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O psicômetra é um indivíduo - um
sensitivo, para lhe darmos a qualificação apropriada - que, por meio de
exercícios adequados, relativos, entre outras coisas, à disciplina e recolhimento,
ou concentração, mental e à ginástica da respiração, exercícios que requerem
isolamento, silêncio e obscuridade, consegue, indubitavelmente por uma sorte de
exteriorização voluntária e sistematizada, desenvolver o sentido psíquico e,
com ele, a percepção dos aspectos sutis dos seres e das coisas.
Não se deve, entretanto, -
advirtamos desde logo - a esse respeito , como do desenvolvimento de quaisquer
outros poderes ocultos, proceder levianamente, mas ao contrário ter unicamente
um nobre e desinteressado objetivo.
Porque, como o diz um experimentado
cultor desse ramo especial da psicologia: "desde que nutrimos o desejo de
penetrar, mesmo superficialmente, no plano astral, de soerguer, inda que
ligeiramente, o véu do mistério, torna-se grave o caso, porque com esse esforço
abrimos a ponta a todas as influências
do invisível, e é de recear que antes sejam más que boas. Entramos, numa
palavra em um mundo ignorado que pode ocultar muitos perigos (1)".
(1) G. Phaneg, MÉTHODE DE CLAIRVOYANCE
PSYCHOMÉTRIQUE, pág. 13-14.
Observadas as cautelas que requer o
prudente exercício da psicometria que abrangem um prévio adestramento intelectual,
moral e físico, os resultados que proporciona são dos mais surpreendentes e
instrutivos.
O processo operatório para a visão
depende unicamente de um esforço de concentração mental. Se se quer, por
exemplo, encaminhar a pesquisa no sentido de acontecimentos remotos, basta
entregar ao psicômetra um fragmento de objeto colhido mas ruínas de um monumento
do passado ou de antigas regiões, tendo tido o cuidado de lhe não revelar a
procedência e mesmo de envolver num papel, para lhe dissimular a natureza. E o sensitivo, concentrando-se
e colocando sobre a fronte o objeto assim dissimulado, verá desfilarem, como
numa fita cinematográfica, as cenas, os sucessos, de que terá sido esse objeto
a
testemunha inerte.
Foi assim que o doutor Denton,
professor de geologia numa das Universidades da Inglaterra, pode com o concurso
de sua irmã Ms. Anne Denton Cridge e da Sra. Foot, notáveis clarividentes,
obter nesse domínio as mais curiosas e extraordinárias revelações, a que deu
publicidade em suas obras THE SOUL OF THINGS (A alma das coisas) e NATURE'S
SECRETS OR PSYCHOMETRIC RESEARCHES (Segredos da natureza ou Investigações psicométricas),
da última das quais apenas conhecemos um resumo contendo alguns exemplos e apreciações
transcritos em revistas europeias (1), mas suficientes para dar uma ideia da
importância do assunto, no ponto de vista científico, tanto como do valor dessa
inestimável faculdade que é a clarividência psicométrica.
(1) Artigo do Coronel Joseph
Peters, na DIE UEBERSINNLICH WELT, de Munich, reproduzido pela ANNALES DES
SCIENCES PSYCHIQUES e REVUE SCIENTIFIQUE ET MORALE DU SPIRTISME (Paris), de
agosto e setembro de 1910
Uma breve exemplificação, extraída
de um trabalho que sobre o caso publicamos (2), bastará para o demonstrar.
(2) Ver no REFORMADOR, órgão da
Federação Espírita Brasileira, edições de 15 de outubro, 1 e 15 de novembro e
10 de dezembro 1911, a série de escritos intitulados "Os fenômenos
psicométricos e sua interpretação ."
