terça-feira, 3 de maio de 2011

01 Resumo Histórico do Espiritismo


01/03

Resumo Histórico
do Espiritismo

por   A. Wantuil de Freitas
Reformador (FEB) -  Junho a Dezembro  de 1945

Swedenborg

            Emmanuel Swedenborg, vidente sueco nascido em 1668 e desencarnado em Londres, em 1772, era um homem de enorme e variada cultura, engenheiro de minas, autoridade em metalurgia, engenheiro militar, astrônomo, físico, zoólogo, anatomista, financista e economista. Foi enérgico na juventude e amabilíssimo em sua velhice.

            A vidência lhe surgiu na infância, seguida, logo depois, da clarividência a distância. Educado entre a nobreza sueca, transportou-se mais tarde para Londres, onde as suas teorias aparecerem em 1744, através dos livros que escreveu.

            Ensinava que o Universo se compunha de esferas diferentes, com vários graus de luminosidade e felicidade, e que essas esferas nos servirão de morada depois da morte na Terra, de conformidade com as condições espirituais que aqui tenhamos conseguido. Nesses mundos seremos julgados automaticamente por uma Lei espiritual, de acordo com o que houvermos realizado na Terra.

            Há casas, templos, clubes e palácios nessas esferas, e os seres, que nelas habitam, recebem os recém-chegados que, após um período de repouso, recobram a consciência do seu novo estado. Não há qualquer mudança com a morte. O homem nada perde ao falecer, pois continua até mais perfeito que no estado corpóreo, conservando suas faculdades, modo de pensar, crenças e opiniões. As crianças, batizadas ou não, são recebidas e encaminhadas por criaturas que lhes servem de mãe.

            Não há castigos eternos. Os que habitam os infernos, desde que se desenvolvam, que progridam, passam para mundos melhores, e os que se encontram nos céus, não o estão de modo permanente, pois todos trabalham para atingir um mundo superior.

            Há, por lá, arquitetos e mecânicos, flores e frutos, bordados, arte, música, literatura, ciência, colégios, museus, livrarias e até esportes, o que no faz lembrar os tronos e as coroas do céu dos católicos e os ensinamentos magistrais que vêm sendo transmitidos no Brasil, mediunicamente, através dos livros “Nosso Lar”, “Os Mensageiros” e outros.

            Os velhos, os doentes e os aleijados renovam-se e recobram gradualmente o seu vigor, e os casados continuam juntos se os seus sentimentos mútuos os atraem.

            Se levarmos em conta a época em que ele viveu, podemos dizer que Swedenborg expôs as suas idéias com clareza; não o fez, porém, com a perfeição, a experiência e direção que mais tarde orientaram a Allan Kardec.
Seus discípulos não lhe compreenderam a obra e fecharam-se num estacionamento lamentável, tanto assim que, ao aparecerem os primeiros trabalhos de Andrew Jackson Davis em 1846 grande for a hostilidade que moveram a Davis.

            Os ensinos desse homem extraordinário estão contidos nas suas obras - “Céu e Inferno”, “A Nova Jerusalém” e “Arcana Celestial”.

IRVING

            As manifestações espíritas, entre os anos de 1830 e 1833, foram qual ponte de ligação entre o místico Swedenborg e o profeta do Espiritismo inglês, Andrew Jackson Davis. À frente do movimento encontrava-se Edward Irving, descendente de uma família de humildes e pobres trabalhadores da Escócia. Nasceu Irving em 1792 e estudou com muita dificuldade. Era um tipo agigantado e de força hercúlea, desfigurado por feio sinal numa das vistas.

            Em junho de 1831, surgiram os primeiros fenômenos na igreja de Irving. Não somente fenômenos de xenoglossia, mas vários outros se verificaram na sacristia de sua igreja, ao ponto de produzirem verdadeiro pânico na assistência. E como algumas daquelas manifestações não se conciliavam com a ortodoxia, consideravam-nas como de origem diabólica, aliás, os “guias” dos prosélitos de Irving eram maléficos, brincalhões e zombeteiros, e isso pela atração dos médiuns inexperientes daquela época.

            Enquanto Irving organizava a sua Igreja com sacerdotes e diáconos; nos Estados Unidos surgiram fenômenos nas comunidades dos Shakers, com a manifestação de Espíritos de índios (pele vermelha), daí, talvez, ser muito comum, na Inglaterra e na América do Norte, possuírem quase todos os médiuns de efeitos físicos o seu “guia” pele vermelha, semelhantemente ao Brasil, com os seus caboclos, índios e hindus.

