03/03
No Brasil
Um pouco antes do aparecimento das irmãs Fox, dez anos antes de Kardec ouvir falar nos fenômenos espíritas, já existia no Brasil um escritor, dos mais notáveis, que pregava em seus livros muitos dos ensinamentos que mais tarde foram transmitidos ao Codificador.
Esse escritor brasileiro, o Marquês de Maricá, desencarnado no Rio de Janeiro exatamente no ano em que surgiram os fenômenos das Fox, era doutor em Filosofia e em Matemática pela Universidade de Coimbra. Foi ministro da Fazenda, Senador, Conselheiro de Estado, membro do Instituto Brasileiro, condecorado com a Grã-cruz da Ordem do Cruzeiro, com a de Cavaleiro da de Cristo, etc.
Em 1853, o Rio de Janeiro já possuía um pequeno grupo de estudiosos, entre os quais se podia notar a presença do Marquês de Olinda e do Visconde de Uberaba. Na Bahia, também existiam alguns grupos, e, em 1860 surgem as primeiras publicações espiritistas. Em 1863 apareceu o primeiro polemista espírita, o Dr. Luiz Olímpio Teles de Menezes. Em 1869, vem à luz o primeiro mensário doutrinário. Em 1873, funda-se o primeiro grupo com estatutos impressos, o “Grupo Confúcius”. Em 1876, sob a direção do Dr. Francisco Leite Bittencourt Sampaio funda-se a Sociedade de Estudos Espíritas “Deus, Cristo e Caridade”. Em 1878, une-se a Bittencourt o Dr. Antônio Luiz Sayão. Em 1880, aparece a “Sociedade Espírita Fraternidade” e em 1883 surge o “Reformador”, órgão que até hoje vem sendo publicado ininterruptamente. Em 1º de Janeiro de 1884, faz-se a unificação geral e funda-se a “Federação Espírita Brasileira”, sob a presidência do Marechal Ewerton Quadros, primeiro tradutor da obra de Roustaing. Em 1895, assume a presidência da Federação o Dr. Bezerra de Menezes.
Podemos afirmar, com segurança, que em nenhum país do mundo foi o Espiritismo compreendido como no Brasil. Desde 1º de janeiro de 1884, a Federação Espírita Brasileira, sediada no Rio de Janeiro, à Av. Passos 30, vem desenvolvendo o seu plano de espiritualização evangélica. Em seus departamentos, verdadeiras colônias de trabalhadores anônimos vem desenvolvendo os seus esforços nos mais variados serviços de socorro aos necessitados, mantendo, assim, com devotamento e carinho, gabinetes médicos, cirúrgicos, homeopatas, mediúnicos, dentários; socorro espiritual e material, por intermédio da sua Assistência Aos Necessitados; publicações de livros e distribuição de folhetos; Assistência Jurídica; biblioteca pública; oficinas do “Reformador”; sessões doutrinárias, de estudos e de conferências públicas; museu e arquivo; subvenções e auxílios a escolas, asilos, orfanatos, ambulatórios médicos e hospitais; contato permanente com as Federações e Uniões Estaduais. Centros distritais e sociedades estrangeiras; distribuição gratuita das principais obras espíritas pelas bibliotecas profanas, particulares, municipais, estaduais e federais, em português e em Esperanto; visitas domiciliares aos enfermos, aos presidiários e aos grupos espíritas, e mais uma série enorme de outros trabalhos, todos eles oferecidos gratuitamente à coletividade.
Entre os inúmeros médiuns brasileiros, de efeitos físicos, alguns apanhados em fraude, quando lhes faltava a mediunidade, citaremos a Sra. Ana Prado, contra a qual jamais se levantou a menor acusação. Estudada e observada por uma infinidade de homens de elevada cultura, a Sra. Ana Prado teve os seus trabalhos relatados no livro de autoria do Dr. Nogueira de Faria - O Trabalho dos Mortos, cuja leitura recomendamos a quantos se interessem pela história do Espiritismo.
