sábado, 26 de março de 2011

21/50 'Crônicas espíritas'




21CM

            Sob o pseudônimo A.B.C., recebi uma carta da qual transcrevo os seguintes tópicos:

            “Prezado senhor:

            “Li hoje, como leio sempre, a sua bem dirigida “Crônica Espírita”. 
Na de hoje (11 de Agosto), não posso deixar de dirigir-me a V. Sª, 
a fim de fazer um ligeiro reparo.
            “Chamou-me a atenção uma afirmação que V. Sª 
nos forneceu hoje e que muito me admira que V. Sª a tivesse feito... 
Como pode V. Sª admitir a existência da papisa Joana?... 
Dirijo-me a V. Sª porque me parece ser um adversário 
(adversário neste ponto) de boa fé... 
(Pode estar certo de que o sou em todos os pontos.) 
V. Sª deve saber que a Leão IV sucedeu imediatamente Bento III, 
não podendo existir, pois o espaço de dois anos e meio para a papisa Joana...
            “Queira perdoar a ousadia e queira V. Sª 
aceitar meus protestos de consideração e apreço. – A.B.C.”
            Em primeiro lugar, peço licença para dizer ao Sr. A.B.C. 
que é de lamentar que os defensores da Igreja 
não se sintam com forças para assinar suas epístolas a mim dirigidas, 
certo de que, se me pedissem de não publicar seus nomes, 
o pedido seria respeitado.
            Sentir-me-ia mais à vontade, 
se soubesse em quem tenho a honra de conversar.
            Enfim, lá vão as razões por que sinceramente acredito
 na existência da papisa Joana, aliás, a meu ver, 
a mais ilustrada de quantos se assentaram na pretensa 
cadeira do pescador humilde, 
a qual, seguindo o conselho de Jesus, 
seu e nosso Mestre, conservou a humildade até ao fim.
            Um vivo contraste com os luxos dos bispos de Roma, 
posteriormente papas.
            Martin de Trappau, chamado o polaco, dominicano, 
confessor e capelão do papa Clemente IV e dos seus três sucessores, 
Adriano V, João XXI e Nicolau III, incluiu a papisa Joana 
na história por ele escrita sob o título “Crônicas dos Soberanos Pontífices”, 
baseado em documentos da biblioteca papal.
            Barônio, confessor do papa Clemente VIII, aceitando como provada 
e verídica a existência da papisa, 
considera-a “um monstro que os ateus e os hereges
 invocaram do inferno por sortilégio e malefício”.
            Seria o caso de perguntar ao amigo, padre Dubois: 
Onde estava o Espírito Santo e Jesus, se os ateus e os hereges
 tinham o poder de fazer surgir do inferno uma mulher 
e colocá-la à testa da Igreja? Parece-me, entretanto, 
que ela estava lá bem a propósito, pois a Igreja pretende ser mãe.
            E da minha parte, estou certo de que, se, em vez de homens, 
tivessem estado mulheres no trono pontifício, 
a Humanidade estaria moralmente mais elevada.
            Florimundo Raymond, crendo na existência da papisa, 
compara-a a um Hercules enviado do céu, 
para esmagar a Igreja Romana, cujos crimes 
tinham provocado a cólera de Deus.
            Alexandre Cook provou com documentos insuspeitos 
a existência da papisa. Mariano Scotus, nos livros que deixou 
na abadia de Fulde, desvaneceu as dúvidas que 
porventura pudessem existir sobre Joana. 
As suas “Crônicas” sobre o pontificado da papisa foram aceitas como autênticas.
            Mariano era um espírito firmemente religioso e 
defensor do papa Gregório VII, contra o rei Henrique, da Alemanha.
            Se não tivesse sido autêntica a história de Joana, 
nem Gregório VII, nem os papas Vitor III, Urbano II e Pascal II, 
contemporâneos de Mariano, tê-la-iam deixado passar impune.
            Alberico de Monte Cassino, célebre escritor do século de Mariano, 
não teria deixado de protestar, se a história da papisa não fosse verídica, 
visto ter sido ele muito dedicado aos papas, como o provam as suas obras.
            Um fato notável é, quando da restauração da catedral de Sienna, 
no século XV, terem sido aí esculpidos em mármore os 
bustos de todos os papas até Pio II, que então governa a Igreja.
            Entre estes foi posto no seu lugar o busto da papisa, 
com a designação: “João VIII, mulher papa”. 
Daí parecer partir a confusão do Sr. A.B.C.
            Foi para evitar que de novo uma mulher pudesse 
sentar-se no trono pontifício, que o clero inventou a Cadeira furada
cuja história, por certo, o meu amigo conhece.
            Não foi na festa do S. S. Sacramento, como pretende o meu amigo, 
que se deu o fato lutuoso de ser a papisa apedrejada 
e seu filho estrangulado, e sim na festa chamada Ambarrallia
que se celebrava em 29 de Maio em Roma e 
em outras cidades da Itália, com o fito de pedir a Deus
 a sua proteção para os bens da terra.
            A procissão saiu do Palácio Latra, morada dos papas daquele tempo.
            E o amigo não ignora que a Inquisição 
só não destruiu o que não lhe chegou às mãos, 
e daí a razão de não se encontrar provas ainda mais evidentes. 
É o que me cumpria dizer ao meu amigo A.B.C.

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