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Um sábio
William Crookes, nascido em 1832 e desencarnado em 1919, foi um dos maiores sábios do seu tempo. A relação dos títulos, dos prêmios e das medalhas recebidas por esse sábio é, talvez, a maior que se conhece.
Esse homem começou a estudar os fenômenos, com o fim que também moveu a todos os demais sábios - a demonstração do embuste. Grande foi a satisfação do mundo científico, quando ele declarou que os iria estudar com esse intento, tal a certeza que todos tinham de que alcançaria o desejado êxito, destruindo as teorias que já se formavam e provando o embuste.
Inúmeros foram os médiuns que passaram pelo controle rigorosíssimo daquele sábio, durante anos e anos: Marshall, Home, Florência, Cook, etc.
Em sua presença os Espíritos materializados andavam, falavam, davam-lhe o pulso a tomar, deixavam-se fotografar, medir, auscultar, etc., porém, quando anunciou, depois de trinta anos de observações e de negativas, que fora vencido pela realidade dos fenômenos, a Real Sociedade se revoltou contra ele, e, Stokes, secretário dessa Sociedade, negou-se a aceitar-lhe o convite para presenciar os fatos, tal como fizeram os cardeais quando convidados por Galileu para contemplar o planeta Júpiter.
Para conhecermos algumas experiências científicas realizadas por esse sábio, torna-se necessária a leitura dos volumes publicados pelo Autor e pelos seus contemporâneos, entre os quais citaremos Fatos Espíritas, em edição brasileira.
O aparecimento, em 1872, do Rev. Stainton Moses, das fotografias espíritas de Hudson, do famoso livro de Alfred Russel Wallace sobre os Milagres do Espiritismo Moderno, e, em 1874, as publicações dos trabalhos de William Crookes, produziram tal efeito sobre o povo e sobre a própria imprensa, que os católicos se reuniram aos protestantes em sua campanha de oposição e, por pouco, não eliminaram Crookes da Real Sociedade.
Eusápia Paladino
Eusápia Paladino, a analfabeta napolitana nascida em 31 de janeiro de 1854 e falecida em 1918, viu aparecer-lhe a mediunidade nos catorze anos de idade, época em que já era órfã de pai e mãe, quando então a quiseram enviar para um convento.
Por essa época, residia em Nápoles uma inglesa casada com o Sr. Damiani, o qual, numa sessão espírita, recebeu um aviso para que fosse procurar uma jovem chamada Eusápia, sendo-lhe indicada a rua e o número da casa, avisando-o de que Eusápia era médium excelente e que ele, o Espírito informante, se manifestaria por seu intermédio. Assim, Eusápia passou a ser desenvolvida sob a direção de Damiani.
Eusápia foi o primeiro médium utilizado por um grande número de homens de ciência, no estudo dos chamados fenômenos físicos: movimento de objetos, levitações de mesas e dela própria, materializações, aparições de luzes, execução de trechos musicais, por vários instrumentos, sem contato humano, etc.
Todos os inúmeros cientistas que a observaram, em centenas de sessões, eram adversários do Espiritismo e nutriam o desejo de demonstrar a fraude; todavia, ela convenceu a imensa maioria desses sábios, apesar de esses observadores desconhecerem as mais elementares leis da fenomenologia mediúnica.
A apresentação de Eusápia, no mundo científico, foi feita pelo professor Chiaia, o qual, em 1888, em carta aberta pela imprensa, convidou Lombroso a examiná-la, o qual só se verificou em 1891.
Confessando-se vencido, Lombroso, o antigo adversário, escreveu:
“Sinto-me convencido e entristecido por haver combatido tantas vezes a possibilidade dos fenômenos espíritas.”