À Sra. Denton é entregue (sem que ela
saiba o que é) um fragmento de lava basáltica proveniente do famoso vulcão de
Kilua, no Havaí (uma das ilhas Sandwich) e, concentrando-se, descreve ela:
"Vejo um oceano sem margens; navios em
grande quantidade vogam, de velas pandas, em várias direções, Parece-me agora
perceber uma ilha. Deve ser isso, pois que veio
mar cingi-la em um círculo sem solução. Que veio agora?.. Oh! que
horror! que coisa espantosa! Um rio de fogo se precipita do alto de uma
montanha, vai abrindo caminho, devastando tudo em sua passagem, e vem por fim
se despejar tumultuosamente nas ondas da praia, que entram em violenta
ebulição."
A exatidão desses pormenores não só coincidia
com a circunstância de ser o fragmento de lava procedente da formidável erupção
que desolou a ilha em 1840, como foi confirmada por uma testemunha ocular do
horrífico sucesso.
Com um pedaço de dente fóssil, pertencente
a um mastodonte (1), a Sra. Denton teve a impressão de ver um monstro colossal,
"provido de quatro pernas extremamente grossas, cabeça volumosa e corpo
que ultrapassa o que hoje vemos em nossos maiores paquidermes", e distinguiu
em seguida um bando desses gigantescos animais correndo através de uma floresta
espessa c de altura também descomunal, "desconhecida em nossa flora
contemporânea."
(1) Animal gigantesco, de 5 a 6 metros de
altura, contemporâneo do período terciário da formação do nosso globo, ou sejam
alguns milhões de anos antes da nossa época.
Não menos curiosas são as
observações relativas a fenômenos e cataclismos siderais, como, por exemplo as
duas seguintes, que resumimos, a primeira feita pela Sra. Foot e a segunda com
o concurso da Sra. Anne Denton, tanto uma como a outra experiência verificadas
mediante contato com fragmentos de lava solidificada, de presumida origem meteórica.
A Sra. Foot começa por experimentar
uma sensação de vertigem, como se fosse arrebatada "para longe, para abismos
insondáveis, numa corrida insensatamente acelerada," perdendo a noção do
tempo, para logo distinguir "um rasto longínquo de vapores a se
condensarem sob a forma de nuvens, donde a intervalos rápidos se escapam fulgurações,
fosforescências muito vivas, percepções que a Sra. Denton confirmou,
acrescentando:
"Reconheço perfeitamente essa sensação
giratória e verifico que esse intenso movimento de revolução emite feixes de
centelhas e faíscas minúsculas em ignição, engendradas não sei como e que vejo
nitidamente se condensar para trás e tender a grupar-se em forma de esteira,
tornando a configuração de um leque.
"No curso desse desordenado giro uma
condensação se produz, surge o bólido, cuja forma e aspecto geral se modificam
visivelmente. Distingo na massa, tornada compacta, aparências de veios metálicos
estriando o interior, O conjunto parece informe, grandioso e guarnecido de
anfractuosidades com pronunciadas arestas. "
Dir-se-ia que o fragmento meteórico
referia a história gráfica do corpo celeste de que fizera parte.
Na outra experiência, com um resíduo
da mesma natureza, o sensitivo, depois de comunicar idêntica sensação de giro
vertiginoso, acompanhada da impressão magnética que produz a iminência de uma
perturbação sísmica, descreve:
"Nesse contínuo arrastamento vejo
subitamente aparecer diante de mim uma torrente de luz que me ofusca. Forcejo por adivinhar o que pode significar
isso. Relâmpagos iluminam bruscamente com intensa claridade o conjunto desse
quadro e incessantemente se repetem. Que visão estranha e aterradora ao mesmo
tempo! Mal me precato a perceber, através de um nevoeiro muito denso, duas
correntes luminosas, ao passo que a velocidade da minha carreira aumenta
progressivamente. Todo esse conjunto é de um poder terrífico, e aumenta-me a
angústia, ao perceber um tumulto, um espantoso estrondo. Tudo me parece em máximo
estado caótico, e não se me afigura que semelhante subversão titânica se tenha
jamais produzido em nossa terra.
"Vejo rochedos gigantescos, com as dimensões
de uma montanha, se despedaçarem com fragor e serem arrojados, numa queda que
me espanta. Nunca, que o saiba, me tinha sucedido até agora presenciar sucesso
algum de tão formidável grandeza! Os rochedos são inteiramente descalvados, sem
o mínimo vestígio de vegetação. Que abismos! Meu olhar mergulha em tais
voragens, sem lhes poder sondar as profundezas.
