O Trabalho Espírita
por Inaldo Lacerda Lima
Reformador (FEB) Julho 1966
O Espiritismo, quando praticado por pessoas sérias, altamente responsáveis, estudiosas, muito tem de semelhança com o Cristianismo primitivo. Caracteriza-se pela simplicidade nos trabalhos, nas reuniões, nos serviços de auxílio aos necessitados; destaca-se pela moral elevada de seus adeptos ou obreiros que se esforçam no sentido de zelar pela pureza doutrinária; convence pela seriedade de seus movimentos sociais, confraternativos, intelectuais; faz-se respeitar pela sisudez do exercício mediúnico, em que as manifestações se apresentam completamente isentas de aparatos materiais, de ritos e outras esquisitices.
Conforme
nos elucidam relatos mediúnicos a respeito do modo pelo qual os discípulos de
Jesus se comportavam, no exercício do mandato evangélico, após o drama do
Calvário, o Espiritismo se apresenta como continuação da obra do Cristo, já
agora de maneira mais avançada quanto ao teor de suas revelações, porquanto
contando com possibilidades novas e com fatores proporcionadas por dezenove
séculos de experiências diversas, por vezes dolorosas.
O
Centro Espírita de nossos dias, bem orientado nos princípios básicos da
Terceira Revelação, constituído de elementos conscientes da Missão do
Consolador entre os homens e despidos da roupagem perigosa do personalismo
extravagante e doentio, muito se próxima da chamada “Casa do Caminho”, onde os
apóstolos recebiam os filhos da dor e da tristeza para um duplo tratamento – a
cura da alma e a correção da conduta.
A
preocupação inicial dos apóstolos, dando continuidade à obra do Mestre Jesus,
não era de fabricar novos apóstolos,
mas ajudar a Humanidade a despertar para uma consciência espiritual, religiosa.
Eles sabiam que os apóstolos novos viriam natural e gradativamente na pessoa
daqueles mais reconhecidos que, em recebendo o auxílio, em compreendendo a
verdade, se resolvessem a FICAR, para sempre, entre os arautos da Verdade, na
disposição sincera de se tornarem também obreiros.
Essa
mesma compreensão rege o trabalho espírita na hora presente, pois o espírita
sabe que o propósito primeiro da doutrina revelada pelo Espírito da Verdade e
codificada por Allan Kardec não é multiplicar espíritas, mas curar a
Humanidade, despertando os homens para uma consciência cristã autêntica,
iluminando o coração humano, preparando o mundo para o grande advento da Era do
Espírito. Os espíritas crescerão em número, naturalmente. Todos os dias
surgirão aqueles que, uma vez acordados, não se satisfarão apenas com a
compreensão da necessidade de uma conduta de auto vigilância. Eles se integrarão
no trabalho, conscientes de uma verdade sobremodo soberana e que muitos
colaboradores antigos esquecem: não se
compreende espírita de braços cruzados. Porque Espírita é aquele que
constrói, que realiza, que constrói, que realiza a obra do Senhor, sempre
humilde, compreensivo, paciente, porém, intimorato, decidido e guiado pelo bom
senso.
O
trabalho espírita é obra inteiramente de amor e de alta responsabilidade. E o
homem que já portador de uma consciência espírita sabe que a seara em que opera
não é propriedade sua, mas de Deus, e cujo plenipotenciário é Jesus. Por
conseguinte, diante do bem a ser feito, ele não espera uma ordem especial; ele
realiza, ele trabalha. E se alguém cochila a seu lado, ele não exprobra, não
brada, não acusa, não condena – mas adverte, compassivo e fraterno, que os
trabalhadores de fato são poucos e os espíritas representam, na parábola
evangélica, os obreiros convocados à hora última para
a vinha o Senhor.
Trabalho espírita é, portanto, obra de consistência destinada a desafiar
o próprio tempo e a sobrepor-se a interesses materiais e transitórios. É
trabalho de unificação doutrinária, de fraternidade verdadeira, de integração
cristã.
Cada
instituição religiosa é um centro vivo de comunhão espiritual; razão por que
nos disse certa vez respeitável confrade a propósito do inesquecível
companheiro Arthur Lins de Vasconcelos: “é um seareiro que se sente responsável
pela edificação e desenvolvimento de qualquer sociedade espírita, em qualquer
ponto do país onde ela se situe.”
Eis
um exemplo típico de conduta espírita, em que o homem espírita se sente no
dever de amar a missão do Espiritismo, não apenas em termo de simpatia, mas
sobretudo de dedicação, interesse e esforço.
Presentemente,
as atenções de todo o Brasil espírita se encontram voltadas para Brasília. É
que a construção da Casa de Ismael, na nova Capital, parece apresentar-se como
um teste do Mundo Maior à compreensão e no esforço de cada um de nós. Ao mesmo
tempo que preocupa, entusiasma. Todos queremos ser parcela vivas para o sublime
total. Todos opinamos pela divisão da responsabilidade do soerguimento do
venerando edifício. Todos nos sentimos, nesta hora, mais do que nunca,
espíritas. É a conclusão a que chegamos diante das mensagens refertas de fé,
entusiasmo e empenho que de todos os recantos da Pátria do Evangelho chegam à
Federação Espírita Brasileira.
Não
foi por acaso que o Codificador inscreveu, com caracteres de esperança, no pedestal
simbólico da Doutrina viva: Trabalho, Solidariedade, Tolerância.
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