Diante dos fenômenos de Eusápia, em centenas de reuniões realizadas em vários países da Europa, desfilaram, entre outros, o professor Schiaparelli, diretor do Observatório de Milão; o professor Gerosa, catedrático de Física; Ermacora, doutor em Filosofia; Alexandre Aksakof, conselheiro do imperador da Rússia; Carlos Du-Prel, doutor em Filosofia; o professor Charles Richet, da Universidade de Paris; Oliver Lodge, F. W. H. Myers, Dr. Ochorowicz, professor Sigdwick, Dr. Ricardo Hodgson, De Rochas, Flammarion, Carlos Rochi, Vitoriano Sardou, Júlio Claretie, Adolfo Bisson, Gabriel Delanne, G. de Fontenay, professores Porro, Morselli, Bozzano e muitos outros cientistas da época.
Em Cambridge, os fenômenos não alcançaram êxito e alguns assistentes chegaram a acusá-la de fraude; no entanto, os observadores mais competentes a defenderam e condenaram os métodos seguidos pelos grupos de experimentadores. Aliás, ao estudo dos fenômenos, como em todas as ciências experimentais, existem leis que precisam ser respeitadas, pois eles são qual poderosa força elétrica, bastando um fio finíssimo, entre as correntes, para que essa força se descarregue.
É bem verdade que Eusápia tentou, de outras vezes, substituir por artimanhas a mediunidade que lhe fugia, e que lhe era o ganha-pão. Assim, o professor Morselli apanhou-a uma vez a estender a mão para alcançar a trombeta; no entanto, no mesmo momento, a mediunidade lhe voltou e a trombeta levantou-se da mesa onde estava, passou por entre Eusápia e Morselli e desapareceu da cabine.
A própria Sociedade de Investigações Psíquicas declarou, em 1895, que Eusápia cometia fraudes, porém, em 1908, em observações mais demoradas e fiscalizadas, com a colaboração do escamoteador da sua confiança, Sr. Baggally, e de outros membros da Sociedade, todos escolhidos entre os adversários de Eusápia, esses homens se viram vencidos e convencidos da realidade dos fatos, conforme se vê na obra publicada por um deles, o Sr. Hereward Carrington - Eusápia Paladino e seus Fenômenos (1909).
Morselli notou cerca de trinta e nove tipos distintos de fenômenos registrados nas sessões de Eusápia. Fontenay conseguiu fotografá-la com as mãos seguras pelos observadores, enquanto de sua cabeça saíam várias mãos. Constantemente investigadores a amarravam como se usa nos hospícios e faziam aos Espíritos perguntas em línguas estranhas à médium.
Em Nova York, em 1910, numa sessão em que estava presente o mais notável escamoteador da América, o Sr. Howard Thurston, este fez questão de amarrá-la, porque a sabia capaz de fraudar, mas, no fim, não só se confessou vencido diante da realidade dos fenômenos, como também ofereceu mil dólares a quem provasse que a mesa se levantara por fraude ou por influência das mãos ou dos pés de Eusápia.
Paladino se celebrizou por ter sido o médium que passou pelo exame de maior número de sábios. Os que a observaram, renderam-se, quase todos, à evidência dos fatos, enquanto outros, os que nada viram e nem quiseram ver, continuam no mesmo lugar, visto que muito mais fácil é negá-los que explicá-los.
Eusápia, apesar de analfabeta e ignorante, tinha grande coração, era extremosa e caridosa. Tudo quanto ganhava distribuía com os pobres e com as crianças, sentindo as desventuras dos desgraçados e chegando mesmo a proteger até os animais.
Outros médiuns
- George C. Barlett, em seu livro - O Vidente de Salem, apresenta Foster como médium notabilíssimo, de grande vidência e com a mediunidade pouco comum, de aparecer-lhe na pele, em letras cor de sangue, os nomes das pessoas falecidas. Foster era tão sensível à dor alheia que chorava diante dos sofrimentos que presenciava e distribuía dinheiro com os pobres; no entanto, às vezes, seu gênio se transformava e ele se tornava um desalmado, apesar de não ter sido vítima de qualquer vício.