            Os Shakers chegaram à conclusão de que os índios apareciam não para ensinar, mas, para aprender. Aliás, tendo perguntado, certa vez, a um Espírito o motivo por que não se aperfeiçoava no Espaço, ele deu a seguinte resposta: “Esses seres estão mais perto de vós que de nos outros; podeis chegar até a eles, enquanto nós não o podemos.”

            Em resposta a outra pergunta que fizeram a um Espírito, se a magia e a necromancia pertenciam à mesma categoria, respondeu: “Sim, e isso ocorre quando o Espiritismo é usado para fins egoístas”.

            Como se vê, apesar do atraso daquela época, quanto às comunicações com o mundo espiritual, alguns ensinamentos preciosos chegaram até a época presente, visto que hoje sabemos com provas seguríssimas, que o médium recebe sempre a companhia dos que lhe são afins.

Davis

            Andrew Jackson Davis, filho de operários, nasceu às margens do Hudson, entre gente simples e ignorante, e morreu na idade de oitenta e quatro anos, em 1910. Até a idade de dezesseis anos, era um retardado intelectual, de corpo mirrado, todavia, aos dezenove anos, publicou um profundo e original livro de Filosofia, oriundo, já se vê, da sua prodigiosa mediunidade, tal como aconteceu no Brasil, onde outro médium, nascido em meio igualmente inculto, o Sr. Francisco Cândido Xavier, escreveu uma notável e originalíssima obra poética “Parnaso de Além Túmulo”, aos dezessete anos, seguida de mais de uma vintena de obras outras 

(Nota do Blogueiro: Na década de 90, a obra de Chico Xavier completou-se com cerca de 400 livros!) , em estilo elevado e sobre assuntos variadíssimos.

            Ainda como o célebre médium brasileiro, Davis desde a infância começou a ouvir vozes agradáveis, seguidas de clarividência, recepção do dom das mediunidades curadora e receitista e de inúmeras obras filosóficas.

            Muito conhecido é o fato de Davis se haver transportado, espiritualmente, na manhã de 6 de março de 1844. da pequena localidade de Poughkeepsie, onde morava, às montanhas de Castskill, quarenta milhas distantes de sua casa. Seus mentores eram os Espíritos de Galeno e de Swedenborg.

            Quando em transe, falava várias línguas, expondo conhecimentos elevadíssimos de Geologia, Arqueologia histórica e bíblica, Mitologia, questões lingüísticas e outros assuntos. Não era um homem religioso e nem acreditava na interpretação literal da Bíblia; era, porém, honrado, sério, incorruptível e amante da verdade.

            Dois anos levou Davis inconsciente, mediunizado, ditando seus livros sobre os segredos da Natureza, enquanto, consciente, se instruía em Nova York.

            Sua pessoa chamou a  atenção do Dr. Lyon, do Rev. William Fisbough e de muitos homens cultos entre os quais se encontrava Edgard Allan Poe.

            Antes de 1856 profetizou o aparecimento dos automóveis, das máquinas de escrever e da navegação aérea, sendo essa última impulsionada por uma força motriz que faria os veículos aéreos atravessarem os céus de um país para outro. Predisse, ainda em 1847, o aparecimento do Espiritismo, dizendo que mui brevemente essa verdade seria revelada e demonstrada.

            Através de suas visões, apresentou-nos o Além. Viu uma vida semelhante à da Terra, vida a que se poderia chamar semi-material, com prazeres e objetivos adaptados às nossas naturezas, as quais não são modificadas pela morte. Viu escolas para os estudiosos, trabalho intelectual, arte e lugares de repouso. Viu as várias faces e graus de progresso espiritual. Apresentou-nos o dinheiro, o álcool, a luxúria, a violência e o sacerdócio como ocasionadores do retardamento do progresso da raça humana. Toda a sua obra, de grande luminosidade, foi uma preparação para o aparecimento do Espiritismo, havendo conhecido a demonstração material de Hydesville, desde o primeiro dia.

            Tão célebres se tornaram seus livros, nos países de língua inglesa, que o notável crítico Wake Cook, numa de suas obras, qualificou os ensinamentos de Davis como capazes de reorganizar o mundo.
           
