“Reencarnação
-
estudo sobre as vidas sucessivas."
Capítulo VI a ‘As Causas
Dos Nossos Sofrimentos’
por Aurélio A. Valente
Editora:
Moderna - Ano: 1946
Biblioteca
Espírita Brasileira
Nota do blog: Após a postagem, melhor identificaremos
cada um dos citados ao longo deste capítulo.
Em qualquer parte do mundo que paremos para
observar a humanidade, ficamos impressionados com os contrastes. Ao lado dos
palácios há sempre casos humildes; defronte de um prédio, onde, entre prazeres
e risos, festeja-se o nascimento de uma criança, vemos pessoas circunspectas,
com semblantes angustiados acompanhando um enterro; perto de um clube onde
dança-se, canta-se e come-se regaladamente, há uma casa na qual pessoas
tristes, com fisionomias sombrias permanecem em redor do leito de um doente em
estado grave; perto de um edifício luxuoso onde se homenageia um homem de
elevada posição social, presta-se socorro a um outro que foi esmagado por um
carro, e assim, seria interminável a série de citações.
Porque tudo isso, quando o objetivo
de todos é ter uma vida ditosa: riquezas, bem estar, conforto, a felicidade,
enfim, sob todos os seus aspectos?
É que a Terra é um mundo de
expiação, de sofrimentos sem conta, provações penosas, reparações cheias de
embaraços. Aqui neste planeta está uma legião de espíritos desgraçados,
falidos, para expurgarem-se de suas faltas, expiarem seus crimes, repararem
todos os males causados, em busca da conquista de sua emancipação espiritual.
O homem tem um objetivo sagrado,
portanto; viver, mas viver bem, instruir-se para sair das trevas da ignorância,
moralizar-se, espiritualizar-se, para alcançar uma situação mais favorável, em
que a existência não lhe seja tão amarga e tão atribulada, e o pão de cada dia
tão feio, duro, com sabor de suor e lágrimas.
Todos nós temos o direito à vida, a
usufruir aquilo que a natureza nos concede, porém, piores que animais, os
homens, enchendo-se de egoísmo, vaidade e orgulho, querem suplantar os outros,
de modo infame, sumamente abjeto, como não fizeram os nossos ancestrais, que
não tinham as luzes da ciência e a revelação religiosa que hoje temos.
Há momentos em que os homens
apresentam-se com ambições de proporções assustadoras, parecendo que uns querem
a desgraça dos outros para viverem livremente, embora tenham que pisar direitos
alheios e saltar por cima dos cadáveres, e ainda se jactem de civilizados,
instruídos e moralizados.
Nas grandes calamidades, epidemias,
enchentes, guerras, terremotos, há uma notícia que apavora mais que a
encarcerados das penitenciárias. Semelhantes a hienas, eles se atiram sobre os
cadáveres para despojá-los de todo que possa ser convertido em dinheiro; cortam
os dedos para tirarem os anéis; arrebentam bocas retorcidas pelo terror, para
arrancarem as dentaduras que tenham ouro, profanam os corpos mutilados; violam
tudo, e fogem rapidamente a fim de gozarem longe, o produto de tão miserável e
lúgubre rapina; mas... se esses entes nos causam horror e revolta pelo
desrespeito aos mortos e pela desgraça alheia, piores ainda, mil vezes piores,
são aqueles que espoliam os vivos.
Na ocasião das crises econômicas e
financeiras, aparecem abutres que esvoaçam sobre os homens, para alimentarem-se
da sua carne, da sua miséria, das suas horas de fome, enfermidade e incertezas
de conseguir uma casa para morar. Essas criaturas destituídas de todo
sentimento nobre, querem enriquecer, querem ser felizes, gozar conforto,
preparar o futuro para uma velhice descansada, querem divertir-se em casinos,
cabarés, gastar prodigamente no jogo, satisfazer os seus caprichos sensuais com
mulheres sem juízo.
E esses fatos repetem-se em todos os tempos, em todos os países, sem que
haja uma força humana capaz de refreá-los. Tudo isso é produto do materialismo.
É essa ideologia desagregadora dos laços da fraternidade que leva os homens a
agirem de modo pior, mil vezes pior que os animas. E ainda dizemos que o mundo
está civilizado!!! Essa ideologia adulterou os princípios religiosos e cada um quer
fazer sua própria religião, coadunando o seu caráter de moralidade precária com
a religião de convenção social.
O Espiritismo pretende acabar com
esses desregramentos, com essas ambições sem termos, ensinando a Lei da
Reencarnação, e procurando educar o povo para estabelecer no mundo uma “Nova
Era de Fraternidade”, advertindo a todos que ninguém entrará no reino de Deus
sem haver pago o último centil, segundo sentenciou Jesus.
A nosso ver, é um grande erro que
está arraigado na humanidade, atribuir-se à inflação monetária todos os males
de uma situação de emergência, às crises econômicas as causas das revoluções.