- Madame D’Esperance, cujo nome verdadeiro era Sra. Hope, nasceu em 1849. Foi médium durante trinta anos, recebendo mensagens em inglês, alemão e latim. Ela mesma escreveu um livro - O País das Sombras - o qual, como o de Davis - Direção Mágica, e o de Turvet - Os Príncipes da Violência - muito nos fala da vida e das realizações desse excelente médium.
- William Oxley também escreveu uma obra sobre D’Esperance - Revelações Angélicas, onde nos apresenta o fenômeno da materialização de flores e de plantas raras, ao lado de Espíritos, também materializados, que mais pareciam seres humanos.
- William Eglinton, conforme J. S. Farme em seu livro Entre Dois Mundos, nasceu em julho de 1857. Um dia, aos 17 anos, entrando na sala onde seu pai realizava sessões espíritas, a mesa se elevou do solo, coisa que até então seu pai não havia conseguido. Na sessão imediata, Eglinton caiu em transe e recebeu uma comunicação da sua falecida mãe. Celebrizando-se, recusou, durante muito tempo, ser médium profissional, até que decidiu a sê-lo, em 1875.
Suas sessões assemelhavam-se às de Home, realizando-as em pequena claridade e sujeitando-se ao controle absoluto dos investigadores, também homens eminentes. Correu, igualmente, a Europa e foi à Austrália, à Índia, etc.
O Barão Hellenbach, em seu livro - Preconceitos da Humanidade - descreve todos os fenômenos conseguidos em Viena, por intermédio de Eglinton.
O célebre pintor francês M. Tissot, impressionado com a materialização de vários espíritos, entre os quais o de uma sua parenta, imortalizou Eglinton, com o célebre quadro Aparição Medianímica e com um outro em que fez o retrato do mesmo médium.
Em Viena, na undécima sessão realizada, foi Eglinton acusado de fraude, havendo sido encontrada uma rã metálica, bem como os instrumentos musicais, que deveriam servir para as sessões, estavam enegrecidos com negro de fumo. Três meses depois, um dos assistentes confessou que fora ele quem levara o instrumento metálico. Não se encontrou explicação para os objetos enegrecidos mas, o fato de estarem as mãos do médium fortemente atadas, constituiu a melhor refutação.
- Stainton Moses, que também foi médium de efeitos físicos, nasceu em 1839. Consagrou-se ao sacerdócio protestante e foi diretor da Universidade. Foi atraído para o Espiritismo em 1872, apesar de muito antes haver notado que possuía o dom da mediunidade em grau elevadíssimo. Firmou as suas obras com o pseudônimo de “M. A. Oxon”. Entre elas, merecem destaque - Ensinos Espiritualistas, Aspectos Superiores do Espiritismo, Identidade do Espírito e Psicografia. Foi diretor de Light.
Quanto à mediunidade física de Moses, encontram-se em Quem Sou?, de Serjeant Cox, inúmeras descrições a respeito dos vários fenômenos obtidos por esse médium, bem como, na obra de A. W. Trethuwg - Os Guias de Stainton Moses, a notícia das comunicações recebidas.
A Sociedade de Investigações Psíquicas
Essa Sociedade, desde a sua fundação, desdenhava do Espiritismo. Daí se afastarem os médiuns diante do pouco caso e, até mesmo, do modo pouco delicado com que eram tratados. A Sra Sidgwick acusava todos os médiuns de trapaceiros, chegando ao cúmulo de asseverar que eles escreviam com os pés. Em sua obra A Sobrevivência do Homem, Oliver Lodge diz: “A Sociedade parece formada para a negação dos fenômenos, para as acusações de impostura, para desalento dos médiuns e para repudiar toda revelação que chega à Humanidade”. Não cogita de investigar o fenômeno, só se preocupa em descobrir onde se encontra a fraude.
Foram necessários quinze anos de observações da mediunidade de Eleonora Piper, para que se inclinasse a Sociedade diante dos resultados relatados pelo professor William James, da Universidade de Harvard; pelo Dr. Richard Hodgson e pelo professor Hyslop, que se declararam convencidos da realidade dos fenômenos a que assistiram e que se inclinaram para a interpretação espírita dos mesmos.