Hydesville

            Hydesville, pequeno povoado de pessoas incultas, situado a umas vinte milhas da cidade de Rochester, com as suas casas pobres, de madeira, apresentou ao mundo a prova evidente de que seria possível a comunicação entre os dois mundos, apesar de aquelas manifestações provirem, inicialmente, de um Espírito ávido por vingança.

            Numa das humildes casas daquele povoado morava uma família de lavradores, a família Fox, composta do pai (John), da mãe (Margareth), ambos metodistas, e de suas filhas, Margareth, de catorze anos e Catherine, de apenas onze anos de idade. Os outros filhos do casal moravam em Rochester.

            A família Fox alugou a casinha em 11 de dezembro de 1847, mas, apesar de os antigos inquilinos se terem queixado dos ruídos que lá ouviram, os novos moradores nada perceberam de anormal até o começo do ano de 1848. Tais ruídos e pancadas eram semelhantes aos verificados em 1661, na Inglaterra, em casa de Mr. Mompesson, em Tedworth, conforme nos relata o Rev. Joseph Glanvil em sua obra Saducismus Triumphatus, ou aos citados por Malachton, ocorridos em Oppenheim, na Alemanha, em 1520; todavia, os fenômenos produzidos em Hydesville estavam destinados à realização de uma verdadeira transformação das velhas concepções religiosas.

            Assim, só em março de 1848 recomeçara,, numa intensidade crescente, os ruídos na humilde casinha, então habitada pelos Fox: ruídos, pancadas e barulhos de móveis a se moverem . As meninas se alarmaram e os pais se viram obrigados a passá-las para o quarto do casal, porque as próprias camas tremiam.

            Em 31 de março do mesmo ano, houve uma forte explosão, mas, como os ruídos não cessassem, a pequena Catherine desafiou o poder invisível para que se repetisse as pancadas que ela produziria com os dedos. O invisível aceitou o desafio e passou a responder às pancadas.

            Dessa forma se iniciaram as comunicações do mundo espiritual com o mundo corporal. Naquela humilde casinha nasciam para a Humanidade os conhecimentos que mais tarde seriam codificados pelo famoso missionário francês, Allan Kardec.

            Com o alfabeto idealizado pelo Sr. Duesler, presidente do Comitê, no qual cada letra correspondia a um certo número de pancadas, inúmeras perguntas foram feitas, algumas de caráter privado e mesmo mentalmente.

            Numa das perguntas respondidas, disse o invisível que a Senhora Fox havia tido sete filhos. Ela protestou, pois não se lembrara, no momento, de um filho que perdera logo após o nascimento dele. Nessa memorável noite de março, todas as perguntas feitas ao fantasma obtiveram respostas satisfatórias, e, nessa mesma época, o Espírito contou que havia sido morto naquela casa, deu o nome da pessoa que o matara quando ele tinha trinta e um anos de idade, à meia noite de uma terça feira, e que sua morte se dera cinco minutos antes, a fim de lhe roubarem quinhentos dólares. Informou que se chamava Charles B. Rosma, vivendo com sua mulher, cinco filhos e duas filhas, que fora degolado com uma faca de açougueiro e enterrado a dez pés de profundidade. Os investigadores foram ao local e ouviram pancadas que partiam de dentro da terra, mas, como ao abrirem a cova encontraram água, deixaram o trabalho para ser efetuado no verão daquele mesmo ano, o que foi feito por David Fox, ajudado por Bush, Granger e outras pessoas. A uns cinco pés de profundidade encontraram uma tábua, em seguida, alcatrão, cal e, por fim, alguns ossos humanos, segundo exame pericial procedido pelos médicos.

            A reunião de 31 de março e a do dia seguinte tiveram a presença de quase duzentas pessoas e na de 2 de abril as pancadas começaram a ser ouvidas quer de noite, quer de dia.

            Robert Dale Owen, membro do Congresso dos Estados Unidos e, anteriormente, ministro de seu país em Nápoles, compareceu a casa da família Fox e nos deixou uma exposição de todos os fatos.

            Transportada, logo depois dos acontecimentos, para a casa de sua irmã Lea Fish, em Rochester, Catherine continuou ouvindo ruídos e barulhos. Descoberto o fato, centenas de pessoas afluíram à residência da Sra. Fish, que, por isso, se viu obrigada de exercer a sua profissão de professora de piano, no entanto, os ruídos começaram a surgir em várias casas de Rochester, como na do Rev. Jervis, ministro metodista, e na do diácono Hale, residente numa cidade próxima, de nada valendo as preces dos protestantes e os exorcismos do clero, pois as forças invisíveis não paravam de obrar.

