'Nem tudo está perdido'

Nem 

tudo

está

Perdido

Bittencourt Sampaio

por Frederico Jr.

Últimas  páginas  - 6ª Ed. “Do Calvário ao  Apocalipse” (FEB)

            “À noite de erros, de crimes e de embustes, há de suceder o claro dia da Verdade, recebendo o homem ingrato e mau, na retina de seus olhos, o jato de luz puríssima, que o Bom Pastor desprende, do alto de sua glória, em raios opalinos, dando desse modo confirmação às palavras que proferiu: “- Nem tudo está perdido, contados são os seus cabelos!”

            Após a trevosa noite em que campeia o ódio, a paixão irrequieta de tudo dominar independente da vontade de Deus, clara madrugada de luz inunda os pobres viandantes desse mundo, auras amenas vêm refrescar-lhes a face afogueada, porque, ainda quando a Humanidade inteira tome de novos varapáus, de novas lanças, entreteça de espinhos novas coroas e ainda em fel amargo embeba esponjas, Jesus, pelo amor, centuplicará também as suas cruzes! Pelo amor, Ele virá com o seu hálito divino, bafejar as vossas frontes! Pelo amor, assim como multiplicou os pães, multiplicará também os sudários em que se enxuguem vossas lágrimas, porque, sem dar ouvidos à grita desenfreada de todos os tempos, a reclamar seu sacrifício, Ele virá buscar-vos à câmara mais escura dos vossos crimes!

            Para Jesus, cada um de vós é a pobre ovelhinha desgarrada do aprisco divino!

            Sois, de há muito, filhos pródigos da graça do Criador e Pai - esbanjadores de um tesouro que na Terra não tem nome; mas, ainda assim, por isso mesmo que não vos fizestes pobres. Ele vem, bondosamente, encher de novo as vossas sacolas, de novo depor em vossas mãos o bordão do peregrino, para as novas jornadas que encetastes!

            Pobres aves que sois, batidas por um vendaval de angústias, desnorteadas por um pampeiro de crimes, Jesus vem mostrar-vos o vosso ninho - Repousai de novo!

            Cantai alegremente, como nos primeiros dias do vosso encanto, ao conhecê-lo! Entoai de novo os salmos que com os profetas aprendestes; abri bem os vossos olhos, compreendei o vosso passado, o vosso presente, o vosso futuro! Demorai o olhar sobre esse capítulo 14 do Evangelho de João, onde se diz - vede bem: “Há na casa de meu Pai muitas moradas; vou, pois, aparelhar-vos o lugar.”

            Meditai sobre essas consoladoras palavras do Amado Mestre - bálsamo santo que Ele, podemos dizer, nas vascas da agonia, derramava na alma dos discípulos e que também a vós vos pertence!

            Há na casa de meu Pai muitas moradas!

            Novos mundos, onde não mais se sofre a morte, tereis por habitação, um dia, se o quiserdes - mundos onde se não encontram as fezes desse amargo cálice que provais na Terra, mundos que vos pertencem, porque está escrito e nenhuma palavra ociosa disse o Senhor - “Vós co-herdeiros sois, sois deuses e em vós mesmos tendes a vossa glória e as vossas dores”!

            Meditai, abri o seio vosso à luz divina; deixai as coisas passageiras desse mundo, esforçai-vos por compreender a Jesus, como vo-lo ensina, não a Igreja, mas o Evangelho! Pelo gozo de um momento, não desprezeis séculos de paz e de ventura!

            Não vos confundais com as virgens loucas da divina parábola: - conservai sempre convosco a vossa a lâmpada e tereis iluminados os vossos espíritos, para que possais saber a hora em que deve vir o Senhor da seara, a encontrar-vos trabalhando alegremente.”