Assim, felizmente, aos poucos foi desaparecendo aquele ambiente irrespirável da Sociedade; F. W. H. Myers declarou-se francamente espírita; Hodgson, de seus ataques furibundos, passou para as fileiras espíritas, e Hyslop, vice-presidente da Sociedade, os acompanhou.
Como se vê, se por um lado a Sociedade de Investigações Psíquicas apresentou sombras, por outro lado nos ofereceu pontos brilhantes.
O Ectoplasma
Apesar de serem observadas, desde os primeiros tempos, nuvens vaporosas, semi luminosas, que se exalavam da boca do médium, na obscuridade, nuvens essas que se iam solidificando, só mais tarde os sábios se dispuseram a estudar essa matéria semi-fluida, a que deram, vários nomes: ectoplasma, teleplasma, ideoplasma.
Os cabelos do fantasma foram levados ao microscópio e verificados diferentes dos da médium. Uma pequena porção de ectoplasma foi analisada, a qual, ao ser queimada, produziu um odor de chifre. Encontraram cloreto de sódio e fosfato de cálcio na análise procedida.
Filmaram o ectoplasma saindo da boca da médium e realizaram vários estudos sobre o assunto, os quais são minuciosamente relatados nos livros: Aparições Materializadas, de E. A. Brackett; Os Fenômenos Chamados de Materialização, de Mme Bisson; Fenômenos de Materialização, de Schrenck-Notzing; bem como em mais de uma centena de outros autores.
Filmaram o ectoplasma saindo da boca da médium e realizaram vários estudos sobre o assunto, os quais são minuciosamente relatados nos livros: Aparições Materializadas, de E. A. Brackett; Os Fenômenos Chamados de Materialização, de Mme Bisson; Fenômenos de Materialização, de Schrenck-Notzing; bem como em mais de uma centena de outros autores.
Dizem que em 1851 Richard Boursnell conseguiu fotografar um Espírito; todavia, como não há provas suficientes, apresenta-se a data de 1861 como a da primeira fotografia espírita, obtida por William Mumler, de Boston.
As experiências relativas às impressões e modelos conseguidos com as figuras materializadas ou ectoplásmicas foram procedidas, inicialmente, em 1872, por William Denton, autor do livro Segredos da Natureza; com a médium Maria Hardy, conseguiu-se, com parafina fervente, alguns moldes da face de um Espírito.
O Dr. Nichols, com o médium Eglinton, conseguiu luvas ocas, de mãos ectoplásmicas, porém, os melhores resultados foram obtidos por Epes Sergeant, operando com a médium Hardy.
Richet e o Conde Potocki, sem que o médium Kluski soubesse, juntaram à parafina um pouco de colesterina, a fim de descobrirem qualquer possível truque. A colesterina foi encontrada nos moldes, na análise que procederam, bem como verificado que os sinais visíveis, nos modelos, eram completamente diferentes dos das mãos do médium. Escultores e modeladores examinaram os trabalhos e declararam que não conheciam processos que produzissem modelos de cera semelhantes àqueles.
Allan Kardec
O Espiritismo na França se concentrou em Allan Kardec, com a característica da crença da reencarnação.
A teoria da reencarnação, aceita imediatamente por todo o mundo latino, foi mal recebida nos meios anglo-saxões.
Thomas Brevior, diretor da Revista Espírita, assim declarou:
“Quando a reencarnação tiver aspecto mais científico, quando a abonar uma quantidade de fenômenos suscetíveis de verificação como os do Espiritismo moderno, merecerá ampla e detida discussão. Entretanto, deixemos os especuladores se divertirem, levantando castelos no ar; a vida é muito curta e há muito que fazer para nos ocuparmos em erigir ou demolir esses edifícios aéreos. é melhor trabalhar em coisas sobre as quais todos estamos de acordo, que falar de outras das quais dissentimos sem remédio.”