Todos os males que afligem a humanidade terrena têm um só nome - a crise
espiritual.
Queres uma prova, leitor? Ei-la:
“Um homem talentoso, artista, dotado
de sentimentos morais, finos e elevados, achava-se desde a mocidade afetado de
um desejo que tinha por objeto exclusivo as meninas de cinco anos. Os
vestidinhos curtos, as pernas â mostra excitavam-no loucamente. Desde que as
crianças cresciam, e mesmo antes de se tornarem púberes, pediam para ele todo
atrativo. Os adultos, homens e mulheres foram-lhe toda a vida indiferentes. Sua
paixão intensa eram as meninas. Reconhecendo cedo essa anomalia do seu desejo,
conseguiu dominá-lo toda a vida. Contentava-se em acaricia-las sem lhes fazer
mal e sem que percebessem os seus secretos sentimentos. Seus sentimentos morais
e seus princípios foram sempre bastante fortes para impedirem-no a ir mais
longe. (“A Questão Sexual”, de
Augusto Forel, páginas 252-253).
Os grifos são nossos.
É um caso isolado, pode-se objetar,
todavia, u fato só tem impedido de uma proposição firmar-se em teoria. É um
exemplo e basta, porém, afirmarmos, não é um caso isolado.
Esse homem julgou-se realmente
doente e recorreu ao médico, porém, quantos estão nessas condições e
consideram-se bons? E quantos compreendendo que estão efetivamente enfermos não
ousam confessar a ninguém a sua penosa situação, dominam-se e nada confessam?
Desse modo, não se deduz logicamente
que um homem espiritualmente elevado é capaz de resistir a todas as tentações
do mal? Acaso o homem probo não prefere passar fome e miséria a conspurcar o
seu nome? Quantas mulheres preferem morrer a manchar seu corpo com o contato
impuro de um atrevido sensual? Quantas mulheres sacrificam-se pelos seus filhos
e maridos que as martirizam contribuindo para a sua beleza estiola-se pouco a
pouco, como uma delicada flor a fanar-se sob os raios ardentes de um sol de
estio.
É preciso educar o povo para acabar
com essas desgraças. Agora que o mundo prepara-se para o porvir de após guerra,
sistemas sobre sistemas inventam-se; todavia, nenhum resultado satisfatório
será obtido, se não houver a espiritualização do mundo. E para isso, é preciso
instruir e educar o povo nos elevados ensinamentos da Doutrina Espírita, que é
a própria Doutrina de Jesus – em Espírito e Verdade...
Educar é ensinar, mas ensinar com a
Verdade, e não sob convenções puramente sociais de castas e privilégios.
Educar é ensinar a alguém que não
devemos fazer o mal, não por medo da polícia ou do cárcere, mas pelo horror ao
crime e ao erro. O homem de bem não teme a polícia, nem se apercebe das leis
repressivas, entretanto tem medo de manchar a sua consciência, a sujar suas
mãos com qualquer ato vergonhoso. A sua confiança no seu valor pessoal é tanta
que nunca se arma para defender-se mesmo quando ameaçado.
E essa educação que preconizamos,
dentro dos sãos princípios do Espiritismo deve ser ministrada sem tirarmos a
liberdade do nosso semelhante, pois esse bem do Céu vem diretamente de Deus e
deste modo é necessário respeitarmos. Aquele que não a devem ter, ficam
paralíticos, mas conservam a sua faculdade de raciocínio, logo, ainda lhe fica
a liberdade de consciência. Meditando sobre esta verdade foi que o grande
pensador Victor Hugo disse: “é permitido, mesmo ao mais fraco, ter uma boa
ideia e expô-la.”
Dos Estados Unidos da América do
Norte, essa grande e gloriosa nação, veio-nos a afirmativa do que acabamos de
dizer.
A Lei Seca, que por meio da força tirou
o copo das mãos dos viciados e até dos que não o eram e nem se excedam gerou a
mais terrível categoria de bandidos que já assolou aquele País e quiçá o mundo:
os gangsters, os bandos de salteadores e contrabandistas que usavam de todos os
recursos da ciência moderna para o crime. Somente quando essa lei foi revogada
é que eles extinguiram-se, assim mesmo com grande dificuldade.
A humanidade terrena é uma
aglomeração de seres de diversas idades espirituais, que trabalham sem cessar
pelo seu próprio progresso. Por esta razão há os revoltados e os conformados,
os broncos e os inteligentes, os maus e os bons, os fracassados e os
vencedores, os apáticos e os idealistas.
Para compreender essas aparentes desigualdades da sorte, é preciso recorrer ao Espiritismo, como já temos dito, estudando a lei dos renascimentos sucessivos.
De modo geral, essa legião que povoa a Terra está vivendo em expiação - reparação – provação, e raramente em missão gloriosa e abençoada, pois assim o é sempre.
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