            Tão extraordinários eram os fatos  que muitos homens de elevada cultura  começaram a estudar o Espiritismo, aliás, numa das primeiras comunicações recebidas, o Espírito de Rosma, ou outro por ele, anunciava que aquelas manifestações se alastrariam pelo mundo.

            Apesar dos anátemas partidos dos púlpitos, em 14 de novembro de 1849, os espíritas fizeram uma grande reunião pública em Rochester, na Sala Coríntia, a maior que existia naquela cidade, onde alguns defenderam e outros acusaram as irmãs Fox de trapaceiras.

            O Governador Tellmadge converteu-se ao Espiritismo e obteve, por médiuns diferentes, que então surgiram, a seguinte comunicação: “Nosso desejo é que a Humanidade viva em harmonia e que os céticos se convençam da imortalidade da alma”.

            Inúmeras vezes as irmãs Fox se prestaram ao estudo de homens de ciência, sendo de notar que, numa dessas ocasiões, em 1850, em Nova York, elas compareceram a uma reunião em que estiveram presentes: O Rev. Griswald, o novelista Fenimore Cooper, o historiador Brancroft, o Rev. Dr. Hawks, os doutores Francis e Marcy, o poeta Willis, o poeta Bryant, o General Lyman e o jornalista Bigelow, do Evening Post. Todos eles se declararam satisfeitos.

..................................................................................

            Em 23 de novembro de 1904, exatamente 55 anos mais tarde, o Boston Journal, periódico não espiritista, noticiava que fora encontrado o esqueleto, quase inteiro, de um homem, entre os escombros das paredes derruídas de um muro existente na casa que fora habitada pela família Fox, bem como um baú de folha de flandres.

            Diante dessa notícia, conclui-se que o cadáver fora coberto com cal viva, mas, depois, alarmado por qualquer motivo, o assassino transportou o corpo, ou parte dele, para debaixo do muro.

            Lucrécia Pulver, que fora empregada e hóspede do casal Beli, ocupante da casa quatro anos antes dos acontecimentos de 1848, informou que vira, certa vez, a terra remexida naquele lugar e que disso dera notícia à sua patroa, e que o Sr. Bell, dias depois, à noite, num demorado trabalho, deitara vários escombros sobre o local, dizendo-lhes que assim fizera para tapar os buracos por onde poderiam sair as ratazanas que eles lhe asseveraram ser os causadores do revolvimento da terra. Informou, ainda, que esse acontecimento se verificou logo depois de um vendedor ambulante, da idade aproximada de trinta anos, haver pernoitado na casa dos seus patrões, noite essa em que ela dormira fora.

            Hoje se encontra, no local onde foi a cabana da família Fox, um obelisco com os dizeres: “Aqui nasceu o Novo Espiritualismo, em 31.III.1848”.

As Irmãs Fox

            Após saírem de Hydesville, aquelas inexperientes meninas, sem a assistência de seus pais, rodeadas de elementos heterogêneos e em contato com a sociedade, com as suas virtudes e vícios, já não eram as mesmas criaturinhas simples que tremiam de medo diante das manifestações barulhentas produzidas pelo fantasma da humilde casinha daquele pacato povoado.

            Em Nova York e em outras cidades, por onde se exibiram durante quarenta anos seguidos, as irmãs Catherine e Margareth foram submetidas a vária provas, delas saindo sempre vitoriosas. Horace Greeley, candidato mais tarde à presidência dos Estados Unidos, entusiasmou-se de tal forma pelas Fox que, segundo foi propalado, facilitou os recursos necessários para lhes completar a educação.

            Ignorantes, completamente, elas e os que as assistiam, das leis que regem os fenômenos e os perigos que poderiam provir da inobservância dessas leis, só atualmente conhecidas, ficaram expostas às influências de reuniões promíscuas, nas quais os assistentes, pelas perguntas que faziam, demonstraram supor que o fato existia apenas para lhes satisfazer à curiosidade, para fins exclusivamente materiais, fúteis, conforme relata a Sra. Harding Britten.

            Crianças ainda, inexperientes da vida, festejadas, elogiadas e entusiasmadas, deixaram-se levar para as festas e para as bebidas, e só não caíram em questões de honra por uma proteção que certamente as guardava do mundo invisível.

