Espíritos Anônimos
atualização de um original de Antônio Túlio
Reformador (FEB) Agosto 1941
Quando um escritor bem conhecido, como Humberto de Campos, Guerra Junqueiro ou Castro Alves, volta a esse mundo e escreve pela mão de um médium, identificando-se pelas suas idéias e pelo estilo, não faltam literatos que clamem: é um pastiche, imitação! Até quando o mesmo médium recebe obras literárias em prosa e verso de cinqüenta autores diferentes, escritos sempre com rapidez vertiginosa, lá vem ridiculamente a ingênua acusação de pastiche.
A resposta prévia a essa classe de negadores, porém, já foi dada pelos grandes espíritos que previram, com muita antecedência, a pobre objeção. Os maiores monumentos da literatura mediúnica foram e são escritos por Espíritos anônimos, sem estilo algum a servir de modelo, nem sombra de nome algum de literato a recomendá-los. Quem é o autor de A grande Síntese? De Há dois mil anos, Cinqüenta anos depois? Paulo e Estevão?, Renúncia? Apenas um pseudônimo lá aparece tornando-se glorioso - Emmanuel. Quem foi Emmanuel como escritor? Ninguém sabe; é absolutamente anônima a sua majestosa obra.
O Nosso Lar. Quem é o autor? Anos antes, também era assim. Quem escreveu o discutidíssimo livro em quatro volumes 'Os Quatro Evangelhos'? Nenhum literato lá aparece para lhe identificar o estilo.
Há dois mil anos, também, já era assim: quem ditou o 'Apocalipse', a João, na Ilha de Patmos?
Há três mil anos, também, já era assim. Quem ditou os livros a Moisés? Quem ditou os livros dos profetas? Nenhum nome literário; sempre espíritos anônimos.
Toda a literatura sagrada é baseada em comunicações de seres invisíveis, é o que modernamente chamamos literatura mediúnica. Portanto, tudo que a Humanidade possui de mais sublime em pensamentos e sentimentos, vem da literatura mediúnica. Toda a nossa civilização, no Oriente como no Ocidente, tem suas raízes em livros sagrados recebidos mediunicamente.
Como os antigos profetas excediam de muito o nível moral e intelectual de seus contemporâneos, eram perseguidos, apedrejados, crucificados e só muito mais tarde compreendidos, venerados, adorados.
Os grandes médiuns, em nossos dias, igualmente, excedem de muito em espiritualidade o geral dos homens; são incompreendidos pelos nossos contemporâneos e acusados de fraude, pastiche, mistificação, etc. Só o futuro lhes fará justiça à memória, porque só o futuro os compreenderá.
Não há pois, até agora, senão uma Escola única de Espiritismo, que é a de Kardec. A multiplicidade infinita de fenômenos estudados pelos ingleses e americanos, pelos Bozzano, Geley, Osty, Richet, etc.., incorpora-se automaticamente à parte científica do Espiritismo de Kardec, quer queiram, ou não os seus autores. As grandes e avançadíssimas obras de religião, como a ‘Revelação da Revelação’, de Roustaing; os livros de Emmanuel e tantos outros, ampliam, sem abalar, a parte religiosa do Espiritismo traçada pelo Mestre. Tudo o que os filósofos daquém e dalém túmulo tem escrito em todos esses anos, igualmente, pertence-nos pela herança de Kardec na parte filosófica ou geral do Espiritismo. As correntes africanas e indianas, de povos primitivos e analfabetos - ou, como se costuma dizer, o ‘Espiritismo de caboclos e africanos’, ainda não tem uma codificação escrita, por isso mesmo que seus mestres não conhecem a arte da escrita, mas toda a sua tendência é para aceitarem a doutrina de Kardec, como já aceitaram o nome criado por Kardec de ‘Espiritismo’. Muitos dos seus partidários, que sabem ler, estudam as obras de Kardec, de sorte que essas correntes, a pouco e pouco, se elevam para a codificação de Kardec.
Conclusão: Não tem fundamento a campanha que os inimigos do Espiritismo fazem de que estamos divididos em seitas e nos enfraquecemos pelas divergências. Quer feita por ignorância e boa fé, quer de má fé e por ódio, tanto partindo de inimigos confessos e honestos do Espiritismo, quanto de hipócritas que se dizem amigos para combater de dentro a doutrina, essa campanha é falsa e sua falsidade fica demonstrada pela linguagem inatacável dos fatos.
Nada pois, temos a temer dessa injuriosa campanha que tenta dividir a família espírita, entre adeptos de Kardec e anglo saxões, entre adeptos de Kardec e adeptos de Roustaing, porque só existe uma única escola que atrai a si todo o movimento. E essa escola única é dirigida pelos Espíritos superiores, que possuem a necessária visão para produzir a unidade nas aparentes diversidades humanas.
A codificação de Kardec firma-se e confirma-se cada vez melhor, porque possui a sábia elasticidade para tudo incorporar a si numa evolução eterna.
Trabalhemos, pois, serenamente, sem nos desviarmos do nosso caminho, pela grita dos que ficam à margem. A obra não é nossa, é dos nossos Maiores; e eles saberão guiar-nos sempre a bom termo, como o fizeram até agora.
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