ANTOLOGIA UBALDIANA - 3
Achei-me entre católicos e os observei.
Muitos deles eram sinceros e convictos e viviam aplicando, realmente, os
princípios de sua religião. Sua verdadeira fé me encheu de admiração. Outros
deles, porém, embora verbalmente se confessassem e nas práticas religiosas se
manifestassem perfeitamente ortodoxos, não viviam inteiramente seus princípios,
demonstrando com fatos que, em realidade, neles não acreditavam de modo
absoluto. Isso me encheu de tristeza.
Achei-me, depois, entre os protestantes e os
observei. Muitos deles eram sinceros e convictos e viviam aplicando, realmente,
os princípios de sua religião. Sua verdadeira fé me encheu de admiração. Outros
deles, porém, embora verbalmente se confessassem e nas práticas religiosas se
manifestassem perfeitamente ortodoxos, não viviam inteiramente seus princípios,
demonstrando com fatos que, em realidade, neles não acreditavam de modo
absoluto. Isso me encheu de tristeza.
Achei-me, também, entre os espiritistas e os
observei. Muitos deles eram sinceros e convictos e viviam aplicando, realmente,
os princípios de sua doutrina. Sua verdadeira fé me encheu de admiração. Outros
deles, porém, embora verbalmente se confessassem e nas práticas formais se
manifestassem aderentes à sua doutrina, não viviam inteiramente seus
princípios, demonstrando com fatos que, em realidade, neles não acreditavam de
modo absoluto. Isso me encheu de tristeza.
Achei-me, depois, entre os teosofistas, os
maçons, es maometanos, os budistas etc. e observei o mesmo fenômeno.
Encontrei-me até entre ateus, materialistas
convictos. Não obstante, entre eles encontrei os que procuravam viver segundo
superiores princípios de retidão. Senti respeito por eles. Qualquer convicção
vivida com retidão merece respeito. O que me encheu de tristeza foi ver o ateu,
materialista animalescamente envolvido, somente animado de instintos egoístas
para prejudicar o próximo.
Observando-os todos, perguntei a mim mesmo,
então: a divisão real, verdadeira, entre os homens, é a de uma religião,
doutrina ou crença, ou é, antes, entre o homem sincero e honesto e o homem
falso e desonesto, que se encontram no seio de todas as religiões, doutrinas e
crenças? Embora as várias divisões humanas, em cada uma delas sempre encontrei
esta outra divisão universal de bons e maus.
Perguntemos a nós mesmos, então: não será
esta a verdadeira distinção, muito mais real que a outra em que tanto se
insiste? Pertencer ao primeiro tipo de homem, antes que ao segundo, não será
muito mais importante e decisivo do que pertencer a um determinado agrupamento
religioso? Que importa pertencer a esta ou aquela religião, quando não se é
sincero nem honesto? Não é o fundamental em qualquer campo? E não é, então,
esta a mais importante entre todas as divisões humanas, muito mais do que a
atualmente aceita? Não será essa a divisão que Deus mais assinala, de
preferência a outra, que se refere, mais que a bondade do homem, aos interesses
humanos que em torno dela se agrupam?
Qual é o fato mais decisivo para a edificação
do homem (isso constitui o objetivo de todas as crenças) — os pormenores
dogmáticos e doutrinários, a ortodoxia da letra ou o haver compreendido o
simplicíssimo princípio do bem e do mal, princípio universal, existente em
todas as religiões, inscrito no espírito humano e, sobretudo, viver esse
princípio?
A verdadeira distinção, nesse caso, não é a
atualmente vigorante em nosso mundo — católicos, protestantes, espiritistas,
teosofistas, maçons, maometanos, budistas etc. — mas, sim, o justo e o injusto.
Esta é a distinção substancial, a que tem valor diante de Deus, muito mais
importante que a outra, que pode ser apenas formal. Na segunda se pode mentir e
ela, então, é fictícia; nunca na primeira, que é real.
Por que, então, tantas lutas religiosas e
doutrinárias? Não têm elas outro valor senão o de defender o patrimônio
conceptual do grupo e os interesses que dele dependem. Por que, então, não
reduzir todas as crenças a esse seu denominador comum, que é a sua substância,
em que todas se encontram, além de todas as divisões? E por que não achar nessa
substância a ponte que as une todas numa característica comum, em lugar de
procurar em especulações sutis que pode dividi-las? Por que não parar e
insistir no que importa acima de tudo; a bondade e a evolução do homem?
Tudo isso é importantíssimo para a fusão das
almas no caminho da unificação, que é o futuro do mundo em todos os campos. Daí
nasceria um grande respeito recíproco, uma nova possibilidade de compreensão,
um superior espírito de fraternidade. O cioso amor à ortodoxia, justificável em
outros tempos, excitado até o ponto de preferir a letra ao espírito, pode
significar uma satânica falsificação da fé na psicologia farisaica, enfermidade
de todos os tempos e de todas as religiões. Pode, então, acontecer que se faça
da religião o que sempre se tem feito do amor a pátria que, embora santo em si,
se transforma em agressividade e guerras contra outras pátrias. Ora, como esse
tipo de amor nacional está hoje em vias de desaparecimento, superado pela vida
que caminha para a unificação social, do mesmo modo a vida superará o espírito
de absolutismo e intransigência, pois ela se dirige para a unificação
religiosa.
