22CM
Meu caro padre Dubois:
Recebi a sua carta de 23 p.p. e confesso que fiquei desiludido.
Pensei que o amigo, a despeito do seu anonimato,
estava à procura da verdade e, agora,
vejo que o amigo é um sofista que tem interesse em torcer as verdades evangélicas.
Mas, meu amigo, que lhe adianta isso?
A vida é curta, e, quando chegar ao Além,
quanta desilusão e quanta dor terá de curtir!
Continua a sustentar que os dogmas não são obras
dos concílios e sim revelações de Deus,
que é ao mesmo tempo Jesus e o Espírito Santo!
Pergunto-lhe eu: quando Jesus disse:
“E eu rogarei ao Pai e Ele vos enviará o Espírito Santo”,
queria Jesus dizer que Deus se enviaria a si mesmo?
A verdade é que os concílios ecumênicos formularam os dogmas
para evitar as controvérsias entre os diversos povos
e entre o próprio clero, nas diversas Igrejas.
Quanto à sua afirmação de que
“a missão de Jesus e dos apóstolos não consistia em curar doenças”,
é outra negação gratuita, pois assim como Jesus curou,
assim deu poder aos seus discípulos de curar,
e eles, de fato, fizeram as mesmas curas operadas por Jesus.
E mais, as últimas palavras do Senhor, antes da sua ascensão,
segundo o último capítulo de São Marcos, foram estas:
“E estes sinais seguirão aos que crerem:
Expulsarão os demônios em meu nome; falarão novas línguas,
manusearão as serpentes; e, se beberem alguma postagem mortífera,
não lhes fará mal: Porão as mãos sobre os enfermos e os curarão.
Ora, isto era dito dos que cressem nos Evangelhos,
que os apóstolos eram incumbidos de pregar; portanto,
com mais razão deveria abranger os próprios pregadores que
tinham por missão operar os mesmos prodígios do Mestre, para darem
a prova provada da verdade. A Igreja Católica, porém,
não quis saber desse modo de fazer conversões,
preferiu combater o mundo com a fogueira,
a cruz incandescente, por satisfazer melhor o seu instinto.
E quando surgem, por ordem do mesmo Jesus,
uns humildes obreiros, procurando de novo cultivar a vinha,
“é por artes do demônio que eles obram”, diz a Igreja!
Também é sofisma, e dos mais grosseiros,
pretender que os papas (cuja criminalidade o amigo confessa),
a despeito dos seus crimes, eram infalíveis na doutrina,
pois é público e notório que eles se anatematizaram mutuamente,
e sucessivamente anularam os decretos doutrinários dos seus antecessores.
Qual deles estava com a razão: --
o que decretou ou o que anulou o decreto?
O que excomungou ou o que anulou a excomunhão?
O que fazia publicamente o comércio das bulas
ou o que condenou esse comércio?
O que instituiu a adoração às imagens
ou o que condenou essa idolatria?
Com qual deles estava o Espírito Santo?
Quanto ao jejum de Jesus, segundo o Evangelho,
creio que não o pode comparar ao jejum ensinado pela Igreja,
a qual proíbe comer carne e permite comer peixe e outras gostosas iguarias,
e, comprando-se uma licença especial (sempre o comércio),
pode-se comer o que quiser.
Nisso consiste a hipocrisia a que me referi num dos precedentes artigos.
Mas, meu amigo, para que ir mais longe? O senhor está satisfeito com a sua crença; que Deus lhe conserve.
O Espiritismo não quer se impor a ninguém,
ele veio para aqueles que procuram a verdade
e não para os que pretendem possuí-la.
Como nos tempos da vinda do Senhor, os simples,
os humildes, os pequeninos, o receberam, e com ele se consolam,
e os escribas e fariseus o repelem como repeliram a Jesus.
A despeito da vontade deles, a Luz se espalha pelo
mundo afora com uma velocidade que assombra.
Graças ao Senhor...
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