            Nessa época, em 1852, apaixonou-se por Margareth o Dr. Elisha Kane, mais tarde famoso como explorador ártico. Como médico e como protestante, o Dr. Kane não aceitava os fenômenos de uma exploração das irmãs Fox pela sua irmã mais velha Lea, com fins de lucros pecuniários, opinião que ele conservou, mesmo depois do casamento desta com um homem rico, Sr. Underhill.

            Margareth casou-se com o Dr. Kane, que faleceu pouco depois, em 1857. A viúva Fox Kane repudiou durante algum tempo todos os fenômenos espiritistas e ingressou na igreja Católica Romana.

            Mais tarde, Mr. Charles E. Livermore, famoso banqueiro de Nova York, reconhecido ao consolo que lhe trouxeram as comunicações que recebeu, custeou a viagem de Catherine à Inglaterra, arranjou-lhe uma senhora para companhia e recomendou-a a Benjamim Coleman, um dos líderes do movimento espírita inglês, a quem cientificou que a perfeição das manifestações dependia das pessoas presentes à reunião e que, em sua presença, ela havia recebido mensagens em francês, espanhol e italiano, apesar de ela não conhecer esses idiomas.

            Coleman tomou as providências necessárias e Catherine compareceu a várias reuniões onde se achavam presentes vultos notáveis, como Cromwell F. Valery, William Crookes, S. C. Hall, W. H. Harrison, Rosamunda Dale Owen e o Rev. Juan Page Hopps.

            Em 24 de novembro de 1871, em companhia do célebre médium D. D. Home, seu grande amigo, realizou uma sessão em que ambos tiveram os pés e as mãos atadas, em presença de um redator de The Times, jornal este que, a seguir, publicou a notícia da reunião, dedicando-lhe três colunas e meia. Além de comunicações por pancadas, havia o aparecimento de mãos luminosas que escreviam e, algumas vezes, surgiam formas completas materializadas, bem como transportes, escrita direta, etc.

            Em 14 de dezembro de 1872, a Srta. Fox casou-se com Mr. Jencken, advogado em Londres, autor de um “Compêndio de Direito Romano Moderno” e de outras obras, secretário geral honorário da Associação para a Reforma e Codificação do Direito Internacional e um dos primeiros espíritas da Inglaterra.

            Ao banquete nupcial compareceram também os Espíritos, com os seus ruídos e até levantando várias vezes a mesa em que se encontrava o bolo nupcial.

            O professor Butlerof, da Universidade de S. Petersburgo, depois de efetuar as suas investigações, assim escreveu em O Espiritista, de Londres, em 4 de fevereiro de 1876:

            “De tudo que observei em presença da Sra. Jencken Fox, deduzo que os fenômenos peculiares a essa médium são de natureza solidamente objetiva e convincente, e os creio suficientes para que os mais obstinados cépticos, se honestos, repilam a suspeita de ventriloquia, ação muscular e qualquer outra explicação do fenômeno.”

            Enviuvando em 1881, Catherine ficou com seus dois filhos órfãos, e, então, começaram a aparecer-lhe as lutas previstas numa comunicação que recebera em 1873, que assim dizia: “Quando vierem as sombras a envolver-te, ao acabar teus dias, pensa no lugar da luz.”

            Em 1876, a ela se reuniu a sua irmã Margareth Fox Kane, em Londres, e juntas continuaram alguns anos, até que houve uma disputa entre a irmã mais velha, Lea, e as duas irmãs, tentando aquela tomar-lhe os filhos, sob a alegação de que as duas irmãs se davam a bebidas.

            Influenciada pelo cardeal Manning, Margareth, por promessas de dinheiro ou com o fim de ferir indiretamente à sua irmã Lea, excitada pelo álcool e pela raiva (do mesmo modo por que Home se deixou influenciar por algum tempo de que suas faculdades eram maléficas), confessou que todos os fenômenos eram uma farsa, em publicações pelo New York Herald, durante os meses de agosto e setembro de 1888, onde ela então se encontrava.

            Em outubro, desse mesmo ano de 1888, Catherine foi para Nova York, reunindo-se à irmã. Nessa ocasião queixou-se de Lea haver tentado retirar-lhe os filhos e acusou-a de invejar-lhe as faculdades mediúnicas.

            Depois de quarenta anos de exibições públicas, sem qualquer controle e sem a mínima compreensão do dom mediúnico, penosa se tornou a situação das irmãs Fox.