Além de Frederico, de Ulisses e de tantos outros médiuns excelentes, muitos foram os bons médiuns que passaram pelo “Grupo Confucius” e pelo “Grupo Ismael”
Mais tarde, surgiu a médium Zilda Gama, psicografando vários romances recebidos do Espírito de Vítor Hugo, e, em 1931, inicia-se a publicação da longa série de livros doutrinários, filosóficos, poéticos e históricos, transmitidos ao médium Francisco Cândido Xavier, cuja mediunidade só pode ser devida e merecidamente estudada pelos que nos sucederem, visto que a sua capacidade produtiva, em franca atividade, cresce dia a dia, em verdadeiras catadupas de luz; todavia, daremos ligeira notícia da sua mediunidade, no capítulo seguinte.
Francisco Cândido Xavier
Francisco Cândido Xavier, conhecido familiarmente nos meios espíritas brasileiros pelo apelido de Chico Xavier, nasceu em Pedro Leopoldo, Minas, Brasil, em 1910. Órfão de mãe aos cinco anos, aos oito entrava para uma escola primária de sua cidadezinha, ao mesmo tempo que trabalhava numa fábrica de tecidos, das quinze horas às duas da manhã. Aos treze anos, após terminar o curso primário, conseguiu modestíssimo emprego no comércio, com o ordenado de menos de cinco dólares mensais, trabalhando das sete às vinte horas, até que, em 1936, ingressou no quadro de empregados públicos contratados, com vencimentos inferiores a vinte e cinco dólares mensais.
Seu pai era completamente contrário à sua vocação para a leitura e muitas vezes lhe queimava os livros e revistas que conseguia.
Sua família era católica, mas, em 1927, diante de uma obsessão verificada numa das suas irmãs, para a qual a Medicina fora impotente, seu pai recorreu ao Espiritismo. Nessa ocasião, por intermédio da médium que tratava da sua irmã, vieram-lhe mensagens de sua falecida mãe, exatamente com a grafia de que ela usava quando na Terra, enquanto sua irmãzinha voltava para casa, completamente curada.
Nessa época, surgiu-lhe a mediunidade escrevente, semi-mecânica, ao mesmo tempo que alguns jornais publicavam-lhe as produções.
Em agosto de 1931, começou a receber uma série de poesias, assinadas por nomes respeitáveis, enfeixadas no livro - Parnaso de Além Túmulo - que foi criticado favoravelmente por filólogos e literatos, enquanto que, respeitosamente, a ele se referia um membro da Academia Brasileira de Letras, conforme se pode verificar no livro - O Caso Humberto de Campos - do Dr. Miguel Timponi.
As mensagens, publicadas em volumes, foram tomadas, na maioria das vezes, em sessões espíritas, públicas, logo após o comentário de versículos evangélicos e de uma prece proferida por um dos assistentes.
Todos os livros, por ele recebidos, foram cedidos gratuitamente a sociedades filantrópicas e beneficentes, apesar de dia a dia lhe aumentarem as responsabilidades com a criação e educação de sobrinhos órfãos, que vivem sob a sua proteção.
Entre as principais obras devidas à sua mediunidade, citaremos: Renúncia, Boa Nova, Emmanuel, Nosso Lar, O Consolador, 50 Anos Depois, Os Mensageiros, Paulo e Estevão, Há Dois Mil Anos, Novas Mensagens, A Caminho da Luz, Cartilha da Natureza, Crônicas de Além Túmulo, Parnaso de Além Túmulo, Brasil, Coração do Mundo e Reportagens de Além Túmulo.
Tendo sempre vivido em sua cidadezinha natal, constituída de noventa e nove por cento de católicos romanos, é conhecido pelos seus conterrâneos desde o seu nascimento, tanto assim que, no inquérito realizado pelo diário carioca O Globo, todas as pessoas procuradas por esse grande vespertino, apesar de se confessarem católicas, não se negaram a afirmar, de público, o respeito e a estima que tem pelo médium.
Inúmeras foram as pessoas, jornais e revistas que dele se aproximaram, com o fito de verificar o que havia de verdade no fenômeno. Foram-lhe dirigidas perguntas em línguas que lhe são estranhas e perguntas mentais sobre vários assuntos. A todas respondia o seu lápis, satisfatoriamente.
E o porvir?
Depois de examinarmos rapidamente o primeiro século da Terceira Revelação, não podemos evitar a interrogação: - Permitir-nos-á esse passado prever as linhas gerais do futuro?
