Vigiar e examinar
Percival
Antunes (Indalício Mendes)
Reformador
(FEB) Outubro 1964
Muitas comunicações espíritas estão
eivadas de conceitos católicos e alguns confrades menos cautelosos as aceitam
integralmente, sem ao menos analisar o conteúdo das mensagens, eliminando tudo
quanto colida com os princípios doutrinários do Espiritismo.
Nada disso é novidade, mas estamos
numa época em que pouco se examinam essas coisas e daí a intromissão em
determinados centros espíritas de ideias e conceitos puramente católicos e
práticas que não são sancionadas por nossa Doutrina.
Muitas coisas podem ocorrer contra a
vontade do médium. Stainton Moses, médium muito religioso, teólogo, deparou
muitas vezes, em seus escritos automáticos, com proposições ateias e satânicas.
“Quase todos os meus escritos automáticos, confessa ele, eram contrários às
minhas convicções” (“A Verdade Espiritualista”, de C. Picone Chiodo).
A tendência perigosa de se aceitar
tudo quanto venha do Além, subscrita por nomes tidos por ilustres, em vez de
favorecer o desenvolvimento do Espiritismo, prejudica-o, por retardar a
compreensão clara dos seus princípios doutrinários. Um Espírito que inculque a
realização de um casamento “espírita”, sob o argumento de que nada obsta a que os
nubentes sejam abençoados e beneficiados por uma prece, está sofismando.
Afirmar que discordar dessa ideia constitui fanatismo, é capciosa.
Há muitos “espiritismos” espalhados
por aí a fora. Cada qual tem o seu
programa de trabalho, de acordo com a vontade do “dono” da casa. Este faz o “espiritismo”
que mais convenha aos seus conhecimentos ou às conveniências que lhe mereçam
maior consideração. Como resultado dessa liberdade de ação, surgem práticas
absurdas, contraditórias, que iludem as pessoas simplórias e redundam em
explorações por parte daqueles que se interessam em atacar o Espiritismo,
atribuindo-lhe vícios e defeitos que não tem, porque não interessam por
conhecer-lhe a Doutrina e, se a conhecem, fazem como se a ignorassem.
Há um meio de lutarmos todos contra
isso: promovendo uma campanha em favor da difusão da Doutrina Espírita, pela
palavra falada, nas tribunas, assim como no rádio e na televisão, como também pela
palavra escrita, em jornais (profanos, de preferência) e qualquer outro órgão
de divulgação.
Já ouvimos pessoas ditas espíritas
que aceitam a Santíssima Trindade tal como os católicos. Para maior segurança
do erro que cometem, louvamo-nos na palavra do nosso querido Emmanuel, Espírito
sublimado, que diz: “Os textos primitivos da organização cristã não falam da
concepção da Igreja de Roma, quanto à chamada ‘Santíssima Trindade”. Devemos
esclarecer, ainda, que o ponto de vista católico provém de sutilezas teológicas
sem base séria nos ensinamentos de Jesus”. (1)
É indispensável que os espíritas estudem as
obras que esclarecem esses pontos importantes, para que não incidam em erro
lesivos à integridade da nossa Doutrina, principalmente aqueles que têm a
responsabilidade de orientar grupos. Permitir ambiguidades será concorrer para
o enfraquecimento dos postulados kardequianos.
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