domingo, 5 de fevereiro de 2012

09 'Doutrina e Prática do Espiritismo'


09                   * * *



            O psicômetra é um indivíduo - um sensitivo, para lhe darmos a qualificação apropriada - que, por meio de exercícios adequados, relativos, entre outras coisas, à disciplina e recolhimento, ou concentração, mental e à ginástica da respiração, exercícios que requerem isolamento, silêncio e obscuridade, consegue, indubitavelmente por uma sorte de exteriorização voluntária e sistematizada, desenvolver o sentido psíquico e, com ele, a percepção dos aspectos sutis dos seres e das coisas.

            Não se deve, entretanto, - advirtamos desde logo - a esse respeito , como do desenvolvimento de quaisquer outros poderes ocultos, proceder levianamente, mas ao contrário ter unicamente um nobre e desinteressado objetivo.

            Porque, como o diz um experimentado cultor desse ramo especial da psicologia: "desde que nutrimos o desejo de penetrar, mesmo superficialmente, no plano astral, de soerguer, inda que ligeiramente, o véu do mistério, torna-se grave o caso, porque com esse esforço abrimos a ponta a todas as influências do invisível, e é de recear que antes sejam más que boas. Entramos, numa palavra em um mundo ignorado que pode ocultar muitos perigos (1)".

                (1) G. Phaneg, MÉTHODE DE CLAIRVOYANCE PSYCHOMÉTRIQUE, pág. 13-14.

            Observadas as cautelas que requer o prudente exercício da psicometria que abrangem um prévio adestramento intelectual, moral e físico, os resultados que proporciona são dos mais surpreendentes e instrutivos.

            O processo operatório para a visão depende unicamente de um esforço de concentração mental. Se se quer, por exemplo, encaminhar a pesquisa no sentido de acontecimentos remotos, basta entregar ao psicômetra um fragmento de objeto colhido mas ruínas de um monumento do passado ou de antigas regiões, tendo tido o cuidado de lhe não revelar a procedência e mesmo de envolver num papel, para lhe  dissimular a natureza. E o sensitivo, concentrando-se e colocando sobre a fronte o objeto assim dissimulado, verá desfilarem, como numa fita cinematográfica, as cenas, os sucessos, de que terá sido esse objeto
a testemunha inerte.

            Foi assim que o doutor Denton, professor de geologia numa das Universidades da Inglaterra, pode com o concurso de sua irmã Ms. Anne Denton Cridge e da Sra. Foot, notáveis clarividentes, obter nesse domínio as mais curiosas e extraordinárias revelações, a que deu publicidade em suas obras THE SOUL OF THINGS (A alma das coisas) e NATURE'S SECRETS OR PSYCHOMETRIC RESEARCHES (Segredos da natureza ou Investigações psicométricas), da última das quais apenas conhecemos um resumo contendo alguns exemplos e apreciações transcritos em revistas europeias (1), mas suficientes para dar uma ideia da importância do assunto, no ponto de vista científico, tanto como do valor dessa inestimável faculdade que é a clarividência psicométrica.

                (1) Artigo do Coronel Joseph Peters, na DIE UEBERSINNLICH WELT, de Munich, reproduzido pela ANNALES DES SCIENCES PSYCHIQUES e REVUE SCIENTIFIQUE ET MORALE DU SPIRTISME (Paris), de agosto e setembro de 1910

            Uma breve exemplificação, extraída de um trabalho que sobre o caso publicamos (2), bastará para o demonstrar.

                (2) Ver no REFORMADOR, órgão da Federação Espírita Brasileira, edições de 15 de outubro, 1 e 15 de novembro e 10 de dezembro 1911, a série de escritos intitulados "Os fenômenos psicométricos e sua interpretação ."