William Hovitt, reputado líder do Espiritismo inglês, condenou a teoria da reencarnação em termos veementes.
Em A Pluralidade de Existências, de Pezzani, o autor transcreve a opinião de Aksakof:
“Vê-se claramente que a propaganda dessa doutrina, por Allan Kardec, foi assunto de sua maior predileção; a reencarnação não está em seu livro como tema de estudo, mas como dogma. Para sustentá-la, recorreu sempre a médiuns escreventes, os quais, como é sabido, são facilmente influenciados por idéias preconcebidas, e o Espiritismo as há engendrado em profusão; no entanto, através de médiuns físicos, as comunicações são objetivas, e não se tem notícia de que alguma tenha sido favorável à reencarnação. Kardec prescindiu sempre desta classe de mediunidade, sob o pretexto de sua inferioridade moral. Os poucos médiuns físicos, franceses, que desenvolveram as suas faculdades, apesar de Kardec, jamais foram por ele mencionados; ao contrário, permaneceram desconhecidos aos espíritas, só porque em suas comunicações não sustentavam a doutrina da reencarnação.”
Quase todos os espíritas do mundo anglo saxônico receberam mal O Livro dos Espíritos. Os periódicos usavam de uma mesma linguagem, às vezes violenta, contra os ensinos que Kardec anunciara, principalmente quanto ao que chamavam dogma da reencarnação.
Os anos correram. Ligeiras modificações já se vão experimentando, e, nos próprios países em que combateram a reencarnação, surgem médiuns notáveis que, aos poucos, farão que todos os povos aceitem a teoria da reencarnação, que não é de Kardec, mas dos Espíritos incumbidos de lhe transmitirem a Codificação.
Como todos os portadores de missão muito alta, Kardec não foi compreendido nem mesmo pelos seus colaboradores mais próximos e muito menos pelos seus contemporâneos em geral. Até mesmo o grande Camille Flammarion, que foi seu médium e admirador, no discurso necrológico, classifica-lhe a obra de pessoal. Ora, quem desce à Terra para fazer algo de novo, ainda incompreensível para a Humanidade, tem fatalmente que fazer obra de aparência pessoal, porque não conta com a compreensão e o apoio dos homens. Com o escasso material disponível em seu tempo, Kardec fez uma obra que perdura e desafia os séculos, demonstrando, assim, o cumprimento de sua elevada missão superiormente dirigida pelos Espíritos. Seria impossível obter a colaboração geral e fazer obra cientificamente impessoal, porque ele não podia e ainda não pode ser compreendido por todos os estudiosos dos mesmos fenômenos.
A Revelação que recebeu é a mais completa e perfeita que se conhece, apesar de magnífica ser a de Davis. Não se lhe pode tirar o título de Codificador do Espiritismo, mesmo porque a própria palavra - Espiritismo - foi por ele criada.
Kardec, o fundador da filosofia espírita, nasceu em Lion, às 19 horas do dia 3 de Outubro de 1804 e desencarnou em 31 de março de 1869.
Herdeiro de nome respeitável, descendente de uma família de advogados e magistrados, o jovem Rivail se inclinou, porém, para a Ciência e para a Filosofia. Fez os primeiros estudos em sua terra natal e em seguida partiu para a Suíça, onde, de discípulo, se tornou em colaborador de Pestalozzi, substituindo-o na direção do Colégio de Yverdun, todas as vezes que aquele célebre educador era chamado pelo governo de outros países da Europa. Bacharel em letras e em Ciências e doutor em Medicina, conhecia a fundo e falava corretamente meia dúzia de línguas. Casou-se com a Srta Amèlie Boudet, professora de 1ª classe, que era nove anos mais velha do que ele. Nessa época, Léon-Hyppolyte-Denizard Rivail era diretor do Instituto Técnico. Publicou inúmeras obras didáticas adotadas na própria Universidade da França. A fortuna já lhe começava a procurar quando, em 1854, resolveu tudo abandonar, para seguir a estrada que certamente lhe estava pré-determinada, qual seja a de estudar, classificar e codificar os ensinos transmitidos a pelos médiuns, já então existentes em grande número.
