sábado, 1 de janeiro de 2022

O fim da pobreza

 

O fim da pobreza

por Cristiano Agarido (Ismael Gomes Braga)

Reformador (FEB) Fevereiro 1943

             A pobreza, as privações econômicas, a miséria são expiações e provas necessárias somente em mundos atrasados, verdadeiros purgatórios; como o foi a Terra até agora; são dores desconhecidas em mundos adiantados, onde só habitam Espíritos purificados. Pela evolução moral e intelectual dos homens, a pobreza desaparecerá da face da terra, porque o nosso planeta passará da categoria de mundo de expiações e provas, para a categoria de “mundo regenerador”.

             Este ensino dos Espíritos, que vem sendo repetido há oitenta anos, em múltiplas comunicações, está tendo a confirmação na progressão material. As descobertas da ciência, os triunfos da técnica, criando máquinas de produção cada vez mais rendosas, já permitem se produzam quantidades sempre maiores de todas as coisas necessárias à vida e ao conforto dos homens, ou, por outras palavras, a evolução intelectual do homem lhe vai permitindo vencer a pobreza e produzir tanta riqueza, que em certos momentos já o seu excesso causa perturbações. Igualmente a máquina de distribuição da riqueza.

            Criam-se novos veículos, novos meios de circulação dos bens por toda a superfície do planeta. Estabelecem-se assim a solidariedade econômica de todas as regiões pela permuta rápida e fácil de todos os bens materiais.

             Não necessitamos insistir sobre o aumento da riqueza da humanidade, porque está ao alcance de todos. embora nem sempre seja empregada para o bem. Por falta de evolução moral, mui frequentemente o homem emprega para o mal as forças ao seu alcance, causando sua própria infelicidade, em vez da felicidade. O aumento da riqueza é uma força muitas vezes usada com egoísmo, ocasionando grandes males. Para nos certificarmos disso, basta comparemos a quantidade de máquinas empregadas presentemente na guerra: navios, aviões, tanques, canhões, metralhadoras, com as armas usadas antigamente. Ver-se-á que a guerra moderna consome uma quantidade de riqueza com que não poderiam sonhar os guerreiros antigos.

             Apreciemos agora o que nos dizem os grandes Espíritos. Comentando o versículo do Evangelho em que Jesus disse: “Pobres tê-los-eis sempre convosco, ao passo que nem sempre me tereis a mim”, ditaram eles a Roustaing, em 1863, precisamente há oitenta anos, o seguinte:

             “Estas palavras do Mestre não foram compreendidas em espírito e verdade.

            “No que lhe concerne, ele alude ao seu aparecimento na terra, aos tempos e à duração desse aparecimento, para o desempenho da sua missão terrena, acorde aquela duração com as necessidades dessa missão. Alude também à duração da sua vida, humana ao ver dos homens.

            “Os que tomam sempre as suas palavras do ponto de vista das necessidades humanas, sem se lembrarem de que, antes de tudo, ele considerava as necessidades espirituais, falsearam estas: Pobres, tê-los-eis sempre convosco, atribuindo-lhe o pensamento, a afirmação, tão absurda e falsa, quão fatalmente retrógrada, de que a pobreza material há de ser sempre, eternamente, apanágio da Terra, da humanidade terrena.

            “Falando dos pobres da terra, Jesus não aludia especialmente àqueles que carecem de bens materiais, mas de todos quantos se encontram num estado de inferioridade qualquer, que necessita do auxílio, do concurso, do amparo dos homens de boa vontade. Suas palavras se referem às condições dos Espíritos, que uns são inferiores a outros em inteligência. Ele, pois, se referia não só aos que são materialmente pobres, mas também aos que o são moralmente e sobretudo aos pobres de inteligência.

            “No vosso planeta ainda inferior e em via de progresso, bem como em todos os outros igualmente inferiores, sendo a pobreza, tanto a material quanto a moral, uma consequência das provações, sempre haverá pobres de uma e outra categorias, até que esteja concluída a separação do joio e do trigo, isto é, que a depuração da Terra e da humanidade esteja completamente terminada pela separação dos bons e dos maus.

            “Lembrai-vos, porém, do que já diversas vezes temos dito: que da elevação de um planeta não decorre o nivelamento das faculdades.

