Ver, ouvir e... corrigir-se.
por Vinélius Di
Marco (Indalício Mendes)
Reformador (FEB) Maio 1977
Emmanuel considerou que “todas as
contas a resgatar pedem relação direta entre credores e devedores”. O perdão
também pode significar uma oportunidade para que o decaído se erga, disposto ao
esforço regenerativo. O essencial é que aprendamos esta verdade: ninguém
progride sem ninguém, que vale pelas palavras do luminoso Espírito acima
citado: “Ninguém progride sem alguém”. Na vida, somos todos solidários. Ninguém
se basta a si mesmo, pois é necessário que encontremos quem partilhe da nossa
caminhada, para que possamos avaliar o grau do procedimento que temos, não nos
deixando influenciar pela vaidade, pela inveja, pela presunção de
superioridade, pelo orgulho etc... Tendo alguém conosco, melhor poderemos exercer
a vigilância sobre nós mesmos, comparando o que fazemos com o que os outros
fazem, de maneira a julgarmos se estamos indo certos ou se, pelo contrário, estamos
agravando a nossa situação moral. É verdade que isso costuma também ocorrer sem
que nos apercebamos. Eis por que Emmanuel disse que “ninguém progride sem
alguém”, reconhecendo, porém, que, “em toda parte, o verdadeiro campo de
luta somos nós mesmos”.
A Lei Divina, atenta, acompanha todos
os nossos pensamentos, todos os nossos passos, pois “não é cega”. E se,
perdoados, supomos que podemos reverter ao abuso, então será bem mais grave a
responsabilidade contraída. Sofremos porque insistimos no desrespeito à Lei de
Deus. A dor é o chicote que nos encaminha para a purificação moral e
espiritual. É qual enérgico pastor, que procura evitar tresmalhemos e
abandonemos o aprisco. Pode ser considerada, em determinadas circunstâncias, um
sinal de alarme, para que, prevenidos, evitemos recair no erro. Muita gente,
entretanto, considera a dor apenas como um fenômeno físico, quando, na
realidade, ela tem apenas uma função altamente regeneradora. Assim como a
febre, para o médico, é um aviso de que há algo de irregular que altera o
estado normal do indivíduo, a dor, para o entendimento do espírita, é, em
grande número de casos, um chamado à reflexão, uma advertência para que,
meditando, busquemos reexaminar a nossa vida até encontrarmos onde falhamos e
como falhamos. Não há efeito se causa, já se costuma dizer.
Para melhor se romper o nevoeiro que nos circunda a Terra, a melhor
providência é a humildade. Não a humildade premeditada, oca, aparente, que pode
iludir os homens, mas não engana a Deus. É preciso, contudo, que se limpe essa
palavra de definições falsas. Ser humilde, do ponto de vista espírita, é ser
simples, bom, prestativo, tolerante, mas precavido. É guardar o ânimo sereno, quando
se veja envolvido em tribulações e mal entendidos. O humilde não se arrasta
servilmente no chão, não bajula, não se degrada. Veja-se o comportamento de
Jesus em todas as passagens de sua curta peregrinação na Terra. Ele deve ser
para nós o modelo de humildade. O verdadeiro humilde não se despoja da sua
dignidade, mas também não confunde dignidade com orgulho. É paciente diante dos
arrogantes, sereno diante dos impacientes, indulgente diante dos faltosos sem,
contudo, permitir que os seus sentimentos possam contribuir, malgrado seu, para
agravar a situação daqueles que lhe cruzam o caminho.
Entretanto, o fundamental, o mais
importante, por ser essencial, é que não tenhamos a pretensão de ser modelo
para ninguém. “No estudo da perfeição, comecemos por vigiar a nós mesmos,
corrigindo-nos em tudo aquilo que nos desagrada nos semelhantes”.
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