"Em seguida me parece vagar
muitas milhas de distância acima da superfície desse mundo; porque trata-se
realmente de um mundo, formado de continentes e de mares."
Objetarão que estamos em presença do
fantástico, do maravilhoso e que essas visões carecem de comprovação científica?
- Por nossa parte lembraremos, em primeiro lugar que estamos em presença de um fato
e que o maravilhoso de hoje é a trivialidade de amanhã, consistindo a missão da
ciência precisamente em ir verificando, para os incorporar ao seu patrimônio,
os sucessivos aspectos do Ignoto; e em segundo lugar que as observações da psicometria
revestem muitas vezes um caráter de exatidão muito maior do que se poderia, à
primeira vista, imaginar.
É o caso, entre vários outros que
omitiremos, para não alongar demasiado as citações da experiência feita pelo mesmo
professor Denton com um resíduo de tufo vulcânico procedente das escavações, ha
poucos anos praticadas nus ruínas de Pompeia, a antiga cidade da Itália que
foi, com a de Herculano, destruída, como se sabe, no ano 79 da nossa era, em
consequência de uma violentíssima erupção do Vesúvio.
O sensitivo, a Sra. Denton, depois
de descrever o interior de urna habitação romana daquela época, referiu em
todas as suas impressionadoras particularidades a espantosa catástrofe, acrescentando
uma circunstância que permaneceu por longo tempo ignorada e que só as recentes escavações, a
que aludimos, vieram revelar.
Vale a pena reproduzir esse trecho
da visão.
"A massa das matérias em fusão expelidas
(pelo vulcão) é aterradora. Mas isso não é lava ... Eu vejo dominar, por cima
de tudo, uma colossal nuvem negra, que se despenha em flocos espessos sobre
toda a região contigua ,e cobre-a de um imenso crepe.
"Parece-me sonhar e hesito
em admitir que esta visão seja uma realidade. Tudo se me afigura subvertido e
aniquilado, a perder de vista. Oprime-se-me de horror o coração! Ouço um sibilo
infernal que me ensurdece, no meio dessa tempestade, para mim, sem precedente...Tudo
crepita, torvelinha e se aniquila numa convulsão diabólica. Apesar, porém, do
inexprimível horror que me oprime, julgo ouvir a intervalos em meio ,desse
alarido inominável, o tumulto produzido pela queda furiosa de enormes massas de
água vomitadas pela montanha, travando um formidável conflito com as escórias
em fusão, que arrastam consigo, tudo varrendo na passagem.
"Não estou enganada, não." São águas
espumantes, com efeito, que se precipitam através a depressão que separa as
duas crateras, arrastando as matérias que se lhes opõem. Que cataclismo! Pobre
país, aniquilado para sempre! Na distância de muitas milhas ao redor, trevas
impenetráveis escondem o solo, enquanto os ares continuam a repercutir o estrépito e a ser sulcados por clarões
produzidos pejas matérias em fusão, que não cessa o vulcão de vomitar."
Pois bem, nas escavações recentes
procedidas em Pompeia foram encontrados evidentes vestígios, até então não suspeitados,
de que a sua destruição foi devida principalmente à súbita e violenta irrupção
das águas que a inundaram. Em muitos lugares foram reconhecidos indeléveis sinais
da passagem de trombas d'água carregadas de lodo.
Essa exatidão das visões psicométricas
- ponderávamos, quando da primeira vez nos ocupamos desses fatos (1) ,e
praz-nos reproduzir aqui o comentário - vindo confirmar- as observações científicas
fundadas nas pes geológicas, indica quão preciosa será, para a reconstituição
do passado do nosso mundo, a educação dessa faculdade psíquica do homem, até
,agora abandonada, como todos os dons espirituais, pelo excesso de materialidade
em que se acha ele mergulhado.
(1) Edição do Reformador, de 15
de novembro de 1911.
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