            À Sra. Denton é entregue (sem que ela saiba o que é) um fragmento de lava basáltica proveniente do famoso vulcão de Kilua, no Havaí (uma das ilhas Sandwich) e, concentrando-se, descreve ela:

            "Vejo um oceano sem margens; navios em grande quantidade vogam, de velas pandas, em várias direções, Parece-me agora perceber uma ilha. Deve ser isso, pois que veio  mar cingi-la em um círculo sem solução. Que veio agora?.. Oh! que horror! que coisa espantosa! Um rio de fogo se precipita do alto de uma montanha, vai abrindo caminho, devastando tudo em sua passagem, e vem por fim se despejar tumultuosamente nas ondas da praia, que entram em violenta ebulição."

             A exatidão desses pormenores não só coincidia com a circunstância de ser o fragmento de lava procedente da formidável erupção que desolou a ilha em 1840, como foi confirmada por uma testemunha ocular do horrífico sucesso.

            Com um pedaço de dente fóssil, pertencente a um mastodonte (1), a Sra. Denton teve a impressão de ver um monstro colossal, "provido de quatro pernas extremamente grossas, cabeça volumosa e corpo que ultrapassa o que hoje vemos em nossos maiores paquidermes", e distinguiu em seguida um bando desses gigantescos animais correndo através de uma floresta espessa c de altura também descomunal, "desconhecida em nossa flora contemporânea."

            (1) Animal gigantesco, de 5 a 6 metros de altura, contemporâneo do período terciário da formação do nosso globo, ou sejam alguns milhões de anos antes da nossa época.

            Não menos curiosas são as observações relativas a fenômenos e cataclismos siderais, como, por exemplo as duas seguintes, que resumimos, a primeira feita pela Sra. Foot e a segunda com o concurso da Sra. Anne Denton, tanto uma como a outra experiência verificadas mediante contato com fragmentos de lava solidificada, de presumida origem meteórica.

            A Sra. Foot começa por experimentar uma sensação de vertigem, como se fosse arrebatada "para longe, para abismos insondáveis, numa corrida insensatamente acelerada," perdendo a noção do tempo, para logo distinguir "um rasto longínquo de vapores a se condensarem sob a forma de nuvens, donde a intervalos rápidos se escapam fulgurações, fosforescências muito vivas, percepções que a Sra. Denton confirmou, acrescentando:

            "Reconheço perfeitamente essa sensação giratória e verifico que esse intenso movimento de revolução emite feixes de centelhas e faíscas minúsculas em ignição, engendradas não sei como e que vejo nitidamente se condensar para trás e tender a grupar-se em forma de esteira, tornando a configuração de um leque.
            "No curso desse desordenado giro uma condensação se produz, surge o bólido, cuja forma e aspecto geral se modificam visivelmente. Distingo na massa, tornada compacta, aparências de veios metálicos estriando o interior, O conjunto parece informe, grandioso e guarnecido de anfractuosidades com pronunciadas arestas. "

            Dir-se-ia que o fragmento meteórico referia a história gráfica do corpo celeste de que fizera parte.  

            Na outra experiência, com um resíduo da mesma natureza, o sensitivo, depois de comunicar idêntica sensação de giro vertiginoso, acompanhada da impressão magnética que produz a iminência de uma perturbação sísmica, descreve:

            "Nesse contínuo arrastamento vejo subitamente aparecer diante de mim uma torrente de luz que me ofusca.  Forcejo por adivinhar o que pode significar isso. Relâmpagos iluminam bruscamente com intensa claridade o conjunto desse quadro e incessantemente se repetem. Que visão estranha e aterradora ao mesmo tempo! Mal me precato a perceber, através de um nevoeiro muito denso, duas correntes luminosas, ao passo que a velocidade da minha carreira aumenta progressivamente. Todo esse conjunto é de um poder terrífico, e aumenta-me a angústia, ao perceber um tumulto, um espantoso estrondo. Tudo me parece em máximo estado caótico, e não se me afigura que semelhante subversão titânica se tenha jamais produzido em nossa terra.
            "Vejo rochedos gigantescos, com as dimensões de uma montanha, se despedaçarem com fragor e serem arrojados, numa queda que me espanta. Nunca, que o saiba, me tinha sucedido até agora presenciar sucesso algum de tão formidável grandeza! Os rochedos são inteiramente descalvados, sem o mínimo vestígio de vegetação. Que abismos! Meu olhar mergulha em tais voragens, sem lhes poder sondar as profundezas.
                "Em seguida me parece vagar muitas milhas de distância acima da superfície desse mundo; porque trata-se realmente de um mundo, formado de continentes e de mares."

