sábado, 6 de novembro de 2021

Antologia Ubaldiana - 9

        Pietro Ubaldi

ANTOLOGIA UBALDIANA - 9

A GRANDE SÍNTESE

            A GRANDE SÍNTESE é o Evangelho da Ciência, renovando todas as capacidades da religião e da filosofia, reunindo-as à revelação espiritual e restaurando o messianismo do Cristo, em todos os institutos da evolução terrestre. (Emmanuel, por Francisco Cândido Xavier)

            CAPÍTULO 1 - CIÊNCIA E RAZÃO
    
        Em outro lugar e de outra forma, falei especialmente ao coração, usando linguagem simples, adaptada aos humildes e aos justos que sabem chorar e crer. Aqui falo à inteligência, à razão cética, à ciência sem fé, a fim de vencê-la, superando-a com suas próprias armas. A palavra doce que atrai e arrasta, porque comove, foi dita. Indico-vos agora a mesma meta, mas por outros caminhos, feitos de ousadias e potência de pensamento, pois quem pede isso não saberia ver de outra forma, por faltar-lhe a fé ou incapacidade de orientação para compreender.

        O pensamento humano avança. Cada século, cada povo segue um conceito de acordo com o desenvolvimento que obedece a leis a que estais submetidos. Em qualquer campo, a nova ideia vem sempre do Alto e é intuída pelo gênio. Depois, dela vos apoderais, a observais, a decompondes, a viveis, passando, então, à vossa vida e às leis. Assim, desce a ideia e, quando se fixa na matéria, já esgotou seu ciclo, já aproveitastes todo seu suco e a jogais fora para absorverdes, em vossa alma individual e coletiva novo sopro divino.

        Vosso século possuiu e desenvolveu uma ideia toda própria que os séculos precedentes não viam, pois estavam atentos em receber e desenvolver outras. Vossa ideia foi a ciência, com que acreditastes descobrir o absoluto, embora essa também seja uma ideia relativa que, esgotado seu ciclo, passa; eu venho falar-vos exatamente porque ela está passando.

       Vossa ciência lançou-se num beco escuro, sem saída, onde vossa mente não tem amanhã. Que vos deu o último século? Máquinas como jamais o mundo as teve (mas que, no entanto, são apenas máquinas) e, em compensação, ressecou vossa alma. Essa ciência passou como um furacão destruidor de toda a fé e vos impõe, com a máscara do ceticismo, um rosto sem alma. Sorris despreocupados, mas vosso espírito morre de tédio e ouvem-se gritos dilacerantes. Até vossa própria ciência é uma espécie de desespero metódico, fatal, sem mais esperanças. Terá ela resolvido o problema da dor? Que uso sabe fazer dos poderosos meios que lhe deram os segredos arrancados da natureza? Em vossas mãos, o saber e a força transformam-se sempre em meios de destruição. 

        Para que serve, então, o saber, se ao invés de impulsionar-vos para o Alto, tornando-vos melhores, para vós se torna instrumento de perdição? Não riais, ó céticos, que julgais ter resolvido tudo, porque sufocastes o grito de vossa alma que anseia por subir! A dor vos persegue e vos encontrará em qualquer lugar. Sois crianças que julgais evitar o perigo escondendo a cabeça e fechando os olhos, mas existe uma Lei, invisível para vós, todavia mais forte que a rocha, mais poderosa que o furacão, que caminha inexorável movimentando tudo, animando tudo; essa Lei é Deus. Ela está dentro de vós, vossa vida é uma exteriorização dela e derramará sobre vós alegria ou dor, de acordo com a justiça, como o merecerdes. Eis a síntese que vossa ciência, perdida nos infinitos pormenores da análise, jamais poderá reconstituir. Eis a visão unitária, a concepção apocalíptica que venho trazer-vos. 

       Para que me possa fazer compreender, é mister que fale de acordo com vossa mentalidade e me coloque no momento psicológico que vosso século está vivendo. É indispensável que eu parta justamente dos postulados da vossa ciência, para dar-lhe uma direção totalmente nova. Vosso sistema de pesquisa objetiva, à base da observação e experiência, não vos pode levar além de certos resultados. Cada meio pode fornecer certo rendimento e nada mais, e a razão é um meio. A análise não poderia chegar à grande síntese, grande aspiração que ferve no fundo de todas as almas, senão por meio de um tempo infinito, de que não dispondes. Vossa ciência arrisca-se a não concluir jamais e o “ignorabimus” quer dizer falência. A tarefa da ciência não pode ser apenas a de multiplicar vossas comodidades. Não estranguleis, não sufoqueis a luz de vosso espírito, única alegria e centelha da vida, até o ponto de tornar a ciência, que nasce do vosso intelecto, uma fábrica de comodidades. Esta é prostituição do espírito, é vergonhosa venda de vós mesmos à matéria. 

