Reconstrução pelo Espiritismo
Editorial
Reformador (FEB) 1º de Dezembro de 1916
Jerusalém, antiga metrópole de judaísmo, onde
se ostentava o templo de Salomão, assinalada pelo Calvário, ora debaixo da
denominação turca, pode ser considerada como o lugar de confluência do mosaísmo,
cristianismo e maometanismo.
O Sinédrio foi transferido, sob outra denominação,
para Roma, mas o farisaísmo prolífico não perdeu o primitivo habitat; continuou
a pompear em torno do Santo sepulcro como algures.
Os fariseus antigos não reconheceram o
Messias, que transitava, doutrinando e fazendo o bem, pela região da Palestina.
Os de hoje não compreendem o Cristo ressurrecto.
Transformaram a religião do espírito, da
vida, do amor e da luz em grosseira religião da matéria, da morte e das trevas.
Vede os santuários resplandecentes de luzes, de ouro e pedraria, envoltos em ondas de perfume, com os seus sacerdotes, ricamente paramentados... Plena escuridão espiritual.
Depois de visitar, em sua majestosa simplicidade,
a mesquita octaédrica de Omar, erguida no sítio profanado, segundo a narrativa
evangélica, pelos mercadores expulsos, p eloquente autor d’Os grandes iniciados
observa que a igreja, cultivando as exterioridades, embora sinta o solapamento
de seus dogmas, zomba da ciência materialista e da filosofia agnóstica, que não
conseguem eliminar o sentimento religioso. São forças que não podem
incomodá-la. Tantas vezes tem triunfado da incredulidade e do negativismo!
Espíritos inquietos e estudiosos abandonaram
de todo a religião, porque ela os não satisfazia, não dava solução aos
problemas que os torturavam; oferecia-lhes, ao contrário, dogmas absurdos e
fórmulas rituais inúteis. Não souberam ou não puderam talvez orientar-se nas
grandes lutas íntimas.
Podem ser almas sequiosas de verdade e
transviadas pela educação.
Precisam de fatos, como os que apresenta, em
profusão, o Espiritismo, para que o plano espiritual lhes seja desvendado e
esclarecido o problema do destino.
Simples questão de direção, de rumo...
Há outros que permanecem nas igrejas,
adotando os seus ritos, porque lhes repugna a conclusão materialista. Podem
vislumbrar a luz através das paredes do túmulo. Tem a intuição da outra
existência, de onde vieram pela reencarnação. Não há argumentos de a+b que os
convençam do contrário. Os dessa classe, que já adquiriram algum adiantamento
espiritual, que não são adeptos de seitas religiosas por interesse ou
fanatismo, podem apreender, com facilidade, a doutrina espírita que os fará
progredir. Estão nas igrejas si et in quantum (se e em que medida), porque cultores do
sentimento religioso, não haviam encontrado melhor solução. Sendo sinceros,
serão, amanhã, espíritas. Deixarão as igrejas, as velhas fórmulas, que os
embalaram, sem irritação, suavemente, atraídos pela luz da Nova Revelação.
Deste lado, tranquilos e confiantes, sem
receios do inferno eclesiástico, já estão muitos, que orçam por milhões, vindos
do romanismo, do protestantismo e de outras confissões religiosas; o que aliás
não nos causa admiração, porque, sabemos, o progresso é uma lei para o
indivíduo
e para a coletividade.
Métodos diversos, soluções diversas.
O Espiritismo se aproximou.
Todos aqueles que o estudam, sob os seus diferentes
aspectos, sabem como ele colocou, acumulando provas, em face da ciência materialista,
o problema fundamental d’alma humana, cujo destino ficou desvendado; sabem como,
em consequência, o problema religioso perdeu a feição misteriosa e o caráter de
sobre naturalismo, que o punha fora dos domínios da razão e da nossa pesquisa.
Assistimos, felizmente, não a um trabalho
somente de demolição, como no século XVIII, mas a uma verdadeira obra
providencial de reconstrução científica, filosófica e religiosa.
A guerra atual não a impedirá. (1ª Guerra Mundial)
Felizmente, para a humanidade.
(1) ‘Reformador’ de 16 de julho de 1916
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