            Como não lhe pagassem a quantia combinada pelo escândalo que ela provocou, com a sua declaração pelo New York Herald, Margareth, em companhia de Catherine, apresentou-se em 21 de outubro de 1888 no Salão de Música de Nova York, literalmente cheio, onde se reafirmou a sua reputação de médium, com a produção de ruídos, e, em novembro, Catherine escreveu uma carta à Sra. Cootell, em Londres, carta que foi publicada em “Light”, em 1888, pág. 619. Nessa missiva, Catherine censurava o procedimento de Margareth, por haver acusado o Espiritismo.

            Eis que, em 20 de novembro de 1889, a imprensa de Nova York publicava novas declarações de D  Margareth, confessando que havia propalado falsidades por motivos inconfessáveis. Nas suas entrevistas e declarações que foram presenciadas por várias testemunhas, entre as quais o Sr. O’Sullivan, ministro dos Estados Unidos em Portugal, durante vinte e cinco anos, há trechos como estes:

            “Faço a presente retratação não só inspirada em meus próprios sentimentos de verdade e justiça, mas também estimulada pelos Espíritos que usam do meu organismo, apesar do bando de traidores que me fizeram promessas de felicidade e de riqueza em troca dos meus ataques ao Espiritismo, promessas que se tornaram enganosas...

            “Foi uma vergonha o que fez comigo Frank Stechen, que depois de se encher de dinheiro como meu empresário, me deixou em Boston sem um cêntimo...”

            Lea, todavia, sempre compreendeu melhor que suas irmãs aqueles fenômenos. Percebeu a finalidade religiosa daqueles movimentos e deixou-nos um magnífico livro destinado a sobreviver a toda a literatura espírita, editado em Nova York, por Knox & Co., em 1885.

            As irmãs Catherine Fox Jencken e Margareth Fox Kane faleceram no último decênio de século 19 e suas mortes foram extremamente tristes, vítimas que foram das más influências que delas se apoderaram, expondo-as ao ridículo com as falsas informações que lhes davam, aliás, como hoje sabemos, resultantes sempre do mau emprego da faculdade mediúnica.

            Nada há de estranho em todos esses fatos tristes e lamentáveis, visto que a Doutrina Espírita explica claramente os perigos a que ficam sujeitos os médiuns, mesmo porque, não há a menor conexão entre moralidade e mediunidade física, como não há entre um ouvido educado para a música e a moralidade do executante, salvo a possibilidade de melhores resultados, quando a moralidade existe concomitantemente ao lado da mediunidade.

            Geralmente, os grandes médiuns de efeitos físicos não se preocupam com o estudo das leis que regem os fenômenos e com a finalidade da sua existência, daí o sucumbirem. No estudo das ciências terrenas, também assim acontece. Os primeiros médicos que aplicaram os raios X, antes que fossem conhecidas as suas propriedades, foram vítimas de lesões e até mesmo da perda dos dedos e das mãos.

            De qualquer forma, as irmãs Fox merecem o nosso respeito e o nosso amor, porque delas partiu a luz que despertou o missionário que se encontrava na França, à espera do momento de iniciar a sua incomparável e sublime Codificação.

Na América do Norte e na Inglaterra

            Em 1849, já existiam na América do Norte pequenos grupos espiritistas, todos, porém, mal organizados, e sem noção de suas responsabilidades, lutando uns contra os outros, cada qual se apresentando como modelo para os demais.

            Só em 10 de junho de 1854, depois, portanto, da adesão de John W. Edmonds, primeiro juiz do Tribunal de Nova York, e da conversão do Dr. Robert Hare, professor de Química da Universidade da Pensilvânia, até então inimigo do Espiritismo, é que começou, de maneira estável, o movimento espiritista na América do Norte, com a fundação de uma Sociedade que contava em seu meio com o Juiz Edmonds e o governador Tallmadge.

            Nesse período inicial, é justo que se destaque a figura inconfundível da Sra. Ema Harding Britten, autora do Espiritismo Moderno Americano e Milagres do Século XIX, os melhores livros sobre o assunto, naquela época, e verdadeira missionária da Nova Revelação, não só porque fundou jornais, publicou e fez conferências públicas, senão também por haver estendido o seu trabalho à Austrália, à Nova Zelândia e à Inglaterra, apesar da enorme perseguição que à nova doutrina era feita de todos os púlpitos americanos e das tribunas das Academias Oficiais, ao ponto de expulsarem o estudante Fred Willis, da Universidade de Harvard, por praticar a mediunidade.

            A Sra. Harding Britten trabalhou pela causa durante quarenta e tantos anos, até que desencarnou em 1899.