Realmente difícil qualquer previsão, porque o mundo social, em que o Espiritismo cumprirá a sua gloriosa missão transformadora, ainda está em formação e será muito diferente do passado. Estão sendo vencidas as dificuldades de produção de todos os bens necessários à vida e ao conforto material que escraviza o homem às exigências do estômago. Estão sendo vencidas as distâncias pelos transportes cada dia mais rápidos do homem e da palavra, e, com isso, as nações se interpenetram e fazem surgir a consciência da comunidade de interesses; torna-se compreensível a solidariedade da família planetária; vem a noção clara da necessidade da colaboração geral, para o bem de todos.
A consciência da solidariedade começa a demolir os monopólios e exclusivismos de toda sorte e a romper os preconceitos das seitas. Aparece uma concepção mais elevada de Deus, pela melhor compreensão das leis da Natureza.
Num mundo absolutamente diferente, não se reproduzirão os fenômenos sociais do passado; portanto, o Espiritismo não será uma organização político-religiosa, como as anteriores, que dividiram sempre a família humana. Sabemos, pois, o que não será o Espiritismo; não será um novo organismo a dividir os homens.
Por outro lado, vemos a nova literatura ditada pelos Espíritos, dentro e fora das nossas sociedades. Notamos que as comunicações se tornam mais artísticas e interessam a todas as inteligências, sem espírito algum de seita; demonstram, cada vez com mais clareza, que as convicções religiosas pouco valem, e, conseguintemente, defendem o bem em qualquer forma que seja praticado, nenhum privilégio concedendo aos espíritas nem às outras escolas.
Tal literatura exercerá seu poder educativo, sem as barreiras de crenças ou cultos, pelo seu valor artístico que a divulgará nas massas.
Com o Espiritismo se iniciou a renovação literária do planeta, e, por isso mesmo, a renovação da mentalidade humana rumo a uma filosofia espiritualista mais elevada e otimista, rumo a uma concepção mais sublime da vida.
No futuro, O Espiritismo será o sal da Terra e os Espíritos não deixarão esse sal perder o seu sabor, porque não se submeterão aos dogmas e leis dos agrupamentos humanos do passado.
Nos países onde o Espiritismo já se organizou em Igreja e decretou dogmas, os Espíritos estão ditando lindos livros, fora das sociedades espíritas, por intermédio de pessoas que insistem em declarar que não são espíritas, não pertencem aquela Igreja.
Os nossos erros não apagarão a luz divina da Terceira Revelação.
O porvir será muito belo e majestoso, pouco importando todas as fraquezas do homem, todas as violências do fanatismo, todas as tentativas de organizar e explorar a crença, nos moldes escuros do passado.
Nenhuma pessoa ou grupo de pessoas monopolizará a Revelação; ela será multiforme, ocupará todos os níveis culturais; falará aos sábios das Universidades em sua linguagem superiores e, simultaneamente, aos iletrados, em seus dialetos e gírias; atenderá às reclamações da mais alta lógica dos eruditos e às necessidades mais primitivas das almas simples e sofredoras.
O orgulho tentará estabelecer limitações à obra dos Espíritos; definir o que é e o que não é Espiritismo; aprovar uns e repudiar outros livros por eles ditados; mas todos esses decretos não reduzirão ao silêncio a parte invisível da Humanidade e essa Humanidade invisível continuará falando e escrevendo, bem ou mal, revelando saber ou ignorância e maldade, porém, demonstrando-nos sempre a sua presença real, a sua interferência na vida dos homens, até que eles aprendam a contar sempre com ela como realidade inevitável.
O homem do futuro saberá que o mais secreto de seus atos é conhecido em todos os pormenores por numerosas entidades que o podem punir ou premiar, perseguir ou auxiliar e saberá medir as conseqüências de tudo que faz ou pensa. Só essa certeza bastará para transformar moralmente a Humanidade.
Sejam quais forem as barreiras que os homens lhe oponham, o Espiritismo cumprirá sua missão de transformação do mundo, com os homens, sem os homens ou apesar os homens.
Rio de Janeiro, janeiro de 1946.
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