            “Entre vós sempre haverá pobres, ainda quando do vosso mundo hajam desaparecido tanto a pobreza material, como a pobreza moral. Qualquer que seja o grau de depuração do planeta terreno, aí haverá sempre, num ponto ou noutro, Espíritos depurados, bons, mas menos adiantados do que outros. Esses são os intelectualmente pobres, aos quais os ricos em inteligência, em saber, darão com abundância o que possuem. Já temos dito e não devereis esquecer que, do ponto de vista intelectual, há sempre, entre os Espíritos, hierarquia, no tocante à ciência universal, mesmo quando todos tenham atingido a perfeição moral.

            “A pobreza material deixará de existir na Terra quando dentre vós desaparecerem todas as enfermidades morais. que tendes de expiar renascendo continuamente. Despojei-vos, portanto, dos vossos vícios, quer advenham da carne, quer do Espírito, que deve dominar a matéria, pois que, do contrário os felizes de hoje talvez sejam os pobres de amanhã.

            “O desaparecimento, a cessação completa da pobreza material, de maneira que cada um viva folgadamente do seu labor, será um sonho enquanto a vossa depuração moral não houver suavizado as vossas futuras expiações. As associações, as instituições de beneficência que mantendes são boas, porque provam em vós o desejo de fazer o bem, de socorrer vossos irmãos. Mas, sem desprezardes os socorros materiais, esforçai-vos por socorrer o moral dos homens. Podereis então dizer que a miséria material cessará no planeta terreno, quando dele for expulsa a miséria moral.

            “A esse tempo, prestando-se os homens mútuo e esclarecido auxílio, todos em comum trabalharão na obra comum. Quão longe, porém está essa era bendita em que haveis de entrar!

            “Preparai-vos, não obstante, para ela e fazei com esse objetivo todos os esforços, organizando, com os corações cheios de humildade e desinteresse, de justiça, de amor e de caridade, sociedades para o trabalho de ordem material de ordem moral e de ordem intelectual. Que os “ricos” deem abundantemente aos “pobres” trazendo cada um a tais associações o tributo das faculdades de que possam dispor, a fim de que se espalhem e desenvolvam a educação e a instrução moral e intelectual, explicando aos homens e fazendo-lhes compreender: o amor a Deus acima de tudo e o do próximo como a si mesmos, as maneiras e os meios de praticarem esse duplo amor, de praticarem, observando a liberdade na ordem e a ordem na liberdade, o máximo de mutualidade, de solidariedade, de fraternidade, fonte e regra de todos os direitos e deveres, máximo que se formula nestes termos: um por todos e todos por um, em todas as associações, de qualquer natureza que sejam - comerciais, industriais, agrícolas, morais e intelectuais, compreendidas no rol destas últimas as literárias, as religiosas e as cientificas, em todas as esferas da atividade humana: individual, comum ou social.” (1)

             Como se vê, o caminho indicado pelos Espíritos é multo diferente do que pretendem seguir os partidos políticos e as lutas econômicas nas guerras de classe, porque ataca o mal pela raiz. A miséria moral tem que ser abolida em primeiro lugar, porque a miséria material é apenas um efeito daquela. Nem poderia ser de outro modo, visto que a reforma apenas externa seria mera ilusão. Conservando os mesmos vícios, os homens reconstituiriam sempre os mesmos males. O primeiro desses vícios a combater é o egoísmo que destrói todo o equilíbrio social.

             Fora de dúvida, porém, está que a pobreza desaparecerá da terra. E com a pobreza desaparecerão muitos outros males: ódios, lutas, opressão, traições, assaltos, prostituição, escravização, mercantilismo, jogo, suborno, fraudes, etc., etc.

             A pobreza moral ainda é grande mas a pobreza material já vai desaparecendo. Possivelmente, com o fim da. presente guerra igualmente se aproximará o fim da miséria material. Todas as energias, todos os elementos, toda a inteligência que estão produzindo material de guerra passarão a produzir nas indústrias de paz, e haverá o enriquecimento de todas as coisas necessárias à vida e ao bem-estar da humanidade.

             Será chegado o fim da pobreza. O mundo estará rico, porém, não feliz. A felicidade tem que ser conquistada mais lentamente. O enriquecimento do mundo será somente um passo a mais na conquista da felicidade.

             (1) “Os Quatro Evangelhos”, de J. B. Roustaing, vol. III, pág. 385/7


Um comentário:

  1. O primeiro vício a combater é o egoísmo, que destrói todo e equilíbrio social.

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