que ficaram para trás, não terá exclamado: Ah! Se me fosse dado recomeçar, aproveitando a experiência que tenho adquirido, como o faria em melhores condições e quantos erros não evitaria!

            Por outro lado, à medida que avançamos no calvário desta vida e os cuidados, amarguras e desgostos nos assaltam, à medida que as suas agressivas e, não raro, hediondas realidades, que mais ou menos nos conspurcam, vão formando um rude contraste com o descuido e a inocência dos primeiros anos, quantas vezes e a quantos não tem assaltado o desejo aparentemente- insensato - porque todos, na ignorância da grande lei, são mais ou menos Nicodemos - de tornar a ser criança! Quem dera voltasse aquele tempo afortunado!

            Pois bem, esse vago anseio de retorno ao período de singeleza e de inocência, que a infância representa longe de ser um mero extravio da imaginação, como à primeira vista se afigura, traduz, do mesmo modo que tantas outras intuições do espírito, uma aspiração tanto mais legítima quanto, na sucessão dos tempos, alcançará uma dupla realização: primeiro na indefinida possibilidade de voltar à Terra o número de vezes necessário à obra de sua perfeita e completa regeneração, assim repetidamente passando por aquela fase, de verdadeiro repouso para o espírito; e por último, quando encerrado o ciclo de suas dolorosas expiações terrestres, ao ser integrado na condição angélica em que, dissipadas todas as máculas de que se impregnara através daquela tormentosa peregrinação, é restituído ao primitivo estado de pureza, característico de sua natureza originária.

            É este, contudo, um tema que só mais adiante convirá ser desenvolvido. Detenhamo-nos por agora um pouco em considerar os sucessivos aspectos da existência para o espírito, neste mundo e na erraticidade, antes de remontarmos, no passado, à sua origem e, no futuro, à consumação de seus destinos.




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