      A ciência pela ciência não tem valor, vale apenas como meio de ascensão da vida. Vossa ciência tem um pecado original: dirigir-se apenas à conquista do bem-estar material. A verdadeira ciência deve ter como finalidade tornar melhores os homens. Eis a nova estrada que precisa ser palmilhada. Essa é a minha ciência. 

* * *

    Não falo para ostentar sabedoria ou para satisfazer a curiosidade humana, vou direto ao objetivo: para melhorar-vos moralmente, pois venho para fazer-vos o bem. Não me vereis despender qualquer esforço para adaptar e enquadrar meu pensamento ao pensamento filosófico humano, ao qual me referirei o menos possível. Ao contrário, ver-me-eis permanecer continuamente em contato com a fenomenologia do universo. Importa escutar verdadeiramente essa voz, que contém o pensamento de Deus. Compreendei-me, vós que não acreditais, vós céticos, que julgais sabedoria a ignorância das coisas do espírito e, no entanto, admirais o esforço de conquista que o homem, diariamente, exerce sobre as forças da natureza. Ensinar-vos-ei a vencer a morte, a superar a dor, a viver na grandiosidade imensa de vossa vida eterna. Não acorrereis com entusiasmo ao esforço necessário para obter tão grandes resultados? Vamos, pois, homens de boa vontade, ouvi-me! Primeiro compreendei-me com o intelecto e quando este ficar iluminado e virdes claramente a nova estrada que vos traço, palpitará também vosso coração e nele se acenderá a chama da paixão, para que a luz se transmude em vida e o conceito em ação. O momento é crítico, mas é mister avançar. E então (coisa incrível para a construção
psicológica que o último século imprimiu em vós) nova verdade vos é comunicada por meios que desconheceis, para que possais descobrir o novo caminho. O Alto, que vos é invisível, nunca deixou de intervir nos momentos culminantes da História. Que sabeis do amanhã, que sabeis da razão por que vos falo? Que podeis imaginar daquilo que o tempo vos prepara, vós, que estais imersos no átimo fugidio? Indispensável avançar, mais que isso não vos seria possível. As vias da arte, da literatura, da ciência, da vida social estão fechadas, sem amanhã. Não tendes mais o alimento do espírito e remastigais coisas velhas que já são produtos de refugo e devem ser expelidos da vida. Falarei do espírito e vos reabrirei aquela estrada para o infinito, que a razão e a ciência vos fecharam. 

      Ouvi-me, pois. A razão que utilizais é um instrumento que possuís para prover os misteres, as necessidades mais externas da vida: conservação do indivíduo e da espécie. Quando lançais este instrumento no grande mar do conhecimento, ele se perde, porque neste campo, os sentidos (que muito servem para vossas necessidades imediatas) somente esfloram a superfície das coisas e sua incapacidade absoluta de penetrar a essência vós a sentis. A observação e a experiência, de fato, deram-vos apenas resultados exteriores de índole prática, mas a realidade profunda vos escapa porque o uso dos sentidos como instrumento de pesquisa, embora ajudado por meios adequados, vos fará permanecer sempre na superfície, fechando-vos o caminho do progresso. 

      Para avançar ainda, é preciso despertar, educar, desenvolver uma faculdade mais profunda: a intuição. Aqui entram em função elementos complementares novos para vós. Algum cientista jamais pensou que, para compreender um fenômeno, fosse indispensável a própria purificação moral? Partindo da negação e da dúvida, a ciência colocou a priori uma barreira intransponível entre o espírito do observador e o fenômeno. O eu que observa permanece sempre intimamente estranho ao fenômeno, atingido apenas pela estrada estreita dos sentidos. Jamais o cientista abriu sua alma, para que o mistério encarasse o próprio mistério e se comunicassem e se compreendessem. O cientista jamais pensou que é preciso amar o fenômeno, tornar-se o fenômeno observado, vivê-lo; é indispensável transportar o próprio Eu, com sua sensibilidade, até o centro do fenômeno, não apenas com uma comunhão, mas com uma verdadeira transfusão de alma.

      Compreendeis-me? Nem todos poderão compreender, pois ignoram o grande princípio do amor; ignoram que a matéria é, em todas as suas formas (até nas menores) sustentada, guiada, organizada pelo espírito que, em diversos graus de manifestação, existe por toda a parte. Para compreender a essência das coisas, tereis que abrir as portas de vossa alma e estabelecer, pelos caminhos do espírito, essa comunicação interior, entre espírito e espírito; deveis sentir a unidade da vida que irmana todos os seres, desde o mineral até o homem, em trocas de interdependências, numa lei comum; deveis sentir esse liame de amor com todas as outras formas da vida, porque tudo, desde o fenômeno químico até o social, é vida, regida por um princípio espiritual. Para compreender, é necessário que possuais uma alma pura e que um liame de simpatia vos una a todo o criado. A ciência ri de tudo isso e por esse motivo deve limitar-se a produzir comodidades e nada mais. Nisto que vos estou a dizer reside exatamente a nova orientação que a personalidade humana deve conseguir, para poder avançar.

Nenhum comentário:

Postar um comentário