Assim, na época das mesas girantes, ao dizer-lhe Fortier que não só giravam como falavam, Kardec, duvidando da realidade, dispôs-se a estudar o fenômeno, em maio de 1855, resultando, desse estudo, o aparecimento de O Livro dos Espíritos e da Sociedade Espírita de Paris, em 1859; de O Livro dos Médiuns, em 1861 (ano memorável pelo fato monstruoso do auto de fé levado a efeito em Barcelona, em que foram queimados pela fogueira dos inquisidores trezentas obras espíritas); em abril de 1864 publicou O Evangelho Segundo O Espiritismo; em 1865 publicou O Céu e O Inferno; em 1868 A Gênese; em 1869 fundou a Livraria Espírita, anexa à Revista Espírita.
Kardec não foi perfeitamente compreendido pelos homens do seu tempo. Sofreu muito. Sua obra, porém, atravessou fronteiras e já hoje ilumina criaturas de todos os países do Planeta, quer em línguas regionais, quer na língua internacional - O Esperanto.
Roustaing
Antes de 1850, vários escritores franceses, certamente influenciados pela leitura das obras de Swedenborg, já nos apresentavam idéias espíritas, através dos seus livros. Honoré Balzac escreveu mais de seis obras: Louis Lambert, Seraphitus Seraphita, Ursule Mirouet, Les Proscripts, La Recherche de l ‘Absolu, Peau de Chagrin, etc, e L. A. Cahagnet, apresentou verdadeiras revelações em seus livros Arcanos da Vida Futura e Santuário do Espiritualismo.
Quando Kardec publicava a sua segunda obra - O Livro dos Médiuns, em 1851, o Sr. J.-B. Roustaing, advogado em Bordéus e presidente da Ordem dos Advogados, iniciava o seu trabalho de pôr em ordem as revelações recebidas através da médium mecânica Sra. Collignon, mãe do prefeito, publicando-as em seguida, em 1866, três anos antes de decesso do Codificador.
A obra publicada por Roustaing - Revelação da Revelação - encerra o estudo de todos os versículos dos quatro evangelhos, explicados pelos próprios Evangelistas. É a obra mais completa, no gênero, não tendo sequer uma outra que se lhe compare, mesmo entre as demais religiões.
Em Revue Spirite, de junho de 1867, Allan Kardec, ao noticiar o aparecimento desse trabalho, julgou-o “considerável e com o mérito de não estar em contradição, por qualquer dos seus pontos, com a doutrina ensinada no O Livro dos Espíritos e no dos Médiuns, e que ele, Kardec, não havia realizado trabalho semelhante, porque não julgara oportuno fazê-lo, antes que a opinião geral estivesse familiarizada com a idéia espírita.”
Nesse mesmo artigo, Kardec nem aprovou e nem reprovou a obra de Roustaing, no entanto, criticou-a por ser muito desenvolvida e, apesar de admitir como razoável e possível a teoria do “corpo fluídico”, declarou-a hipotética, enquanto não fosse confirmada no futuro.
Assim, as mesmas objeções que a escola anglo-saxônica levantou contra Allan Kardec, não lhe aceitando a teoria da reencarnação, foram por ele utilizadas na sua apreciação à de Roustaing.
Os discípulos de Roustaing replicaram que Kardec não havia presenciado os fenômenos de materializações demoradas, obtidas por Crookes, e, posteriormente, chamaram a atenção para o Livro de Tobias, da Bíblia, onde se encontra um anjo, em corpo fluídico, vivendo vários meses em companhia da família de Tobias.
Dessa forma, o mundo espírita ficou assim dividido, até os dias de hoje:
1. Os que aceitam a reencarnação;
2. Os que não aceitam a reencarnação;
3. Os que aceitam a reencarnação e o corpo fluídico.
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