É necessário, assim, abandonar o espírito
separatista de domínio, em nome de absolutismos, numa verdade que na Terra,
para o homem, não pode deixar de ser relativa e progressiva, isto é, em função
de sua capacidade evolutiva.
A vida hoje caminha para a colaboração por
compreensão em todos os campos e os imperialismos, políticos ou religiosos,
pertencem a fases que estão sendo superadas. Os imperialismos espirituais
retardam a unificação, que se situa justamente no campo das convicções e das
consciências e que não se pode obter com o espírito de absolutismo e de
domínio.
Qual é, pois, a religião de substância em que
poderão pacificar-se todas as distinções humanas, encontrando-se em seu
denominador comum?
A religião de substância é somente uma. A ela
pertencem todos os honestos que creem sinceramente e vivem suas crenças, sejam
católicos, protestantes, espiritistas, teosofistas, maçons, maometanos,
budistas etc...
Estão, ao contrário, fora da religião, todos
os falsos, os injustos, os que interiormente não creem (embora formalmente em
seus lugares), os que não vivem suas crenças, sejam católicos, protestantes,
espiritistas, teosofistas, maçons, maometanos, budistas etc. Estes se igualam
no representar a traição a ideia que professam.
Na
"Mensagem de Natal" de 1931, diz Sua Voz: “...não está longe o dia
em que somente uma será a divisão entre os homens: justos e injustos.” Na
Terra, em todos os campos, existem sempre dois tipos humanos: o evolvido e o envolvido.
Encontram-se em todas as filosofias, governos, religiões, hierarquias e povos.
O envolvido vive sempre no nível animal, é
animado pelo espírito de dominação e, por isso, intransigente e agressivo;
fecha-se na forma, desprezando a substância; é mais ligado à Terra que ao céu.
julga-se, em todos os campos, sempre com a posse da verdade e da parte de Deus,
julgando todos os outros como situados no erro e da parte de Satanás. Tende à
egocêntrica monopolização da Divindade. O evolvido tem características opostas.
Vivendo num nível mais alto, é animado pelo espírito de fraternal compreensão;
tolera e auxilia; fala com o exemplo, dando e não dominando; é mais aderente à
substância que à forma, mais unido ao céu que à Terra. Não julga nem condena.
Tende a anular seu eu em Deus e no amor ao próximo. Não se faz paladino da
verdade para exigir virtude dos outros, mas começa por praticá-la, ele mesmo:
ilumina, não impõe, pois respeita as consciências. Não pretende ser o único que
tem Deus consigo. Não identifica com o mal tudo que está fora de seu eu, do seu
grupo ou hierarquia nem o condena em defesa própria. Não se faz representante
de Deus para dominar com sua personalidade, mas reconhece em Deus o Pai de
todos.
O homem está evolvendo e a religião dos
justos será a religião unitária que a todos entrelaçará. O estado vigente até
hoje corresponde à fase caótica do mundo. Ele caminha, porém, para a fase
orgânica na qual, em todos os campos, os relativos pontos de vista se
coordenarão numa verdade universal.
A religião una será a substancial, a religião
do bem e dos bons, que se compreenderão, por serem evolvidos. Para essa
compreensão os envolvidos ainda não estão maduros, pois só podem crer que a
salvação depende apenas da filiação a esta ou aquela forma da verdade, sem
cuidar da substância, que pode estar em todas as formas. Tudo isso, porém, será
fatalmente superado.
É lei de evolução que o dualismo, em que se
dividiu nosso universo, gradativamente, em todos os campos se vá reconstituindo
em sua originária unidade de que o espírito caiu na cisão, na forma, na
matéria. É fatal lei de evolução que chegue finalmente à Terra a tão esperada
realização do Reino de Deus.
ANTOLOGIA UBALDIANA - 4
MENSAGEM DO NATAL
Pietro Ubaldi (Natal de 1931)
A lei da justiça, aspecto do equilíbrio universal, sob cujo governo tudo se realiza, inclusive em vosso mundo, quer que o equilíbrio seja restaurado e que as culpas e os erros sejam corrigidos pela dor. O que chamais de mal, de injustiça, é a natural e justa reação que neutraliza os efeitos de vossos atos. Tudo é desejado, tudo é merecido, embora não estejais preparados para recordar o "como" e o "quando". De dor está cheio o vosso mundo, porque é um mundo selvagem: lugar de sofrimento e de provas. Mas, não temais a dor, que é a única coisa verdadeiramente grande que possuís. É o instrumento que tendes para a conquista de vossa redenção e de vossa libertação. Bem Aventurados os que sofrem, Cristo vos disse.
Eu presido ao progresso espiritual do vosso planeta e para o progresso espiritual um ato de bondade tem mais valor que uma descoberta científica. Não invoqueis a prova do prodígio, quando podeis possuir a da razão e da fé. É vossa baixeza que vos leva a admirar como sinal de verdade e poder, a exceção que viola a ordem divina. Se isso pode assombrar-vos e convencer-vos, a vós, anarquistas e rebeldes, para nós, no Alto, ela constitui a mais estridente e ofensiva dissonância; é a mais repugnante violação da ordem suprema em que repousamos e em cuja harmonia vibramos, felizes. Não procureis semelhante prova; reconhecei-a, antes, na qualidade da minha palavra.
A todos digo: Paz!
Fonte: “Grandes Mensagens”, - Ed. FUNDAPU / Ed. LAKE
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