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“Amor
à Verdade”
por
Alpheu Gomes O. Campos
Marques Araújo & C. – R. S. Pedro, 216
1927
Provas
e Expiações
“Alegra-te com a dor - sinal da misericórdia divina,
prenuncio da bem-aventurança eterna.”
Achar felicidade até na dor é
conhecer a justiça de Deus e caminhar para Ele.
Sendo a reencarnação um dos meios
concedidos ao espírito para seu aperfeiçoamento, e havendo a lei de ser
cumprida - “sem faltar nem um i nem um til” - toda infração tem a sua consequência
de feitio que, nas vidas sucessivas, reparamos os erros cometidos
e sofremos conforme aos outros fizemos sofrer.
Não raro se encontram pessoas que
maldizem da sorte e, sem resignação, revoltam-se com a dor, mal compreendendo
que o Pai é justo e não deixa padecer o filho senão para despertá-lo e mais
rapidamente o elevar. “A dor é como uma asa dada à alma escravizada pela carne
para ajudá-la a desprender-se dela e subir mais alto.”
Sofrer resignadamente é amar a Deus,
é prontificar-se a pagar uma dívida dentre as muitas cumuladas há séculos.
De ver está, contudo, que, dentro da
lei, podemos e devemos procurar alívio para os nossos males, a fim de que nos
possamos empenhar nas lutas nobres e fecundas da existência, a fim de que
possamos trabalhar e progredir. Entregar-se ao padecimento sem o esforço,
passivamente, é neutralizar as próprias faculdades, é estacionar - o que
significa regredir.
A dor é providencial; as provas e
expiações tem um fim corretivo: são remédios, que não castigo, auxiliares do
nosso aperfeiçoamento. Sem desconfiarem que nos curam, dão no los a beber os
espíritos inferiores.
Presas ainda do ódio, sedentos de
vingança, como que disparam contra nós as mesmas setas com que outrora os
ferimos também. Verifica-se muita vez a pena de Talião; arcamos precisamente
com o que a outrem irrogamos.
Por agora, aqui paramos.
Segue um ditado em que o nosso Guia
sobremodo elucida o assunto.
“Paz
de Maria seja com o meu filho. É justo e natural que tenhas o conforto de um
amigo do espaço para amenizar as provas e expiações terrenas.
“O
meio, como podes avaliar, está repleto de individualidades maldosas, que nem
vislumbram o infinito amor do Criador pela criatura.
“A Terra vai em franca
transformação. E os obreiros do serviço mais pesado e rude, quem são senão os
infelizes? Eles que, surdos às inspirações e governados pelos maus sentimentos,
vão sem consciência desbastando, a golpes de dor e decepções, o terreno onde se
erguerá o grandioso edifício da paz!
“É incalculável o tempo que medeia
entre a primeira vida na terra e os dias atuais.
“A
evolução é lenta, e só ao cabo de séculos consegue uma alma conhecer-se a si
mesma.
“Não podes claramente compreender a
criação das almas; porém elas emanam de Deus. A vida é a suprema lei do
Universo; a harmonia da criação consiste no trabalho contínuo: nunca a inação constituiu
ventura; não a conhecem, e menos a querem, os mesmos que nada tiveram ou tem
para resgatar na Terra.
“Assim,
bem podes calcular o sem-conta de espíritos que povoam a Terra e a vastíssima
tarefa, que há de transformá-la, alçando-a de mundo de expiação a residência
próspera de regenerados.
“Se
os povos são impulsionados pelos Espíritos; se qualquer ofensa às leis eternas
tem a sua reação, pouco é de admirar a permanência aqui de elementos que, para
mais não servindo ainda, em vista do seu atraso mesmo, são aproveitados como
buriladores de quantos no passado delinquiram.
“Não
descontinua a criação; vai-se a evolução operando; vão as provas surgindo e os
espíritos regenerando-se, até que as gentes se tenham lavado de todas as culpas
e provado as suas virtudes. Assim nos outros mundos - outras tantas escolas
mais ou menos adiantadas.
“Muitos obreiros deixam de trabalhar
por falta de auxílio; mas a lei do trabalho é universal, e em quanto escasseiam
recursos para certos fins de caráter geral, aproveita-se o tempo em estudos e
aperfeiçoamentos. Tudo se utiliza na vida, assim a dor como a alegria, em pró
de qualquer que deseje evoluir.
“Não
é - disso tens sobejas provas - não é tão somente a prece o que produz beneficio;
mas a prece unida à vontade, ao amor, à perseverança.
“Não
podes imaginar qual seja, sobre qualquer melhoria que se intente operar, a
influência, o poder da vontade de um espírito que ainda encarnado trabalha na
divina seara.”
Segundo se colhe dessa leitura, é o
trabalho uma das leis imutáveis; perene a obra do Criador; os grandes, amparo
dos pequenos; os atrasados, aguilhão dos pecados e matéria de futuras
lapidações, por isso que o escândalo tem de dar-se, mas infeliz daquele por
onde vem o escândalo, porque pagará também.
Sublime disposição, que tudo
utiliza, tanto o bem como o mal, e nas mais impressionantes discordâncias descobre a mais bela e inigualável
harmonia.
É o que não deixa de pensar todo espírito
quando, menos ingrato à dor e chegado a certo ponto da sua trajetória, após
maior ou menor número de existências, começa de sentir a satisfação de quem
plenamente saldou ponderosas dívidas e,
trocando de ambição, não quer para si senão para poder dar mais. Todo o seu
esforço, toda a sua inteligência, toda a sua atividade é pela humanidade e para
Deus.
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