            Ainda nessa época, Linton, ferreiro quase analfabeto, recebeu mediunicamente um livro de 530 páginas - A Saúde das Nações, prefaciado pelo governador Tallmadge.

            Durante o inverno de 1862, comparecia à Casa Branca, para realizar uma sessão espírita, em presença de Abraham Lincoln, de sua senhora e de muitas pessoas gradas, a médium inconsciente Maynad. (Em solteira Nettie Colburn).

            Dessa memorável e histórica sessão, resultou a atitude de Abraham Lincoln, no momento da guerra civil. A mensagem verbal que ele recebeu por intermédio daquela médium, e que levou mais de uma hora para se transmitida, relacionava-se com o decreto da Emancipação.

            É bem verdade que os documentos históricos, oficiais, não se referem a essa passagem da vida do grande Lincoln, todavia, os fatos foram minuciosamente descritos no livro que a própria médium publicou, onde encontramos o seguinte agradecimento que lhe foi feito por Lincoln, logo após a sessão:

            “Filhinha, possuis um dom mui singular, que só pode proceder de Deus. Muito agradecido por teres vindo aqui esta noite; o que ocorreu é mais importante do que esses senhores podem compreender.”

Home

            Daniel Douglas Home, nascido em 1833, nas proximidades de Edinburgh, aos nove anos foi para a América. Aos treze anos de idade anunciou rigorosamente a morte de um amigo distante, bem como dizia onde  encontrar parentes de há muito perdidos, jóias desaparecidas, etc.

            Sua maravilhosa mediunidade foi sempre oferecida gratuitamente, apesar de inúmeras propostas que lhe fizeram, entre as quais a de mil libras esterlinas para que realizasse, em Paris, uma única sessão, no “Club de Paris”, em 1857. Recebeu, porém, ricos presentes e donativos, de príncipes e de reis, que não poderia recusar sem incorrer na falta de respeito e cortesia. Manteve relação com quase todos os monarcas da Europa. Napoleão III amparou a única irmã de Home e o imperador da Rússia paraninfou o seu casamento.

            Constantemente dizia Home:Não tenho qualquer domínio sobre as minhas forças. Abandonam-me durante meses e voltam novamente, com redobrada energia. Sou um instrumento passivo e nada mais.” Escreveu um livro Luzes e Sombras do Espiritismo.

            Quando na Itália, influenciado pela atmosfera da Igreja Católica Romana, e diante de fenômenos semelhantes aos que consigo se verificavam, pensou em ingressar numa ordem religiosa, e isto quando a sua mediunidade desapareceu pelo espaço de um ano. Seu confessor tudo fez para que isso acontecesse, dizendo-lhe sempre que as suas faculdades eram de origem diabólica e que só a sua entrada para a Igreja poderia libertá-lo dela.

            Um ano depois, a mediunidade lhe voltou com maior intensidade, e ele, casando-se pela segunda vez, com uma senhora de nacionalidade russa, tornou-se adepto da Igreja grega, sendo enterrado, em 1866, sob o rito dessa Igreja.

            Inúmeros foram os livros escritos sobre Home, entre os quais merece ficar registrada a obra de Lord Duraven.
           
Os Davenport

            Ira Erastus Davenport e William Davenport nasceram na América do Norte, respectivamente em 1839 e 1841. Descendentes dos primeiros colonos ingleses, eram médiuns profissionais. Além da mediunidade psicográfica de Ira, não somente ele e William eram médiuns de efeitos físicos, como a sua irmãzinha. Certa vez, em Buffalo, os três levitaram até ao teto, em presença de centenas de pessoas.

            Em Londres, em 1864, a  primeira sessão que os dois Davenport deram, na residência particular de Dion Boucicault, foi assistida por homens de ciência e jornalistas, tendo a imprensa publicado o resultado das reuniões.

            Em Paris, no Palácio Saint-Cloud, apresentaram-se diante do imperador, da imperatriz e de cinqüenta convidados; em Berlim, deram também algumas sessões diante de vários membros da família real. Depois de visitarem a Bélgica, foram à Rússia, onde deram uma sessão na sede da embaixada francesa, com a presença do mundo oficial, e outra no Palácio de Inverno, em homenagem ao imperador e à Família Imperial. Na volta, passaram pela Polônia e pela Suécia, chegaram à Londres em 1868, estiveram novamente na América e de lá seguiram para a Austrália, desencarnando William, em Sydney, em julho de 1877.