            Objetarão que estamos em presença do fantástico, do maravilhoso e que essas visões carecem de comprovação científica? - Por nossa parte lembraremos, em primeiro lugar que estamos em presença de um fato e que o maravilhoso de hoje é a trivialidade de amanhã, consistindo a missão da ciência precisamente em ir verificando, para os incorporar ao seu patrimônio, os sucessivos aspectos do Ignoto; e em segundo lugar que as observações da psicometria revestem muitas vezes um caráter de exatidão muito maior do que se poderia, à primeira vista, imaginar.

            É o caso, entre vários outros que omitiremos, para não alongar demasiado as citações da experiência feita pelo mesmo professor Denton com um resíduo de tufo vulcânico procedente das escavações, ha poucos anos praticadas nus ruínas de Pompeia, a antiga cidade da Itália que foi, com a de Herculano, destruída, como se sabe, no ano 79 da nossa era, em consequência de uma violentíssima erupção do Vesúvio.

            O sensitivo, a Sra. Denton, depois de descrever o interior de urna habitação romana daquela época, referiu em todas as suas impressionadoras particularidades a espantosa catástrofe, acrescentando uma circunstância que permaneceu por longo tempo  ignorada e que só as recentes escavações, a que aludimos, vieram revelar.

            Vale a pena reproduzir esse trecho da visão.

            "A massa das matérias em fusão expelidas (pelo vulcão) é aterradora. Mas isso não é lava ... Eu vejo dominar, por cima de tudo, uma colossal nuvem negra, que se despenha em flocos espessos sobre toda a região contigua ,e cobre-a de um imenso crepe.
                "Parece-me sonhar e hesito em admitir que esta visão seja uma realidade. Tudo se me afigura subvertido e aniquilado, a perder de vista. Oprime-se-me de horror o coração! Ouço um sibilo infernal que me ensurdece, no meio dessa tempestade, para mim, sem precedente...Tudo crepita, torvelinha e se aniquila numa convulsão diabólica. Apesar, porém, do inexprimível horror que me oprime, julgo ouvir a intervalos em meio ,desse alarido inominável, o tumulto produzido pela queda furiosa de enormes massas de água vomitadas pela montanha, travando um formidável conflito com as escórias em fusão, que arrastam consigo, tudo varrendo na passagem.
            "Não estou enganada, não." São águas espumantes, com efeito, que se precipitam através a depressão que separa as duas crateras, arrastando as matérias que se lhes opõem. Que cataclismo! Pobre país, aniquilado para sempre! Na distância de muitas milhas ao redor, trevas impenetráveis escondem o solo, enquanto os ares continuam a repercutir  o estrépito e a ser sulcados por clarões produzidos pejas matérias em fusão, que não cessa o vulcão de vomitar."

            Pois bem, nas escavações recentes procedidas em Pompeia foram encontrados evidentes vestígios, até então não suspeitados, de que a sua destruição foi devida principalmente à súbita e violenta irrupção das águas que a inundaram. Em muitos lugares foram reconhecidos indeléveis sinais da passagem de trombas d'água carregadas de lodo.

            Essa exatidão das visões psicométricas - ponderávamos, quando da primeira vez nos ocupamos desses fatos (1) ,e praz-nos reproduzir aqui o comentário - vindo confirmar- as observações científicas fundadas nas pes geológicas, indica quão preciosa será, para a reconstituição do passado do nosso mundo, a educação dessa faculdade psíquica do homem, até ,agora abandonada, como todos os dons espirituais, pelo excesso de materialidade em que se acha ele mergulhado.

                (1) Edição do Reformador, de 15 de novembro de 1911.






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