            Perseguidos, porque não quiseram renunciar ao Espiritismo, declarando-se 
escamoteadores, foram espancados em Liverpool e vítimas do ódio e da inveja do escamoteador Houdini, que, contra eles, escreveu um livro, felizmente tão cheio de erros e incoerências que não alcançou os resultados previstos pelos seus adversários.

            Entre os livros publicados sobre os irmãos Davenport, encontraremos: Psicografia dos Irmãos Davenport, por T.L. Nichols, Esperiências Espiritistas, por Robert Cooper e um outro, do Rev. J.B. Ferguson.

Os irmãos Eddy

            Os camponeses Eddy, Horace e Willian (os irmãos Eddy) foram também médiuns notáveis de efeitos físicos.

            Quando a mediunidade lhes surgiu, New York Daily Telegraphic enviou o local o Coronel Oliott para descobrir a fraude: todavia, após dez semanas em Vermont, Oliott publicou, em outubro e novembro de 1874, o resultado imparcial do que havia presenciado, bem como resumida notícia sobre os antepassados dos irmãos Eddy, e nos contou que essas mesmas faculdades haviam levado a avó deles à fogueira, como bruxa, por sentença, em Salem, em 1692, tal como aconteceria nos dias de hoje com os nossos médiuns, se a pena da fogueira não tivesse sido substituída por perseguições de todo o gênero. Quando meninos, os Eddy sofreram horrivelmente, pois até na escola eles caíam em transe. Seus próprios pais, ajudados pelos vizinhos, atiravam água fervendo no pequeno Eddy e colocavam brasas incandescentes na cabeça do menino, e, quando maiores, os pais passaram a esplorar-lhes a mediunidade, cobrando taxas pelas suas exibições, mas, ainda neste tempo, eles tinham constantemente os braços e os dedos queimados pelo lacre derretido e feridos pela algemas, que, às vezes, eram tão fortemente ligadas que faziam brotasse sangue pelas unhas dos meninos, conforme o livro de autoria do Coronel Oliott - Gente do Outro Mundo.

            A mediunidade dos irmãos Eddy se manifestou de forma variadíssima: pancadas, movimentos de objetos, pintura a óleo, profecias, conversação em línguas estrangeiras, curas de doentes, levitações, psicografias, psicometria, clarividência e materializações perfeitíssimas, apresentando-se cada Espírito com as vestimentas da sua raça e usos do seu país, bailando, cantando e fumando, em presença dos assistentes.

            Um desses espíritos, Honto, pesado repetidas vezes numa balança, acusou pesos variáveis de 30 a 39 quilos, o que demonstrou que o seu corpo era um simulacro que variava de densidade de minuto a minuto.

            Esse Espírito se apresentou com a falta de um dedo na mão direita, informando de que o havia perdido quando em seu trabalho de marinheiro, na Terra.

                                                                     Slade

            Henry Slade, outro médium dos primeiros tempos, se exibiu na América, durante quinze anos, passando à Inglaterra, em 1876, e, posteriormente, à Rússia. Operava a qualquer hora e em qualquer lugar e se fazia pagara por vinte xelins por sessão de quinze minutos.

            Em 1876, foi processado diante do juiz Flowers, que desprezou o testemunho de Wallace, de Serjeant Coxe e do professor Wyld para aceitar o do acusador, o escamoteador Maskelyne, condenando-o a três meses com trabalhos forçados, pena que não cumpriu, por haver apelado para o Tribunal Superior.

            Em 1877, esteve na Holanda, na Dinamarca e na Alemanha, onde trabalhou sob a orientação de Zöllner e de outros sábios, conforme nos relata o livro Física Transcendental.

            Em 1878, esteve na Austrália, e em 1885 na América, de onde voltou à Inglaterra em 1887, com o nome suposto de “Dr. Wilson”, por temer novas perseguições contra ele.

            Foi acusado algumas vezes de trapaça por Truesdell, mas Zöllner afirmou que os fenômenos por ele observados invalidavam qualquer acusação leviana que se fizesse a Slade; todavia, podemos adiantar que Slade tentou fazer trapaças nos últimos anos de sua vida, quando lhe faltou a mediunidade, após o esgotamento de suas forças físicas pelo uso do álcool, tal como aconteceu com o médium, o clérigo Monck, que depois de dez anos de mediunidade, ao se ver sem ela recorreu a truques.




Nenhum comentário:

Postar um comentário